Por Dr. Mercola
O chá é importante para povos de várias culturas ao redor do mundo, sendo reconhecido há séculos por afetar a saúde de forma muito positiva. Ele é uma das bebidas mais populares do mundo, perdendo apenas para a água. Existem várias ervas e plantas fáceis de cultivar que podem ser utilizadas para fazer chá em casa, mas a maioria dos consumidores prefere utilizar saquinhos de chá para prepararem suas bebidas matinais ou da tarde.
Talvez você nunca antes tenha pensado duas vezes antes de usar um saquinho de chá. Mas alguns desses saquinhos são feitos com uma variedade de plásticos, e pesquisadores descobriram que tais plásticos se desprendem do saquinho durante a preparação da bebida. Se o saquinho for infundido ou selado com plástico, sua exposição ao calor pode provocar a liberação de micropartículas em seu chá.
Ao tomar consciência de que o plástico pode estar presente na água e nos alimentos, podem surgir dúvidas sobre a quantidade de plástico que consumimos. Os plásticos podem ser encontrados em micro e nanopartículas, algumas muito pequenas para serem vistas a olho nu.
Um fator importante para o entendimento do tamanho das partículas de plástico é sua natureza dinâmica, pois seus tamanhos e formas podem mudar com o tempo, ou quando expostas ao estresse do ambiente. Há uma grande variedade de microplásticos, definidos como as partículas que vão de 5 mm até 0,1 micrômetros (µm) de tamanho, enquanto as nanopartículas são tão pequenas quando 0,001 µm.
Para compreender o tamanho dessas partículas de plástico, considere que 5 mm é mais ou menos o tamanho de cinco grãos de sal. A espessura de um fio de cabelo tem aproximadamente 100 µm, e o menor microplástico tem 1/10 do tamanho de uma única bactéria.
Quanto plástico você gostaria que tivesse no seu chá?
Uma boa xícara de chá quente pode ser exatamente o que seu corpo precisa para ingerir fitoquímicos e outros nutrientes. Mas sabia que você pode estar bebendo 11,6 bilhões de partículas de microplástico e 3,1 bilhões de nanoplásticos a cada xícara de chá? Pesquisadores da Universidade de McGill publicaram recentemente os resultados de um estudo no qual analisaram a poluição plástica liberada por saquinhos de chá.
Eles questionaram se os saquinhos estavam liberando microplásticos ou nanoplásticos após submersos em água quente durante o processo de preparo. Então, utilizaram quatro chás comerciais embalados em saquinhos de plástico. As folhas de chá foram removidas para assegurar que quaisquer partículas de plástico no chá não comprometessem a análise dos saquinhos.
Então, os saquinhos vazios foram colocados em água quente para simular o processo de preparo. A água foi avaliada por meio de um microscópio eletrônico, e a equipe descobriu que um único saquinho de chá liberou bilhões de partículas. Os pesquisadores relataram que essa contaminação está a um nível milhares de vezes maior do que o relatado para outros alimentos e bebidas.
Além de analisar a quantidade de plástico liberada, a equipe também buscou determinar o efeito que as partículas podem causar em pequenos organismos aquáticos. Utilizando pulgas d’água, muitas vezes utilizadas como organismos modelos em estudos ambientais, os pesquisadores descobriram que, quando tratadas com as micro e nanopartículas dos saquinhos de chá, os organismos sobreviveram, mas demostraram anormalidades anatômicas e comportamentais.
Papel ou plástico?
Os pesquisadores reconheceram que os efeitos do consumo de bilhões de partículas de plástico em humanos continuam desconhecidos e pedem que mais estudos sejam feitos na área. No entanto, utilizar saquinhos de papel é tão perigoso quanto. A maioria dos saquinhos de chá, e até filtros de café, são tratados com epicloridrina para reduzir as chances de o produto se rasgar durante o uso.
A epicloridrina é um solvente industrial e um famoso carcinógeno, e essa substância química é pulverizada sobre alguns saquinhos de chá. Além da toxicidade associada ao composto químico original adicionado aos saquinhos de chá para reduzir as chances de rasgos, a California Environmental Protection Agency observou que ele se degrada na água, e pode conter certas impurezas que também são conhecidas por causarem câncer.
Caso esteja preparando seu chá ou café com água mineral na esperança de evitar contaminações comuns à água da torneira, é importante saber que a maior parte das águas minerais contém microplásticos, o que aumenta a carga tóxica dos saquinhos de chá.
Muitas vezes, as águas minerais são obtidas do abastecimento municipal de água, de poços ou de nascentes que não são regulamentadas no controle de substâncias polifluoradas (PFAS) pela Agência de Proteção Ambiental. A FDA responsabiliza os próprios fabricantes pelos testes, e não realiza qualquer supervisão esperada de uma agência federal.
Você pode estar comendo um cartão de crédito por semana
Em uma análise do World Wildlife Fund (WWF) realizada pela Universidade de Newcastle, na Austrália, os cientistas descobriram que, em média, as pessoas consomem aproximadamente 5 gramas de plástico por semana, através dos alimentos e da água.
Os pesquisadores analisaram 52 estudos que destacaram uma lista de alimentos e bebidas comuns. Eles descobriram que, em média, uma pessoa pode ingerir até 1.769 partículas de plástico por semana através da água. A WWF relata que um terço do lixo plástico acaba no ambiente, e a maior parte dele é resultado do lixo mal administrado.
Embora os plásticos sejam inicialmente anunciados como reutilizáveis, metade de todos os novos plásticos produzidos nos últimos 76 anos foram fabricados nos últimos 16 anos. Como observado no relatório, a maior causa de ingestão de micropartículas de plástico é a água potável. Outros alimentos e bebidas com altos níveis de partículas são mariscos, sal e cerveja.
Ao somar com as micropartículas ingeridas dos saquinhos de chá, a gravidade se multiplica rapidamente. Em média, uma pessoa consome plástico o bastante para criar um cartão de crédito por semana, considerando apenas o plástico ingerido através da água. Dessa forma, ao incluir a quantidade de plástico dos saquinhos de chá na equação, pode ser que os problemas à sua saúde não demorem a surgir.
Um novo sentido para a palavra reciclagem
Um estudo da Universidade Médica de Viena, que avaliou as partículas de plástico nas fezes humanas, foi apresentado na conferência anual da United European Gastroenterology em outubro de 2018. Conforme relatado pela revista Salon:
“Oito pessoas da Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria participaram do estudo. Cada pessoa manteve um diário alimentar durante a semana anterior à coleta da amostra de fezes, mostrando aos pesquisadores que todos os participantes foram expostos a alimentos embalados em plástico ou beberam bebidas armazenadas em garrafas plásticas. Seis dos oito participantes também consumiram peixes, e nenhum deles era vegetariano."
As fezes de cada participante foram analisadas, considerando 10 tipos diferentes de plásticos, nove dos quais foram encontrados. Os efeitos que o plástico causa no intestino ainda não foram definidos. O pesquisador chefe, Dr. Philipp Schwabl, da Universidade Médica de Viena, considerou os resultados assustadores e acredita que os indícios iniciais são “que os microplásticos podem danificar o trato gastrointestinal ao causar reações inflamatórias ou absorver substâncias nocivas".
De acordo com um estudo, os processos de tratamento dos excrementos humanos pelas estações de tratamento de esgoto podem ser ineficientes. Pesquisadores do Reino Unido avaliaram o suprimento de água de seis rios na região norte da Inglaterra. Os dados mostraram um maior número de microplásticos nas águas que estavam a jusante das estações de tratamento de esgoto.
Os pesquisadores acreditam que isso confirma que os esgotos tratados são uma grande fonte de microplásticos. Seguindo essas partículas pelo rio, é provável que elas acabem inseridas no meio ambiente e se tornem parte do abastecimento municipal de água.
Aproveite os benefícios do chá de folhas soltas
O consumo de chá apresenta um número considerável de benefícios, de forma que seria prudente manter o hábito, substituindo os saquinhos de chá pelos chás de folhas soltas. Como compartilhei em um artigo anterior, tomar chá pode ajudar a desenvolver conexões cerebrais melhores, melhorar a saúde cardiovascular, reduzir as placas beta-amiloide encontradas durante o desenvolvimento do Mal de Alzheimer e reduzir o desenvolvimento de placas ateroscleróticas.
Embora o preparo de chá de folhas soltas possa necessitar de um ou dois passos a mais, o processo é simples. Aqui estão algumas orientações para preparar o chá "perfeito":
Modo de preparo
1. Ferva água em uma chaleira (evite utilizar panela antiaderente, pois elas podem liberar substâncias químicas nocivas quando aquecidas).
2. Pré-aqueça seu bule para evitar que a água esfrie rápido demais. Adicione uma pequena quantidade de água fervente ao bule ou à xícara onde vai preparar o chá. Cerâmica e porcelana são bons materiais para reter o calor. Cubra o bule ou xícara com uma tampa. Adicione um abafador de chá, caso tenha um, ou cubra com uma toalha. Deixe descansar até que fique morno, e então retire a água.
3. Coloque o chá em um infusor ou coador, ou coloque as folhas soltas de chá dentro do bule. O preparo sem infusor ou coador produz um chá mais saboroso. Comece com 1 colher de chá por xícara e por bule. A robustez do sabor pode ser alterada utilizando mais ou menos chá.
4. Adicione água fervente. Use a quantidade adequada de água para a quantidade de chá que adicionou anteriormente (por exemplo, para 4 colheres de chá de chá, adicione 4 xícaras de água). A temperatura ideal da água varia de acordo com o tipo de chá sendo preparado:
• Chá branco e chá verde (folha inteira) — Bem abaixo da fervura (de 76 a 85 °C). Uma vez que a água tenha sido fervida, retire-a do fogo e deixe esfriar por cerca de 30 segundos para o chá branco, e 60 segundos para o chá verde, antes de despejá-la sobre as folhas de chá.
• Oolong (folha inteira) — de 85 a 98 °C
• Chá preto (folha inteira) — Fervura total (100 °C)
5. Cubra o bule com um abafador ou toalha, e deixe em infusão, seguindo as instruções da embalagem. Aqui estão algumas orientações gerais, caso não haja instruções. Experimente com frequência, pois é melhor que fique saboroso, e não amargo:
• Chá oolong — De quatro a sete minutos
• Chá preto — De três a cinco minutos
• Chá verde — De dois a três minutos
6. Assim que alcançar o sabor desejado, remova o infusor ou coador. Se estiver usando folhas soltas, passe o chá por um coador, primeiro na xícara e o restante em outro recipiente (cubra com um abafador para reter o calor).