Mais motivos para evitar o paracetamol

Fatos verificados
Evitar o paracetamol

Resumo da matéria -

  • O paracetamol pode reduzir a resposta aos riscos. Portanto, você fica mais propenso a assumir riscos quando faz uso deste medicamento
  • Indivíduos que tomaram paracetamol classificaram atividades como caminhar sozinho para casa à noite numa região perigosa ou saltar de bungee jump como menos arriscadas do que aqueles que ingeriram placebo
  • O paracetamol, além de causar diversos efeitos neurais e emocionais, está relacionado à atenuação de emoções positivas e negativas, redução da empatia e diminuição da dor causada pela rejeição social
  • Devido a todos esses riscos, não é recomendável tomar paracetamol para casos de dores leves; experimente opções naturais para aliviar suas dores

Por Dr. Mercola

Conhecido pelo nome comercial de Tylenol, o paracetamol é o fármaco mais utilizado nos EUA, sendo ingerido por mais de 50 milhões de norte-americanos todas as semanas. A maioria das pessoas não pensa duas vezes antes de tomar alguns comprimidos de Tylenol para o alívio de uma dor de cabeça ou demais dores leves, pois acreditam que esta é uma alternativa de certa forma benigna entre os medicamentos isentos de prescrição.

Porém, até o paracetamol apresenta seus riscos. Os riscos relacionados aos danos ao fígado são de conhecimento geral, mas eis que agora foi descoberto outros efeitos adversos do paracetamol no organismo — efeitos capazes de afetar seu comportamento, suas emoções e seus processos psicológicos. A dica é: se não for de extrema necessidade, não tome paracetamol. É melhor evitar esse medicamento, a menos que muito necessário.

O paracetamol aumenta as chances de se assumir riscos

Todas as semanas, 23% da população dos EUA usa o paracetamol, que é encontrado em mais de 600 remédios. Seu principal uso é para a diminuição da dor e da febre. Além de atenuar a dor, o paracetamol pode reduzir a resposta aos riscos. Portanto, você fica mais propenso a assumir riscos quando faz uso deste medicamento.

Pesquisadores da Universidade de Ohio reuniram 189 universitários para um estudo. Nesse estudo, os participantes tinham de classificar diversas atividades numa escala de risco de 1 a 7, após a ingestão de 1.000 miligramas (mg) de paracetamol ou placebo.

Indivíduos que tomaram paracetamol classificaram atividades como caminhar sozinho para casa à noite numa região perigosa ou saltar de bungee jump como menos arriscadas do que aqueles que ingeriram placebo. Os mesmos pesquisadores conduziram outro estudo com universitários submetidos a testes acerca dos comportamentos de risco.

O estudo consistia em clicar num botão para encher um balão no computador. Eles recebiam dinheiro como recompensa à medida que o balão era inflado, mas perderiam tudo caso o balão se enchesse demais e estourasse. Os estudantes que ingeriram paracetamol apresentaram uma tendência maior de continuar enchendo o balão e estouraram mais balões do que aqueles que não ingeriram o medicamento.

Baldin Way, co-autor do estudo, falou em um comunicado de imprensa: “Quando se tem aversão ao risco, você enche o balão algumas vezes e depois decidir parar, pois não quer estourar o balão e perder seu dinheiro. Mas acreditamos que, para quem toma paracetamol, à medida que o balão cresce há menos ansiedade e menos emoção negativa acerca do tamanho do balão e da possibilidade de ele estourar.”

O ato de assumir mais riscos no teste estava relacionado ao ato de assumir mais riscos fora do laboratório como dirigir sem cinto de segurança, usar drogas, álcool, e roubar. Considerando a difusão do uso de paracetamol, é isso que preocupa os pesquisadores.

“Parece que o paracetamol faz com que as pessoas sintam menos emoções negativas ao considerarem atividades de risco, elas não ficam tão amedrontadas", disse Way. "Como quase 25% da população norte-americana ingerindo paracetamol a cada semana, a diminuição da percepção de risco e o aumento do ato de assumir riscos podem causar impactos consideráveis sobre a sociedade."

O paracetamol atenua as emoções positivas e negativas

Quando ingere paracetamol, você espera que ele reduza a sua dor física. O problema é que ele também pode atenuar suas emoções, sejam positivas ou negativas. Numa série de estudos de Way e colaboradores, 40 fotografias cujo objetivo era provocar emoções positivas, neutras ou negativas foram mostradas a universitários. Sessenta minutos antes de verem as fotos, os estudantes tomaram 1.000 mg de paracetamol ou placebo.

Foi solicitado que os estudantes classificassem as fotos numa escala de -5 (muito negativo) a +5 (muito positivo) e avaliassem o nível de emoção que cada foto lhes provocava. Os indivíduos que ingeriram o paracetamol classificaram as fotos como menos extremas em ambas as pontas do espectro e apresentaram reações emocionais mais neutras.

Way disse em comunicado à imprensa que “os indivíduos que ingeriram paracetamol não sentiram os mesmos altos e baixos que aqueles que ingeriram placebo". Depois, eles conduziram um estudo parecido, no qual solicitaram que os participantes avaliassem o teor emocional das fotos e também quanto azul havia nelas. O objetivo era descobrir se o paracetamol influenciava as percepções de natureza não emocional.

Como da outra vez, as reações emocionais dos participantes que ingeriram paracetamol foram bastante atenuadas, mas o discernimento do teor de cor azul foi parecido entre todos. Tal fato indica que o paracetamol influencia as avaliações de caráter emocional, mas não o discernimento de magnitude, como é o caso do teor de azul.

O paracetamol é um "assassino da empatia"

O paracetamol não é age só como analgésico, ele é um "assassino da empatia", como descreve Way e seus colaboradores em um estudo da Social Cognitive and Affective Neuroscience em 2016. A habilidade de se por no lugar de outrem e compreender seus sentimentos e pontos de vista chama-se empatia. Esse é um aspecto do caráter que traz benefícios para a sociedade e os indivíduos de diferentes formas.

Os indivíduos com empatia pela dor e sofrimento alheio são capazes de promover ações pró-sociais ou inibir comportamentos agressivos. Sabe-se que, ao ver outros indivíduos sentindo dor, as mesmas regiões do cérebro em resposta à própria dor são ativadas. O que indica que a empatia da dor tem a capacidade de partilhar processos neurais e psicológicos parecidos com a experimentação da dor física.

Way e seus colaboradores realizaram então uma série de estudos nos quais se comparava a resposta dos participantes à dor física ou social de outrem. Após a administração de paracetamol ou placebo, eles liam histórias acerca da dor alheia, viam ostracismo no laboratório ou testemunhavam a exposição de outros participantes a rompantes de ruídos sofríveis.

Aqueles que ingeriram paracetamol apresentaram uma resposta empática muito menor em comparação com os que ingeriram placebo. Os pesquisadores explicaram:

“Como se acreditava, o paracetamol diminuiu a empatia em resposta à dor alheia. E também diminuiu o desconforto dos rompantes sonoros aos quais os participantes eram submetidos, intermediando os efeitos do paracetamol sobre a empatia.

Tais descobertas indicam que o paracetamol, um analgésico físico, diminui a empatia à dor e oferece uma nova perspectiva acerca da neuroquímica da empatia. Tais diminuições da empatia que são induzidas pelos medicamentos geram preocupações acerca dos efeitos colaterais mais vastos do paracetamol sobre o aspecto social, uma vez que a empatia rege o comportamento pró-social e anti-social..."

O paracetamol diminui a dor causada pela rejeição social

A dor da rejeição social é outra área de atuação inesperada do paracetamol. Os indivíduos que ingeriram paracetamol todos os dias no decorrer de três semanas apresentaram menor dor social diária se comparado com os indivíduos que ingeriram placebo.

Ao usarem imagens de ressonância magnética para aferir a atividade cerebral dos participantes, os pesquisadores descobriram que o fármaco diminuiu as respostas neurais à rejeição social nos locais antes relacionados ao sofrimento pela dor social e dor física.

Conforme observam os pesquisadores, “o paracetamol diminui as respostas comportamentais e neurais que estão relacionadas à dor da rejeição social como uma substancial sobreposição entre a dor social e física”. Na verdade, a dor causada pela rejeição social pode ser sentida com um soco bem dolorido. Contudo, tomar paracetamol para atenuar essa dor também vai mitigar as emoções positivas, e isso quer dizer que quem faz uso frequente desse medicamento pode ter sua existência dessensibilizada.

Ao administrarem outra vez 1.000 mg de paracetamol ou placebo aos participantes, Way e seus colaboradores aferiram a resposta destes à empatia positiva e perceberam que tais sentimentos positivos haviam sido mitigados; os indivíduos que ingeriram paracetamol não apresentaram os mesmos sentimentos edificantes dos demais quando leram sobre as experiências positivas alheias.

Way e colaboradores escreveram que “os resultados revelam que o paracetamol diminuiu o prazer pessoal e a sensação de empatia direcionada aos demais em resposta aos cenários” e acrescentaram isso possui suas implicações sociais, visto que a empatia positiva se associa ao comportamento pró-social.

A função cognitiva também é afetada

Ao influenciar as respostas cerebrais à rejeição social, empatia e outros, o paracetamol se estende da mesma forma a outros processos cognitivos, com a possibilidade de diminuir a eficácia deles. Em outro ensaio, os participantes que ingeriram paracetamol ou placebo foram submetidos a um teste no intuito de aferir sua capacidade de tomar decisões.

Era preciso clicar em determinado botão quando surgia a letra F na tela do computador, porém não deveriam clicar quando surgia um E. Os indivíduos que ingeriram paracetamol apresentaram um desempenho inferior no teste e isso indica que o medicamento tem a capacidade de levar a maiores erros ou falhas durante a tomada de decisão, além de inibir processos avaliativos cerebrais mais amplos.

O pós-doutor e autor principal do estudo, Dan Randles, que atua no departamento de psicologia da Universidade de Toronto, falou em entrevista à Forbes:

"...O paracetamol não influencia apenas a dor física, mas também a sensação de rejeição social, incerteza e processamento avaliativo… Esse é o primeiro estudo a entregar evidências convincentes de que o paracetamol influencia todos esses sintomas ao diminuir o sofrimento relacionado a qualquer tipo de conflito cognitivo, seja de origem física, social ou abstrata."

O paracetamol apresenta riscos durante a gravidez

Após muito tempo sendo recomendado como analgésico seguro para uso na gravidez, em 2014 foi revelado que o paracetamol, na verdade, desregula os hormônios, o que colocou em dúvida sua segurança de uso na gravidez.

Segundo esse mesmo estudo de 2014, o uso de paracetamol na gravidez estava associado a 37% de aumento do risco de o bebê ser diagnosticado com transtorno hipercinético, uma forma grave do transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Os filhos também apresentavam 30% a mais de probabilidade de receber uma prescrição de medicamentos para TDAH aos 7 anos. Um estudo publicado em 2019 no periódico JAMA Psychiatry reiterou ainda mais a relação entre o paracetamol e o TDAH, além de um aumento do risco de transtorno do espectro autista. Os estudos também mostram o seguinte, além do aumento do risco de problemas de neurodesenvolvimento:

  • O uso de paracetamol na gravidez pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia e doenças tromboembolísticas
  • Ultrapassar quatro semanas de uso na gravidez, ainda mais no primeiro e segundo trimestres, provoca um aumento moderado do risco de criptorquidia em meninos
  • O uso de paracetamol no terceiro trimestre eleva o risco de parto prematuro

Os danos ao fígado são um grande problema do uso de paracetamol

Outro motivo para ter extrema cautela quanto ao uso de paracetamol remete a seus efeitos negativos sobre o fígado. O paracetamol é a maior causa de insuficiência hepática aguda nos EUA. Quando ingerido todos os dias durante algumas semanas, mesmo que na dosagem recomendada, pode até ser tóxico para o fígado.

Parte do motivo para o risco se deve ao fato de que a dosagem recomendada é muito próxima da quantidade necessária de paracetamol para ocorrer uma overdose. Não existe tanta margem de segurança e, pelo fato de o paracetamol estar contido em diversos medicamentos isentos de prescrição, dobrar ou triplicar a dosagem sem perceber pode ser muito fácil.

Tão perigoso e fatal quanto uma ampla overdose é ultrapassar um pouco a dosagem recomendada de paracetamol durante alguns dias ou semanas (também chamado de "overdose escalonada"). O paracetamol tem outros riscos que não foram tratados aqui, como é o caso das reações cutâneas que podem ser fatais.

Os reguladores do estado americano da Califórnia consideram até incluir o paracetamol na lista de carcinógenos da Proposta 65, visto que se relaciona com a fenacetina, um analgésico isento de prescrição que foi banido em 1983 pela Food and Drug Administration dos EUA devido a associações com o câncer.

Eu não recomendo o uso de paracetamol para dores leves considerando os inúmeros riscos. Experimente opções naturais para aliviar sua dor que possam proporcionar alívio sem que você precise recorrer a medicamentos.