Cientistas querem criar alimentos a partir do plástico

Fatos verificados
Alimentos de plástico

Resumo da matéria -

  • A DARPA concedeu US$ 2,7 milhões para iniciar um projeto de criação de um sistema de alimentação que incorpora plástico e resíduos de papel para melhorar a logística militar
  • A intenção inicial é usar produtos residuais como alimentos para reduzir os suprimentos necessários nas missões; no entanto, em um mundo onde o Impossible Burger existe, é improvável que isso pare por aí
  • O mundo tem um problema de poluição por plástico, mas apenas 9% do plástico criado desde 1950 foi reciclado

Por Dr. Mercola

Nós temos um problema com o plástico. Não apenas é difícil se livrar dele sem prejudicar o meio ambiente, mas também parece que gostamos de todas as coisas descartáveis. Nos Estados Unidos, o plástico ainda é amplamente considerado uma parte integral e necessária da vida cotidiana. Uma voltinha por qualquer corredor do supermercado revela uma dependência doentia do plástico, começando pelas embalagens a sacolas dos nossos mantimentos.

Os produtos frescos são frequentemente embrulhados em plástico ou fatiados e embalados em plástico. Nozes, queijo, leite e alface são embalados em plástico. Em todo o mundo, 299 milhões de toneladas foram produzidas em 2013, muitas das quais acabaram nos oceanos, ameaçando a vida selvagem e o meio ambiente.

No caso das embalagens de plástico, 95% do valor do material, estimado em US$ 80 a US $120 bilhões anuais, é perdido após seu primeiro uso, acrescentando problemas econômicos a outras desvantagens, de acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial. Agora os cientistas estão pensando em como transformar o plástico em alimentos.

Plástico por alimentos

Com foco na melhoria da logística militar, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA) concedeu à Universidade Estadual de Iowa e seus parceiros uma doação de US$ 2,7 milhões para desenvolver alimentos a partir de resíduos de plástico e papel, que devem alimentar militares no futuro A capacidade de transformar papel e plástico em produtos alimentícios pode ajudar na alimentação de curto prazo dos soldados e melhorar a logística militar para missões prolongadas.

Eles estimam que a concessão total do subsídio pode chegar a US$ 7,8 milhões antes do término do projeto. Os parceiros neste empreendimento incluem o Instituto Americano de Engenheiros Químicos RAPID, a Universidade de Delaware e os Laboratórios Nacionais Sandia. Inicialmente, o sistema está sendo denominado Novel Oxo-degradation to Macronutrients for Austere Deployments (NOMAD).

O objetivo é converter resíduos de papel em açúcares e plásticos em ácidos e álcoois graxos. Esses subprodutos seriam então processados em uma única biomassa celular. Outros exemplos de proteínas de célula única incluem Vegemite e levedura nutricional. O sistema NOMAD deve atender a requisitos específicos para permitir que as tropas militares levem os alimentos consigo durante missões.

Embora a DARPA esteja iniciando o projeto para uso pelos militares no campo, pode não demorar muito para que tal sistema seja proposto como um meio de fornecer alimentos baratos para qualquer cidadão. Conforme explicado no comunicado à imprensa da Universidade Estadual de Iowa, o processo pode “levar muito tempo até resolvermos os problemas iminentes de descarte de plástico e garantirmos uma cadeia alimentar global viável”.

Robert Brown, da Iowa State University, é o principal pesquisador do projeto. Ele explicou como os plásticos e o papel podem se biodegradar em campo e ser utilizados para cultivar leveduras ou bactérias comestíveis:

“Quando expostos ao calor ou à luz ultravioleta na presença de oxigênio, os plásticos se convertem em compostos oxigenados que podem ser consumidos por microrganismos. Os plásticos são, na verdade, biodegradáveis, mas o processo é muito lento, como evidenciado pelo acúmulo de resíduos no meio ambiente.

Podemos aumentar muito a oxo-degradação de plásticos em compostos graxos aumentando a temperatura em algumas centenas de graus. O produto resfriado é usado para cultivar leveduras ou bactérias em proteínas de célula única que podem ser usadas como alimento.”

"Um exército marcha por seu estômago"

Esse ditado familiar foi atribuído a Napoleão e Fredrick, o Grande, em referência à capacidade de um exército de ter um desempenho melhor quando suas necessidades nutricionais são atendidas. Embora seja possível argumentar que o alimento fornecido aos militares seria uma proteína monocelular “natural”, é importante lembrar as lições que aprendemos com a carne bovina alimentada com grãos.

Existem vários problemas com a criação de gado em operações de engorda de animais por confinamento (CAFO), incluindo problemas com o meio ambiente, abastecimento de água, tratamento humano dos animais e a adição de cloro e outras toxinas que limpam agentes contaminantes. Apesar dos problemas associados aos CAFOs, muitos voltam a afirmar que as fazendas industriais podem alimentar o mundo. Mas a pergunta é: a que custo?

Como as análises nutricionais revelaram, as questões internas dos CAFOs e comunidades vizinhas não são os únicos problemas. As diferenças nutricionais na carne bovina criada ou terminada com grãos e na carne terminada a pasto são impressionantes. A carne bovina terminada a pasto tem melhor composição de ácidos graxos e conteúdo antioxidante.

A carne é mais rica em ácido linoleico conjugado (CLA) e precursores de CLA, que desempenham um papel no metabolismo da gordura e modificam positivamente os fatores de risco cardiometabólico que afetam a composição corporal, reduzindo os níveis de gordura corporal. A carne bovina de animais terminados a pasto também é mais rica em gorduras ômega 3 e mais pobre em gorduras que aumentam o colesterol.

A lição aprendida é que, só porque parece carne saudável, não significa que tenha o mesmo valor nutricional que a carne criada em um ambiente saudável. Claro, o mesmo pode ser dito dos tais Impossible Burgers ou quaisquer alimentos fabricados em laboratório. No curto prazo, pode ser uma solução para um problema militar, mas você acha que vai parar por aí?

Reciclagem é apenas uma fraude?

A reciclagem é outra forma de tentar reduzir o problema da poluição por plástico. No entanto, permanece a questão de saber se esta é uma resposta viável, uma vez que há evidências crescentes sugerem que, na melhor das circunstâncias, seu impacto é ínfimo.

O Guardian relata que o Earth Island Institute abriu um processo contra 10 grandes empresas. O grupo espera forçar as organizações a assumir a responsabilidade e pagar pela destruição ambiental e ecológica que seus produtos estão causando. Aumentar a reciclagem pode parecer uma resposta, mas como disse o diretor executivo da Basel Action Network, Jim Puckett, à revista Rolling Stone:

“Eles realmente convenceram as pessoas de que os plásticos podem ser reciclados só porque uma pequena fração deles é. Isso é uma fraude. Quando você se aprofunda na reciclagem de plásticos, percebe que ela é um mito.”

Pucket continua descrevendo como 91% do plástico criado desde 1950 nunca foi reciclado, citando um estudo publicado em 2017. Além disso, o repórter da Rolling Stone, Tim Dickinson, escreveu:

“Ao contrário do alumínio, que pode ser reciclado continuamente, o plástico se degrada no reprocessamento e quase nunca é reciclado mais de uma vez. Uma garrafa de refrigerante de plástico, por exemplo, pode ser reciclada em um tapete.”

No ritmo em que o plástico está sendo adicionado ao oceano, espera-se que haja mais plásticos do que peixes em 2050.

Nosso consumo médio de plástico ao longo da vida é chocante

Pequenos pedaços de plástico podem ser encontrados em quase todos os lugares do ambiente, incluindo os alimentos em seu prato. Os microplásticos, como são chamados, têm menos de 5 mm e são encontrados em alimentos e bebidas. A água potável é uma das maiores fontes, da qual os pesquisadores estimam que uma pessoa consome em média 1.769 partículas por semana.

Ainda assim, a água mineral não é a solução, pois pode conter ainda mais plástico do que água da torneira. Uma pesquisa publicada na Environmental Science and Technology sugere que pessoas que bebem exclusivamente água mineral podem consumir mais microplásticos do que aquelas que bebem água da torneira.

A poluição do plástico provavelmente se origina do processo de fabricação de garrafas e tampas. Quando os pesquisadores testaram 259 garrafas de 11 marcas de água mineral, eles descobriram que havia 325 pedaços de microplástico por litro, em média. As marcas testadas foram Aquafina, Evian, Dasani, San Pellegrino e Nestlé Pure Life, entre outras.

Com base nas descobertas do estudo do WWF International, a Reuters criou uma ilustração mostrando a quantidade de plástico que uma pessoa consumiria ao longo do tempo. De acordo com essas estimativas, você pode consumir:

  • Toda semana — 5 gramas ou plástico suficiente para embalar uma colher de sopa.
  • A cada seis meses — 125 gramas ou flocos desfiados o suficiente para encher uma tigela de cereal.
  • Todo ano — 250 gramas ou um prato cheio de plástico picado.
  • A cada 10 anos — 2,5 kg ou aproximadamente o tamanho de uma bóia salva-vidas padrão.
  • Mais de 79 anos — 20 kg de plástico picado durante o tempo médio de vida do ser humano.

Para colocar isso em perspectiva, um pneu de carro pesa cerca de 9 quilos. Portanto, um suprimento vitalício de consumo de plástico seria como comer lentamente 2.2 pneus de carro. Thava Palanisami, da Universidade de Newcastle, que participou de um estudo conduzido pelo World Wildlife Fund (WWF), disse à Reuters:

“Há décadas que usamos plástico, mas ainda não entendemos realmente o impacto das partículas de plástico micro e nanométricas em nossa saúde... Tudo o que sabemos é que o estamos ingerindo e que ele tem potencial para causar toxicidade. Essa é definitivamente uma questão preocupante".

Um clamor pelo fim da poluição por plástico

A luta contra a poluição por plástico ocorre em várias frentes diferentes. Além da ação movida pelo Earth Island Institute, o WWF está pedindo aos governos que apoiem pesquisas adicionais sobre as consequências da ingestão de microplásticos. Em sua análise, a organização observou:

“A abordagem global atual sobre a crise do plástico está falhando. Os governos desempenham um papel fundamental para garantir que todos os agentes da poluição por plástico sejam responsabilizados pelos danos causados às pessoas e à natureza".

É importante lembrar o impacto significativo que você pode ter ao fazer mudanças simples em sua vida diária. Abaixo está uma amostra de estratégias que podem ajudar:

Não use sacos plásticos. Opte por sacolas reutilizáveis, especialmente para mantimentos

Leve sua caneca quando for a uma cafeteria, não use tampa ou canudo

Em vez de comprar água mineral, leve água de casa

Certifique-se de que os itens reciclados sejam realmente recicláveis

Guarde alimentos em recipientes de vidro, não de plástico

Quando for comer fora, leve um recipiente de casa para embalar as sobras

Evite alimentos processados, que normalmente são vendidos em embalagens plásticas ou caixas de papel revestidas de plástico. Compre produtos frescos e leve sacolas reutilizáveis

Dispense o uso de filme plástico quando possível

Use lâminas de barbear e fraudas de pano não descartáveis (camisas e meias velhas dão ótimos panos de limpeza)

Evite utensílios e canudos descartáveis e compre alimentos a granel quando puder

Compre roupas e outros itens de vestuário em brechós. As microfibras encontradas em roupas mais novas podem ser tão destrutivas quanto sacolas plásticas de supermercado

Compre brinquedos infantis e até brinquedos para animais de estimação feitos de madeira ou tecido, não de plástico