Por Dr. Mercola
A vitamina B12, também conhecida por cobalamina, é necessária para a produção dos glóbulos vermelhos do sangue, e também para o funcionamento adequado do sistema nervoso e para a síntese de DNA. Níveis não adequados da vitamina podem causar vários sintomas físicos, como dormências e fadiga. Mas a sua saúde mental também pode sofrer de forma considerável.
Na verdade, a vitamina B12 vem sendo cada vez mais reconhecida pela sua importância no combate à doenças mentais. E a sua deficiência, que se torna mais comum conforme você envelhece, pode levar à depressão, demência, transtornos cognitivos, dentre outros.
A vitamina B12 pode ajudar no tratamento da depressão
A vitamina B12 tem um papel importante nas funções neurológicas, e sua deficiência pode causar várias problemas, como transtornos de personalidade, irritabilidade, depressão, demência e até mesmo psicose. Além disso, já foi demostrado que o tratamento da depressão de pessoas que apresentam altos níveis de vitamina B12 é mais eficaz.
Em um estudo envolvendo 200 adultos com depressão, aqueles que receberam suplementos de vitamina B12 juntamente com medicamentos antidepressivos apresentaram uma melhora considerável nos sintomas da depressão.
Mais especificamente, após três meses, 100% das pessoas que receberam suplementos da vitamina apresentaram uma redução de pelo menos 20% nos sintomas. Das pessoas que receberam somente o antidepressivo, apenas 69% apresentaram essa mesma redução nos sintomas.
Outras pesquisas alcançaram resultados similares, como uma que descobriu que pacientes tratados com 0,4 miligramas (mg) de vitamina B12 por dia apresentaram uma redução nos sintomas da depressão.
Também já foi observado que até 30% dos pacientes internados por depressão podem ser deficientes de vitamina B12, e dentre os idosos com distúrbios mentais, os deficientes da vitamina têm uma chance 70% maior de terem depressão. Os pesquisadores chegaram até a dizer que a vitamina B12 pode estar relacionada à depressão.
O Instituto Linus Pauling da Universidade do Estado de Oregon apresentou algumas teorias sobre a razão pela qual a vitamina B12 está fortemente relacionada à depressão:
"As razões da relação entre a deficiência vitamina B12 e a depressão não estão claras, mas podem envolver uma deficiência de S-adenosilmetionina (SAMe). A SAMe é responsável pela transferência de grupos metilo para várias metilações no cérebro, incluindo aquelas envolvidas no metabolismo de neurotransmissores cujas deficiências podem estar relacionadas à depressão.
A deficiência severa da vitamina B12 em um camundongo resultou em alterações dramáticas nos níveis de metilações do DNA no cérebro, o que pode causar danos neurológicas. Essa hipótese é sustentada por várias pesquisas que mostraram que suplementos de SAMe melhoram os sintomas da depressão."
A Vitamina B12 também ajuda a regular o nível de homocisteína do sangue, e índices elevados de homocisteína estão relacionados à deficiência de vitamina B12 e à depressão. A homocisteína é um aminoácido produzido pelo corpo que, quando em grandes quantidades, pode aumentar os riscos de ataques cardíacos e derrames. A função da vitamina B12 é garantir que a homocisteína no seu sangue seja consumida pelo seu corpo.
A vitamina B12 protege contra a demência e transtornos cognitivos
O papel da vitamina B12 na supressão da homocisteína também é uma razão pela qual ela protege a sua saúde cerebral, já que as concentrações de homocisteína tendem a aumentar quando seu cérebro se degenera. Ter um nível de homocisteína no soro (sanguíneo) acima de 14 micro mols por litro é algo que está associado ao dobro de riscos de Alzheimer. Em um artigo de 2010, foi observado que:
"Deficiência das vitaminas folacina, B12 e B6 estão associadas como disfunções neurológicas e psicológicas… Nos idosos, a debilidade cognitiva e ocorrências de demência podem estar relacionadas com a alta prevalência de quadros inadequados de vitaminas B e à elevações de homocisteína no plasma.
Os mecanismos plausíveis incluem a neurotoxicidade e vasotoxicidade da homocisteína, e reações debilitadas de metilação dependentes de S-adenosilmetionina (SAM-e), vitais para o funcionamento do sistema nervoso central. Sob essa luz, é imperativo descobrir maneiras seguras de melhorar o status das vitaminas do complexo B entre os idosos…"
A vitamina B12 também está relacionada ao encolhimento do cérebro. Um estudo de 2013 demonstrou que as vitaminas B não só atrasam o encolhimento do cérebro como um todo, mas atrasam o encolhimento de regiões específicas conhecidas por serem as mais afetadas pelo mal de Alzheimer. Além disso, nessas áreas específicas, o atrofiamento foi diminuído em cerca de 700%!
Pessoas com Alzheimer também têm maiores chances de apresentarem níveis reduzidos de vitamina B12 em seus líquidos cefalorraquidianos se comparados à pessoas com outros tipos de demência, até mesmo quando seus níveis de vitamina B12 no sangue são similares. Abaixo está a explicação fornecida pelos pesquisadores, publicada no Diário Indiano de Psiquiatria:
"Ensaios clínicos indicaram que a vitamina B12 atrasa o início dos sinais de demência (e de anormalidades sanguíneas), caso seja administrada dentro de um período clínico específico, antes do início dos primeiros sintomas.
A suplementação de vitamina B12 em conjunto com cobalamina melhora as funções cerebrais e cognitivas dos idosos, pois estimula o funcionamento de elementos relacionados ao lobo frontal do cérebro, além das funções de fala em pessoas com problemas cognitivos. Adolescentes no limite da deficiência de vitamina B12 também desenvolvem sinais de problemas cognitivos."
Problemas neurológicos ligados à deficiência de vitamina B12 em vegetarianos
Veganos ou vegetarianos rigorosos que não utilizam produtos de origem animal e não tomam suplementos de vitamina B12, frequentemente apresentam deficiência dessa vitamina, resultando em maiores riscos de sofrerem transtornos neuropsiquiátricos e neurológicos.
Quando 100 pessoas vegetarianas foram comparadas a 100 pessoas onívoras, os vegetarianos apresentaram níveis de vitamina B12 consideravelmente menores, além de taxas mais altas de depressão, neuropatia periférica, parestesias (sensação de formigamento) e psicose.
O transtorno obsessivo-compulsivo também está relacionado à deficiência de vitamina B12 (e a níveis elevados de homocisteína). Particularmente, os problemas neurológicos podem aparecer mesmo quando o nível de vitamina B12 está na categoria "normal-baixa", ou seja, logo abaixo de 258 picomols por litro (pmol/L).
A pessoa é considerada deficiente de vitamina B12 quando seu nível está em 148 pmol/L ou menos. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos observou:
"A deficiência de vitamina B12 pode causar um tipo de anemia identificada pelo aumento do tamanho dos glóbulos vermelhos do sangue, e pela redução na quantidade dos mesmos. Também pode causar distúrbios da marcha e de equilíbrio, perdas da sensibilidade à vibrações, confusão, e, em casos mais avançados, demência.
Nosso corpo necessita da vitamina B12, pois ela cria um revestimento protetor ao redor dos nervos. Dessa forma, níveis não adequados da vitamina podem expor nossos nervos a danos."
As vitaminas B6, B8 (inositol) e B12, quando em conjunto, são muito eficientes na melhora dos sintomas da esquizofrenia, quando consumidas em grandes doses. Até mesmo mais eficientes que os tratamentos que utilizam remédios, possivelmente porque as pessoas esquizofrênicas tendem a apresentar anormalidades em seus níveis de vitamina B12 e em suas vias glutamatérgicas.
Por que a deficiência da vitamina B12 é tão comum?
As únicas fontes confiáveis de vitamina B12 são produtos de origem animal. No entanto, até pessoas que consomem carne podem apresentar deficiência da vitamina, por várias razões. Pesquisas já sugeriram que cerca de 2/5 dos americanos podem apresentar níveis de vitamina B12 abaixo do adequado, sendo 9% deles deficientes e 16% com menos de 185 pmol/L, quantidade considerada como o limite da deficiência.
"Muitas pessoas podem estar deficientes atualmente," disse Katherine Tucker, que já trabalhou na Universidade Tufts em Boston, e que atualmente lidera o Centro da Saúde da População e das Disparidades da Saúde, na Universidade de Massachusetts Lowell.
"Existe uma dúvida sobre qual deve ser ao limite clínico da deficiência… Eu acho que existem muitos casos de deficiência de vitamina B12 por aí que não foram detectados… E não é porque as pessoas não estão comendo carne o suficiente… O problema é a que a vitamina não está sendo absorvida."
A vitamina B12 é encontrada presa fortemente às proteínas, e para quebrar essa ligação, é necessária uma grande acidez. Algumas pessoas podem não ter suco gástrico o suficiente para separar a vitamina das proteínas. O envelhecimento também pode reduzir a sua capacidade de absorver as vitaminas dos alimentos, aumentando seus riscos de sofrer deficiências, assim como qualquer uma das seguintes situações:
Vegetarianos e veganos apresentam maiores riscos, já que a vitamina B12 é derivada de produtos de origem animal. |
Pessoas que consomem bebidas alcoólicas regularmente, já que a vitamina B12 é armazenada no fígado. |
Pessoas com doenças autoimunes, como a doença de Crohn e a doença celíaca, que podem impedir seu organismo de absorver a vitamina B12. |
Pessoas que bebem mais que quatro copos de café por dia têm mais chances de apresentarem deficiências das vitaminas B do que pessoas que não bebem café. |
Pessoas que fizeram gastroplastia e, por isso, apresentam sistemas digestivos alterados, o que pode prejudicar a absorção da vitamina B12. |
Pessoas expostas ao óxido nitroso (gás hilariante), que é capaz de destruir qualquer reserva de vitamina B12 presente no corpo. |
Adultos com mais de 50 anos de idade, pois o envelhecimento provoca uma redução na capacidade de produção do fator intrínseco. |
Pessoas infectadas pela bactéria Helicobacter pylori. O fator intrínseco é uma proteína produzida pelas células do estômago que é necessária para a absorção da vitamina B12. A bactéria Helicobacter pylori pode destruir essas proteínas, impedindo a absorção da vitamina. |
Pessoas que tomam medicamentos antiácidos, que têm uma tendência de interferir na absorção da vitamina B12 com o tempo. |
Pacientes que tomam metformina para baixa glicemia, pois o remédio interfere na absorção da vitamina B12, dobrando o risco de desenvolver a deficiência. |
Qualquer pessoa que tome inibidores da bomba de prótons (IBPs), como o Lansoprazol ou o Nexium, ou anti-histamínicos H2, como a Famotidina ou a Ranitidina. Pesquisas mostram que tomar IBPs por mais de dois anos aumenta seus riscos de sofrer deficiência de vitamina B12 em 65%. |
Mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais por longos períodos, pois o estrogênio prejudica a absorção da vitamina. |
Pessoas que tomam muitos antibióticos, pois já foi provado que esses medicamentos induzem a deficiência de vitamina 12. |
Sinais que indicam uma possível deficiência de vitamina B12
Os sintomas da deficiência da vitamina B12 começam de forma gradual e pioram com o tempo, causando uma grande variedade de sintomas físicos e mentais, como:
A sensação de dormência, formigamento, de "agulhas" nas suas mãos, pernas ou pés, que pode indicar danos nos nervos. |
Língua vermelha, inchada, "carnuda", com menos papilas gustativas. |
Ferimentos/úlceras na boca. |
Visão embaçada ou dupla, ou sombreamentos no seu campo de visão, causados por danos no nervo ótico. |
Pele amarelada (icterícia), indicando uma redução na quantidade de glóbulos vermelhos no sangue, o que libera uma pigmentação amarelada. |
Sensação de instabilidade, falta de firmeza e tontura, que são sinais de falta de oxigênio no sangue. |
Perdas de memória, que pode ser um sinal alarmante, se não houverem outras causas possíveis. |
Anemia |
Fadiga e fraqueza. |
Nos adultos, a deficiência de vitamina B12 pode se desenvolver em cerca de seis anos, tempo necessário para limpar as reservas de vitamina B12 do corpo. É muito importante descobrir a deficiência o mais cedo possível, pois o tratamento de danos no cérebro e nos nervos pode ser muito difícil.
A Ingestão Diária Recomendada (IDR) de vitamina B12 para adultos é de 2,4 microgramas (mcg) por dia, mas há dúvidas se essa quantidade é mesmo suficiente, principalmente para os idosos. Não há motivos para se preocupar com uma overdose de vitamina B12, pois ela é solúvel em água, de forma que seu corpo pode se livrar do excesso tranquilamente.
Se você tiver uma pequena deficiência, consumir mais alimentos ricos em vitamina B12 pode ajudar, como fígado de boi, truta-arco-íris e salmão vermelho. Deficiências mais sérias podem exigir injeções semanais de vitamina B12 ou grandes doses diárias de suplementos da vitamina.
A respeito de qual tipo de suplemento de vitamina B12 é melhor, a metilcobalamina, que é a forma natural em que a vitamina B12 é encontrada nos alimentos, é mais fácil de ser absorvida e retida pelo seu organismo do que a cianocobalamina, que é a forma em que a vitamina B12 é encontrada na maioria dos suplementos.