É possível ser alérgico ao ar frio?

Fatos verificados
Alergia ao ar frio

Resumo da matéria -

  • Um estudo de caso descreveu como homem de 34 anos sofreu um choque anafilático após sair do chuveiro e entrar em contato com o ar frio em seu banheiro
  • Além de ficar coberto de urticária, o homem teve dificuldades para respirar e foi transportado de ambulância para um pronto-socorro
  • Embora se acredite que a urticária, ou irritações cutâneas súbitas, afete cerca de 20% das pessoas ao longo da vida, a urticária ao frio, ou uma alergia a baixas temperaturas, é relativamente rara, com uma prevalência relatada de cerca de 0,05%
  • Os sintomas geralmente ocorrem minutos após a exposição da pele ao ar, líquidos ou objetos gelados, e os sintomas geralmente são locais, mas também pode ocorrer anafilaxia, especialmente se uma grande área do corpo for exposta a baixas temperaturas, como ocorre durante a natação em águas frias
  • Em termos de prevenção, evitar a exposição ao frio é a opção mais eficaz, o que inclui alimentos e bebidas gelados, água gelada e climas frios (usando cachecóis e roupas para proteger a pele quando não for possível evitar totalmente o frio)

Por Dr. Mercola

Em Denver, Colorado, um homem de 34 anos saiu de um banho quente e foi recebido com uma lufada de ar frio em seu banheiro - uma experiência familiar para muitas pessoas durante os meses de outono e inverno. Nesse caso, entretanto, o que para a maioria seria apenas um breve calafrio se transformou em uma reação alérgica séria e potencialmente fatal, conhecida como anafilaxia.

Além de ficar coberto de urticária, o homem teve dificuldade para respirar e foi transportado de ambulância para o departamento de medicina de emergência do Denver Health Medical Center. Lá, ele chegou com pressão baixa e falta de ar causada pela exposição ao ar frio após sair do banho.

A condição, conhecida como urticária ao frio, é algo que os médicos de emergência devem estar cientes, como escreveram os médicos responsáveis por um estudo de caso publicado no The Journal of Emergency Medicine, pois pode alterar os cuidados necessários ao paciente, e pode até ser induzida por infusões IV frias, podendo levar a declínios repentinos em pacientes graves.

Sim, existem alergias ao ar frio

Embora se acredite que a urticária, ou irritações cutâneas súbitas, afete cerca de 20% das pessoas ao longo da vida, a urticária ao frio, ou uma alergia a baixas temperaturas, é relativamente rara, com uma prevalência relatada de cerca de 0,05%. Em um texto no UpToDate, o Dr. Marcus Maurer, professor de dermatologia e alergia na Charité Universitätsmedizin Berlin, Alemanha, explicou:

“A urticária ao frio é caracterizada por pápulas pruriginosas (urticária) e / ou angioedema devido à degranulação dos mastócitos cutâneos e liberação de mediadores pró-inflamatórios após exposição da pele ao frio.

Entre os gatilhos, está o contato da pele com ar, objetos ou líquidos gelados. A fisiopatologia subjacente é amplamente desconhecida, mas é provável que envolva a ativação de mastócitos mediada pela imunoglobulina E (IgE).”

Com casos relatados datando de 1866, os sintomas geralmente ocorrem minutos após a exposição da pele ao ar, líquidos ou objetos gelados, e os sintomas geralmente são locais, mas também pode ocorrer anafilaxia, especialmente se uma grande área do corpo for exposta a baixas temperaturas, como ocorre durante a natação em águas frias.

Foi sugerido que a maioria dos casos é auto-limitante, resolvendo-se sozinha em quatro a cinco anos. No entanto, outra pesquisa concluiu que apenas 25% das pessoas afetadas têm seus sintomas resolvidos em 10 anos.

Outro estudo, que acompanhou pacientes com urticária ao frio entre 1995 e 2015, revelou que embora 22% tenham relatado que sua condição havia se resolvido e 23% dito que havia melhorado, 55% disseram que a doença permaneceu estável ou piorou durante o período do estudo. Em outras palavras, existem mais perguntas do que respostas quando se trata da urticária ao frio, incluindo sua causa subjacente.

Na maioria dos casos, a urticaria ocorre sem histórico familiar da doença, o que sugere que não é tipicamente uma condição hereditária. Frequentemente, o evento ocorre sem nenhum gatilho claro, embora doenças infecciosas, picadas de insetos, certos medicamentos e cânceres do sangue tenham sido apontados como possíveis fatores.

Os adultos jovens são mais comumente afetados, mas existe pelo menos um estudo de caso de um menino de 9 anos que desenvolveu urticária ao frio ao nadar na praia. Um estudo também descobriu que as mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens.

Sinais e sintomas da urticária ao frio

Os sintomas relacionados à urticária ao frio variam de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem ter reações leves com poucos sintomas, enquanto outras apresentam vários sintomas e até anafilaxia com risco de vida. Os sinais e sintomas incluem:

Erupções na pele com coceira e vermelhidão após a exposição ao frio

Inchaço na área exposta ao frio

Dores de cabeça

Reação alérgica severa (anafilaxia)

Dificuldade respiratória

Choque

Desmaio

O diagnóstico é tipicamente baseado nestes sinais e sintomas característicos, mas um teste de estimulação pelo frio também pode ser feito, no qual um cubo de gelo ou outro objeto gelado é colocado em contato com a pele por um a cinco minutos. Se uma erupção cutânea inchada e vermelha se desenvolver poucos minutos após a exposição, é diagnosticada a urticária ao frio.

Também podem ser feitos exames de sangue para detectar doenças relacionadas. Em um estudo com 50 pacientes com diagnóstico de urticária induzida pelo frio em uma clínica de alergia em Vancouver, Canadá, 32% tinham urticárias físicas concomitantes, enquanto 52% tinham diagnóstico de alergia secundária.

Como a condição pode ter um impacto negativo na qualidade de vida, o objetivo principal do tratamento é aliviar os sintomas. No entanto, em termos de prevenção, evitar a exposição ao frio é a opção mais eficaz. Em uma avaliação de 99 pacientes ao longo de um período de 20 anos, a maioria contou com modificações no estilo de vida, como evitar a exposição ao frio, para controlar os sintomas em vez da medicação.

Quando isso não é possível, os anti-histamínicos às vezes são recomendados antes de exposições ao frio, e indivíduos afetados também podem carregar um autoinjetor de epinefrina (EpiPen) para usar em caso de anafilaxia. No estudo de caso apresentado, por exemplo, os médicos observaram:

“Ele precisou de duas doses de epinefrina intramuscular, e foi finalmente iniciado com uma infusão de epinefrina. Ele foi admitido na unidade de terapia intensiva para monitoramento de anafilaxia e o teste do cubo de gelo foi considerado positivo, reforçando o diagnóstico que se suspeitava.”

O maior estudo até o momento lança luz sobre a urticária em crianças

Um estudo com crianças de 18 anos ou menos com diagnóstico de urticária induzida pelo frio adquirida (UFA) no Hospital Infantil de Boston lançou alguma luz sobre a condição nessa faixa etária. De 1996 a 2017, 415 pacientes, com idades entre 4 meses e 18,3 anos, foram diagnosticados com UFA. A maioria (78,3%) tinha histórico de doenças atópicas, enquanto 25,8% tinha outros tipos de urticária.

A maioria dos casos (cerca de dois terços) apresentou apenas sintomas localizados (Grau 1), enquanto 14% tiveram sintomas que se espalharam por todo o corpo (Grau 2) e 18,6% experimentaram anafilaxia (Grau 3). Nos casos mais graves, que envolveram anafilaxia, a natação foi o gatilho em 77,6% dos casos, enquanto o restante foi causado pela ingestão de alimentos ou bebidas frias, ou exposição ao ar frio ou água fria.

O teste de estimulação a frio (TEF, como o teste do cubo de gelo descrito acima) foi utilizado para o diagnóstico em 61,7% dos pacientes, e o resultado foi positivo em 69,9%. Os autores do estudo explicaram:

“No maior estudo até o momento sobre UFA, reações de grau 3 ocorreram em cerca de um quinto dos pacientes. O resultado positivo do TEF foi associado a um maior risco de anafilaxia por UFA. A prescrição de epinefrina e o aconselhamento do paciente/família sobre os fatores de risco para reações de grau 3 são recomendados."

Convivendo com a urticária ao frio

Se você foi diagnosticado com urticária ao frio, pode ser necessário evitar a exposição de grandes áreas da sua pele à água fria. Antes de ir nadar, por exemplo, mergulhe a mão na água para ver se ocorre alguma reação, e não nade sozinho em águas frias.

Você também deve evitar alimentos e bebidas geladas e evitar, tanto quanto possível, expor sua pele a mudanças repentinas de temperatura. Condições de umidade e vento podem tornar mais prováveis os surtos, enquanto a exposição de todo o corpo ao frio pode levar a reações mais graves. Se você recebeu prescrição de um autoinjetor de epinefrina, mantenha-o com você para o caso de reações graves.

Durante o tempo frio, você também deve usar roupas quentes e proteger sua pele da exposição aos elementos, tanto quanto possível. Um cachecol enrolado em volta do nariz e da boca, por exemplo, pode ser útil.

Quanto aos tratamentos alternativos, um estudo sugeriu que pode ser possível atingir a dessensibilização expondo pequenas áreas da pele ao frio, como lavar o rosto com água fria todas as manhãs e à noite. No entanto, “para áreas maiores, pode ser um procedimento demorado, e requer supervisão clínica rigorosa”, escreveram os pesquisadores no Journal of Investigative Dermatology Symposium Proceedings.

Outros gatilhos para a urticária

A irritação cutânea, comumente conhecida como urticária, aparece como protuberâncias vermelhas ou da cor da pele. Eles podem, coçar e ficam brancas no centro quando pressionadas. Felizmente, as urticárias induzidas pelo frio não são comuns, mas podem ser causadas por muitos outros fatores físicos, incluindo exposição ao calor, pressão ou luz solar. O exercício também pode causar urticária, assim como:

Certos alimentos, especialmente amendoim, ovos, nozes e frutos do mar

Medicamentos, incluindo antibióticos, aspirina e ibuprofeno

Picadas de insetos

Látex

Transfusões de sangue

Infecções bacterianas, como infecções do trato urinário e estreptococos

Infecções virais, incluindo resfriados, mononucleose e hepatite

Pelos de animais

Pólen

Plantas

Estresse emocional

Como é o caso da urticária ao frio, a melhor solução para a urticária é evitar o gatilho que as causa. Nos casos em que o gatilho não é óbvio e as urticárias são crônicas, você deve procurar a ajuda de um alergista se os casos ocorrerem por mais do que seis semanas.

Benefícios e riscos de temperaturas frias

Supondo que você não seja alérgico ao frio, a exposição ao frio pode ser benéfica para sua saúde. As baixas temperaturas podem ajudá-lo a queimar gordura corporal e a biogênese mitocondrial está diretamente envolvida neste processo. Durante a exposição ao frio, seu corpo aumenta a produção de norepinefrina no cérebro, que está envolvida no foco e na atenção.

As temperaturas mais baixas ajudam você a pensar com mais clareza, e os pesquisadores descobriram que as pessoas realizam as tarefas melhor quando a temperatura ambiente está ajustada para um ambiente mais frio do que em um ambiente quente. Algumas das opções mais simples para utilizar o poder do frio para a sua saúde incluem:

Aplicação de bolsas de gelo ou bolsas de gel frio

Aplicar uma toalha gelada (basta molhar a toalha e congelá-la) ou massagear com cubos de gelo

Tomar um banho frio ou alternar entre frio e quente no banho

Tomar um banho de gelo

Exercícios no frio vestindo poucas peças de roupa

Pular em uma piscina não aquecida após um banho de sauna ou prática de exercícios

Nadar no mar quando a temperatura da água está baixa

Diminuindo o termostato da sua casa no inverno para cerca de 15ºC

No entanto, há algumas ressalvas. Seu risco de ataque cardíaco aumenta com a exposição ao frio, uma vez que a pressão arterial e o risco de desidratação aumentam. Isso é especialmente verdadeiro nos dias em que a poluição é alto e as temperaturas são mais baixas. Além disso, se você tiver sinais de urticária ao frio, evite qualquer exposição desnecessária ao ar, água, alimentos, bebidas ou objetos gelados.