Oh, não - O que tem no seu cereal?

Por Dr. Mercola

Alimentos popularmente usados no café da manhã, muitas vezes comercializados e servidos a crianças, continuam a apresentar resíduos de glifosato, o ingrediente ativo do herbicida Roundup. O glifosato é objeto de processos movidos por mais de 13.000 queixosos, que alegam ter desenvolvido câncer devido à exposição ao produto químico presente no Roundup e outros herbicidas à base de glifosato.

Várias cidades, condados, estados e países já se posicionaram para banir o glifosato ou impor restrições à seu uso. Isso inclui a Áustria, que anunciou, em junho de 2019, planos de proibir o produto ainda este ano. Nos EUA, entretanto, seu uso continua inabalável e, desde 1974, mais de 1,6 bilhão de quilos de glifosato já foram aplicados.

Escrevendo na Environmental Sciences Europe, os pesquisadores chegaram a afirmar: "Em 2014, os agricultores usaram glifosato suficiente para aplicar ~ 1,0 kg/ha em cada hectare cultivado nos EUA e quase 0,53 kg/ha em todas as terras cultiváveis em todo o mundo".

O resultado final desse uso excessivo de produtos químicos é que o glifosato está surgindo por toda parte: no leite materno, água, fraldas descartáveis e mel, por exemplo. Os resíduos do produto químico têm aparecido consistentemente em alimentos populares, incluindo cereais matinais de aveia consumidos por muitas crianças.

Quanto glifosato tem seu cereal matinal?

O Environmental Working Group (EWG) encomendou outra rodada de testes de glifosato em 21 produtos à base de cereais e petiscos à base de aveia. A EWG adquiriu os produtos on-line e, na sequência, embalou e enviou cerca de 300 gramas de cada um para os Laboratórios Anresco, em São Francisco.

Lá, foi realizada uma cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem para analisar os níveis de glifosato. A substância foi encontrada em todos os 21 produtos, que, com exceção de quatro, chegaram a um nível de referência superior ao definido pelo EWG para risco de câncer ao longo da vida em crianças, que é de 160 partes por bilhão (ppb).

Os resultados foram os seguintes:

Fonte: EWG, de testes em maio de 2019

Testes anteriores do EWG também revelaram o herbicida em cereais

"Os novos testes confirmam e ampliam as descobertas dos testes do EWG realizados em julho e outubro do ano passado, com níveis de glifosato consistentemente acima do padrão do EWG para a saúde infantil", afirmou o grupo de trabalho, referindo-se aos testes anteriores de 2018.

No teste de julho, 43 dos 45 produtos alimentícios feitos com aveia cultivada de modo convencional apresentaram glifosato, 31 dos quais tinham níveis de glifosato mais elevados do que aqueles que os cientistas do EWG consideram seguros para a saúde das crianças.

Exemplos de alimentos com níveis detectáveis de glifosato incluem a aveia instantânea Quaker Dinosaur Eggs e, como no estudo em destaque, o cereal Cheerios, Barras de cereais Nature Valley, aveia em corte de aço Quaker e Granola clássica Back to Nature. Mesmo dos 16 alimentos orgânicos de aveia testados, cinco continham glifosato, embora em níveis abaixo da referência do EWG para a saúde de 160 ppb.

Testes de acompanhamento de outras 28 amostras de cereais à base de aveia e outros alimentos à base de aveia comercializados para crianças encontraram glifosato em todas as amostras testadas, com 26 delas acima do valor de referência do EWG para a saúde.

O glifosato também foi detectado no Cheerios da General Mills e em uma série de produtos da marca Quaker, como a aveia instantânea, cereais matinais e lanchinhos. O nível mais elevado de glifosato — 2.837 ppb — foi encontrado no cereal matinal Quaker Oatmeal Squares.

Testes independentes adicionais encontram glifosato em cereais e feijões

Em testes realizados pelo Friends of the Earth (FOE), 100% das amostras de cereais de aveia também apresentaram resultados positivos para resíduos de glifosato. O FOE testou cereais, feijões e produtos da marca dos quatro principais varejistas de alimentos nos EUA: Walmart, Kroger, Costco e Albertsons/Safeway.

Ao todo, 132 amostras de marcas domésticas foram testadas em mais de 30 lojas dos EUA em 15 estados. Resíduos de glifosato e outros pesticidas — neonicotinóides e organofosforados — foram encontrados, com o glifosato sendo detectado em 100% das amostras de aveia e cereais testados.

O nível médio de glifosato nas amostras de cereais foi de 360 ppb, mas algumas amostras continham resíduos que chegavam a 931 ppb. Quanto ao feijão, os níveis encontrados chegaram a 1.128 ppb, embora os níveis médios de glifosato tenham sido de 509 ppb — 4,5 vezes maior do que o valor de referência do EWG. De acordo com o FOE:

"O EWG determinou um risco de câncer de um em um milhão pela ingestão de 0,01 miligrama de glifosato por dia. Para atingir essa dose máxima, seria necessário comer uma única porção de 60 gramas de cereal de aveia com um nível de glifosato de 160 ppb ou uma porção de 90 gramas de feijão com um nível de glifosato de 110 ppb".

Bayer-Monsanto — 'Nós ouvimos, nós aprendemos'

A Bayer, que adquiriu a Monsanto em 2018 por cerca de US$ 63 bilhões, tem lidado com as consequências do Roundup da Monsanto. A Bayer foi fortemente criticada nos três primeiros processos judiciais do Roundup a julgamento.

Os veredictos, que ficaram ao lado dos queixosos em todos os casos até agora, incluindo um pagamento de US$ 2 bilhões no terceiro caso, não só descobriram que o herbicida Roundup causou o câncer dos queixosos como também que "a Monsanto se envolveu com malícia, opressão ou fraude em suas tentativas de encobrir a toxicidade do Roundup".

Em seu site, a Bayer está dedicada ao controle de danos, afirmando: "Nós ouvimos. Nós aprendemos." E agora prometem assumir compromissos com a transparência, sustentabilidade e engajamento. No entanto, a empresa também planeja investir mais de US$ 5,6 bilhões em pesquisas sobre o herbicida e continua afirmando que o glifosato é seguro e "continuará a desempenhar um papel importante na agricultura e no portfólio da Bayer".

No primeiro julgamento do glifosato, a Monsanto foi condenada a pagar US$ 289 milhões por danos ao autor, embora o prêmio tenha sido reduzido para US$ 78 milhões. No segundo caso, um juiz também decidiu em favor do autor, e a Bayer foi condenada a pagar mais de US$ 80 milhões.

A EPA continua a apoiar o glifosato, aumentando os resíduos permitidos nos alimentos

Em sua última revisão do glifosato, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA divulgou um esboço de conclusão em 30 de abril de 2019, afirmando que o produto químico apresenta riscos potenciais para mamíferos e pássaros que comem folhas tratadas, bem como riscos para as plantas, mas não apresenta "riscos dignos de preocupação" para as pessoas e "não é passível de ser cancerígeno para os seres humanos".

A Bayer agora está usando isso em seu benefício como uma defesa ao Roundup. A Reuters citou um dos advogados da Bayer, William Hoffman, que afirmou: "Temos argumentos muito fortes de que as reivindicações aqui são precipitadas... e a recente decisão de registro da EPA é um aspecto importante dessa defesa". Conforme noticiado pelo The Washington Post:

"Quando a Bayer comprou a Monsanto, a empresa provavelmente pensou que poderia obter o apoio da EPA e de outros reguladores por quaisquer riscos legais envolvendo o Roundup", disse Anthony Johndrow, especialista em como as empresas gerenciam as crises. Mas a empresa subestimou os danos à reputação advindos dessas ações, e como eles prejudicaram a percepção pública da empresa".

O EWG e outros grupos de consumidores solicitaram à Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) para reduzir a quantidade de resíduos de glifosato permitidos na aveia de 30 partes por milhão (ppm) para 0,1 ppm, bem como proibir o uso de glifosato como agente dessecante ou de secagem pré-colheita.

O Roundup é "aplicado como dessecante na maioria dos pequenos grãos não modificados geneticamente". Assim, tanto para culturas transgênicas quanto para grãos não transgênicos, o glifosato "é encontrado nessas culturas na colheita". De acordo com o EWG:

"O limite legal da EPA para os resíduos de glifosato é de 30 partes por milhão, ou ppm. A petição, assinada por 18 líderes do setor, pede à EPA que defina um padrão mais protetor de 0,1 ppm, que era o limite legal em 1993. Nos últimos 25 anos, a EPA aumentou em 300 vezes a quantidade de resíduo de glifosato permitido na aveia.

O primeiro aumento, de 20 ppm, foi concedido em resposta a uma petição de 1997 da Monsanto, quando agricultores de todo o mundo começaram a usar amplamente o glifosato como agente de secagem no final da estação. Ele foi aumentado para o nível atual de 30 ppm em 2008. Desde então, os cientistas associaram o glifosato ao câncer, e pesquisadores em todo o mundo pediram limites mais rigorosos para as exposições ao glifosato".

Existem melhores alimentos para o café da manhã do que Cheerios

Se você quiser evitar o glifosato na sua comida escolha alimentos orgânicos ou cultivados biodinamicamente, que não sejam geneticamente modificados ou pulverizados com glifosato como dessecante. Você pode ajudar a promover mudanças, entrando em contato com as empresas que produzem seus alimentos. Diga a elas que você prefere alimentos sem resíduos de glifosato — e está preparado para trocar de marca, se necessário.

O EWG também tem uma petição que você pode assinar, pedindo para empresas de alimentos como a Genera Mills, Quaker e Kellogg's retirar o glifosato de seus produtos, acrescentando: "Os pais não deveriam se preocupar com pesticidas cancerígenos em sua comida no supermercado".

De fato. Felizmente, evitar produtos de aveia contaminados com glifosato, como os cereais matinais e barras de cereais é fácil, e existem escolhas muito melhores para suas refeições, como ovos orgânicos, pasteurizados ou esta vitamina para começar bem o dia.