Depósito do tóxico DDT é encontrado no oceano

Fatos verificados
Depósito do tóxico DDT

Resumo da matéria -

  • Rumores sobre um depósito secreto de DDT no fundo do oceano existem há décadas, mas agora as fotos tiradas por um robô no fundo do mar mostram a prova
  • Registros de transporte mostram que milhares de barris de efluentes ácidos com DDT foram despejados no oceano, na costa de Los Angeles, todos os meses após a Segunda Guerra Mundial
  • Além de ser muito persistente no meio ambiente, o DDT é conhecido por se acumular nos tecidos adiposos e tem sido associado ao câncer e problemas reprodutivos
  • Estima-se que a área de despejo no fundo do oceano possa conter de 336.000 a 504.000 barris de efluentes ácidos contaminados com resíduos de DDT

Por Dr. Mercola

Até meio milhão de barris de resíduos tóxicos de DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) podem estar descartados no fundo do oceano, na costa de Los Angeles, Califórnia.

Em uma arrepiante exposição de Rosanna Xia, uma repórter ambientalista do Los Angeles Times, as fotos tiradas por um robô no fundo do mar mostram barris cobertos por sedimentos, alguns dos quais contendo perfurações porque, “quando os barris flutuavam demais para afundar por conta própria, dizia um relatório, o pessoal simplesmente os perfurara”.

Outros elementos ainda mais perturbadores que foram descobertos sãos os registros de transporte que mostram que milhares de barris de efluentes ácidos com DDT foram despejados no oceano todos os meses após a Segunda Guerra Mundial.

E embora os trabalhadores devessem ir para o “Aterro Nº 1”, localizado a cerca de 10 milhas náuticas a noroeste da Ilha Catalina, “os reguladores relataram na década de 1980 que os homens encarregados de se livrar dos resíduos de DDT às vezes pegavam atalhos e apenas despejavam mais perto da costa”. Os rumores de um aterro secreto no fundo do oceano existem há décadas, mas somente poucos indivíduos foram atrás da história.

Suas descobertas sugerem que o depósito de lixo tóxico pode estar liberando veneno lentamente no ambiente oceânico ou, talvez pior, pode um dia estourar em grandes quantidades na área circundante, contaminando-a com DDT em níveis sem precedentes. Talvez ainda mais perturbador é o fato de que ninguém parece saber o que fazer a respeito.

A Califórnia foi o lar do maior produtor de DDT

A Montrose Chemical Corp. abriu uma fábrica perto de Torrance, Califórnia, em 1947 para fabricar DDT. Era o maior fabricante desse tipo nos Estados Unidos, operando de 1947 a 1982. Até hoje, o local da fábrica é considerado um dos mais perigosos dos Estados Unidos, mas, na época, o DDT era considerado um produto químico maravilhoso.

"A indústria química foi celebrada na época por levar o país a uma maior prosperidade e prevenir o insucesso das safras em todo o mundo. Os Estados Unidos usaram 36 milhões de quilos de DDT em um ano", escreveu Xia. Uma foto mostra banhistas se divertindo em enormes nuvens de DDT, que era pulverizado nas praias dos Estados Unidos para eliminar os mosquitos.

Isso se deu quase duas décadas antes da bióloga marinha Rachel Carson alertar que produtos químicos como o DDT estavam destruindo a natureza. Nesse ínterim, o DDT era louvado como “a maior contribuição da guerra para a saúde futura do mundo" pelo General de Brigada James Simmons, chefe de medicina preventiva do Exército dos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial — uma época em que o produto químico era pulverizado nos soldados para protegê-los da malária e do tifo.

A Montrose rapidamente se tornou essencial no fornecimento de DDT a governos em todo o mundo, continuando a produzi-lo por mais 10 anos depois que foi proibido nos EUA em 1972. “A demanda ainda era forte em outros países”, observou Xia, “...então a fábrica de produtos químicos em Los Angeles continuou produzindo mais”.

Em seus primeiros anos de produção, o oceano era considerado um local aceitável para o descarte de resíduos. “A diluição é a solução para a poluição, dizia o ditado”, brinca o artigo, mas com produtos químicos tão tóxicos como o DDT, existe o limite que o meio ambiente pode aguentar.

Além de ser muito persistente no meio ambiente, o DDT é conhecido por se acumular nos tecidos adiposos e percorrer longas distâncias na atmosfera. É por causa de sua persistência no meio ambiente que mesmo os resíduos (ou barris deles) que foram descartados décadas atrás continuam sendo uma significativa preocupação ambiental e para a saúde humana.

Robô subaquático revela um tóxico legado de DDT

David Valentine, professor de geoquímica e microbiologia da UC Santa Barbara, e Veronika Kivenson, estudante de Ph.D. em ciências marinhas, estavam entre uma equipe de cientistas que publicou pesquisas mostrando que o descarte de resíduos de DDT no oceano foi um "processo desleixado" e os barris no fundo do oceano estão "rompendo abertamente sua contenção e levando à contaminação em escala regional dos bentos".

Eles citaram um relatório técnico de Allan Chartrand, um ex-cientista do Conselho Regional de Controle de Qualidade da Água da Califórnia em Los Angeles, que estimou que a área pode conter de 336.000 a 504.000 barris de efluentes ácidos contaminado com resíduos de DDT.

Os barris foram descartados pela Montrose a uma taxa estimada de 2.000 a 3.000 por mês — quantidade equivalente a quase 4 milhões de litros de resíduos por ano — de 1947 a 1961. Esse era um processo legalizado na época, e os pesquisadores sugeriram que os barris possam conter de 0,5% a 2% de DDT, totalizando um descarte total 384 a 1.535 toneladas de DDT. Como Xia escreveu:

“As leis federais de despejo no oceano datavam de 1886, mas as regras se concentravam em abrir caminho para a passagem dos navios. Foi apenas depois da Lei de Proteção, Pesquisa e Santuários Marinhos de 1972, também conhecida como Lei de Despejo no Oceano, que os impactos ambientais foram considerados. Despejar resíduos químicos industriais perto de Catalina foi uma prática aceita por décadas."

A Montrose já está envolvida com um local contaminado do Superfund

No entanto, esse não foi o único crime da Montrose. A empresa também descarregou resíduos repletos de DDT em bueiros e sistemas de esgoto de 1950 a 1971. Isso contaminou a plataforma de Palos Verdes com até 1.450 toneladas de DDT, cujas ramificações ainda estão sendo tratadas hoje.

Depois de ser declarada uma área de 44 km² do Superfund em 1996, um acordo indenizatório de mais de US$ 140 milhões foi estabelecido, para ser pago pela Montrose, governos locais e várias outras empresas ligadas às instalações.

“O acordo — um dos maiores já estabelecidos no país por uma reclamação de dano ambiental — arcaria com programas de limpeza, restauração do habitat e programas educacionais para pessoas em risco de comer peixes contaminados”, de acordo com Xia, mas após décadas de estudos e reuniões tentando determinar como limpar o local, os esforços cessaram, e uma revisão da EPA sugere que os níveis de DDT estão diminuindo lentamente de qualquer maneira.

“Ouvir a EPA dizer, 25 anos depois, que talvez a melhor coisa a fazer seja apenas deixar a natureza seguir seu curso é, francamente, nada menos que nauseante”, disse Mark Gold, cientista marinho que trabalhou de perto com a questão do DDT, a Xia.

Em agosto de 2020, a Montrose chegou a outro acordo indenizatório — desta vez, de US$ 56,6 milhões — pela contaminação das águas subterrâneas, mas nenhum dos acordos anteriores aborda a possível devastação que poderia ser causada pelo aterro em alto mar. Amostras de sedimento na área revelaram concentrações de DDT até 40 vezes maiores do que a maior concentração encontrada na área do Superfund de Palos Verdes.

Os efeitos tóxicos do DDT

A exposição ao DDT está relacionada a efeitos reprodutivos em humanos, e o produto químico é classificado como um provável carcinógeno humano que foi associado a tumores de fígado em estudos com animais. Como muitas toxinas ambientais, o DDT passa livremente pela placenta durante a gravidez, onde ganha acesso direto ao feto em desenvolvimento e pode ter ramificações para toda a vida.

Um estudo revelou que as mulheres expostas a mais DDT antes do nascimento tinham 2,5 a 3,6 vezes mais chances de desenvolver hipertensão antes dos 50 anos do que aquelas com menor exposição pré-natal.

Níveis elevados de DDT também estão associados à hipertensão em adultos, enquanto a exposição ao DDT também é conhecida por induzir alterações epigenéticas que promovem obesidade e doenças renais, de testículos e ovários, que são transmitidas às gerações futuras. Outros efeitos tóxicos da exposição ao DDT em humanos incluem:

  • Anormalidades do desenvolvimento
  • Doença reprodutiva
  • Doença neurológica
  • Câncer

Ambientalmente, danos significativos também foram expostos por várias pessoas e publicações, começando com o livro "Silent Spring" de Carson, há mais de cinco décadas. Os biólogos aprenderam que pesticidas como o DDT se bioacumulam na vida selvagem e se tornam mais concentrados à medida que sobem na cadeia alimentar. Defeitos congênitos na vida selvagem também foram associados à substância, os quais estão associados a uma ampla gama de impactos ambientais negativos.

Entre eles, as cascas de ovo dos pelicanos com as concentrações mais altas de DDT eram mais finas do que aquelas com as concentrações mais baixas, o que sugere que a exposição representa um risco de dano reprodutivo.

Também foi por causa do DDT que as populações de águias americanas foram dizimadas nos Estados Unidos. Depois de contaminar cursos de água e peixes — um dos alimentos favoritos das águias — as águias foram envenenadas por DDT e produziram ovos com cascas finas que muitas vezes se rompiam antes que terminassem de ser chocados.

Embora o DDT agora esteja proibido nos Estados Unidos, ainda é usado em alguns países como pesticida para controlar mosquitos transmissores de malária. A Convenção de Estocolmo em 2001 exortou os países a eliminarem o uso de DDT, mas, conforme relatado na Environmental Health, “devido ao... Programa de Controle da Malária da Fundação Gates, o uso de DDT na África e em outras partes do mundo aumentou”.

"Ainda não temos um plano"

Embora esteja claro que o DDT é um dos poluentes mais difundidos do nosso tempo, o que fazer a respeito continua sendo um mistério. Como o uso continua em algumas partes do mundo, os pesquisadores escreveram no Chemosphere:

“Nossos resultados sugerem impactos negativos contínuos do DDT sobre a saúde humana e o meio ambiente. É urgente abandonar o DDT o mais rápido possível; alternativamente, implementar práticas que evitem as emissões de DDT para o meio ambiente, protegendo a vida humana.”

Os efeitos de longo alcance para a saúde continuam a ser descobertos. Em 2016, foi revelado que o DDT pode inibir a P-glicoproteína, uma importante “proteína de defesa” para a proteção de organismos contra toxinas ambientais. “Mesmo em pequenas quantidades, esses contaminantes podem interferir na capacidade natural de defesa do corpo humano”, observou Xia.

Enquanto isso, centenas de milhares de barris de resíduos contaminados com DDT estão no fundo do oceano, provavelmente enviando um fluxo constante do veneno para o oceano aberto. Quando os pesquisadores testaram a gordura de oito golfinhos-nariz-de-garrafa do sul da Califórnia, ela continha 45 compostos bioacumulativos relacionados ao DDT, 80% dos quais não são normalmente monitorados.

Os golfinhos viviam em águas mais profundas, por isso os pesquisadores se surpreenderam com os resultados, que mostraram níveis mais elevados de DDT do que os golfinhos testados no Brasil e outras áreas. Quanto ao aterro de DDT, “esses barris parecem estar vazando com o tempo”, disse Kivenson a Xia. “Esse lixo tóxico está borbulhando lá embaixo, vazando, escorrendo, não sei que palavra quero usar... Não é um ambiente contido.”

Infelizmente, como é o caso de muitos poluentes ambientais, o processo de limpeza é complexo, até mesmo intransponível. Assim que o problema é detectado, como agora está se tornando evidente na costa da Califórnia, a próxima questão é o que fazer a respeito. “Essas substâncias ainda estão por aí e não descobrimos o que fazer”, disse Amro Hamdoun, do Scripps Institution of Oceanography, a Xia. “Elas são um problema e ainda não temos um plano.”

Para agravar o problema, embora o DDT tenha sido proibido nos Estados Unidos, ele foi simplesmente substituído por outros produtos químicos igualmente inseguros e não testados, como o glifosato, adicionando várias camadas de exposições químicas a um ambiente já adulterado. Sua melhor opção agora e no futuro é tomar medidas para evitar os poluentes ambientais o máximo possível ao adicionar elementos para ajudar seu corpo a se desintoxicar.