A segurança dos protetores solares é questionada novamente

Fatos verificados
protetores solares

Resumo da matéria -

  • Um estudo de 2019 do FDA dos EUA revelou que quatro ingredientes ativos comuns nos filtros solares — avobenzona, oxibenzona, octocrileno e ecamsule — são absorvidos pelo sangue em níveis que podem potencialmente representar riscos à saúde
  • Todos os quatro produtos alcançaram uma concentração sistêmica maior do que 0,5 ng/mL após quatro aplicações no primeiro dia de uso. A concentração de 0,5 ng/mL é o limite máximo estabelecido pelo FDA para dispensar os estudos de carcinogenicidade sistêmica e toxicologia reprodutiva e do desenvolvimento em protetores solares
  • Pesquisas posteriores confirmam que as concentrações sistêmicas de substâncias químicas presentes nos filtros solares são até 500 vezes maiores do que o limite de segurança admitido pelo FDA
  • A oxibenzona e vários outros ingredientes ativos dos protetores solares aumentam a capacidade de outras substâncias químicas penetrarem na pele, incluindo herbicidas, pesticidas e repelentes de insetos, além de atuarem como desreguladores endócrinos
  • Apesar dos efeitos neurotóxicos e perturbadores do sistema endócrino da oxibenzona, sua alta capacidade de absorção e a existência de filtros solares seguros (aqueles que contêm óxido de zinco e dióxido de titânio sem nanopartículas), o FDA e a Academia Americana de Dermatologia instem em incentivar as pessoas a usarem filtros solares contendo oxibenzona diariamente

Por Dr. Mercola

Além disso, as orientações convencionais para evitar a exposição solar desprotegida a todo custo provavelmente fizeram um grande desserviço à saúde pública. A Academia Americana de Dermatologia, por exemplo, sugere o uso diário de filtro solar para prevenir o câncer de pele, independentemente das condições climáticas ou da pigmentação da pele — dois fatores que simplesmente não podem ser ignorados ao se avaliar os riscos e benefícios da exposição ao sol e uso de filtro solar.

Um resultado direto dessa recomendação geral é a ampla deficiência de vitamina D, que hoje sabemos ser um fator de risco para uma ampla variedade de cânceres e muitas outras doenças crônicas. Seu nível de vitamina D influencia até mesmo o seu risco de câncer de pele.

Um estudo de 2010, por exemplo, descobriu que homens idosos com o quintil mais alto de vitamina D tinham um risco 47% menor de câncer de pele não melanoma quando comparados àqueles com níveis mais baixos. Uma pesquisa também mostrou que a deficiência de vitamina D piora seu prognóstico se você tiver melanoma metastático.

Além disso, pesquisas mostram ainda que o risco de desenvolver melanoma a partir da exposição ao sol é relativamente pequena, para começar — bem abaixo de 1% — e o risco de desenvolver melanoma não desaparece ao se evitar a exposição ao sol. Ele é apenas um décimo de 1% menor do que se você tivesse exposição frequente.

No entanto, a ciência nem sempre é tão linear. Você certamente encontrará estudos com argumentos apoiando ambos os lados desta questão, ou seja, que a exposição ao sol pode aumentar seu risco de câncer de pele ou reduzi-lo. Porém, um argumento-chave que tende a se perder na discussão é a importância da vitamina D para a saúde geral e a prevenção de doenças.

Na minha concepção, é tolice prevenir uma doença usando uma estratégia que aumentará o risco de outras — e o mais importante — pode encurtar o seu tempo de vida, de maneira geral. Além de promover a deficiência de vitamina D, o uso diário de protetor solar também é uma fonte de exposição significativa a toxinas.

Seu corpo absorve toxinas dos protetores solares

Em 2019, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA publicou um estudo piloto mostrando que quatro ingredientes ativos comumente usados no filtro solar — avobenzona, oxibenzona, octocrileno e ecamsule — são absorvidos pelo sangue em níveis que podem potencialmente representar riscos à saúde.

24 participantes aplicaram 2 miligramas (mg) de protetor solar por centímetro quadrado em 75% do corpo, usando sprays, loções ou cremes. Essa quantidade está dentro da dosagem máxima recomendada pelos fabricantes dos produtos.

Foram coletadas 30 amostras de sangue de cada participante ao longo de 7 dias de aplicação. A média geométrica da concentração plasmática máxima de cada uma das substâncias foi a seguinte:

  • Oxibenzona — 209,6 nanogramas por mililitro (ng/mL) para o spray nº 1; 194,9 ng/mL para o spray nº 2 e 169,3 ng/mL para a loção
  • Avobenzona — 4 ng/mL para o spray nº 1; 3,4 ng/mL para o spray nº 2; 4,3 ng/mL para a loção e 1,8 ng/mL para o creme
  • Octocrileno — 2,9 ng/mL para o spray nº 1; 7,8 ng/mL para o spray nº 2; 5,7 ng/mL para a loção; e 5,7 ng/mL para o creme
  • Ecamsule — 1,5 ng/mL para o creme

Conforme observado pelos autores, as concentrações sistêmicas para todas as quatro substâncias foram superiores a 0,5 ng/mL após quatro aplicações no primeiro dia. Abaixo desse limiar de 0,5 ng/mL, o FDA normalmente dispensa estudos toxicológicos não clínicos para os filtros solares. Como todas as quatro substâncias químicas excederam o limite de segurança, a agência determinou que seriam necessárias avaliações toxicológicas adicionais.

É importante mencionar que o limiar de segurança de 0,5 ng/mL se baseia na regulamentação do FDA para substâncias presentes nas embalagens de alimentos, não para substâncias químicas absorvidas pela pele.

As substâncias químicas que migram das embalagens para os alimentos são ingeridas, enquanto os filtros solares são absorvidos pela pele e entram diretamente na corrente sanguínea, ignorando o trato digestivo, que tem a capacidade de filtrar algumas destas toxinas. Em suma, não há como saber se esse limite de 0,5 ng/mL é realmente seguro e apropriado para essas (e outras) substâncias químicas presentes nos filtros solares.

Uma pesquisa adicional confirma a descoberta anterior

Em 21 de janeiro de 2020, a equipe de pesquisa da FDA publicou um estudo de acompanhamento sobre 48 adultos que fizeram uso de uma lista expandida de ingredientes ativos de filtros solares. Desta vez, eles examinaram a avobenzona, oxibenzona, octocrileno, homossalato, octisalato e octinoxato nas formas de loção, spray em aerossol, spray não-aerosol e spray de bomba.

Os participantes aplicaram 2 mg de filtro solar por centímetro quadrado sobre 75% do corpo em intervalos de duas horas no início do estudo e nos dias 2, 3 e 4. As amostras de sangue foram coletadas durante 21 dias. As médias geométricas das concentrações plasmáticas para os vários ingredientes e produtos foram as seguintes (listadas das concentrações mais altas para as mais baixas):

Oxibenzona

Loção — 258,1 ng/mL

Spray em aerossol — 180,1 ng/mL

Homossalato

Spray em aerossol — 23,1 ng/mL

Spray não-aerosol — 17,9 ng/mL

Spray de bomba — 13,9 ng/mL

Octinoxato

Spray não-aerosol — 7,9 ng/mL

Spray de bomba — 5,2 ng/mL

Octocrileno

Loção — 7,8 ng/mL

Spray em aerossol — 6,6 ng/mL

Spray não-aerosol — 6,6 ng/mL

Avobenzona

Loção — 7.1 ng/mL

Spray em aerossol — 3,5 ng/mL

Spray não-aerosol — 3,5 ng/mL

Spray de bomba — 3,3 ng/mL

Octisalato

Spray em aerossol — 5,1 ng/mL

Spray não-aerosol — 5,8 ng/mL

Spray de bomba — 4,6 ng/mL

Como no primeiro estudo, as concentrações de oxibenzona eram cerca de 400 a 500 vezes maiores do que o limite presumidamente seguro após poucos dias de uso. Apesar disso, o FDA continua sugerindo que os norte-americanos usem filtro solar.

A justificativa para essa recomendação, conforme observado pelos Drs. Adewole S. Adamson e Kanade Shinkai em um editorial anexo, é "a ausência de dados claros demonstrando danos". Infelizmente, a oxibenzona tem sido associada a uma variedade de possíveis problemas de saúde, incluindo alergias, disfunção hormonal e danos às células.

A oxibenzona está longe de ser inofensiva

É importante ressaltar que pesquisas mostram que a oxibenzona e vários outros ingredientes ativos nos filtros solares aumentam a capacidade de outras substâncias químicas penetrarem na pele, incluindo herbicidas, pesticidas e repelentes de insetos.

De acordo com um estudo publicado em 2004, a oxibenzona, o octil metoxicinamato, o homossalato, o octil salicilato, o padimato-o e a sulisobenzona aumentaram significativamente a absorção do herbicida 2,4-D, o que pode ser um problema grave para os trabalhadores agrícolas, em particular.

A oxibenzona (bem como pelo menos outros oito ingredientes de filtros solares) também atua como um desregulador endócrino, e uma pesquisa publicada em 2018 alertou que pode induzir alterações nos seios quando usada durante a gravidez e a lactação. Segundo os autores:

"Esses dados sugerem que a oxibenzona, em doses relevantes para exposições humanas, produz alterações duradouras na morfologia e função das glândulas mamárias. Estudos adicionais são necessários para determinar se a exposição a essa substância química durante a gravidez e lactação interfere na proteção oferecida pela gravidez contra o câncer de mama."

Outros estudos mostraram que a oxibenzona:

É fototóxica, o que significa que seus efeitos adversos e sua capacidade de formar radicais livres nocivos são ampliados quando exposta à luz, o que, naturalmente, é o principal uso do produto

É neurotóxica (tóxica para o seu cérebro)

Pode "reduzir significativamente" os níveis de testosterona em adolescentes

Reduz a contagem de espermatozoides

Altera os níveis hormonais em homens, especificamente testosterona, estradiol e inibina B

Está relacionada à endometriose

Aumenta a infertilidade masculina, pois afeta a sinalização de cálcio nos espermatozoides, em parte exercendo um efeito semelhante à progesterona

Pode resultar em menor peso ao nascer para o sexo masculino, além de diminuição da idade gestacional

É letal para certas criaturas marinhas, incluindo ovos de caranguejo-ferradura, e representa uma séria ameaça aos recifes de coral e à vida marinha

Considerando os efeitos desreguladores endócrinos e neurotóxicos da oxibenzona, sua alta capacidade de absorção e a disponibilidade de protetores solares seguros (por exemplo aqueles que contêm óxido de zinco e dióxido de titânio sem nanopartículas), parece irracional continuar usando protetores solares contendo oxibenzona para se proteger contra o câncer de pele.

Uma pesquisa dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, publicada em 2008, descobriu-se que 96,8% das 2.517 amostras de urina coletadas como parte da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição em 2003-2004 tinham níveis detectáveis de oxibenzona, o que ressalta o quanto as pessoas estão utilizando filtros solares. E esses dados têm 15 anos de idade. A situação provavelmente está muito pior agora.

Existem protetores solares mais seguros

Ao selecionar um protetor solar, é importante saber que existem apenas dois ingredientes ativos seguros para um filtro solar: o óxido de zinco e o dióxido de titânio. E eles não devem estar na forma de nanopartículas, pois o óxido de zinco e o dióxido de titânio em nanoescala oferecem seus próprios riscos à saúde.

A opção mais segura é uma loção ou creme com óxido de zinco sem nanopartículas, pois é estável à luz do sol e fornece a melhor proteção contra os raios UVA. A segunda melhor opção é o dióxido de titânio, também não em nanoescala.

Lembre-se também de que o fator de proteção solar (FPS) geralmente informa apenas o nível de proteção para os raios UVB (raios dentro do espectro ultravioleta que permitem à pele produzir vitamina D), e não UVA (que penetra mais profundamente e é responsável por grande parte dos danos cutâneos associados à exposição excessiva ao sol.

Portanto, verifique se o produto escolhido está rotulado como "FPS de amplo espectro", que indica que o produto protege contra UVA e UVB. Como regra geral, evite protetores com FPS muito elevado (superior a 50). Embora eles não sejam propriamente nocivos, o FPS mais alto tende a oferecer uma falsa sensação de segurança, encorajando você a permanecer no sol por mais tempo do que deveria.

Além disso, o FPS alto frequentemente não fornece proteções muito maiores. Na verdade, pesquisas sugerem que indivíduos que usam protetores com FPS alto são expostos aos raios UV de maneira igual ou similar às pessoas que usam protetores com FPS mais baixo.

Finalizando, uma análise recente feita pela Consumer Reports descobriu que muitos protetores solares são bem menos eficientes do que seus rótulos indicam. 32 dos 82 produtos avaliados em 2019 ofereceram menos da metade da proteção prometida pelos seus FPS. A revista disse ter observado "um padrão similar nos testes de protetores solares dos anos anteriores".

O Skin Deep Database do Environmental Working Group é um bom recurso para avaliar as suas opções de filtro solar. O protetor solar de FPS 30 do Dr. Mercola recebeu a classificação de segurança mais alta da EWG em 2017.

+ Recursos e Referências