Por Dr. Mercola
O autismo engloba uma gama de problemas caracterizados por dificuldades em interações sociais, comunicação e comportamentos repetitivos. O autismo é uma desordem de espectro, o que quer dizer que seus sintomas podem ser classificados por sua posição em uma escala.
Palestras sobre autismo apontam que não há apenas um tipo de autismo, mas vários subtipos influenciados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Cada indivíduo tem um conjunto distinto de pontos fortes e desafios que afetam seu aprendizado, processo de pensamento e resolução de problemas.
Em alguns casos, pessoas com desordem de espectro autista (ASD, na sigla original) precisam de apoio significativo. Em outros elas podem viver de forma independente e altamente funcional. Muitos fatores podem influenciar no desenvolvimento da condição.
É amplamente conhecido que crianças autistas costumam sofrer com problemas gastrointestinais e que, quanto mais severo os problemas gastrointestinais, mais severos os casos de autismo. Pesquisas recentes apontaram novamente uma intrigante ligação entre o cérebro e o intestino e o fato de que a disfunção intestinal influencia traços do ASD.
A genética não explica o autismo epidêmico
Na maioria das crianças, os sintomas de ASD aparecem entre 2 e 3 anos, embora sintomas associados possam se desenvolver ainda mais cedo. No final dos anos 70, pesquisadores descobriram que gêmeos idênticos frequentemente compartilhavam o ASD, demosntrando que essa condição tem um componente genético.
Porém, a genética está longe de ser o principal fator de risco. Pesquisas da Stanford University School of Medicine publicadas em 2011, novamente focadas na questão dos gêmeos, descobriu que gêmeos fraternos (dizigóticos) são mais propensos a compartilhar um diagnóstico de autismo do que os gêmeos idênticos (monozigóticos).
Gêmeos fraternos compartilham apenas metade do seu DNA, enquanto os idênticos compartilham 99,99%. Isso quer dizer que outro fator além do genético é responsável pela taxa de diagnósticos de autismo que quase dobra em gêmeos fraternos. De acordo com os pesquisadores, fatores ambientais são culpados mais prováveis. Em sua conclusão, eles declararam que "a susceptibidade a ASD é moderadamente genética e substancialmente ambiental no caso de gêmeos".
Essa descoberta não é totalmente surpreendente. Não existe epidemia genética: genes simplesmente não podem ser utilizados como explicação do crescimento exponencial dos casos de autismo. Na verdade, uma pesquisa publicada em 2008 descobriu que novas mutações (que surgiram espontaneamente) associadas ao autismo estão presentes em 1% das crianças diagnosticadas com autismo.
O autismo e os fatores ambientais de risco
A maioria dos casos de autismo parecem resultar da ativação ou expressão e diferentes genes. Há vários fatores epigênicos e ambientais que podem promover essa ativação ou expressão. Entre eles, estão:
- Exposição a produtos tóxicos como os metais pesados alumínio e mercúrio através de frutos do mar e vacinas, micróbios tóxicos como vírus e mofo, glifosato e campos eletromagnéticos gerados por Wi-Fi e celulares, apenas para citar alguns.
- Deficiência de vitamina D
- Inflamação cerebral desencadeada por encefalite pós vacinação, insuficiência placentária, barreira sangue-cérebro mal desenvolvida, resposta imune da mãe a infecções durante a gravidez, nascimento prematuro e toxinas ambientais.
- Inflamação intestinal desencadeada por um microbioma desequilibrado. Fatores contribuintes incluem cesariana, microbioma anormal na mãe, amamentação por mamadeira e dieta rica em alimentos processados.
A neurologista russa Dra. Natasha Campbell-McBride acredita a toxidade cerebral originada da toxidade intestinal, também conhecida como síndrome psicointestinal (GAPS, na sigla original), é um fator chave na definição do estágio do autismo, especialmente na presença de vacinas.
De acordo com Campbell-McBride, as toxinas que fluem do intestino da criança afetam o cérebro, impedindo que ele funcione normalmente e processe informações sensoriais.
A conexão entre o cérebro e o intestino no autismo
Como mencionado, pesquisas recentes confirmaram e fortaleceram a teoria de que o intestino tem um papel importante no desenvolvimento do autismo. De acordo com um estudo publicado no Autism Research:
"Autistas comumente sofrem com problemas gastrointestinais, embora a causa disso seja desconhecida. Relatamos sintomas intestinais em pacientes com autismo‐associados à mutação R451C que codifica a proteína‐ neuroligina-3 Demonstramos que a maioria dos genes envolvidos com o autismo estão expressos no intestino de ratos.
A mutação R451C da neuroligina 3 alterou o sistema nervoso entérico, causando disfunção gastrointestinal e comprometeu a população de micróbios no intestino de ratos. A disfunção do intestino no autismo pode se dever a mutações que afetam a comunicação neuronal".
Em outras palavras, mutações genéticas encontradas tanto no intestino quanto no cérebro podem ser a causa primária. Foi demonstrado anteriormente que a mutação R451C da neuroligina-3 altera a função sináptica entre o córtex e o hipocampo, resultando em um comportamento social prejudicado.
Outra pesquisa demonstrou que as mutações na neuroligina-3 também desencadeiam "habilidades cognitivas especializadas" em algumas crianças autistas. Pesquisas anteriores também demonstraram a ligação entre a mutação e a disgunção intestinal . Elisa Hill-Yardin, principal pesquisadora do estudo e professora da RMIT University em Melbourne, Australia, disse ao Neuroscience News:
"Sabemos que o cérebro e o intestino compartilham muitos dos mesmos neurônios e, pela primeira vez, confirmamos que eles também compartilham mutações genéticas relacionadas ao autismo. Até 90% das pessoas com autismo sofrem com problemas intestinais, que têm um impacto sifnificativo em sua vida diária e na de seus familiares.
Nossas descobertas sugerem que esses problemas gastrointestinais podem vir das mesmas mutações nos genes responsáveis pelo cérebro e pelos problemas comportamentais em autistas. Essa é uma linha de pensamento totalmente nova para clínicos, familiares e pesquisadores, que aumenta nossos horizontes na busca de tratamentos que melhorem a qualidade de vida de pessoas com autismo."
Como a mutação neuroligina-3 altera a função intestinal
O estudo mencionado agrega a pesquisas recentes, incluindo trabalhos clínicos não publicados de pesquisadores da França, Suíça e Dinamarca. O Neuroscience News relata:
"O estudo de dois irmãos com autismo, feito pelo professor Christopher Gillberg (University of Gothenburg), a professora Maria Råstam (Lund University) e o professor Thomas Bourgeron (Pasteur Institute) foi o primeiro a identificar uma mutação genética específica como causa do distúrbio do neuro-desenvolvimento.
A mutação afeta a comunicação alterando o "velcro" entre os neurônios que os mantêm em contato próximo... Gillberg e Råstam fizeram anotações clínicas detalhadas dos problemas gastrointestinais significativos dos irmãos.
Uma equipe de pesquisadores da conexão entre no cérebro e o intestino do RMIT fizeram um trabalho clínico com uma série de estudos sobre a função e estrutura do intestino em ratos com a mesma mutação no "velcro" dos genes. A equipe descobriu que essa mutação afeta:
• contrações intestinais
• o número de neurônios no intestino delgado
• a velocidade na qual os alimentos se movem pelo intestino delgado
• a resposta a um importante neurotransmissor do autismo (bem conhecida no cérebro, mas não identificada até o momento como um fator importante no intestino)
... Embora essa mutação específica no "velcro" seja rara, ela é uma entre mais de 150 mutações genéticas relacionadas ao autismo que alteram conexões neurais, disse Hill-Yardin. "A ligação que confirmamos sugere um mecanismo mais amplo, indicando que as mutações que afetam as conexões entre os neurônios podem estar por trás dos problemas intestinais de muitos pacientes".
Diferenças distintas na microbiota intestinal foram encontradas em crianças saudáveis e autistas
Mesmo sem um componente genético, o microbioma intestinal parece ter um papel importante no ASD. Em um estudo da PLOS ONE em 2013, os pesquisadores analisaram o conteúdo micromial de amostras fecais de 20 crianças saudáveis e 20 autistas, descobrindo diferenças distintas entre os dois grupos. Como relatado pelo Medical News Today:
"Especificamente, três gêneros bacterianos (Prevotella, Coprococcus, e Veillonellaceae), foram sublimados os pacientes com autismo, quando comparados a amostras fecais de crianças normais... Esses três gêneros representam importantes grupos de micróbios responsáveis pela fermentação e degradação de carboidratos.
Essas bactérias podem ser críticas para as interações entre a saúde microbial do intestino e têm um papel importante para uma ampla rede de diferentes micro-organismos do intestino. Isso explicaria a baixa diversidade observada nas amostras fecais de autistas".
Os pesquisadores notaram que a microflora intestinal de crianças com autismo era menos populosa e diversa, ambos fatores essenciais na criação de uma comunidade bacteriana capaz de lidar com problemas ambientais. Em outras palavras, um microbioma intestinal desequilibrado porde tornar essas crianças mais susceptíveis a diversos efeitos de toxinas ambientais.
Um dos principais autores disse ao Medical News: "Acreditamos que um intestino diversificado é um intestino saudável". Ele também sugeriu que antibióticos, que podem eliminar bactérias benéficas ao organismo e são comumente administrados nos primeiros três meses de vida em crianças autistas podem ter um papel importante aqui.
O protocolo GAPS pode ser a resposta para muitos pacientes
A pesquisa de Campbell-McBride mostra que há uma profunda dinâmica entre seu intestino, cérebro e sistema imunológico. Ela desenvolveu o que pode ser uma das mais profundamente importantes estratégias de tratamento para prevenir autismo.
Em sua pesquisa, Campbell-McBride descobnriu que praticamente todas as mães de crianças autistas têm uma flora intestinal anormal, que é significativo porque recém-nascidos herdam a flora intestinal das mães no nascimento. Equilibrar a flora intestinal é uma tarefa que pode ser cumprida dentro de 20 dias e pode ter um papel crucial na maturação do sistema imunológico do bebê.
Bebês que desenvolvem uma flora intestinal anormal têm seu sistema imunológico comprometido, o que os coloca em um alto risco de sofrer reações indesejadas de vacinas. Se a flora intestinal do seu bebê está desequilibrada, as vacinas podem ser o que faltava para levar seu sistema imunológico a desenvolver problemas crônicos de saúde.
Testes laboratoriais simples podem identificar o GAPS
A boa notícia é que você pode identificar sem gastar muito o GAPS nas primeiras semanas de vida do bebê, o que pode ajudá-lo a tomar decisões mais bem informadas sobre as vacinas e sobre como proceder para melhorar a saúde do seu filho.
Todo processo de identificar crianças em risco de desenvolver autismo através de vacinas está em seu livro "Síndrome psico-intestinal". Ela também começou a coletar um histórico completo dos pais de crianças autistas e se informar sobre sua saúde intestinal.
Assim, as fezes de crianças com poucos dias de vida foi analisada para determinar o estado da flora intestinal do bebê. Também foram feitos exames de urina para conferir os metabólitos. Juntos, esses dois exames podem retratar de forma confiável o estado do sistema imunológico do seu filho. Esses exames estão disponíveis na maioria dos laboratórios do mundo.
Se o resultado dos exames for normal, o risco de autismo após a vacinação é reduzido significativamente. Caso descubra que seu filho tem uma microflora intestinal anormal ou que ele começou a desenvolver sintomas de autismo, o programa GAPS deve ser iniciado imediatamente. Quanto mais cedo o tratamento começar, melhores são os resultados. A criança também não deve tomar vacinas até que seu microbioma intestinal seja normalizado.
Identificar uma flora intestinal anormal é crucial para proteger a saúde do seu filho
Campbell-McBride reverteu o autismo do filho com alterações na dieta e desintoxicação. Para mim, sua hipótese é a mais relevante do campo. Acredito que seu protocolo nutricional GAPS é importante para a maioria das pessoas nos dias de hoje, como a maioria delas têm uma saúde intestinal distante do ideal graças a exposição a toxinas. Porém, o protocolo é ainda mais crucial para gestantes e crianças muito novas.
A melhor forma de prevenir GAPS é as mães evitarem alimentos processados açúcar, antibióticos e contraceptivos antes da concepção, pois isso pode causar o desenvolvimento de levedura e fungos, além de um intestino gotejante. Além disso, a amamentação e evitar o uso de antibióticos durante e após a gravidez pode ser crucial.