Por Dr. Mercola
Testes do Instituto Norueguês de Saúde Pública entre 2016 e 2017 revelam que 90% dos participantes apresentavam oito plastificantes distintos na urina. Compostos em sua maior parte por ftalatos, os plastificantes são produtos químicos sem cor e sem cheiro. Durante o processo de fabricação, são utilizados para modificar a elasticidade dos materiais.
No cotidiano da maioria das pessoas, produtos e componentes de plástico se tornaram parte integrante. Eles estão presentes nas cortinas de banheiro, em recipientes para viagem e armazenamento — mas você sabia que também há plástico nas roupas, em copos de papel, saquinhos de chá, chicletes e bitucas de cigarro?
A Oceana International descreve o plástico como se fosse um gato curioso, que invade os espaços sem se anunciar e encontra lugares nos quais não deveria caber. Os plásticos estão presentes na água do mar, no sal marinho, no estômago de crustáceos e baleias, e na água que você bebe. Segundo um estudo de 2014, 24 marcas de cerveja continham plástico.
Em 2010, com a publicação e aceitação por parte da comunidade científica de evidências sobre os efeitos negativos do bisfenol-A (BPA) para a saúde, a professora adjunta de epidemiologia em Harvard, Karin Michels, foi citada no Harvard News:
"O cenário dos pesados é um dia descobrirmos que muitos dos nossos distúrbios na atualidade, incluindo a infertilidade e o câncer, podem se dever ao bisfenol A, aparecendo apenas após a exposição cumulativa. Mas, até lá, teremos acumulado tanta exposição que será tarde demais para revertermos seus efeitos. O mesmo poderia ser dito acerca de outras substâncias, mas agora a maior preocupação é o bisfenol A."
Segundo dados recentes de pesquisas, já podemos estar no primeiro degrau desse cenário dos pesadelos, visto que o uso onipresente dos plásticos e plastificantes permite que estes se acumulem nas pessoas, e isso inclui as crianças.
Plastificantes são encontrados em 90% das pessoas testadas
Os dados que o Instituto Norueguês de Saúde Pública divulgou fazem parte do EuroMix, um projeto europeu que visa a identificação da avaliação de risco de exposição a diversos produtos químicos, tudo através de técnicas propostas pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia.
O objetivo desse projeto é fornecer dados capazes de refinar a avaliação de risco quanto à segurança alimentar e para a saúde pública, além de disponibilizar informações para a indústria e os órgãos reguladores. A equipe de um estudo recente examinou a urina de 44 homens e 100 mulheres residentes da Noruega.
Nas descobertas iniciais, há a presença dos produtos químicos, mas são necessárias maiores avaliações para definir as quantidades encontradas de forma individual. Os cientistas aferiram três grupos de produtos químicos, nos quais se encontram os plastificantes, bisfenóis e parabenos. Oito plastificantes distintos foram encontrados em 90% dos participantes submetidos a teste, segundo os dados.
Os plastificantes estão presentes em produtos plásticos e podem ser transferidos das embalagens para o produto. Também estão presentes em produtos de higiene pessoal, tais como creme para as mãos, pasta de dentes, produtos de barbear e sabonete em gel para banho.
Os exames de urina de 90% dos participantes deram positivo para bisfenol-A e triclosano, além dos ftalatos. O curioso é que, segundo os pesquisadores descobriram, o teor de bisfenol presente na urina tinha relação direta ao consumo de pão, gorduras e diferentes bebidas por parte do participante.
Embora com maior incidência em mulheres do que nos homens, havia parabenos em quase 50% dos exames de urina. É comum encontrar parabenos em cosméticos e produtos de higiene pessoal, apesar de serem usados como conservantes de alimentos.
Por não se tratarem de representantes da população norueguesa em geral — nenhum dos participantes fumava, por exemplo, e todos haviam cursado o ensino superior — para os cientistas, a quantidade de produtos químicos encontrados é inferior ao que seria aferido na população geral.
Um bocado de ftalatos na sua refeição
Por não terem forte ligação com o produto, essas substâncias acabam sendo transferidas com o uso para o ambiente que as cercam, o que inclui a água potável e os alimentos. Você já percebeu como os plásticos, apesar de flexíveis, acabam ficando duros e quebradiços com o passar do tempo?
Isso porque os plastificantes não param de ser liberados e acabam alterando a composição química do produto usado. Apesar de o Programa Nacional de Toxicologia dos EUA considerarem os ftalatos um "razoável carcinógeno humano", as políticas e regulamentações acercas dos plásticos permitem a presença deles em muitos produtos que você usa no cotidiano.
Existe um estudo cujo intuito era analisar o risco de exposição aos ftalatos a partir dos alimentos. Os pesquisadores avaliaram os hábitos e metabólitos presentes na urina de 8.877 indivíduos a partir dos 6 anos. A conclusão foi que aqueles que consumiam fast-food apresentaram uma maior excreção de di-(2-etilhexil) ftalato (DEHP na sigla em inglês) e di-isononil ftalato (DINP na sigla em inglês) em comparação com aqueles que não comiam fast-food.
O estudo em questão não avaliou os possíveis efeitos para a saúde, apenas a exposição dos participantes. Contudo, descobriu-se uma relação entre a quantidade ingerida de fast-food e o teor de ftalatos presentes nos metabólitos da urina.
O curioso é que, ao analisar o tipo de ftalato absorvido, os cientistas chegaram à seguinte descoberta: os indivíduos que consumiram mais condimentos, batatas e vegetais de fast-food apresentaram um teor mais elevado de DEHP, já aqueles que consumiram mais carne e cereais apresentaram um teor mais elevado de metabólitos DiNP.
Se a presença de plastificantes e outras substâncias plásticas na sua comida não é o bastante, que tal a possibilidade de comer alimentos feitos de plástico? A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA) concedeu uma doação de US$ 2,7 milhões à Universidade Estadual de Iowa e seus parceiros para o desenvolvimento de um processo capaz de produzir a alimentos a partir de resíduos de plástico e papel. A intensão é fornecer essa "nutrição" como alimento aos militares dos EUA para melhorar a logística militar em missões prolongadas.
Eles estimam que a concessão total de subsídio possa chegar a US$ 7,8 milhões até o fim do projeto. Embora a ideia inicial seja o uso por militares em campo, talvez não demore muito para que tal sistema seja proposto como um meio de fornecer alimentos baratos para qualquer cidadão.
Conforme explicado no comunicado à imprensa da Universidade Estadual de Iowa, o processo pode “ser um avanço para resolvermos os problemas iminentes de descarte de plástico e garantirmos uma cadeia alimentar global que seja viável”.
A ingestão de partículas de plástico pode ter início na infância
A indústria global de mamadeiras foi avaliada em US$ 2,6 bilhões em 2018, com o segmento de plásticos correspondendo a 44,1% da participação geral. Se você dá mamadeiras de plástico para o seu bebê, tente mudar para mamadeiras de vidro, pois existem pesquisas que comprovam a liberação de microplásticos para o conteúdo da mamadeira.
Na coleta dos dados, os cientistas usaram mamadeiras novas de polipropileno que foram limpas e esterilizadas, depois preenchidas de água. Após submeterem as mamadeiras à agitação durante um minuto, analisaram a água e encontraram microplásticos sendo liberados nesta, chegando até 16 milhões de partículas de plástico por litro.
O número médio nas mamadeiras testadas chegou a 4 milhões de partículas para cada litro de água. São partículas de microplásticos que acabam parando no alimento do seu bebê. Conforme a previsão dos pesquisadores, crianças de até 12 meses em todas as partes do mundo podem ser expostas a 14.600 a 4,55 milhões de partículas de microplástico todos os dias.
Os pesquisadores do estudo em questão usaram água filtrada e não água da torneira. Como a água da torneira pode conter mais microplásticos do que a água filtrada, os números podem ter sido muito subestimados.
Os pesquisadores de uma revisão da literatura médica que calculou a quantidade média de plástico que uma pessoa consome chegaram à estimativa de que uma pessoa bebe 1.769 partículas de plástico todos os dias a partir da água não filtrada. 94,4% de todas as amostras de água encanada dos EUA continham fibras plásticas, contra 82,4% das amostras da Índia e 72,2% da Europa.
Problemas de saúde associados a pesados desreguladores hormonais
Os cientistas reconhecem que os plásticos e as substâncias que lhes dão origem têm efeitos diretos e indiretos. É provável que muitos dos efeitos do BPA sobre a saúde — há centenas de estudos com animais que associam o BPA ao desenvolvimento anormal do cérebro, mama e próstata — se devam ao fato de ser um hormônio sintético que, assim como os ftalatos, imita o estrogênio.
Os ftalatos têm notório poder como desreguladores hormonais; eles podem fazer com que machos de muitas espécies desenvolvam características femininas. Essa foi a conclusão após uma avaliação dos danos à saúde reprodutiva da fauna silvestre. Contudo, tais resultados são tão relevantes quantos para os seres humanos, devido à semelhança dos receptores dos hormônios sexuais.
Os ftalatos podem levar ao câncer de testículo, baixa contagem de espermatozoides, malformação genital e infertilidade por meio da desregulação do sistema endócrino, conforme visto em espécies animais como baleias, veados, lontras e ursos, entre outros.
Gestantes expostas a ftalatos provenientes de embalagens de alimentos, produtos de higiene pessoal, entre outros, apresentam um aumento do risco aborto espontâneo entre as 5ª e 13ª semanas, segundo um estudo publicado pela American Chemical Society.
Já uma equipe de pesquisa da Universidade de Columbia descobriu que os filhos de mulheres com níveis elevados de ftalatos apresentavam maior risco de desenvolver asma entre 5 e 11 anos. Foi preciso comprar mulheres com níveis mais altos de ftalatos com aqueles com níveis mais baixos da substância, visto que não havia nenhuma com zero ftalatos.
A exposição aos ftalatos na gravidez pode afetar a produção dos hormônios da tireoide no feto, os quais são fundamentais para seu devido desenvolvimento no decorrer do primeiro trimestre. Em mulheres que, na gravidez, tinham níveis elevados de DEHP, o filho do sexo masculino corria o dobro do risco de desenvolver hidrocele, uma condição caracterizada pelo acúmulo de líquido no escroto e seu consequente aumento acompanhado de desconforto.
Os adultos não estão isentos dos efeitos negativos dos ftalatos no organismo, com a maior ingestão da substância levando a baixos níveis de vitamina D. A deficiência de vitamina D está relacionada a uma série de diferentes condições de saúde: depressão, declínio cognitivo em idosos, enxaqueca crônica e desfechos ruins por COVID-19.
Dicas para diminuir o uso de produtos químicos que são tóxicos
Considerando que pesquisas confirmam que os estrogênios presentes no ambiente têm efeitos multigeracionais, é aconselhável tomar medidas proativas para limitar sua exposição. Isso é de fato importante para pessoas mais jovens, que têm mais anos para acumular contaminação por plástico e podem ser mais vulneráveis aos seus efeitos durante o desenvolvimento.
É quase impossível evitar esse tipo de exposição, mas você pode minimizá-la mantendo alguns princípios em mente. Comece o processo devagar e faça das mudanças um hábito em sua vida para que sejam duradouras.
Evite recipientes e embalagens de plástico para alimentos e produtos de higiene pessoal. Em vez disso, armazene alimentos e bebidas em recipientes de vidro. |
Evite brinquedos de plástico. Use brinquedos feitos de substâncias naturais, como madeira e materiais orgânicos. |
Leia os rótulos de seus cosméticos e evite aqueles que contenham ftalatos. |
Evite produtos rotulados com "fragrância", incluindo purificadores de ar, pois esse termo abrangente pode incluir ftalatos usados para estabilizar fragrâncias e estender a vida útil do produto. |
Leia os rótulos à procura de produtos sem PVC, incluindo lancheiras infantis, mochilas e recipientes de armazenamento. |
Não leve ao micro-ondas alimentos em recipientes de plástico ou cobertos com filme plástico. |
Aspire e tire o pó com frequência de salas com cortinas de vinil, papel de parede, piso e móveis que possam conter ftalatos, pois a substância se acumula na poeira e é ingerida com facilidade por crianças ou pode acabar se depositando nos pratos de comida. |
Pergunte na sua farmácia de manipulação se os seus comprimidos são revestidos, uma vez que o revestimento pode conter ftalatos. |
Consuma alimentos frescos e in natura. A embalagem costuma ser uma fonte de ftalatos. |
Use mamadeiras de vidro em vez de plástico. Dê de mamar apenas no peito durante o primeiro ano do bebê e, se puder, evite chupetas e mamadeiras de plástico. |
Retire as frutas e vegetais dos sacos plásticos logo após retornar do supermercado e lave-os antes de guardá-los. Uma alternativa é usar sacolas de pano. |
Os recibos da caixa registradora são impressos a quente e costumam conter BPA. Manuseie o recibo o mínimo possível e peça que os estabelecimentos mudem para recibos sem BPA. |
Use produtos de limpeza naturais ou caseiros. |
Troque produtos de higiene feminina por alternativas mais seguras. |
Evite amaciantes de roupas ou faça o seu próprio produto para reduzir a aderência estática. |
Verifique se há contaminantes na água encanada da sua casa e sempre filtre a água. |
Ensine seus filhos a não tomar água da mangueira de jardim, pois muitas contêm plastificantes como ftalatos. |
Use sacolas reutilizáveis no supermercado. |
Leve seu próprio recipiente para guardar suas sobras nos restaurantes. Evite utensílios e canudos descartáveis. |
Carregue sua própria xícara de café e leve água de casa em garrafas de vidro, em vez de comprar na rua. |
Troque suas escovas de dente por outras feitas de bambu e escove os dentes com óleo de coco e bicarbonato de sódio para evitar as embalagens de plástico das pastas de dentes. |