Por Dr. Mercola
O New York Times relata que uma pessoa comum entre os 60 e 70 anos de idade toma hoje 15 cerca de medicamentos por ano — sem contar o número de produtos vendidos sem receita.
São muitos medicamentos, especialmente quando você considera que uma pesquisa divulgada pela Associação Americana de Aposentados (AARP) realizada há apenas quatro anos, em 2016, indicou que 75% dos entrevistados — todos com mais de 50 anos — disseram que tomam pelo menos um medicamento de prescrição regularmente.
Nessa pesquisa da AARP, mais de 80% relataram tomar pelo menos dois e mais de 50% tomavam quatro ou mais. Comparado a uma pesquisa da Gallup de 2005, que mostrou que 52% dos americanos afirmaram tomar pelo menos um medicamento prescrito, é óbvio que os idosos estão tomando mais medicamentos do que no passado.
Especificamente, de 1988 a 2010, os adultos com mais de 65 anos dobraram o número de medicamentos prescritos que tomaram, de dois para quatro. A proporção de adultos que tomam cinco ou mais triplicou no mesmo período de tempo. No entanto, apesar do crescente número de prescrições, mais medicamentos nem sempre contribuem para melhorar a saúde.
De acordo com os pesquisadores, "os idosos contemporâneos utilizando vários medicamentos têm um pior estado de saúde em comparação com os que tomam menos medicamentos, e parecem ser uma população vulnerável". Isso se traduz em um efeito negativo nas atividades da vida cotidiana, além de aumentar os problemas de confusão e memória.
O termo usado para descrever uma condição na qual uma pessoa toma vários medicamentos, drogas, suplementos e remédios sem receita é polifarmácia. Como evidenciado pela pesquisa citada, a relevância clínica e as consequências da polifarmácia — dos idosos que tomam diversos medicamentos todos os dias — são abrangentes à medida que o envelhecimento da população em todo o mundo continua a crescer.
A polifarmácia aumenta os riscos para a segurança
A polifarmácia é comum entre os idosos, especialmente entre aqueles que residem em casas de repouso. Alguns acabam em um lar de idosos por causa de reações adversas a medicamentos, o que impõe encargos financeiros e emocionais às comunidades e famílias. Eles também podem resultar em um número significativo de hospitalizações com um alto número de complicações, aumento das taxas de óbito e custos excessivos com os cuidados de saúde.
E o pior: você pode acreditar que o governo federal, associações médicas ou empresas farmacêuticas testaram os efeitos que as combinações de medicamentos teriam no seu corpo, mas, infelizmente, isso nem sempre acontece.
Os pesquisadores relatam que essas reações adversas a medicamentos são responsáveis por até 12% de todas as internações hospitalares de idosos. No entanto, mesmo estar no hospital não necessariamente reduz ou garante que não ocorra a polifarmácia.
Em um estudo, uma equipe na Itália avaliou 1.332 pacientes internados com pelo menos 65 anos que tomaram pelo menos cinco medicamentos. Eles descobriram que a polifarmácia estava presente em 51,9% dos pacientes quando chegaram ao hospital; aumentando para 67% quando eles saíram.
Tomando um medicamento para compensar os efeitos colaterais de outro
Um dos perigos ocultos da polifarmácia são as interações químicas que ocorrem no corpo quando os medicamentos são misturados. Outro problema é a quantidade de vezes que um medicamento é prescrito para tratar os efeitos colaterais de outro. Isso ficou conhecido como "prescrições em cadeia". O New York Times escreve:
"Um exemplo comum é o uso de remédios anti-Parkinson para sintomas causados por medicamentos antipsicóticos, com os medicamentos anti-Parkinson, por sua vez, causando novos sintomas, como uma queda vertiginosa da pressão arterial ou delírio, o que resulta em mais uma prescrição".
Para esse fim, as interações medicamentosas podem, por si só, causar internações — e às vezes essas interações podem até levar à morte. Os autores de um estudo observaram um aumento de 50% nesse problema quando os idosos tomam de cinco a nove medicamentos.
O Dr. Michael Stern, especialista em medicina geriátrica de emergência no Hospital Presbiteriano de Nova York, disse a um repórter do New York Times que a polifarmácia é responsável por mais de um quarto de todas as admissões no hospital, e que seria considerada a quinta principal causa de morte se fosse categorizada dessa maneira.
O uso de antidepressivos dobrou entre idosos
Em um estudo publicado em 2013, os cientistas analisaram os participantes que com antidepressivos prescritos por seus médicos. Entre aqueles com mais de 65 anos, apenas 14,3% preencheram os critérios do DSM-4 por terem apresentado um episódio depressivo maior — indicando que eles provavelmente estavam sobrescritos ou prescritos desnecessariamente. Os autores observaram a importância de fornecer melhores diagnósticos aos pacientes, bem como tratamentos mais apropriados de seus sintomas.
E, novamente, as estatísticas mostram que mais prescrições não se traduzem necessariamente em menos depressão. Por exemplo, em um estudo de 2017, os pesquisadores revisaram dados reunidos entre 1990 e 2015 na Inglaterra, Canadá, EUA e Austrália, e descobriram que a incidência de sintomas não havia diminuído, apesar de um aumento no número de prescrições de antidepressivos.
Isso é importante pois os riscos associados à depressão em idosos incluem declínio cognitivo, demência e maus resultados médicos. Aqueles que sofrem de depressão em qualquer faixa etária também apresentam taxas mais altas de suicídio e mortalidade.
Essa é uma das razões pelas quais a Associação Americana de Psiquiatria escreve que, em alguns casos, o tratamento para idosos “deve ser similar ao usado em grupos etários mais jovens”. Infelizmente, embora a terapia para depressão possa incluir psicoterapia e tratamentos alternativos, como o tratamento de deficiências vitamínicas, bons hábitos de sono, nutrição adequada e exercício físico, muitas vezes os idosos recebem apenas prescrição de medicamentos — e isso só aumenta a quantidade de medicamentos que eles provavelmente já estão tomando.
Estudos relacionam a depressão à inflamação
Em estudos relacionados, os pesquisadores descobriram que a inflamação contribui para muitas doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas e demência. Eles também encontraram uma ligação entre a inflamação e a depressão. Os autores de uma revisão de literatura incluíram resultados de 30 ensaios clínicos randomizados, com um total de 1.610 participantes. A análise dos dados mostrou que agentes anti-inflamatórios podem reduzir o transtorno depressivo quando comparados a um placebo.
Os resultados de outra grande meta-análise revelaram achados semelhantes: medicamentos anti-inflamatórios se mostraram úteis para aqueles que lidam com depressão.
Ainda outro grupo de pesquisadores descobriu que indivíduos tratados com imunoterapia para um distúrbio inflamatório experimentaram alívio sintomático para os sintomas depressivos. Tudo isso aponta para outras maneiras de lidar com a depressão além de recorrer a medicamentos antidepressivos prescritos. Para uma discussão sobre como reduzir a inflamação naturalmente, consulte os artigos abaixo e considere otimizar sua taxa de melatonina, adicionar fibras à sua alimentação e andar mais descalço.
Procure a raiz dos problemas de saúde
Antes de adicionar mais um medicamento prescrito ou medicamento sem receita ao seu regime diário, considere procurar a ajuda de um médico de saúde natural que possa ajudar a chegar à raiz do problema. Frequentemente, os medicamentos mascaram os sintomas sem tratar da condição subjacente. Isso pode iniciar um ciclo vicioso onde o primeiro medicamento desencadeia um efeito colateral que um segundo medicamento será prescrito para tratar.
Embora o computador da farmácia possa sinalizar algumas interações medicamentosas, a complexidade química envolvida quando mais de três medicamentos são prescritos faz com que seja difícil evitar reações adversas. A solução mesmo é assumir o controle da sua saúde e introduzir estratégias para melhorar sua saúde geral a partir da base.