Alimentos ultraprocessados aumentam risco de morte em 62%

Por Dr. Mercola

O Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais define uma pessoa com sobrepeso e obesidade aquela cujo peso é superior ao que é considerado normal, ajustado para sua altura. Esse ajuste é calculado tomando o peso da pessoa em quilogramas e dividindo-o pelo quadrado da altura em metros, o que é conhecido como índice de massa corporal, ou IMC, de acordo com o CDC.

Um adulto é considerado obeso se o seu IMC for 30,0 ou superior. Estudos recentes apenas reforçam o que cientistas e pesquisadores já sabiam: As taxas de obesidade são altas e crescentes.

Segundo The State of Obesity, existem disparidades raciais e étnicas marcantes e persistentes. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos em 2014, mais de 33% dos indivíduos foram considerados com sobrepeso.

Quatro porções de comida ultraprocessada aumentam o risco de morte

Os pesquisadores procuraram avaliar a associação entre uma alimentação com ultraprocessados e o risco de mortalidade por todas as causas. Para isso, eles coletaram dados de 19.899 participantes de 1999 a 2014. Eles acompanharam os participantes a cada dois anos para coletar dados sobre o consumo de alimentos e bebidas e classificaram os alimentos ingeridos de acordo com o grau de processamento, usando o sistema de classificação NOVA.

O NOVA classifica as categorias de alimentos de acordo com a extensão e finalidade do processamento, e não em termos de nutrientes encontrados nos alimentos. O NOVA é reconhecido como uma ferramenta válida para a pesquisa em nutrição e saúde pública e usado em relatórios das Nações Unidas e da Organização Pan-Americana da Saúde.

A categorização do NOVA foi iniciada quando os pesquisadores perceberam que a importância do processamento industrial na saúde humana era muito subestimada na pesquisa. A principal medida de resultado do pesquisador foi uma associação entre alimentos ultraprocessados e mortalidade por todas as causas.

Os participantes foram categorizados em consumo baixo, médio-baixo, médio-alto ou alto consumo de alimentos ultraprocessados. Os pesquisadores descobriram que os que possuem alto consumo, comendo mais de quatro porções de alimentos ultraprocessados por dia, tinham o maior risco de mortalidade por todas as causas em comparação com os de baixo consumo.

Durante o estudo de 15 anos, ocorreram 335 mortes. Para cada porção adicional de alimentos ultraprocessados, a mortalidade relacionada a todas as causas aumentou em 18%. Eles concluíram que comer quatro ou mais porções de alimentos ultraprocessados estava associado de maneira independente a um aumento de 62% no risco relativo de mortalidade por todas as causas.

Eles também descobriram que aqueles no grupo de maior consumo tinham índice de massa corporal maior que a média, eram mais propensos a serem fumantes e tinham um histórico familiar de doença cardiovascular, diabetes e depressão. Além disso, eles também eram mais propensos a fazer lanches e usar computadores por longos períodos de tempo. A principal causa de morte foi o câncer, em uma idade média de 58 anos.

Risco de doenças cardiovasculares também aumenta com comidas ultraprocessadas

Outro estudo recente envolveu 105.159 participantes. Os pesquisadores coletaram dados sobre sua ingestão alimentar usando registros dietéticos repetidos de 24 horas, projetados para avaliar os hábitos alimentares típicos dos participantes. Aqui, o principal resultado medido foi o risco de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.

O tempo de acompanhamento médio dos participantes foi de 5,2 anos, durante os quais os pesquisadores descobriram que a ingestão de alimentos ultraprocessados estava de fato associada a um maior risco de doença cardiovascular.

Comida ultraprocessada leva a ganho de peso

Outro estudo de pequena escala, embora rigoroso, aleatorizado e cuidadosamente controlado, realizado pelo National Institutes of Health (NIH), descobriu que comer alimentos ultraprocessados aumenta a ingestão de calorias e leva a um maior ganho de peso. Os pesquisadores recrutaram 20 voluntários saudáveis que viveram no NIH Clinical Center por quatro semanas consecutivas.

Eles foram separados aleatoriamente em dois grupos e receberam uma dieta ultraprocessada ou não processada durante as duas primeiras semanas e depois mudaram imediatamente para a dieta contrária pelas próximas duas semanas. Depois de coletar os dados, os pesquisadores concluíram que, ao ingerir uma dieta processada, os participantes ingeriam, em média, 459 calorias a mais por dia do que quando ingeriam a dieta não processada.

O aumento da ingestão de energia ocorreu durante o café da manhã e almoço, sem aumento significativo de calorias no jantar para quem comia a dieta ultraprocessada. Os pesquisadores também descobriram que comer refeições ultraprocessadas faz com que os participantes comam mais rápido, o que pode ter levado a uma maior ingestão de energia.

Eles levantaram a hipótese de que os alimentos ultraprocessados podem ter aumentado a taxa de alimentação e retardado a sinalização da saciedade, aumentando assim a contagem geral da ingestão calórica. Enquanto na dieta ultraprocessada por duas semanas, os participantes ganharam uma média de 898 gramas.

A maior causa de morte está ligada a comidas ultraprocessadas: Câncer

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, havia 1,29 milhão de novos casos de câncer registrados em 1999 e 1,63 milhão de novos casos de câncer registrados em 2015. Segundo a American Cancer Society, estima-se que 14,1 milhões de casos de câncer foram diagnosticados em todo o mundo em 2012 e o número deverá crescer para 21,6 milhões até 2030.

A noção que afirma o câncer como sendo uma doença genética atualmente influencia a pesquisa médica e o tipo de tratamento que você pode esperar de um oncologista. Na verdade, influencia toda a indústria do câncer, mas não está levando a avanços significativos em seu tratamento ou prevenção.

Contudo, o mecanismo do metabolismo nas células cancerígenas é claro e baseado nas descobertas do Dr. Otto Warburg, um bioquímico treinado de modo clássico que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1931 por sua descoberta da natureza e ação da enzima respiratória citocromo C oxidase.

Seu trabalho demonstrou como as células recebem energia da respiração e como as células cancerígenas têm um metabolismo energético fundamentalmente diferente em comparação com uma célula saudável. O Instituto Nacional do Câncer relata que o tabaco é a principal causa de câncer da atualidade e a principal causa de morte por câncer.

Embora o tabagismo tenha sido o número 1 para causas de câncer evitáveis por décadas, parece que a obesidade não ficou muito para atrás. De acordo com o Dr. Otis Brawley, professor de oncologia em epidemiologia na Universidade Johns Hopkins e ex-diretor médico da American Cancer Society, nos próximos cinco ou dez anos a obesidade pode ultrapassar o tabaco.

Em comparação com aqueles que estão dentro de uma faixa de peso normal, os obesos também são mais propensos a ter reincidências no câncer e uma menor probabilidade de sobrevivência. Uma pesquisa publicada no New England Journal of Medicine concluiu que “o aumento do peso corporal foi associado ao aumento das taxas de mortalidade para todos os cânceres combinados e para cânceres em vários locais específicos”.

A Reuters informa que a taxa de câncer não relacionada à obesidade diminuiu em 13% entre 2005 e 2014, enquanto os cânceres relacionados à obesidade aumentaram 7%. Embora a associação exata entre câncer e obesidade não seja totalmente compreendida, os pesquisadores estão se concentrando em estudar a gordura visceral, como metabolicamente ativo e que pode estimular o crescimento celular.

Obesidade aumenta o risco em outras questões de saúde

Além do câncer, a obesidade acaba prejudicando sua saúde física e financeira, mesmo que você esteja saudável no momento. Os adultos que são obesos gastam 42% a mais em custos de cuidados diretos e aqueles que são obesos mórbidos (IMC maior que 40) pagam 81% mais do que um adulto com peso saudável.

Quando um paciente se apresenta na sala de emergência com dor torácica, o custo é 41% maior para pacientes gravemente obesos, 28% maior para pacientes obesos e 22% maior para pacientes com sobrepeso em relação a indivíduos com peso adequado. Custos financeiros adicionais são o resultado de preocupações médicas e físicas relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e cálculos biliares.

Na diabetes tipo 2 o corpo luta para manter níveis saudáveis de açúcar no sangue devido à resistência à insulina. O hormônio insulina é produzido pelo pâncreas e ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue dentro de um intervalo normal. Se você tiver diabetes tipo 2, seu pâncreas pode não produzir insulina suficiente para acompanhar a demanda, resultando em níveis mais altos de açúcar no sangue.

A obesidade e a diabetes tipo aumentam drasticamente o risco de doença do coronário. Um acúmulo de placa nas artérias limita severamente o fluxo de sangue para o coração e um ataque cardíaco pode acontecer. A obesidade também pode aumentar o risco de pressão alta, o que pode aumentar a carga de trabalho do seu coração ao ponto de causar danos arteriais e no coração.

Os cálculos biliares são um depósito semelhante a um cristal criado dentro da vesícula biliar, normalmente feito de um excesso de colesterol, bilis ou bilirrubina. No caso da obesidade, as pedras são geralmente feitas do colesterol, e o tamanho pode variar entre um grão de areia até o tamanho de uma bola de golfe.

A menos que causem um bloqueio no duto pancreático, geralmente não desencadeiam sintomas. A obesidade também pode limitar sua atividade física e aumentar o risco de osteoartrite nos joelhos, costas e quadris.

O que tem em comidas ultraprocessadas?

De acordo com a NOVA, o grupo de alimentos e bebidas ultraprocessados contém formulações industriais, normalmente com cinco ou mais desses tipos de ingredientes. Eles podem incluir açúcar, óleos, gorduras, conservantes e antioxidantes que não são comumente encontrados em preparações culinárias, mas podem ser usados para imitar qualidades sensoriais ou ocultar aquelas indesejáveis.

Embora esta lista não seja completa, ela oferece uma noção sobre os tipos de alimentos considerados ultraprocessados:

A sua alimentação é um fator chave na sua saúde e longevidade

Sem dúvidas, há uma séria epidemia nos EUA e sua causa principal é a dieta. Não há uma solução rápida para isso. É importante lembrar que alimentação é o principal pilar da saúde e que consumir alimentos processados é uma receita para um desastre a longo prazo.

Se você tem acesso a alimentos de verdade, é importante reservar tempo para prepará-los e aproveitar as sobras da melhor forma possível. Com um pouco de dedicação e planejamento, também é possível cultivar alimentos em pequenos espaços, incluindo dentro de casa.