Será possível viver sem plástico?

poluição oceânica com plástico

Resumo da matéria -

  • Famílias em todo o mundo agora vivem sem plástico, desde sacolas de compras a embalagens e sacos plásticos; embora seja um desafio, existem estabelecimentos on-line e físicos para facilitar sua transição, sem maiores transtornos
  • Pode levar até 1.000 anos para um plástico se degradar completamente. Enquanto isso, o produto se decompõe em partículas microplásticas, infiltrando-se no suprimento de comida e água, danificando o meio ambiente e colocando sua saúde em risco
  • A poluição plástica e a absorção química estão associadas a inúmeras formas de câncer, obesidade, toxicidade neurológica, reprodutiva e de desenvolvimento, bem como diabetes, mau funcionamento de órgãos e doenças cardíacas
  • Considere reduzir sua exposição ao plástico e seu impacto ao meio ambiente através da reciclagem, trocando os recipientes de plástico por vidro, evitando alimentos processados e optando por produtos não descartáveis, como fraldas, aparelhos de barbear e utensílios em geral

Por Dr. Mercola

O plástico é feito a partir de vários produtos químicos diferentes, alguns dos quais são conhecidos por agirem como desreguladores endócrinos. O desregulador endócrino é de natureza semelhante a um hormônio sexual natural e interfere no funcionamento normal do corpo.

Embora não estejam visíveis, as substâncias químicas dos plásticos podem ser encontradas em embalagens de fast-food, alimentos processados e em caixas, incluindo aqueles comercializados como orgânicos. O uso disparou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 380 milhões de toneladas em 2015.

Isso representa um surpreendente aumento de 18.000% em 65 anos. A essa taxa de crescimento, a Terra poderia muito bem ser coberta de plástico em mais 65 anos, demonstrando o poder que a indústria tem para destruir a vida.

Os macro e micro plásticos são um problema

Esse urgente problema mundial é demonstrado pelo número de partículas de plástico que uma pessoa comum ingere todos os anos através da comida, água e partículas de poeira que pousam em seus pratos durante as refeições. Hoje, a água da torneira, a água mineral, o sal marinho e uma variedade de frutos do mar agora vêm com o "acompanhamento" de microplásticos.

Embora você provavelmente já tenha visto fotos trágicas de tartarugas e outras formas de vida marinha presas em sacos de plástico, anéis de latinha ou morrendo de desnutrição porque os detritos plásticos bloqueiam seu trato intestinal, alguns dos problemas mais perniciosos não podem ser vistos a olho nu.

Os microplásticos variam de 5 milímetros a tamanhos microscópicos e são ingeridos por peixes, plâncton e outras formas de vida marinha, chegando finalmente ao seu prato. As consequências dessa vasta poluição mundial ainda podem ser desconhecidas, mas é improvável que sejam inofensivas.

O plástico não é totalmente eliminado do corpo e não pode se degradar dentro do organismo ou no meio ambiente. Muitas de suas substâncias químicas são conhecidos por atrapalhar o desenvolvimento embrionário, desregular os hormônios e a expressão gênica, e causar danos aos órgãos.

A poluição por plásticos e a absorção de substâncias químicas têm sido associadas à obesidade, doenças cardíacas e câncer. Hoje, um novo movimento para viver sem plástico espera combater o problema com uma forma poderosa de iniciar essa mudança: a nível local.

É possível viver sem plástico?

O plástico é conveniente, porém nocivo, e grande parte acaba em nossos oceanos e terras todos os anos. Desde recipientes plásticos descartáveis até as microfibras da sua máquina de lavar, cada um representa uma séria ameaça à vida marinha e ao nosso suprimento de alimentos.

Embora a mídia dê muita atenção aos plásticos que acabam nos oceanos, estima-se que sejam liberadas quantidades de quatro a 23 vezes maiores em terra do que no oceano por meio de fertilizantes biossólidos.

O rápido desenvolvimento de novas substâncias químicas plásticas foi promovido pela mentalidade do descarte e, embora várias empresas tenham começado a prometer uma redução no uso de canudos e copos de plástico, são necessárias mais mudanças para causar um impacto significativo no meio ambiente e na saúde humana.

Para esse fim, tem surgido um esforço de nível local, estimulado pela raiva ao impacto dos produtos plásticos descartáveis. À medida que famílias e grupos compartilham ideias, se abster do plástico se tornou uma prática sustentável e até um conceito em voga. Para muitos, viver sem plástico é uma prática que se desenvolveu gradualmente, num esforço para reduzir a poluição por plásticos e até reduzir o desperdício. Kiran Harrison comentou:

“Algumas pessoas são céticas acerca de como se pode sustentar um estilo de vida como esse ou como contribuir com a causa quando grandes empresas geram tanto desperdício, mas eu não concordo com essa ideia de 'qual é o sentido de fazer qualquer coisa, já que estamos todos condenados' — é apatia demais para o meu gosto."

Ela aconselha fazer as coisas gradualmente para que se tornem um hábito. Beth Terry tem o mesmo conselho: primeiro ela se concentrou na cozinha, deixando de usar gradualmente sacolas de compras, vegetais embalados e alimentos processados.

Depois, passou para o banheiro, trocando os frascos de xampu, tubos de pasta de dentes e escovas de dentes, fazendo compras em lojas especializadas que atendiam às suas necessidades. O jornalista do New York Times Steven Kurutz comenta "que, como termo de marketing, 'sem plástico' está emergindo como o novo 'sem carboidratos'".

Novas lojas em Nova York e Londres não têm produtos com plástico e vendem garrafas de água de silicone e capas para iPhone feitas de linho. No verão de 2019, a Procter & Gamble e a PepsiCo planejam testar produtos usando garrafas de alumínio, recipientes não plásticos recarregáveis e garrafas de vidro.

Plástico — Uma ameaça à vida que começa em sua produção e termina 1.000 anos depois

Os plásticos podem levar até 1.000 anos para se decomporem. Pesquisadores estimam que uma única cápsula de café pode levar até 500 anos, a duração do Império Romano. Embora a maior parte do foco no impacto do plástico esteja na fabricação ou no descarte, um novo relatório divulgado pelo Centro de Direito Ambiental Internacional, em parceria com outras seis organizações ambientais, revela:

"Este relatório demonstra que cada um desses estágios interage com outros, e todos interagem com o ambiente humano e o corpo humano de várias maneiras, que muitas vezes se cruzam."

O relatório associa os plásticos a inúmeras formas de câncer, toxicidades neurológicas, reprodutivas e de desenvolvimento, bem como diabetes, mau funcionamento de órgãos e um impacto significativo nos olhos e na pele. Embora pareça que o plástico é barato e conveniente, Graham Forbes, líder global de projetos de plásticos do Greenpeace, comentou que o verdadeiro custo se reflete em como:

"Os plásticos estão prejudicando ou matando animais em todo o mundo, contribuindo para as mudanças climáticas e nos mantendo dependentes dos combustíveis fósseis, entrando em nosso suprimento de ar, água e comida, e comprometendo seriamente a saúde humana ao longo de seu ciclo de vida."

A poluição plástica é generalizada, se infiltra em nosso suprimento de água e comida, afetando adversamente o meio ambiente, do qual a humanidade depende para se alimentar, saciar a sede e obter recursos naturais. Em um e-mail ao Environmental Health News, David Azoulay, um dos autores do relatório e advogado do Centro de Direito Ambiental Internacional, comentou:

"Os problemas de saúde associados aos plásticos durante todo o ciclo de vida incluem inúmeras formas de câncer, diabetes, diversas disfunções de órgãos, impacto nos olhos, pele e outros órgãos sensoriais, e defeitos congênitos. E esses são apenas os custos para a saúde humana, eles não mencionam impactos no clima, impactos na pesca ou na produtividade das terras agrícolas."

A exposição humana está aumentando com a produção e o uso de plásticos, o que apresenta riscos consideráveis em escala global. Conforme relatado pelo Environmental Health News, cada fase do ciclo de vida da fabricação de plásticos traz um risco associado para a saúde, incluindo o seguinte:

  • A extração de combustíveis fósseis, usados na fabricação de plásticos, resulta na poluição do ar e da água e em vários outros efeitos diretos para as comunidades, como o aumento do tráfego e a construção de oleodutos (mais de 99% do plástico fabricado atualmente é feito a partir de combustíveis fósseis).
  • O refino e a produção de resinas e aditivos plásticos libera compostos causadores de câncer e outras substâncias tóxicas, algumas das quais "podem ser difíceis de detectar", pois são "incolores e tendem a ter um odor leve ou nenhum".
  • Os produtos e embalagens de plástico, quando nas mãos do consumidor, levam à ingestão ou inalação de partículas tóxicas e/ou plásticas.
  • A incineração de plásticos libera compostos tóxicos.
  • A degradação do plástico resulta na penetração de microplásticos em pessoas, animais selvagens, solos e águas.

A reciclagem é muito subutilizada

Apenas 8% do plástico é reciclado e, mesmo assim, alguns dos itens jogados na lixeira podem nunca chegar ao centro de reciclagem. Alguns acabam contaminando cargas inteiras de recicláveis que, de outra forma, seriam destinadas a outros usos.

Embora seja melhor verificar as orientações da sua localidade, não é possível separar corretamente qualquer coisa menor que um cartão de crédito. Portanto, a menos que você aperte as tampas das garrafas, é melhor jogá-las fora. Envelopes com plástico bolha, papel manteiga e fraldas não são recicláveis. Copos de papel com revestimento brilhante ou tigelas de papel com revestimento plástico não são aceitos.

Por outro lado, a Noruega recicla quase 97% das garrafas de plástico como resultado de uma taxação ambiental que os produtores devem pagar se não atingirem o objetivo mínimo de 95% de reciclagem. Em alguns países, já existem máquinas nas quais os consumidores colocam suas garrafas de plástico para reciclagem e são pagos por isso. Além disso, os tipos de substâncias plásticas que as empresas podem usar são limitados.

Enquanto empresas como Patagonia e Polartec usam garrafas recicladas para reduzir o desperdício, quebrar as garrafas de plástico em milhões de pedaços fibrosos de plástico pode ser pior do que não fazer nada. Lavar roupas libera resíduos de microfibra que as estações de tratamento de água não estão preparadas para filtrar, resultando em microplásticos nos canais de água.

Vale lembrar que, há apenas 100 anos, a humanidade tinha um estilo de vida com zero desperdício. Não havia embalagens de plástico nos alimentos nem nos produtos que se comprava, e praticamente todos os resíduos eram reutilizados e transformados, de forma criativa, em novos produtos. Para se tornar um especialista em reciclagem, consulte meu artigo anterior, "11 dicas para se tornar um especialista em reciclagem”.

O que você pode fazer para reduzir o uso de plásticos

Existe um impacto geracional como resultado da exposição às substâncias químicas encontradas nos plásticos, como os ftalatos. É aconselhável tomar medidas proativas para reduzir sua exposição. Para uma lista de opções a considerar, consulte meu artigo anterior, "A exposição aos ftalatos ameaça a sobrevivência humana".

Se você gostaria de dar o próximo passo após a reciclagem, reduza o uso de plástico para obter um impacto ainda maior. Como Harrison recomendou, é importante começar devagar e avançar gradualmente, para que as mudanças se tornem um hábito e permaneçam. Considere começar com o seguinte:

Use sacolas reutilizáveis no supermercado

Leve seu próprio recipiente quando for pedir para levar as sobras do restaurante para viagem

Carregue sua própria xícara de café e leve água de casa, em vez de comprar na rua

Dispense o uso de filme plástico quando possível

Armazene alimentos em recipientes de vidro em vez de recipientes e sacos de plástico

Evite utensílios e canudos descartáveis e compre alimentos a granel quando puder

Opte por barbeadores não descartáveis, produtos de higiene femininos laváveis, fraldas de pano, lenços de tecido em vez de lenços de papel, panos em vez de papel toalha e brinquedos infantis feitos de madeira em vez de plástico

Evite alimentos processados (que são armazenados em embalagens plásticas que contêm substâncias químicas tóxicas) Compre alimentos frescos e dispense os sacos plásticos

Troque suas escovas de dente por outras feitas de bambu e escove os dentes com óleo de coco e bicarbonato de sódio para evitar os tubos de plástico