Por Dr. Mercola
Nas semanas mais recentes, vários médicos e artigos publicados afirmaram que pacientes com COVID-19 postos em ventilação pulmonar apresentam maiores riscos de falecimento. No dia 9 de abril de 2020, a página Business Insider relatou que 80% dos pacientes com COVID-19 da cidade de Nova York que foram postos em ventilação pulmonar faleceram, fazendo com que os médicos questionem o uso do procedimento.
De acordo com a rádio Associated Press, "Relatos similares vêm emergindo da China e do Reino Unido. Um relatório do Reino Unido apresentou uma taxa de 66%. Um pequeno estudo realizado em Wuhan... disse que 86% faleceram".
O oxigênio é necessário, mas a ventilação pode ser inadequada
O dr. Cameron Kyle-Sidell observou que os sintomas dos seus pacientes têm mais em comum com a doença da altitude do que com a pneumonia. De forma similar, um artigo recente do Dr. Luciano Gattinone e Dr. John Marini descreve dois tipos diferentes de casos de COVID-19, aos quais se referem como Tipo L e Tipo H.
Embora a ventilação mecânica seja benéfica para um deles, para o outro ela não é. O Dr. Roger Seheult discutiu sobre o artigo, e também sobre a comparação do COVID-19 com o edema pulmonar de grande altitude, ou HAPE.
Em sua análise final, parece que os ventiladores pulmonares são inapropriados para a maioria dos pacientes, e médicos do Centro Médico da Universidade de Chicago relatam resultados "realmente notáveis" ao utilizar cânulas nasais de alto fluxo em vez de ventiladores. Em um comunicado à imprensa, disseram:
"As cânulas nasais de alto fluxo, ou CNAF, são pinças nasais não-invasivas posicionadas embaixo das narinas que emitem grandes volumes de oxigênio morno e umidificado para o interior do nariz e dos pulmões.
Uma equipe da sala de emergência do Centro Médico da Universidade de Chicago pegou 24 pacientes com COVID-19 com problemas respiratórios e os trataram com CNAF em vez de colocá-los em ventiladores pulmonares. Os pacientes se saíram extremamente bem, e apenas um deles necessitou de intubação após 10 dias...
As CNAF são frequentemente combinadas com posicionamentos de bruços, uma técnica na qual os pacientes se deitam sobre seus abdomens para auxiliar a respiração. Juntas, as técnicas ajudaram os médicos do Centro Médico da Universidade de Chicago a evitar dúzias de intubações e reduziram as chances de complicações para os pacientes com COVID-19, disse Thomas Spiegel, médico e Diretor Médico do Departamento de Emergência do Centro Médico da Universidade de Chicago.
'O posicionamento e as cânulas nasais de alto fluxo levaram os níveis de oxigenação dos pacientes de 40% para 80% e 90%, o que foi fascinante e maravilhoso de ver', disse Thomas...
'Evitar a intubação é crucial', disse Thomas. 'A maior parte dos nossos colegas não está fazendo isso, mas eu espero que outros serviços de emergência considerem utilizar esta técnica.'"
A técnica de oxigenação por membrana extracorpórea
Outra estratégia de tratamento mais complicada e menos disponível que está se mostrando promissora é conhecida como oxigenação por membrana extracorpórea ou ECMO. O sistema envolve um circuito complexo de tubos, filtros e bombas que removem resíduos e oxigenam o sangue do paciente do lado de fora do corpo antes de bombeá-lo de volta para a circulação.
Um guia para o uso da ECMO no tratamento de COVID-19 foi publicado no dia 30 de março de 2020 na revista ASAIO Journal. Como regra geral, a ECMO é recomendada para pacientes relativamente jovens, com poucas comorbidades, que não estejam respondendo ao tratamento com ventilador pulmonar. É como foi dito em um comunicado da Universidade de Michigan à imprensa realizado no dia 24 de abril de 2020:
"Até 21 de abril... mais de 470 pacientes diagnosticados ou com suspeita de COVID-19 foram tratados nos centros de ECMO que estão fornecendo os dados. A maior parte deles eram homens na faixa dos 40 anos, ou início dos 50 anos. Quase metade deles tinha obesidade, e um quinto tinha diabetes.
A maior parte dos pacientes postos em ECMO para tratar o COVID-19 ainda estão em tratamento, o qual pode levar semanas até que o corpo se recupere o bastante para que o paciente consiga funcionar por si só. Em todos os momentos do tratamento, os pacientes devem ficar sob cuidados de equipes treinadas de enfermeiros, terapeutas respiratórios, técnicos e médicos...
Os pacientes devem ser avaliados por um centro de ECMO e transferidos antes que suas condições piorem muito. Eles não devem ter sido ventilados por mais que sete dias antes do início da ECMO, o que significa que devem ser considerados para a ECMO logo após a decisão de intubá-los.
'Apesar dos recursos substanciais requeridos para o tratamento dos pacientes com a ECMO, acreditamos que esta seja uma estratégia apropriada para pacientes que estejam correndo risco de vida', disse Jonathan Haft, médico e diretor médico do programa de ECMO da Universidade de Michigan."
Oxigenoterapia hiperbárica
Infelizmente, a oxigenoterapia hiperbárica (OHB) está ficando de fora das discussões convencionais, e eu acredito que ela seja um método de tratamento excelente. É como foi observado pelo dr. Andrew Saul, editor chefe da Orthomolecular Medicine News Service, no artigo "Uma revisão das mais úteis estratégias antivirais":
"A resposta é tornar o oxigênio disponível de uma forma apropriada para a severidade do caso do paciente. Temos que lembrar que nosso corpo é singularmente bom na absorção de oxigênio, do contrário não estaríamos aqui. E nossos pulmões possuem uma grande quantidade de espaço absorvente. Quero dizer, é para isso que eles servem. É um sistema extraordinário que possuímos.
O oxigênio entra por difusão. Você não precisa empurrar ele para dentro; o próprio corpo o suga, pois se houver mais oxigênio do lado de fora do corpo do que do lado de dentro, o oxigênio simplesmente entra. Tudo que você faz é fornecer espaço absorvente. E se a gente abrir todas os pequenos alvéolos dos pulmões, teremos uma área absorvente enorme...
Então, fornecer o oxigênio e deixar seu corpo absorvê-lo é o primeiro passo. Isso pode ser feito de forma preventiva, praticando exercícios ao ar fresco, saindo para passear...
Se uma pessoa necessitar de mais oxigênio, e você achar que forçar um pouquinho deixará a pessoa melhor, então o faça. Mas a ideia de que você precisa forçar o oxigênio para dentro como um compressor em um Ford Mustang é, digamos, boa somente para a indústria...
Os alvéolos são saquinhos bem pequenos. Eles possuem uma das membranas mais frágeis que existe. Basta visualizá-las com um microscópio. Elas são muito delicadas. E a última coisa que queremos é feri-las, além de tudo."
A ventilação mecânica pode danificar facilmente os pulmões, pois força a entrada de ar nestes órgãos. Por outro lado, durante a OHB, você simplesmente respira o ar, ou oxigênio, em uma câmara pressurizada, que permite que seu corpo absorva uma maior porcentagem de oxigênio.
Dessa forma, nenhum ar é forçado diretamente para dentro dos seus pulmões. A OHB também melhora a função mitocondrial, ajuda com a desintoxicação, inibe e controla a inflamação e otimiza a capacidade natural de regeneração do corpo. É possível aprender mais sobre isso no artigo "A oxigenoterapia hiperbárica como uma modalidade de cura complementar".
Ensaios da OHB para o COVID-19
Talvez escutemos mais sobre a OHB no futuro, pois atualmente o Centro Médico NYU Langone está recrutando pacientes com COVID-19 para realizar um estudo utilizando a OHB. O estudo foi publicado no dia 2 de abril de 2020. Como detalhado na página ClinicalTrials.gov:
"Este é um estudo de coorte piloto prospectivo de centro único para avaliar a segurança e eficácia da oxigenoterapia hiperbárica (OHB) como um dispositivo investigativo de emergência para o tratamento de pacientes com o novo coronavírus, COVID-19...
O paciente receberá 90 minutos de oxigênio hiperbárico em 2,0 ATA com ou sem quebras de ar pelo médico hiperbárico. Ao completar o tratamento, o paciente retornará para a unidade médica e retomar todos os tratamentos padrão...
Após a porção de intervenção deste estudo, será realizada uma revisão gráfica a fim de comparar os resultados alcançados por pacientes que receberam a intervenção e pacientes que receberam apenas tratamentos padrão."
Médicos chineses também relataram "resultados promissores" após tratar cinco pacientes com COVID-19 usando a OHB. Dois estavam em condições críticas e cinco estavam em condições graves. A Associação Internacional Hiperbárica relatou:
"A oxigenoterapia hiperbárica foi incluída nos tratamentos compreensíveis sendo realizados em hospitais para tratar pacientes afetados por COVID-19, com uma dose de 90 a 120 minutos em pressões de tratamento de 1,4 a 1 fi.ATA.
Os resultados foram muito encorajadores, pois estes cinco pacientes receberam benefícios terapêuticos consideráveis, inclusive o alívio rápido dos sintomas após a primeira sessão.
A razão para a dição deste procedimento é ajudar a combater a hipoxemia progressiva (baixos níveis de oxigênio) que pode ser causada por COVID-19. A oxigenoterapia hiperbárica também é capaz de fornecer oxigênio extra para a corrente sanguínea em quantidades substanciais..."
Os hospitais são os locais de maior taxa de transmissão do SARS-CoV-2
O dr. John Ioannidis discutiu sobre os resultados obtidos em três estudos preliminares. Ele apontou que as infecções nosocomiais — infecções que ocorrem em hospitais — parecem ser em parte a razão pela qual a taxa de mortalidade do COVID-19 é muito maior em certas regiões, como a Itália, Espanha e a região metropolitana de Nova York.
Um fator comum entre essas três regiões é o número gigantesco de funcionários de hospitais que foram infectados pelo SARS-CoV-2 e o transmitiram para pacientes que já estavam com a imunidade comprometida.
"Os hospitais são os piores lugares para combater o COVID-19", disse John. "A gente devia ter dado nosso melhor para manter as pessoas longe dos hospitais se apresentassem sintomas de COVID-19, a não ser que estes fossem realmente graves."
Em essência, com tantas pessoas desnecessariamente visitando os hospitais por medo, uma cadeia hospitalar de transmissão infecciosa se desenvolveu. Muitas pessoas poderiam ter sido tratadas em casa.
Estas descobertas evidenciam a necessidade de medidas rigorosas de controle da infecção nos hospitais, para evitar a transmissão de funcionários assintomáticos para os pacientes. Elas também evidenciam a necessidade de avaliar com mais cuidado sua necessidade de buscar assistência médica.
John ressalta que as pessoas com sintomas leves a moderados de COVID-19 não devem correr para os hospitais, pois assim elas simplesmente aumentam o risco de transmissão infecciosa para os funcionários e outros pacientes vulneráveis.
Ele também cita dados que demonstram que os funcionários dos hospitais têm uma estimativa de 0,3% de chance de morte por COVID-19, o que é consideravelmente menor que a taxa de 3,5% citada originalmente pela Organização Mundial da Saúde. Ele também aponta que estes e outros dados mostram que o COVID-19 tem uma taxa de mortalidade muito próxima à da gripe sazonal.
De acordo com ele, essa é uma boa notícia para os funcionários dos hospitais que precisam trabalhar sob condições tão preocupantes, muitos temendo pela própria vida. Ao que parece, tais medos parecem ser um grande exagero desnecessário.
A septicemia é uma complicação comum do COVID-19
Embora o tratamento caseiro de sintomas leves a moderados seja o indicado, é importante se manter alerta para os sinais da septicemia. Caso os sintomas de COVID-19 se agravarem ocasionando o desenvolvimento de sinais de septicemia — descritos no artigo "Reconhecendo os sinais e sintomas da septicemia" — é necessário buscar atendimento médico imediato.
Se não for prontamente diagnosticada e tratada, a septicemia pode progredir rapidamente para falência múltipla de órgãos e até mesmo morte. A septicemia é responsável por 20% das mortes no mundo por ano, e a tempestade de citocina a ela associada também parece ser uma das principais formas pelas quais o COVID-19 causa o falecimento das pessoas imunocomprometidas e/ou idosas.
De acordo com um artigo publicado no dia 11 de março de 2020 na revista The Lancet, 59% dos 191 pacientes chineses com COVID-19 presentes no estudo desenvolveram septicemia, a qual estava presente em 100% dos pacientes que morreram. Ela foi a complicação mais comum, seguida pela parada respiratória, SDRA e parada cardíaca.