Por Dr. Mercola
A essa altura, você provavelmente já sabe que um dos efeitos letais da COVID-19 é a capacidade do vírus de desencadear uma enxurrada de citocinas. Sendo assim, faz sentido que muitos profissionais de saúde estejam procurando maneiras de fortalecer e melhorar a função imunológica. A boa notícia é que parece haver diversas estratégias bastante úteis nesse sentido.
As estratégias e suplementos que se mostraram capazes de modular a resposta imunológica e suprimir a enxurrada de citocinas incluem:
A essa lista, também podemos adicionar o ácido docosaexaenoico (DHA) e o ácido eicosapentaenoico (EPA), gorduras ômega-3 de cadeia longa, encontradas em peixes gordurosos de água fria, como o salmão do Alasca, sardinhas, anchovas e Krill, para citar alguns.
O DHA e EPA podem melhorar enxurrada de citocinas
De acordo com o artigo de opinião "O potencial efeito benéfico da suplementação com EPA e DHA no controle da enxurrada de citocinas na doença por coronavírus", publicado em 19 de junho de 2020, na revista Frontiers in Physiology, sabe-se que o EPA e o DHA afetam as vias biológicas que "podem ter influência direta no resultado da COVID-19":
"Até o momento, os eventos moleculares que desencadeiam uma 'enxurrada de citocinas' ou as estratégias terapêuticas aplicáveis para prevenir e gerenciar esse processo não estão totalmente elucidados devido à natureza complexa desse problema.
Artigos recentes sugerem que nutrientes específicos, como as vitaminas B6, B12, C, D, E e o folato; e oligoelementos, incluindo zinco, ferro, selênio, magnésio e cobre, podem desempenhar um papel fundamental no controle da enxurrada de citocinas…
Os CL-AGPIs (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, ou LC-PUFAs, da sigla em inglês) como o EPA... e o DHA... são dignos de nota devido à sua influência direta na resposta imunológica a infecções virais. Evidências sugerem que os CL-AGPIs n-3 podem modular a resposta imunológica de diversas maneiras.
Entre esses efeitos imunomoduladores complexos, destacam-se a interleucina-6 (IL-6) e a interleucina-1ß (IL-1β) - devido ao seu possível papel como regulador central na "enxurrada de citocinas". Essas citocinas podem ser afetadas pela ingestão de EPA e DHA como parte da dieta (Figura 1).
Além disso, as enzimas poli(ADP-ribose) polimerase, que possuem propriedades anti-inflamatórias traduzíveis para a infecção por COVID-19 humana, demonstraram melhorar os níveis teciduais de DHA e EPA, bem como os metabólitos anti-inflamatórios do EPA e DHA, evidenciando a aplicabilidade destes no tratamento da COVID-19."
Figura 1: Principais vias metabólicas do DHA e EPA, produzindo metabólitos anti-inflamatórios.
Embora isso não seja mencionado no artigo da Frontiers in Physiology, as gorduras ômega-3 de origem animal, especialmente o DHA, também demonstraram prevenir a trombose (um coágulo dentro do vaso sanguíneo) ao diminuir a agregação plaquetária. Conforme discutido em "Cuidados críticos para a COVID-19", a hipercoagulação é outra complicação grave da infecção por COVID-19, podendo ter consequências letais. Além disso, o Ômega-3:
- Reduz o risco de disfunção pulmonar
- Protege contra danos nos pulmões
- Protege contra infecções bacterianas secundárias
- Melhora a função mitocondrial
Você sabe o seu índice de ômega-3?
Juntamente com os exames de vitamina D, é altamente recomendável medir seu nível de ômega-3 pelo menos uma vez por ano, pois a falta desse nutriente vital pode significar problemas para a saúde.
Uma das razões pelas quais o DHA e o EPA são tão cruciais é porque eles são, na verdade, os principais elementos estruturais das suas células. Eles não são apenas simples combustíveis. Se você não tiver DHA e EPA suficientes, a capacidade do seu corpo para se regenerar e manter estruturas celulares saudáveis ficará seriamente prejudicada.
O ensaio para medir o ômega-3 em seus glóbulos vermelhos foi desenvolvido em 2004 por William Harris, Ph.D. O índice de ômega-3 é expresso como uma porcentagem de todos os ácidos graxos na membrana dos glóbulos vermelhos. Dados de estudos realizados por Harris mostraram que a faixa saudável para o ômega-3 é de 8% a 12%.
A cofundadora da GrassrootsHealth, Carole Baggerly, comentou o artigo da Frontiers in Physiology em um e-mail pessoal para mim: "Com base nesses dados, é bem provável que níveis mais altos de ômega-3 ajudem a evitar a enxurrada de citocinas... eu buscaria... um índice de 8,1%, pelo menos."
Você não apenas quer ter certeza de que está recebendo ômega-3 suficiente, mas também é absolutamente imperativo limitar sua ingestão de ômega-6, especialmente proveniente de óleos vegetais processados. Discuto isso com mais detalhes na seção abaixo. Esse é outro benefício do exame do índice ômega-3, pois ele mostrará precisamente os níveis dessas gorduras potencialmente perigosas nas suas células.
Como testar seu nível de ômega-3
A GrassrootsHealth, uma organização de pesquisa em saúde pública sem fins lucrativos, tem várias opções de testes econômicos disponíveis como parte de seus projetos de pesquisa nutricional financiados por consumidores, cujos objetivos são estabelecer recomendações nutricionais com base em dados científicos populacionais.
Por exemplo, uma pesquisa em andamento da GrassrootsHealth estabeleceu que a faixa ideal de vitamina D para prevenção de doenças está entre 60 e 80 ng/mL. Eles conduzem o mesmo tipo de pesquisa financiada por consumidores para o ômega-3 e magnésio. Para o ômega-3, existem quatro opções de teste:
- Kit de teste de índice ômega-3
- Kit de teste de vitamina D e Omega-3
- Kit de teste de vitamina D, magnésio e ômega 3
- Kit de teste de vitamina D, magnésio, ômega 3 e outros elementos
Cada kit contém instruções sobre como coletar sua amostra de sangue. Uma vez feita a coleta, você envia sua amostra e preenche um rápido questionário on-line no site do GrassrootsHealth. Os resultados do seu teste serão enviados por e-mail em 10 a 20 dias após o recebimento das amostras.
Com base no resultado do índice, você poderá usar a calculadora de índice ômega-3 da própria GrassrootsHealth para determinar a dosagem necessária para elevar seu nível atual ao nível-alvo escolhido.
Fonte: GrassrootsHealth
Importante: Limite a sua ingestão de óleos vegetais
Novamente, embora muitos precisem de suplementos de ômega-3 de origem marinha para aumentar seus níveis, também é crucial limitar a ingestão de gorduras ômega-6 provenientes de óleos vegetais. Isso inclui até mesmo certos óleos saudáveis, como o azeite extravirgem.
Além do fato de a maioria dos azeites ser falsa, até o produto real pode causar problemas quando consumido em quantidades muito altas, pois é carregado com ômega-6 e, portanto, pode distorcer sua relação ômega-3 para ômega-6.
Idealmente, essa proporção deve estar próxima a 1 para 1, mas como as pessoas frequentemente comem pouco ômega-3 e quantidades excessivas de ômega-6, não é incomum que essa proporção chegue a 1 para 25 ou mais. Quando seu consumo é tão assimétrico assim, você pode ter dificuldade em otimizar seu índice ômega-3, mesmo tomando suplementos.
É importante notar que o seu corpo metaboliza ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ômega-6 (AGPIs) em eicosanoides, que são substâncias semelhantes a hormônios. Como regra geral, os eicosanoides de ômega-3 são anti-inflamatórios, enquanto os eicosanoides de ômega-6 têm efeitos pró-inflamatórios.
Parte dos benefícios das gorduras ômega-3 é que elas bloqueiam os efeitos pró-inflamatórios dos eicosanoides de ômega-6, mas se sua ingestão de ômega-6 for muito alta, você ainda poderá ter altas taxas de inflamação. Ácidos graxos ômega-6 também:
- Geram espécies reativas que danificam o DNA
- Causam a epoxidação do 17-beta-estradiol, o que, por sua vez, gera um composto cancerígeno
- Aumento dos efeitos genotóxicos de outros compostos
Muitas pessoas consomem quantidades enormes de óleos vegetais
De acordo com o relatório de 2017 "Tendências em Disponibilidade de Alimentos nos EUA", do Departamento de Agricultura dos EUA, o consumo de gorduras saturadas animais "saudáveis", como manteiga, banha e sebo bovino, caiu 27% entre 1970 e 2014, enquanto o consumo de óleos vegetais nocivos aumentou 87% A ingestão especificamente de óleos de salada e óleos de cozinha aumentou em 248%.
Evidências convincentes sugerem que os óleos vegetais processados, ricos em ácidos graxos poli-insaturados ômega-6, são provavelmente os principais culpados na nossa dieta moderna, contribuindo para o desenvolvimento da maioria das doenças crônicas. Eu acredito que eles afetam mais a saúde humana do que o xarope de milho rico em frutose.
Além de os óleos vegetais estarem associados a doenças cardíacas, doenças gastrointestinais como a síndrome do intestino irritável e condições inflamatórias como a artrite, eles também foram associados a diversos tipos de câncer, especialmente neuroblastoma, câncer de mama, próstata, cólon e pulmão.
Os óleos vegetais são tóxicos por si só
Além de desequilibrar a proporção de ômega-3 para ômega-6, promovendo o surgimento de doenças crônicas, os óleos vegetais também têm efeitos tóxicos mais diretos. Uma dos motivos para isso é que eles se degradam quando aquecidos, formando produtos de oxidação extremamente tóxicos, como aldeídos cíclicos.
Os aldeídos cíclicos causam a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade oxidada (LDL), associadas à doença cardíaca. Eles também causam a reticulação das proteína tau e criam emaranhados neurofibrilares, contribuindo assim para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.
Conforme explicado pela Dra. Cate Shanahan em seu livro, "Deep Nutrition: Why Your Genes Need Traditional Food", para entender como as gorduras alimentares afetam sua saúde, você precisa entender como as gorduras se oxidam.
Os AGPIs ômega-6 encontrados nos óleos vegetais possuem ligações altamente frágeis, que reagem com o oxigênio criando uma cascata de radicais livres que transforma ácidos graxos normais do corpo em moléculas perigosas de alta energia que se aglomeram, causando estragos de maneira semelhante à radiação.
Além disso, muitos dos óleos vegetais produzidos hoje — especialmente óleo de milho e soja — são geneticamente modificados, e são uma fonte significativa de exposição ao glifosato, que também tem sido associado a danos no intestino e outros problemas de saúde.
Óleos ômega-6 estão integrados às suas células
O livro de Shanahan também expõe os perigos do 4-hidroxinonenal (4HNE), que se forma durante o processamento da maioria dos óleos é a forma oxidada do ômega-6, e se forma durante o seu processamento. O 4HNE é altamente tóxico, especialmente para as bactérias intestinais, e o consumo de 4HNE está relacionado a um equilíbrio obesogênico da flora intestinal.
O 4HNE causa citotoxicidade e danos ao DNA, além de provocar cascatas de radicais livres que danificam a membrana mitocondrial. O ômega-6 encontrado nos óleos vegetais também danifica o endotélio (as células que revestem os vasos sanguíneos), permitindo que as partículas de LDL e lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) penetrem no subendotélio.
Esses óleos se ligam às células e às membranas mitocondriais (assim como o ômega-3 saudável), e quando essas membranas ficam debilitadas, o cenário torna-se ideal para diversos os tipos de problemas de saúde.
Eles também tornam as membranas celulares menos fluidas, o que afeta os transportadores de hormônios na membrana celular, diminui sua taxa metabólica e inibe a remoção de células senescentes — células envelhecidas, danificadas ou debilitadas, que perderam a capacidade de se reproduzir, e produzem citocinas inflamatórias que aceleram envelhecimento e o favorecem o surgimento de doenças.
Os óleos vegetais também retiram a glutationa do seu fígado (que produz enzimas antioxidantes), diminuindo assim as suas defesas antioxidantes, e inibem a delta-6 dessaturase (delta-6), uma enzima envolvida na conversão de ômega-3 de cadeia curta em ômega-3 de cadeia longa no seu fígado.
Um dos passos mais importantes para você melhorar o seu índice de Omega-3
Lembre-se, os óleos ômega-6 e ômega-3 são gorduras poli-insaturadas e altamente suscetíveis à oxidação e serem biologicamente danificadas. Por isso, apenas adicionar mais ômega-3 à sua dieta simplesmente NÃO basta para melhorar a sua proporção. Apenas aumentar a sua ingestão de ômega-3 pode, na verdade, aumentar a quantidade de gorduras oxidadas e piorar a sua saúde.
A chave é procurar remover TODOS os óleos vegetais. Você simplesmente deve evitá-los a todo custo. Outra fonte rica em óleos ômega-6 é a carne de frango. O frango é muito rico em ácido linoleico ômega-6, porque eles comem muitos grãos ricos em ômega-6.
Uma das melhores maneiras de controlar a quantidade de óleo ômega-6 você está ingerindo é usando o incrível aplicativo de controle de nutrientes Cronometer. Se você usar o aplicativo no seu computador, ele é totalmente gratuito. Contanto que você esteja inserindo nele as quantidades precisas dos seus alimentos, ele te fornecerá uma estimativa fantástica de quantos óleos ômega-6 você está ingerindo.
Essa pode ser uma das estratégias de saúde mais importantes e baratas que você pode implementar ainda hoje.
Otimizar seu ômega-3 pode ser útil na prevenção da COVID-19
Em resumo, assim como a vitamina D, otimizar o seu índice de ômega-3 para um nível de pelo menos 8% pode ser uma estratégia que pode ajudar a diminuir o risco de um resultado adverso da COVID-19, já que as gorduras ômega-3 são importantes moduladores da imunidade e podem ajudar a diminuir o risco de uma enxurrada de citocinas.
Apenas lembre-se de que simplesmente aumentar a ingestão de ômega-3 pode não ser suficiente. Provavelmente, você também precisará limitar a ingestão de óleos vegetais, bem como de frango alimentado com milho. Juntas, essas duas estratégias devem permitir alcançar uma proporção saudável de ômega-3 para ômega-6.