Por Dr. Mercola
A erva Scutellaria (também conhecida por seu nome em inglês, Skullcap, não devendo ser confundida com o cogumelo altamente venenoso do gênero Galerina, chamado de Autumn Skullcap), existe em duas variedades: A Americana (Scutellaria lateriflora) e a Chinesa (Scutellaria baicalensis). Embora pertençam à mesma família e ambas possuam usos medicinais, elas não são necessariamente intercambiáveis.
A Scutellaria americana é originária da América do Norte, mas cultivada também na Europa e outras áreas do mundo. Muitos dos estudos realizados sobre a Scutellaria utilizaram a variedade chinesa, nativa da China e partes da Rússia. A erva é usada na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) para o tratamento de infecções, dores de cabeça, inflamações e alergias.
O nome em inglês da Scutellaria se deve à aparência de capacete das flores, roxas ou azuis, que enfeitam a planta. A Scutellaria americana atinge a 1,2 metro de altura e pode ser encontrada selvagem nas florestas temperadas.
Já a variedade chinesa da Scutellaria chega a pouco mais de 30 cm de altura, além de não apresentar tantas ramificações. Ambas as ervas estão podem ser encontradas como um extrato em pó, e a variedade americana pode ser encontrada também na forma de um extrato líquido.
Um composto flavonoide – a escutelarina – pode ser encontrado em plantas dos gêneros Scutellaria e Erigeron. O extrato da erva Erigeron breviscapus é utilizado pela MTC para o tratamento de diversas doenças. A Erigeron breviscapus contém quantidades elevadas de escutelarina, que também é encontrada nas ervas do gênero Scutellaria, tanto na variedade americana quanto na chinesa.
Flavonoides na Scutellaria possem efeito neuroprotetor após lesão cerebral
Breviscapina é um extrato de flavonoides retirado da erva Erigeron breviscapus, que contém 85% da escutelarina encontrada na Scutellaria, ou Skullcap. Um recente estudo publicado no Journal of Cellular Biochemistry investigou os efeitos neuroprotetores da breviscapina após lesão cerebral traumática (LCT).
Pesquisadores induziram uma LCT difusa fechada em ratos e 30 minutos depois injetaram breviscapina em seus abdomens. Os pesquisadores deram pontuações neurológicas para medir resultados comportamentais como indicação de danos neurológicos. Secções de tecido histopatológico do cérebro dos ratos foram subsequentemente utilizadas para avaliar o dano celular.
Os pesquisadores encontraram o Fator Nuclear Relacionado ao fator eritroide-2 (Nrf2) e proteínas a jusante no tecido cerebral. Eles concluíram que a breviscapina poderia aliviar ou reduzir a morte celular após uma LCT, além de melhorar as funções neurocomportamentais através da regulação positiva de Nrf2.
O Nrf2 foi descrito como o “principal regulador de respostas oxidativas”. Ele é reconhecido como um dos principais mediadores na redução da inflamação e descobriu-se que ele pode induzir a ativação de antioxidantes que são cruciais no início do processo de cura.
O estudo no Journal of Cellular Biochemistry concluiu que as proteínas a jusante (incluindo HO-1 e NQO-1) detectadas nas secções de tecido histológico indicaram regulação positiva do Nrf2. A expressão do Nrf2 e sua interação com as vias de sinalização intracelular podem facilitar o desenvolvimento de abordagens terapêuticas para ajudar a reduzir o efeito de doenças inflamatórias crônicas.
O Nrf2 é também um regulador da resistência celular a oxidantes, como parte de um complexo sistema de defesa antioxidante, Podendo também controlar a expressão de genes envolvidos na desintoxicação e eliminação de oxidantes reativos.
Efeito protetor da escutelarina identificado também em estudos relacionados ao coração, fígado e rins
O efeito protetor que a breviscapina se inicia através do NRF2 contra a apoptose celular, e o estresse oxidativo após a lesão também pode apresentar efeitos positivos sobre o coração, fígado e rins. O Memorial Sloan-Kettering Cancer Center informa que a escutelarina possui potenciais usos no tratamento da aterosclerose, inflamação, epilepsia e hepatite.
Em estudo publicado no Journal of Cardiovascular Pharmacology, pesquisadores usaram ratos Sprague-Dawley para induzir uma isquemia cerebral focal e isquemia cardíaca, seguida de tratamento com breviscapina ou escutelarina. Os resultados mostraram que os efeitos protetores da escutelarina no coração e no cérebro foram melhores do que os da breviscapina.
Um artigo nas Frontiers in Pharmacology relatou que diversos estudos clínicos descobriram que a breviscapina pode ser usada juntamente à medicação para uma variedade de doenças cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca crônica e doença cardíaca pulmonar.
O efeito antioxidante ativo também reduz a lesão devido à isquemia-reperfusão hepática. Em um estudo com 40 ratos, a análise histopatológica foi realizada 24 horas após a reperfusão. E os pesquisadores concluíram que a breviscapina reduziu a lesão ao inibir o estresse oxidativo no fígado. Durante um evento isquêmico, ocorre a morte celular.
Quando o fornecimento de sangue é restaurado, danos adicionais podem acontecer pela atividade de radicais livres.
Diversos outros estudos descreveram efeitos protetores da breviscapina para os rins em estudos com humanos e animais. Em uma meta-análise, os pesquisadores descobriram que injeções de breviscapina tiveram efeito terapêutico em indivíduos com nefropatia diabética, incluindo um efeito protetor renal.
Outro estudo descobriu que injeções de breviscapina, em combinação com drogas anti-hipertensivas, melhoram os desfechos clínicos em pacientes tratados com nefropatia hipertensiva, indicando que poderia servir como estratégia de proteção renal para os pacientes.
Os benefícios adicionais da escutelarina
Em uma carta ao editor do Journal of Cellular and Molecular Medicine, os pesquisadores descrevem o uso da breviscapina em um estudo com animais, demonstrando seus efeitos contra a embolia pulmonar. Eles concluíram que havia uma redução na inflamação nos tecidos pulmonares, o que facilitou a redução da vasoconstrição.
A escutelarina possui um uso tradicional como um potente agente antiplaquetário. Em um estudo usando ratos com endometriose induzida, os pesquisadores concluíram que a escutelarina era um tratamento eficiente ao suprimir a agregação plaquetária e inibir a proliferação, a fibrogênese e a angiogênese.
Esses fatores resultaram em redução do tamanho da lesão e melhora da dor nos camundongos. A Scutellaria americana também é uma erva medicinal tradicionalmente usada no tratamento do estresse e da ansiedade.
Em um estudo cruzado, duplo-cego, com controle por placebo, utilizando 43 participantes saudáveis, os pesquisadores descobriram que Scutellaria americana “melhorou significativamente o humor global sem reduzir a energia ou a cognição”.
Os efeitos da escutelarina também foram considerados um candidato promissor para o desenvolvimento de drogas terapêuticas contra encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET) que levam à perda de neurônios e funções sinápticas. Em humanos, as EETs incluem doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson e o mal de Alzheimer.
Além disso, a variedade chinesa tem propriedades anti-histamínicas, sendo usada tradicionalmente para tratar rinite alérgica, asma e eczema. A escutelarina também demonstrou propriedades antibacterianas in vitro e anti-inflamatórias in vivo.
Os pesquisadores descobriram que os efeitos anti-inflamatórios da escutelarina são úteis como um tratamento adicional com a bleomicina, um medicamento antitumoral de amplo espectro. O estudo teve como objetivo investigar um protocolo de tratamento combinado usando experimentos in vivo e in vitro com animais.
Os resultados sugeriram que a escutelarina aumentou o efeito anticancerígeno da bleomicina e, simultaneamente, reduziu o efeito colateral da droga na fibrose pulmonar. A erva também é utilizada na MTC para o tratamento de:
Diarreia |
Desinteria |
Hemorragia |
Pressão alta |
Infecções respiratórias |
Neuroproteção |
Insônia |
Câncer |
Vírus |
Inflamação |
Proteção ao fígado |
Bactérias |
Convulsões |
Acne |
Artrite |
Os potenciais efeitos colaterais da Scutellaria
Apesar do uso de ervas ser uma abordagem tradicional para fortalecer o sistema imunológico e tratar doenças, certas ervas podem desencadear efeitos colaterais e interagir com suplementos ou medicamentos.
O centro médico Milton S Hershey Medical Center, no estado da Pensilvânia, adverte que a Scutellaria americana pode ter sido contaminada, devendo, por isso, ser obtida a partir de uma fonte confiável. Indivíduos diabéticos devem tomar a Scutellaria chinesa apenas sob a supervisão de um médico, pois ela pode reduzir os níveis de açúcar no sangue e aumentar o risco de hipoglicemia.
A Scutellaria chinesa pode exacerbar os problemas do estômago ou do baço, não devendo ser utilizada durante a gravidez ou a amamentação. A Scutellaria americana pode induzir confusão mental, batimentos cardíacos irregulares e convulsões quando utilizada em altas doses.
Ambas as variedades possuem também efeitos sedativos e podem aumentar o efeito de anticonvulsivantes, barbitúricos, benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos, álcool e drogas usados no tratamento da insônia.
As flores são lindas e o chá promove o relaxamento e outros benefícios para a saúde
Embora a Scutellaria esteja disponível em pó ou como tintura, você também pode desfrutar de uma xícara quente de chá de Scutellaria à noite. Tome cuidado com o consumo durante o dia, pois a erva possui um efeito sedativo. Dirigir ou operar máquinas após beber pode ser perigoso.
Você pode preparar duas porções de chá a partir de 1 colher de sopa de erva de boa qualidade e 2 xícaras de água fervente. Deixe o chá em infusão por 10 minutos e, se preferir, adoce com mel puro, Luo han ou stevia.
A Scutellaria americana floresce entre maio e agosto nas zonas de 4 a 8, preferindo sombra parcial a sol pleno, ao passo que a variedade chinesa prefere sol pleno e solo arenoso seco. A Scutellaria pode ser facilmente cultivada a partir da semente, já que germina a uma taxa naturalmente alta, especialmente quando estratificada.
Nesse processo, você trata as sementes para estimular a germinação. A estratificação a frio pode ser feita facilmente na geladeira. Prepare um quarto de xícara de areia em uma tigela e adicione água até formar uma bola. Adicione a quantidade desejada de sementes na areia, misture bem e deixe em uma sacola na geladeira durante uma semana.
As sementes podem ser plantadas dentro de casa, antes da primeira geada, ou no exterior, uma vez passada a ameaça do gelo. Assegure-se de que o solo esteja úmido, mas bem drenado. Você também pode plantar com estacas ou dividindo as raízes e permitindo que a planta se espalhe. A Scutellaria pode ser colhida quando estiver em plena floração, com a ajuda de uma tesoura, para retirar as flores e folhas.