Por Dr. Mercola
Seu corpo necessita das gorduras ômega-3, que são ácidos graxos poli-insaturados (AGPIs), para diversas funções do organismo, como digestão, coagulação do sangue, saúde cerebral e atividade muscular. Pessoas com níveis de ômega-3 maiores ou iguais a 5,7% tiveram uma taxa menor de mortalidade por COVID-19, de acordo com dados publicados há pouco tempo.
A maioria das dietas ocidentais tem uma proporção de 16,7 para 1 ou mais de ômega-6 para ômega-3. Mesmo que os seres humanos tenham evoluído com uma dieta de proporção de cerca de 1 para 1. A mudança na proporção dos ácidos graxos ômega começou quando as pessoas começaram a comer mais gorduras ômega-6 em detrimento de alimentos ricos em ômega-3, devido à introdução de óleos vegetais e cereais na revolução industrial.
Ainda não há certeza de quanto é necessário para manter os níveis ideais dos ácidos graxos ômega-3, mesmo que muitos estejam se tornando mais conscientes da importância deles para a saúde geral. Você deve descobrir qual é sua taxa atual de ômega-3 para saber se é necessário fazer ajustes na alimentação, assim como acontece com a vitamina D.
O índice de ômega-3 é um exame de sangue que mede a quantidade de ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA) - dois tipos de ácidos graxos ômega-3 - nas membranas dos glóbulos vermelhos (GV). Seu índice é expresso como uma porcentagem do total de ácidos graxos nas hemácias. O índice de ômega-3 foi validado como um marcador estável e duradouro do seu teor de ômega-3 e reflete os níveis de EPA e DHA nos tecidos.
Um índice de ômega-3 abaixo de 4%, que é comum na Europa e nos EUA indica um maior risco de mortalidade relacionada a doenças cardíacas, e um índice acima de 8% - típico no Japão - está associado a um menor risco de morte por doenças cardíacas. Seus níveis de ômega-3 também podem ajudar a prever o risco de morte por COVID-19, como revelam algumas evidências.
Melhores desfechos estão vinculados a níveis mais elevados de gordura ômega-3 no sangue
Em janeiro de 2021, foi publicada uma pesquisa que avaliou os índices de ômega-3 de 100 indivíduos e comparou com seus desfechos de COVID-19. A partir de 1º de março de 2020, os pacientes foram internados no Cedars Sinai Medical Center, com infecção confirmada por COVID-19. As amostras de sangue foram coletadas e armazenadas cerca de 10 dias após o diagnóstico.
A mortalidade foi a medição do desfecho primário pelos pesquisadores, e o risco foi analisado como uma medida de quartis. Os pesquisadores constataram, ao analisar os dados gerais, que os idosos e aqueles internados com ordem de não reanimação tinham maior probabilidade de morte, como esperado.
Após separar as amostras de sangue dos quartis mais altos até os mais baixos, eles descobriram que houve apenas uma morte no grupo em que os níveis de ômega-3 eram de 5,7% ou maior, um homem de 66 anos que foi internado com uma ordem de não reanimação. Um total de 17% dos pacientes morreram nos outros três quartis.
Os pesquisadores descobriram que o risco de morte por COVID-19 em indivíduos que tinham níveis mais baixos de ácidos graxos ômega-3 era pelo menos tão preditivo quanto os de pessoas 10 anos mais velhas, quando comparados com a idade avançada.
Os cidadãos médios nos EUA têm um nível de ômega-3 próximo a 4%, o índice médio foi de 5,09% e a mediana de 4,75%; metade do número de pessoas tinha índices mais altos e metade do número de pessoas tinha índices mais baixos, confirmando resultados de pesquisas anteriores.
Ácidos graxos ômega-3 podem melhorar a enxurrada de citocinas
Ainda estamos muito abaixo da medida ideal de 8% para um índice ômega-3, uma vez que o quartil mais alto de indivíduos com os melhores resultados tivessem medições superiores a 5,7%.
O feito que o EPA e o DHA têm no corpo pode ser o responsável por essa proteção. “A suplementação de EPA e DHA pode alterar muitas vias biológicas que podem ter uma influência direta no desfecho de COVID-19”, de acordo com um artigo de opinião publicado em junho de 2020 na revista Frontiers in Physiology. Os autores listaram os vários nutrientes que desempenham um papel fundamental no gerenciamento de uma enxurrada de citocinas e prosseguiram:
“Os CL-AGPIs (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa), como EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosaexaenoico) são notáveis entre esses micronutrientes por sua influência direta na resposta imunológica às infecções virais.
Entre esses efeitos imunomoduladores complexos, destacam-se a interleucina-6 (IL-6) e a interleucina-1ß (IL-1β) - devido ao seu possível papel como regulador central na "enxurrada de citocinas".
As enzimas polimerase poli(ADP-ribose) que têm propriedades anti-inflamatórias, traduzíveis para infecção humana por COVID-19, mostraram melhorar os níveis de DHA e EPA nos tecidos, também como os metabólitos anti-inflamatórios de EPA e DHA ressaltando ainda mais a aplicabilidade de DHA e EPA em COVID-19, além disso, essas citocinas podem ser afetadas pela ingestão de EPA e DHA na dieta.”
Também é importante ressaltar que as gorduras ômega-3 de origem animal, em especial o DHA, demonstraram a capacidade de reduzir a agregação plaquetária ao prevenir a formação de coágulos nos vasos sanguíneos.
Os níveis de ômega-3 são indicadores de mortalidade geral
De acordo com dados publicados em 2018, manter o nível ômega-3 dentro dos níveis ideais também pode reduzir o risco potencial de mortalidade geral, doenças cardiovasculares e coronárias, além de reduzir o risco durante a pandemia.
Os pesquisadores mediram o índice de ingestão e não ingestão de ômega-3 em 2.500 pessoas na coorte Framingham Offspring. Os desfechos primários incluíram a morte por doenças cardiovasculares, câncer e geral. Os pesquisadores acompanharam os participantes por 7,3 anos na média.
Os indivíduos no quintil mais alto com os níveis de ômega-3 acima de 6,8% tinham um risco 34% menor de mortalidade geral e um risco 39% menor de doenças cardiovasculares quando comparados com aqueles no quintil mais baixo de indivíduos medindo menos de 4,2%, de acordo com os dados analisados.
Para explorar a hipótese de que os ácidos graxos ômega-3 presentes no óleo de peixe teriam um efeito protetor na saúde cardiovascular, foi publicado outro estudo 2020 envolvendo 427.678 homens e mulheres com idades entre 40 e 69 anos. Os pesquisadores não usaram os níveis de ômega-3 como base para esse estudo, mas mediram o uso consistente de suplementação de óleo de peixe.
Os pesquisadores descobriram que o óleo de peixe reduziu o risco de mortalidade por todas as causas em 13% e o risco de mortalidade por doenças cardiovasculares em 16%, após a coleta de dados que durou cerca de nove anos. O que pode sugerir que os resultados podem diferir com base no tipo de suplementação e como o ômega-3 é medido, mesmo que as diferenças estatísticas entre os dois estudos não sejam conclusivas.
O ômega-3 ajuda a combater o diabetes, melhora a saúde do cérebro e muito mais
Um benefício menos conhecido é o efeito que os ácidos graxos ômega-3 têm sobre o diabetes auto-imune, ou diabetes tipo 1, que se caracteriza quando o pâncreas para de produzir insulina, que é diferente do diabetes tipo 2, caracterizada pela resistência à insulina pelas células.
Adultos com teste positivo para um marcador de diabetes tipo 1 podem reduzir de modo considerável o risco do aparecimento de sintomas ao comer peixes ricos em ômega-3, de acordo com uma pesquisa publicada em 2020. Os dados foram coletados a partir do estudo de coorte de casos EPIC-InterAct realizado em oito países europeus, em 11.247 casos de diabetes no início da idade adulta e comparados com 14.288 casos de controle sem diabetes.
Aqueles que comeram uma ou mais porções de peixes ricos em gordura por semana apresentaram um risco reduzido de diabetes auto-imune latente em comparação com aqueles que receberam menos de uma porção por semana, de acordo com um estudo muito menor publicado em 2014, o que fez com que os autores concluíssem ser "através de efeitos de ácidos graxos ômega-3 de origem marinha”.
O DHA também é crucial para a saúde cerebral. Você pode ler sobre como o DHA é um componente estrutural essencial do cérebro e é encontrado em níveis elevados nos neurônios, as células do sistema nervoso central no meu livro “Superfuel", co-escrito com James DiNicolantonio, Pharm.D.. As células nervosas ficam rígidas e mais propensas à inflamação quando a ingestão é insuficiente, porque os ácidos graxos ômega-3 em deficiência são substituídos por ômega-6.
A neurotransmissão adequada de célula para célula e dentro das células fica comprometida quando as células nervosas ficam rígidas e inflamadas. A perda de memória eo mal de Alzheimer estão associados a baixos níveis de DHA, e algumas pesquisas sugerem que doenças cerebrais degenerativas podem ser reversíveis com a ingestão suficiente de DHA. O EPA e o DHA têm outros benefícios para a saúde, incluindo:
- Redução da inflamação causada pela artrite reumatoide e das dores menstruais
- Otimização do crescimento muscular, inclusive em pessoas com câncer, e a resistência óssea que é capaz de diminuir os riscos de osteoporose
- Reduzir os sintomas da síndrome metabólica e reduzir o risco de doenças renais e câncer de cólon
- Melhora da saúde mental e do comportamento
- Proteger a visão
A fonte de onde você obtém os ácidos graxos ômega-3 é importante
Existem diferenças cruciais entre os ácidos graxos ômega-3 marinhos e os vegetais, é válido lembrar. Peixes de água fria ricos em gorduras, como salmão selvagem do Alasca, sardinhas, arenque e anchovas são fontes ideais de EPA e DHA.
É importante lembrar que o tipo de peixe que você escolhe comer também é importante. Devido ao potencial exagerado de contaminação e porque a maioria é alimentada com soja geneticamente modificada, levedura e gordura de frango, que é uma dieta completamente carregada com gorduras ômega-6 perigosas e não natural, deve-se evitar os peixes de viveiro, incluindo salmão de viveiro.
Quando os peixes são alimentados com esses ácidos linoleicos perigosos, eles não corrigem uma proporção de ômega-6 para ômega-3 elevada. O salmão de viveiro tem apenas 50% do ômega-3 do salmão selvagem e 25% da vitamina D, do ponto de vista nutricional.
Todos os peixes do Alasca são pescados na natureza, porque o Alasca não permite a aquicultura. Por não ser um peixe de viveiro, no passado, o salmão vermelho era outra boa escolha. Porém, é difícil saber se o peixe é pescado na natureza ou não, porque a criação do salmão vermelho em viveiros ainda não acabou. Por isso, a menos que você verifique se ele é selvagem, pode ser melhor evitar o salmão vermelho.