Por Dr. Mercola
Os testes de segurança para vacinas geralmente deixam muito a desejar, mas quando se trata de vacinas para pandemias aceleradas, os testes de segurança tornam-se quase inexistentes. Esse é certamente o caso da vacina para o COVID-19.
Conforme relatado pelo STAT News, os pesquisadores estão abrindo mão de alguns testes de segurança normalmente necessários para a obterem em tempo recorde. Além disso, pelo menos uma empresa está utilizando uma técnica totalmente nova para produzir sua vacina contra o coronavírus. O STAT News relata:
"'Não acho que provar isso em um modelo animal esteja no caminho crítico para levar a um ensaio clínico', disse Tal Zaks, diretor médico da Moderna, uma empresa de biotecnologia situada em Cambridge, Massachusetts, que produziu uma candidata à vacina para o COVID-19 em tempo recorde…
No entanto, os especialistas em ética não têm tanta certeza de que os eventuais benefícios de levar essa vacina não comprovada a testes clínicos superem os riscos. 'Surtos e emergências nacionais geralmente criam pressão para suspender direitos, padrões e/ou regras normais de conduta ética.
Muitas vezes, nossa decisão de fazê-lo parece imprudente em retrospecto', escreveu Jonathan Kimmelman, diretor da unidade de ética biomédica da Universidade McGill, em um e-mail para o STAT.
A questão é complicada devido à novidade da ciência em jogo. A tecnologia que permitiu à Moderna criar uma vacina experimental tão rapidamente não produziu uma única imunização que a fizesse chegar ao mercado até agora.
É uma ideia nova: em vez de injetar nas pessoas um patógeno ou proteínas enfraquecidas da superfície de um patógeno, para que nossos corpos aprendam a combater essas infecções no futuro, os cientistas estão apostando em uma espécie de invasão genética, uma combinação feita em laboratório que leva o corpo a produzir suas próprias unidades semelhantes ao vírus, que o treinarão para o combate."
As pandemias abrem caminho para experimentação
As questões éticas deveriam estar no topo da mente de todos, considerando que a histeria com a pandêmica pode facilmente levar as pessoas a assumir riscos que normalmente nunca considerariam.
Neste momento, a empresa britânica hVIVO, que realiza pesquisas sobre a gripe, está oferecendo a voluntários saudáveis £ 3.500 (aproximadamente R$ 21.000,00) em troca de serem infectados com um coronavírus fraco (linhagens 0C43 e 229E especificamente), ambos os quais causam sintomas mais leves do que o COVID-19 e já estão em circulação há algum tempo.
Os voluntários infectados receberão medicamentos antivirais e serão submetidos a testes na esperança de encontrar algo que ajude os pesquisadores a desenvolver uma vacina contra o COVID-19. Esse tipo de pesquisa, no entanto, parece benigno comparado ao que a Moderna está fazendo.
A Moderna está usando um RNA mensageiro sintético (mRNA) para instruir o DNA a produzir o mesmo tipo de proteína que o COVID-19 usa para ter acesso às nossas células. Conforme relatado pelo STAT News, a ideia é que "uma vez que essas... partículas fictícias de vírus estejam lá... nosso corpo aprenderá a reconhecer e combater o vírus real".
A Moderna, patrocinada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), começou a recrutar voluntários saudáveis em 3 de março de 2020. Ao todo, 45 homens e mulheres não grávidas entre 18 e 55 anos receberão US$ 1.100 (cerca de R$ 5.500,00) para tomarem duas injeções da vacina, com 28 dias de intervalo.
Os efeitos colaterais em três dosagens diferentes serão avaliados, e tudo isso está ocorrendo antes que haja qualquer prova de que a vacina realmente funcione conforme o planejado e não cause efeitos colaterais graves em animais.
Considerando que a infecção por COVID-19 tem uma alta taxa de sobrevivência, com 80% dos infectados apresentando apenas sintomas leves, é realmente aconselhável usar esse surto como desculpa para testar métodos de fabricação de vacinas não testados?
Os ratos não respondem ao COVID-19 da mesma forma que os humanos
De acordo com o NIAID, um teste em animais usando ratos criados convencionalmente também teve início em 3 de março de 2020, com resultados supostamente promissores. O problema é que os ratos comuns não têm a mesma suscetibilidade ao vírus que os seres humanos, portanto, o teste em ratos comuns não é confiável.
Durante a epidemia de SARS, há 15 anos, camundongos criados para serem suscetíveis a esse vírus foram desenvolvidos, mas depois que a epidemia de SARS e as pesquisas relacionadas desapareceram, a maioria das colônias foi destruída.
Os pesquisadores agora estão trabalhando na criação de ninhadas desses ratos suscetíveis à SARS, mas isso leva tempo, e a Moderna não está esperando. Agora, o fato de os testes em fase 1 em humanos estarem começando antes da conclusão dos testes em animais não significa que uma vacina será disponibilizada ao público em breve.
O STAT News ressalta que ainda falta um ano antes que a vacina esteja disponível. Ainda assim, esse é um tempo de espera significativamente menor do que os 15 a 20 anos que normalmente leva para lançar uma nova vacina no mercado.
As vacinas aceleradas são um empreendimento arriscado
O desenvolvimento acelerado de vacinas apresenta riscos consideráveis. Elas podem ser ineficazes (o que normalmente é o caso da vacina contra a gripe sazonal), podem causar efeitos colaterais graves (como foi o caso da vacina contra a gripe suína) ou podem piorar a infecção em vez de preveni-la. Como relatado pela Reuters:
"Estudos sugeriram que as vacinas contra o coronavírus correm o risco do que é conhecido como aprimoramento de vacina, quando, em vez de proteger contra a infecção, a vacina pode na verdade piorar a doença quando uma pessoa vacinada é infectada pelo vírus.
O mecanismo que causa esse risco não é totalmente compreendido e é um dos obstáculos que impediu o desenvolvimento bem-sucedido de uma vacina contra o coronavírus.
Normalmente, os pesquisadores levariam meses para testar a possibilidade de aprimoramento da vacina em animais. Dada a urgência de conter a disseminação do novo coronavírus, alguns fabricantes de medicamentos estão avançando diretamente para os testes em pequena escala com humanos, sem esperar pela conclusão desses testes em animais.
"Entendo a importância de acelerar o cronograma das vacinas em geral, mas, pelo que sei, esse não é o tipo de vacina para isso", Dr. Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina Baylor, disse à Reuters."
Vindo de um convicto propagandista das vacinas como Hotez, isso realmente que dizer algo. A possibilidade de aprimoramento imunológico induzido pelas vacinas tornou-se evidente durante o desenvolvimento e teste de uma vacina para a SARS.
Conforme relatado pela Reuters, alguns animais vacinados ficaram mais doentes quando expostos ao vírus do que os animais não vacinados, e a maneira de determinar se isso pode ser um risco é durante os testes em animais, antes que a vacina seja administrada a seres humanos.
A vacina acelerada contra a gripe suína causou sérios danos aos jovens
Um excelente exemplo do que pode dar errado quando uma vacina é acelerada é a vacina contra a gripe suína (H1N1) lançada na Europa durante a epidemia de 2009. Conforme relatado pelo WebMD, em julho de 2009, ao conselho de Segurança Nacional de Biodefesa dos EUA decidiu por unanimidade renunciar à maioria dos testes de segurança e eficácia para ter uma vacina até setembro daquele ano.
A Europa também acelerou seu processo de aprovação, permitindo que os fabricantes ignorassem os testes em larga escala em humanos — uma decisão que resultou em consequências trágicas para um número incontável de crianças e adolescentes em toda a Europa.
Nos anos seguintes, a vacina Pandemrix contra a gripe suína que contém ASO3 como adjuvante (lançada na Europa, mas não nos EUA) foi causalmente associada à narcolepsia infantil, que disparou abruptamente em vários países.
Crianças e adolescentes na Finlândia, Reino Unido e Suécia foram os mais atingidos. Análises posteriores detectaram um aumento da narcolepsia entre os adultos que receberam a vacina também, embora o vínculo não fosse tão óbvio quanto o de crianças e adolescentes.
Um estudo de 2019 relata a descoberta de uma "nova associação entre a narcolepsia associada ao Pandemrix e o gene do RNA não codificante GDNF-AS1" — um gene que acredita-se regular a produção do fator neurotrófico derivado da linha celular glial ou GDNF, uma proteína que desempenha um papel importante na sobrevivência neuronal.
Também se confirmou uma forte associação entre a narcolepsia induzida por vacinas e um certo haplótipo, sugerindo que "a variação nos genes relacionados à imunidade e sobrevivência neuronal pode interagir para aumentar a suscetibilidade à narcolepsia induzida por Pandemrix em certos indivíduos".
O fato de as autoridades de saúde aparente e convenientemente terem se esquecido dessa situação é chocante, considerando que não faz tanto tempo assim. Será que queremos repetir o mesmo tipo de experimento em massa global com uma doença relativamente leve?
Se fosse o surto de uma doença de morte rápida e horripilante, com alta letalidade, imagino que a maioria das pessoas estaria disposta a arriscar os efeitos colaterais permanentes de uma vacina acelerada.
Mas não é isso que estamos enfrentando com o COVID-19. De acordo com a Food and Drug Administration dos EUA, "o risco imediato do COVID-19 para a saúde é considerado baixo". O surto de H1N1 também não foi uma "matança global".
No entanto, aqui estamos nós, diante de mais uma vacina acelerada (potencialmente obrigatória?) para uma doença que provavelmente terá terminado quando a vacina for lançada. Nós realmente não aprendemos nada com o desastre do Pandemrix?
A imunização contra a gripe pode aumentar o risco de infecção por coronavírus
Um estudo publicado na edição de 10 de janeiro de 2020 do periódico Vaccine também traz uma reflexão. Conforme observado nesse estudo, intitulado em tradução livre “Vacinação contra gripe e interferência de vírus respiratórios entre os funcionários do Departamento de Defesa durante a temporada de gripe de 2017-2018":
“A vacinação contra gripe pode aumentar o risco de outros vírus respiratórios, um fenômeno conhecido como interferência viral. Modelos de estudo com teste negativo são frequentemente utilizados para calcular a eficácia da vacina contra gripe.
O fenômeno da interferência viral vai contra a pressuposição básica do estudo de eficácia da vacina com teste negativo, a saber, de que a vacinação não altera o risco de infecção por outras doenças respiratórias, potencialmente tendenciando para o lado positivo os resultados de eficácia da vacina.
Este estudo teve como objetivo investigar a interferência do vírus, comparando o status do vírus respiratório entre os funcionários do Departamento de Defesa, com base no status de sua vacinação contra a gripe. Além disso, examinou-se vírus respiratórios individuais e sua associação com a vacinação contra gripe."
Os resultados foram mistos. É interessante notar que, embora a vacinação contra gripe sazonal não aumente o risco de todas as infecções respiratórias, ela estava de fato "significativamente associada ao coronavírus e ao metapneumovírus humano" (hMPV). Aqueles que tomaram uma vacina contra a gripe sazonal tiveram 36% mais chances de contrair infecção por coronavírus e 51% mais chances de contrair infecção por hMPV do que indivíduos não vacinados.
Observar a lista de sintomas do hMPV é revelador, pois os principais sintomas incluem febre, dor de garganta e tosse. Os idosos e os imunocomprometidos correm maior risco de uma doença grave por hMPV, cujos sintomas incluem dificuldade em respirar e pneumonia. Todos esses sintomas também se aplicam ao COVID-19.
Estratégias recomendadas para a prevenção de infecções
Com base nas evidências, as chances de criar uma vacina segura para todos sem estudos rigorosos a longo prazo são praticamente nulas. Algumas pessoas estariam fadadas a danos, e é por isso que não faz sentido apressar uma vacina, a menos que a doença seja grave e tenha uma alta taxa de mortalidade.
O tempo dirá qual será o resultado. Atualmente, as autoridades de saúde recomendam o uso das seguintes estratégias para minimizar a propagação da infecção:
- Lave suas mãos frequentemente com água e sabão e por pelo menos 20 segundos. Para mais detalhes, consulte "O impacto da lavagem eficaz das mãos contra infecções"
- Evite tocar em seus olhos, nariz e boca
- Caso precise tossir, tussa no cotovelo flexionado ou em um lenço descartável. Descarte o tecido em uma lata de lixo e lave as mãos
- Caso não esteja se sentindo bem, fique em casa e evite os espaços públicos
Em caso de sintomas como tosse ou espirro, use uma máscara cirúrgica para conter a propagação sempre que estiver perto de outras pessoas. Para detalhes adicionais sobre o uso de máscaras cirúrgicas ou respiratórias N95, consulte "Usar uma máscara vai proteger você contra o coronavírus?”