O nutriente do salmão que ajuda a combater infecções bacterianas

Fatos verificados
Benefícios da taurina

Resumo da matéria -

  • Graças à taurina que é encontrada no salmão, algas marinhas, frango e laticínios, combinada a infecções passadas, é possível melhorar a reação do microbioma intestinal às bactérias
  • A taurina não é utilizada no processo de criação da proteína. Ela é produzida por adultos, mas não por crianças, de modo que sua alimentação deve conter o nutriente para garantir o desenvolvimento neurológico
  • A taurina possui um efeito anti-inflamatório no coração e músculos esqueléticos, reduzindo complicações associadas ao diabetes e essenciais ao metabolismo
  • Consuma salmão vermelho ou salmão selvagem do Alasca; comparados àqueles que são criados em cativeiro, essas duas variações contêm muito menos contaminantes

Por Dr. Mercola

Segundo dados recentes, um nutriente encontrado no salmão pode reduzir o risco de infecções bacterianas. Isso é de especial importância devido a todas as questões relacionadas ao uso de antibióticos. Antes dos antibióticos, a expectativa de vida era 47 anos, e doenças como pneumonia eram prevalentes e fatais.

Esse medicamento, capaz de transformar a vida dos seres humanos, não está isento de riscos. Dados demonstram que, entre 2011 e 2015, houve 69,464 entradas em emergências por ano de crianças com reações adversas a antibióticos.

Embora pareça um número muito grande, alguns especialistas acreditam que se trata apenas da ponta do iceberg, já que a estatística não inclui as crianças tratadas em casa e as que foram tratadas em salas de urgência.

Os cientistas avisam que as bactérias estão adquirindo resistência. Em 2013, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA publicaram seu primeiro Relatório de Ameaças Resistentes a Antibióticos, descobrindo haver pelo menos 2 milhões de pessoas com infecções resistentes a antibióticos por ano e 23.000 mortes atribuídas a tais infecções. Estimativas de 2019 já apontam para mais de 2.8 milhões de infecções resistentes a antibióticos todos os anos nos Estados Unidos, causando 35.000 mortes.

Há pesquisadores que acreditam que essas estimativas são muito conservadoras e que o número real é muito maior. Há opções capazes de ajudar a prevenir infecções bacterianas além de medicamentos, incluindo mel de Manuka, óleo de orégano, coquetel intravenoso de vitamina C, tiamina e hidrocortisona e, como mencionado, um nutriente presente no salmão.

A taurina e o combate a infecções bacterianas

Cientistas de cinco institutos, liderados pelo National Institute of Allergy and Infectious Disease descobriram uma forma da microbiota intestinal proteger o corpo contra infecções bacterianas. Ainda não se conhece um mecanismo eficiente de proteção das bactérias benéficas, mas já se sabe que viver em harmonia com elas traz grandes benefícios para a saúde.

Os pesquisadores estão em busca de formas de cuidar da saúde intestinal de modo a substituir os antibióticos à medida que mais bactérias resistentes a medicamentos se desenvolvem. Um estudo publicado na Cell revelou que patógenos podem moldar o processo de colonização que pode proteger o corpo de infecções bacterianas.

Os resultados sugerem que infecções anteriores ajudam a aumentar a resistência na microbiota intestinal em associação com a alteração do metabolismo da bile que utiliza o ácido sulfônico chamado taurina.

Quando os pesquisadores administraram taurina, isso foi um gatilho suficiente para gerar a mudança na função e, portanto, aumentar a resistência. A taurina mostrou-se um gatilho eficiente em "um processo no qual um hospedeiro usa o nutriente para treinar e nutrir a microbiota, aumentando a resistência a infecções subsequentes".

Os cientistas testaram esse fenômeno transferindo a microbiota de um animal infectado com Klebsiella pneumoniae para um camundongo livre de germes. A microbiota transferida ajudou a prevenir a infecção por Klebsiella pneumoniae.

As bactérias responsáveis pelo combate à infecção foram as proteobactérias delta. Há muitos patógenos gram-negativos no filo de proteobactérias, incluindo a Escherichia, Salmonella e Helicobacter. Os pesquisadores entenderam que a taurina pode desencadear a atividade das proteobactérias delta.

Um dos subprodutos da taurina é um gás venenoso chamado sulfeto de hidrogênio. A teoria dos pesquisadores é que, quando os níveis de taurina estão baixos, bactérias ruins para o organismo colonizam o intestino com mais facilidade. Em níveis mais altos, o sulfeto de hidrogênio impede isso. Também foi descoberto que uma pequena infecção já é suficiente para desencadear a adaptação e preparar a microbiota para infecções mais sérias.

A taurina auxiliou a microbiota de animais que receberam suplementação de taurina. Quando os mesmos animais foram alimentados com subsalicilato de bismuto, um ingrediente encontrado nos antiácidos, essa proteção foi reduzida, pois o bismuto inibe a produção de sulfeto de hidrogênio.

Mas o que é a taurina afinal?

O nome bioquímico da taurina é ácido 2-aminoetanossulfônico. Trata-se de um composto condicional que o corpo não utiliza na produção de proteínas, embora costume ser confundido com um aminoácido. A taurina possui um grupo sulfeto, recebendo assim o nome de ácido aminossulfônico, e não o grupo carboxila encontrado nos aminoácidos.

A condicionalidade da taurina é que apenas adultos podem produzi-la. As crianças, incapazes de produzir o ácido aminossulfônico por conta própria, precisam ingeri-lo através da alimentação para ter um desenvolvimento neurológico. A taurina recebeu esse nome porque foi, a princípio, isolada da bile de um touro. A palavra "touro", no latim, é "taurus".

Ela pode regular o cálcio, criar sais biliares, equilibrar eletrólitos e auxiliar o sistema nervoso. A deficiência de taurina pode causar disfunção renal, transtornos de desenvolvimento, cardiomiopatia e danos aos nervos da retina.

O ácido aminossulfônico está em alta concentração no sistema nervoso central, músculos esqueléticos e olhos. A taurina pode ser ingerida através do consumo de salmão, algas, frango, laticínios e carne vermelha.

Quimioterapia, doenças do fígado, cirurgias, câncer, septicemia e diabetes podem baixar os níveis de taurina do corpo. Pessoas que praticam o veganismo são propensas à deficiência de taurina, já que ela é ingerida através da carne e laticínios como meio principal.

O efeito anti-inflamatório da taurina no coração

A taurina tem um papel crucial em diversos processos, bem como uma poderosa atividade antioxidante. O ácido aminossulfônico é muito concentrado nos tecidos expostos do corpo, que têm níveis elevados de radicais livres e oxidantes.

Isso levou os cientistas a acreditar que a taurina tem uma função anti-inflamatória. A taurina reage com o ácido hipobromoso, produzindo um subproduto anti-inflamatório. É possível que, por inibir o sistema renina-angiotensina, o efeito anti-inflamatório tenha uma influência no diabetes e beneficie o sistema cardiovascular.

Esse sistema influencia vários tecidos e células, sendo direcionado por intervenções farmacológicas que ajudam a controlar a hipertensão, a insuficiência cardíaca e o diabetes. Segundo os pesquisadores, descobriu-se que a deficiência de taurina em gatos causa retinopatia e pode provocar cardiomiopatia em cães e gatos.

Dados mais recentes demonstram que pessoas que consomem mais carne vermelha do que frutos do mar têm maior probabilidade de desenvolver doenças cardíacas. O ácido aminossulfônico têm um papel importante na proteção do sistema cardiovascular, e os frutos do mar têm níveis bem mais altos de taurina do que a carne vermelha.

Pesquisas mostram uma correlação entre a suplementação de taurina e uma redução do risco de problemas cardíacos em animais de laboratório. Os cientistas observam um relaxamento dos vasos quando a taurina é administrada na aorta torácica de um animal. Visto que essa via tem um papel importante na osmorregulação, eles acreditavam que o relaxamento dos vasos também poderia acontecer por ela.

Estudos variados demonstraram que a taurina tem um efeito anti-apoptótico nas células do coração em condições isquêmicas, protegendo-as na ausência de oxigênio. Isso foi demonstrado ao comparar os danos do coração de animais de laboratório com e sem a suplementação de taurina por 30 dias após uma oclusão arterial.

Em outro estudo com animais, pesquisadores testaram o músculo cardíaco e descobriram que a deficiência de taurina prejudica o metabolismo de energia e reduz a geração de ATP. Os resultados sugerem que a suplementação pode beneficiar pacientes com insuficiência cardíaca, apoiando a hipótese de que a deficiência de taurina priva o coração de energia.

Outros benefícios da taurina

A taurina não auxilia apenas o funcionamento do coração, mas também protege os músculos esqueléticos contra danos. A osmorregulação, estabilização da membrana e regulação da concentração de cálcio intracelular pode ajudar muito no desempenho muscular.

Evidências sugerem uma associação entre as alterações nos níveis de taurina nos músculos esqueléticos e condições como distrofia muscular e atrofia.

Estudos laboratoriais, com animais e humanos, também apontam um papel da taurina no sistema imunológico relacionado às suas propriedades antioxidantes, que protegem os tecidos contra inflamação. Os pesquisadores acreditam que isso "apoia a tese de que a taurina e seus derivados podem ser utilizados em tratamentos contra doenças inflamatórias, infecciosas e crônicas".

A suplementação com taurina pode reduzir o risco de complicações associadas ao diabetes e até mesmo prevenir o surgimento da doença. A captação de taurina pelas células pancreáticas diminui os níveis de insulina intracelular pancreática, sugerindo que ela possua um papel regulador da liberação de insulina do pâncreas que pode reduzir níveis elevados de glicose no sangue.

A taurina é essencial para o metabolismo e digestão, graças ao seu papel na produção de sais biliares. Ela também é encontrada em grandes concentrações na retina. Dados mais recentes mostram que a deficiência causada pelo antiepiléptico vigabatrina está envolvida na toxicidade retinal dos pacientes. Isso levou a mais pesquisas:

“…que sugeriram que o composto pode estar envolvido na fisiopatologia do glaucoma ou retinopatia diabética. A taurina devia ser considerada um possível tratamento para doenças de retina, bem como outras moléculas com ação antioxidante."

A taurina também age no sistema nervoso periférico e central. Uma revisão publicada na Birth Defects Research no ano de 2017 observou que a suplementação promove a proliferação das células cerebrais importantes para o armazenamento da memória de longo prazo.

Um estudo feito com animais de laboratório mostrou que a suplementação com taurina pode melhorar o aprendizado no caso de Alzheimer e parece atuar de modo positivo nos défices de memória e contra o desenvolvimento da epilepsia e autismo.

Dê preferência ao salmão selvagem em vez daqueles criados em cativeiro

O salmão selvagem do Alasca é rico em ácidos graxos ômega-3. Pessoas que mantêm níveis altos de ômega-3 no corpo vivem 2.22 anos a mais após os 65 anos.

O salmão também auxilia na produção de energia, já que é rico em vitamina B. O salmão também contém fósforo e magnésio, que são importantes para a saúde óssea, bem como astaxantina, um antioxidante anti-inflamatório benéfico para o coração e o sistema imunológico.

O importante aqui é evitar o consumo do salmão criado em cativeiro, dando preferência ao salmão vermelho ou o salmão selvagem do Alasca. Hoje, dois terços do salmão comercializado nos Estados Unidos são importados de pisciculturas e processados em fábricas.

Segundo a Organic Consumers Association, peixes criados em cativeiro consomem ração processada, que pode incluir soja geneticamente modificada e resíduos de pesticidas, bifenilos policlorados (PCBs), dioxinas e antibióticos.

Essas toxinas podem se acumular na gordura dos peixes. Um estudo coletou amostras de mais de 2 toneladas de salmão selvagem e da variante criada em cativeiro por todo o mundo. Descobriu-se que o salmão criado em cativeiro tem concentrações mais altas de contaminantes organoclorados do que o salmão selvagem, e o salmão criado na Europa era muito mais contaminado do que o peixe cultivado na América do Norte ou do Sul.

O Environmental Working Group também testou o salmão criado em cativeiro que é vendido nos EUA, descobrindo que o ele tinha 16 vezes mais PCBs do que o salmão selvagem, quatro vezes mais PCBs do que a carne bovina e 3,4 vezes mais PCBs do que outros frutos do mar.

O salmão criado em cativeiro também não tem o perfil nutricional do salmão selvagem, pois o primeiro tem muito mais ômega-6. É comum percebermos a diferença entre um e outro a olho nu.

Por ter altos níveis de astaxantina, a carne do salmão vermelho faz jus ao nome. Ela também é mais magra, com camadas mais finas de gordura. Peixes criados em cativeiro são rosa claro e têm muito mais gordura.

Evite o salmão do atlântico; ele costuma ser criado em cativeiro. As duas designações a serem procuradas são “salmão do Alasca” e “salmão vermelho”, já que ambos não podem ser criados em regime de piscicultura. O salmão enlatado do Alasca também é uma opção boa e acessível nos EUA.

+ Recursos e Referências