Por Dr. Mercola
Como você pode imaginar, eu não sou fã de comidas fritas. Por essa razão, admito que não prestei muita atenção à moda das fritadeiras de ar quente. Embora esses aparelhos existam há anos, sua popularidade disparou nos últimos meses.
Está claro que as fritadeiras de ar quente estão capturando o interesse de pessoas que amam o sabor dos alimentos fritos, mas não todas as calorias associadas às frituras tradicionais.
Como parte de sua mensagem central de marketing, as fritadeiras de ar quente prometem fornecer a você uma experiência de comida frita mais rápida, mais saudável e com menos sujeira em sua cozinha.
Antes de você correr para comprar uma, vamos levar alguns minutos para considerar uma questão importante que os críticos e os fãs deste eletrodoméstico devem fazer: as fritadeiras de ar quente são saudáveis?
O que é uma Fritadeira de Ar Quente e Como Ela Funciona?
As fritadeiras de ar quente (Air Fryers) — um utensílio de cozinha que vem conquistando a imaginação dos amantes de frituras nos últimos anos — prometem alimentos crocantes, saborosos, rápidos e com metade das calorias e da gordura dos alimentos fritos usando métodos tradicionais.
A vantagem principal é o uso de ar quente e um pouco de óleo em vez de várias xícaras de óleo quente para cozinhar alimentos de maneira rápida e precisa. Dado o seu método de circulação de ar semelhante, alguns comparam as fritadeiras de ar quente a mini-fornos elétricos.
A Comida Feita com uma Fritadeira de Ar Quente é Boa para Você?
Embora a maioria dos especialistas em saúde convencional concordem que a fritura a ar é um pouco mais saudável do que a fritura convencional, a realidade é que o alimento frito ainda é um alimento frito e não é algo que você deva considerar como uma escolha alimentar saudável.
Como destacado na Women’s Health, Natalie Rizzo, uma nutricionista registrada em Nova York, sugere que a fritura a ar quente diminui a quantidade de calorias e gordura, mas em termos da sua saúde, o que realmente importa não é cortar calorias e gorduras, mas garantir que as calorias e gorduras que você consome venham de alimentos integrais (e não alimentos integrais que foram aquecidos a altas temperaturas em qualquer tipo de fritadeira).
“Com uma fritadeira a ar quente, diz Rizzo, você pode preparar uma versão um pouco mais saudável de praticamente qualquer alimento frito tradicional.
Você pode usá-la para criar um revestimento crocante em qualquer coisa que você normalmente frite, como batatas fritas, frango empanado ou até legumes.” Segundo o relato de Rizzo, o processo de cozimento usando uma fritadeira de ar quente é relativamente simples: pincele óleo nos alimentos que você está prestes a fritar e configure a intensidade do calor da fritadeira de ar quente para a temperatura desejada.
Apesar de notar que a temperatura varia de acordo com o tipo de comida que você está cozinhando, Rizzo diz que “geralmente a faixa de 300 a 400°F (150 a 200°C) é a tipicamente usada”. Para mim, essa faixa alta de temperatura é um claro sinal de perigo e serviu como meu primeiro alerta em relação as fritadeiras de ar quente.
Como explicado mais adiante neste artigo, o aquecimento de certos tipos de alimentos acima de 250°F (121°C) pode produzir um composto neurotóxico chamado acrilamida. Naturalmente, como explica Rizzo, não poderíamos esperar que os alimentos fritos — independentemente de virem de uma fritadeira de ar quente ou uma fritadeira de imersão em óleo — fossem tão saudáveis quanto alimentos crus ou alimentos preparados com métodos de preparação sem fritura.
Eu acredito que comer a maioria dos alimentos em seu estado natural, crus e integrais (ou o mais próximo disso possível) é quase sempre a opção mais saudável. No que diz respeito a alimentos cozidos, escaldar, refogar e cozinhar ao vapor são métodos muito superiores à fritura. Na verdade, cozinhar levemente alguns alimentos, como aspargos, espinafre e tomates, torna seus nutrientes mais biodisponíveis.
O antioxidante licopeno do tomate, por exemplo, tem sua biodisponibilidade melhorada quando aquecido. Já que um alimento frito não tem como ser considerado um alimento saudável em nenhum momento, é encorajador que Rizzo cautelosamente alerte contra a adoção do método de cozimento de fritura com ar quente como uma opção de estilo de vida.
Eu concordo com ela que usar uma fritadeira de ar quente regularmente não seria algo sensato, porque provavelmente isso dará a você uma falsa sensação de “alimentação saudável”. Como tal, não há sentido ter uma fritadeira de ar quente; ela servirá apenas para induzi-lo a consumir em excesso certos alimentos não saudáveis. A maioria desses alimentos não saudáveis, a propósito, provavelmente são altamente processados.
A Acrilamida Química Neurotóxica Esconde-se em Alimentos Fritos
Como mencionado, uma das maiores precauções sobre comer alimentos fritos tem a ver com a maneira como fritar transforma certos alimentos em prováveis agentes carcinógenos. Se você come regularmente alimentos fritos, particularmente aqueles aquecidos de maneira a criar uma superfície marrom ou carbonizada, você precisa estar a par da existência de um composto tóxico chamado acrilamida.
Em 2002, pesquisadores descobriram essa substância química causadora de câncer e potencialmente neurotóxica, que é criada quando alimentos ricos em carboidratos são cozidos em altas temperaturas. Isso inclui carboidratos que são assados, fritos, grelhados, torrados ou tostados. A acrilamida é o subproduto de uma reação química que ocorre em altas temperaturas entre os açúcares e o aminoácido asparagina.
Embora esse produto químico tóxico possa desenvolver-se em uma variedade de alimentos cozidos ou processados em temperaturas acima de 250°F (121°C), alimentos ricos em carboidratos são de longe os mais vulneráveis. A presença de acrilamida é particularmente perceptível quando os alimentos à base de plantas são aquecidos a ponto de escurecer ou queimar de forma perceptível.
Embora nem todos os alimentos nessas categorias sejam afetados pela acrilamida, as categorias de alimentos com maior probabilidade de produzi-la incluem:
- Produtos de cacau — chocolate para confeitaria, mistura de cacau, barras de chocolate, mistura de leite com chocolate, pudim de chocolate e recheio de torta
- Café — grãos de café torrados e pó de café moído, assim como substitutos de café à base de chicória, contendo de duas a três vezes mais acrilamida do que café de verdade
- Grãos — crosta de pão, cereais matinais, biscoitos, bolachas, pão torrado, torradas e vários lanches processados
- Batatas — salgadinhos e batatas fritas, bem como outros alimentos fritos ou assados
Quanta Acrilamida está Presente na sua Alimentação?
Desde 2013, a Food and Drug Administration (FDA) aconselhou os consumidores a reduzirem a ingestão de alimentos contendo acrilamida, observando que cerca de 40% das calorias consumidas como parte da dieta americana média estão contaminadas com este subproduto tóxico. Para cortar as acrilamidas da sua dieta, a agência recomenda:
- Evitar frituras
- Assar pão, bolos e outros produtos de panificação, bem como batatas, até uma cor dourada clara em vez de castanho-escura ou enegrecida
- Optar por pão torrado ou levemente tostado
- Armazenar batatas à temperatura ambiente, porque armazenar batatas no refrigerador pode aumentar a acrilamida durante o cozimento
Em vez de guardar na geladeira, armazene as batatas num armário escuro e seco ou na despensa. Você pode reduzir ainda mais a formação de acrilamida nas batatas ao mergulhá-las em água por 15 a 30 minutos antes de cozinhar.
Embora a FDA não faça menção de evitar alimentos processados que são “dourados”, como biscoitos, bolachas, batatas fritas, nozes torradas e manteigas, você deve saber que eles também podem conter acrilamida devido ao seu processamento em alta temperaturas.
Riscos para a Saúde Associados à Acrilamida
As descobertas relacionadas aos riscos potenciais para a saúde de uma dieta rica em acrilamida são mistas. Pesquisas feitas com animais sugerem que a acrilamida “é capaz de induzir efeitos genotóxicos, carcinogênicos, de desenvolvimento e reprodutivos nos organismos submetidos a teste”. Sobre os potenciais efeitos nocivos da acrilamida, o National Cancer Institute diz:
“Estudos feitos com roedores revelaram que a exposição à acrilamida aumenta o risco de vários tipos de câncer. No corpo, a acrilamida é convertida em um composto chamado glicidamida, que causa mutações e danos ao DNA.
No entanto, um grande número de estudos epidemiológicos (estudos de caso e estudos de coorte) em seres humanos não encontraram evidências consistentes de que a exposição dietética à acrilamida esteja associada ao risco de qualquer tipo de câncer.
Uma razão para os resultados inconsistentes de estudos feitos com seres humanos pode ser a dificuldade em determinar a ingestão de acrilamida de uma pessoa com base na alimentação relatada. O relatório do Programa Nacional de Toxicologia sobre carcinógenos considera que é razoavelmente previsto que a acrilamida seja um carcinógeno humano, com base em estudos feitos em animais de laboratório que receberam acrilamida através da água que tomavam.”
Com base nas pesquisas concluídas até o momento envolvendo animais de laboratório, a American Cancer Society recomenda que você esteja alerta para as seguintes agências, uma vez que cada uma delas expressou preocupação sobre os efeitos da acrilamida em seres humanos:
- A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (International Agency for Research on Cancer - IARC) — Como parte da Organização Mundial de Saúde, a IARC procura identificar as causas do câncer. Ela classificou a acrilamida como um “provável carcinógeno humano”.
- O Programa Nacional de Toxicologia (National Toxicology Program -NTP) — Formado por partes de várias agências governamentais dos EUA, incluindo os Centers for Disease Control and Prevention, Food and Drug Administration e National Institutes of Health, o NTP, em seu relatório de 2014 sobre carcinógenos, classificou a acrilamida como “razoavelmente previsto de ser um carcinógeno humano.”
- A Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency - EPA) — Como proprietária do sistema integrado de informações sobre riscos, um banco de dados eletrônico contendo informações sobre os efeitos à saúde humana decorrentes de exposições ambientais, a EPA classifica a acrilamida como “provável cancerígeno para seres humanos”.
Os Melhores e mais Saudáveis Óleos para Cozinhar
Embora algumas fritadeiras de ar quente cumpram suas promessas de usar até 75% menos óleo do que os métodos tradicionais de fritura, é importante lembrar que nem todos os óleos de cozinha são criados da mesma forma, mesmo se você estiver usando em menor quantidade.
A maioria dos óleos usados para cozinhar, na verdade, são muito processados e alguns podem até ser hidrogenados ou parcialmente hidrogenados, o que significa que eles estão repletos de gorduras trans. Segundo a American Heart Association, o consumo regular de gorduras trans:
- Reduz o seu nível de colesterol HDL (bom)
- Aumenta o risco de desenvolver doenças cardíacas e acidente vascular cerebral
- Está associado a um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2
Além disso, eu sempre aconselho você a evitar o óleo de canola, o óleo de milho, o óleo de semente de algodão e o óleo de soja, bem como quaisquer alimentos que contenham ou sejam cozidos neles.
Como você já deve saber, estes são os óleos primários usados para preparar a maioria dos alimentos fritos e processados, bem como quase todos os alimentos de fast food. Embora esses óleos não tenham gorduras trans, quando aquecidos eles podem se deteriorar-se em produtos de oxidação tóxica ainda mais perigosos, incluindo aldeídos cíclicos.
Outra razão para evitar esses óleos é o fato de que muitos deles são geneticamente modificados (GM). Os alimentos transgênicos podem prejudicar sua saúde e estão entre os piores alimentos do planeta.
Óleos mais saudáveis incluem óleo de coco, azeite de oliva, manteiga orgânica crua feita com o leite de animais alimentados com grama, manteiga clarificada chamada ghee e óleo de gergelim. Note que o óleo de coco é o único útil para se cozinhar em altas temperaturas, incluindo fazer frituras, embora o ghee também possa ser usado para cozinhar.
Embora você possa ser tentado a usar azeite de oliva para cozinhar ou fritar, sua estrutura química e grande quantidade de gorduras insaturadas tornam-no muito suscetível a danos oxidativos. Por esse motivo, somente use o azeite de oliva (e óleo de gergelim) frio, em pequenas quantidades em saladas.
Se você optar por usar uma fritadeira de ar quente, esteja ciente da possibilidade de um aumento nos radicais livres até mesmo de pequenas quantidades de óleo. Se você for um fã das fritadeiras de ar quente, pelo menos use óleos que não oxidem facilmente, como o óleo de coco.
Considerações Finais Sobre as Fritadeiras de Ar Quente
Dada a natureza insalubre dos alimentos fritos, eu não consideraria a fritadeira de ar quente como um utensílio de cozinha indispensável, especialmente se um de seus objetivos for otimizar sua saúde. Com frequência, você provavelmente irá usar a fritadeira de ar quente em alimentos processados usando óleos tóxicos, resultando em uma maneira de comer que simplesmente não pode ser considerada parte de um estilo de vida saudável.
Além disso, embora eu não tenha mencionado isso anteriormente, também tenho preocupações em relação aos tipos de plásticos e revestimentos antiaderentes usados em algumas fritadeiras de ar quente. Dependendo do modelo que você escolher, você também pode estar em risco de exposição tóxica ao Bisfenol-A (BPA) e revestimentos antiaderentes, o que eu não recomendo de forma alguma.
Para concluir este assunto, encerro com um comentário que li em uma resenha on-line de uma das fritadeiras de ar quente. Se todavia você estiver com alguma dúvida, esse pode ser o conselho final do qual você precisa para ajudar você a decidir se deve comprar uma fritadeira de ar quente.
O autor da resenha disse: “As fritadeiras de ar quente têm a vantagem adicional de tornar os alimentos fritos mais saudáveis, mas se o alimento frito não for um alimento básico na sua dieta, você provavelmente não irá beneficiar-se de ter uma fritadeira de ar quente”.