Por Dr. Mercola
A beleza é um grande negócio. Portanto, quando uma empresa que vende cosméticos se oferece para fazer uma retirada de seus produtos, é uma indicação de que algo está muito errado. A Johnson & Johnson anunciou em julho de 2021 que estava fazendo a retirada de cinco de seus protetores solares em aerossol, depois que um laboratório independente descobriu contaminação de benzeno neles, em maio de 2021. Outra empresa cujos produtos continham benzeno, CVS, seguida pela interrupção das vendas de dois de seus produtos de proteção solar.
O FDA publicou um anúncio da retirada voluntária da Johnson & Johnson com essa advertência no comunicado: "Quando uma empresa anuncia uma verificação, retirada do mercado ou alerta de segurança, o FDA publica o anúncio da empresa como um serviço público. O FDA não apoia o produto ou a empresa."
Infelizmente, com essa atitude, o FDA não só ganhou a reputação de não ter supervisão, mas também permitiu que os produtos fossem vendidos sem testes básicos de segurança nos ingredientes. O protetor solar é apenas um daqueles produtos que passam despercebidos, até que algo dê errado, venha ser investigado por agências externas.
Nesse caso, a empresa de testes farmacêuticos independente Valisure, testou centenas de produtos de proteção solar e descobriu que 78 deles continham benzeno, um conhecido agente cancerígeno.
Esse dado, que desencadeou a retirada dos produtos da Johnson & Johnson, não é o primeiro a identificar problemas de saúde, tanto humana quanto ambiental, que podem estar associados ao uso de filtro solar. Na verdade, descobriu-se que um ingrediente comum diferente no protetor solar — a oxibenzona — danifica os recifes de coral, causando deformidades e branqueamento. Sendo necessário apenas uma pequena gota para causar danos.
No Havaí e no Caribe, os níveis de oxibenzona na água são 12 vezes maiores do que as concentrações que causam danos aos pequenos corais, levando o governador do Havaí a assinar um projeto de lei em 2018 para proibir os protetores solares que prejudicam os recifes de coral. A lei entrou em vigor no dia 01 de janeiro de 2021, apesar das afirmações dos críticos de que isso reduziu a disponibilidade de ingredientes de proteção solar para humanos.
O Havaí agora propôs banir mais dois produtos químicos, avobenzona e octocrileno. Se promulgada, ela entrará em vigor no dia 01 de janeiro de 2023. As ações do Havaí inspiraram Aruba, as Ilhas Marshall, Ilhas Virgens dos EUA e Key West a aprovar suas próprias proibições de proteção solar.
Benzeno detectado em 78 produtos diferentes
No estudo independente apresentado, a empresa de testes farmacêuticos Valisure, divulgou uma petição de cidadão no dia 24 de maio de 2021, que continha os resultados de seus testes em 294 lotes de 69 marcas de protetor solar. Os testes revelaram benzeno em 78 dos filtros solares e produtos pós-sol testados.
Conforme a petição dos cidadãos, os níveis mais elevados de benzeno foram encontrados nos produtos Neutrogena, Sun Bum, CVS Health e Fruit of the Earth. Nem todos os produtos dessas marcas continham benzeno, porém os que continham, tinham pelo menos 2 partes por milhão (ppm) ou mais. Um dos produtos Neutrogena, Ultra-Sheer Weightless Sunscreen Spray SPF 100 + continha 6,7 ppm. Os produtos específicos da Johnson & Johnson verificados são:
- Protetor solar em aerossol Neutrogena Beach Defense
- Protetor solar em aerossol Neutrogena Cool Dry Sport
- Protetor solar em aerossol Neutrogena Invisible Daily Defense
- Protetor solar em aerossol Neutrogena Ultra Sheer
- Aveeno Protect + Refresh protetor solar em aerossol
De acordo com Valisure, o FDA diz que as vias de exposição que aumentam o risco do benzeno são inalação, ingestão, contato com a pele e os olhos. A FDA reconhece o benzeno como um solvente Classe 1, que não deve ser usado em produtos de consumo. No entanto, ele também afirma: “... se seu uso for inevitável para a produção de um medicamento com um avanço terapêutico significativo, seus níveis devem ser restritos.”
Após o teste, é evidente que o benzeno não faz parte da formulação de todos os produtos de proteção solar. Isso de certo modo indica que não é um componente necessário para o produto funcionar, portanto, não se enquadra nas circunstâncias especiais para as quais o FDA permite 2 partes por milhão (ppm).
O benzeno é não está presente no meio ambiente. Os pesquisadores sabem que a exposição é aditiva e aumenta o risco de desenvolver câncer, como a leucemia e outros hematológicos. Existem evidências crescentes de que está associado à leucemia infantil. David Light, fundador e CEO da Valisure, comentou os resultados do estudo, dizendo:
“O benzeno é um dos carcinógenos humanos mais estudados e preocupantes que a ciência conhece. Sua associação com a formação de cânceres no sangue em humanos, foi demonstrada através de vários estudos.
A presença desse conhecido carcinógeno em produtos recomendados para a prevenção do câncer de pele, usados de maneira regular por adultos e crianças, é muito preocupante.”
No início de junho de 2021, a CBS News informou que Valisure havia feito uma petição ao FDA para retirar todos os produtos de proteção solar contaminados. O órgão regulador estava analisando a reclamação, porém não tomou nenhuma providência antes que a Johnson & Johnson fizesse a retirada de cinco produtos.
Um porta-voz da FDA disse ao repórter da CBS News: "A FDA leva a sério qualquer preocupação de segurança levantada sobre produtos regulamentamos, incluindo protetor solar." No entanto, a agência não pareceu tomar qualquer medida em relação ao pedido da Valisure para pedir verificações ou retiradas, esperando, em vez disso, que os fabricantes retirassem de maneira voluntária os produtos e emitissem reembolsos. (De acordo com o The Washington Post, um porta-voz da FDA disse que a FDA não tem autoridade para solicitar retiradas.)
Como a Valisure observa em seu comunicado à imprensa, a FDA determinou que, devido à toxicidade inaceitável do benzeno, ele não deve ser usado em nenhum produto farmacêutico “padrão”. No entanto, o FDA não estabeleceu um limite de exposição e a concentração de 2 ppm só se aplica em circunstâncias especiais, que neste caso não inclui protetor solar.
Especialista diz para ter cuidado com qualquer protetor solar em aerossol
O Dr. Christopher Bunick, professor associado de dermatologia da Universidade de Yale, acredita que mesmo o limite de 2 ppm estabelecido pelo FDA em circunstâncias especiais não é seguro, dizendo:
“Não existe um nível seguro de benzeno que possa constar em produtos de proteção solar. Mesmo o benzeno a 0,1 ppm em um protetor solar pode expor as pessoas a quantidades muito altas de nanogramas de benzeno.”
Na análise, Valisure encontrou 14 produtos de proteção solar com níveis de benzeno maiores que 2 ppm e 78 que continham algum nível de benzeno. Doze dos 14 produtos que continham mais benzeno também eram produtos em aerossol. Na verdade, a maioria dos 78 produtos identificados com benzeno eram protetores solares em aerossol.
Martyn Smith, professor de toxicologia da Universidade da Califórnia em Berkeley, abordou suas preocupações sobre o benzeno encontrado em produtos de proteção solar em aerossol, e não na loção e géis. Ele acredita que o benzeno evaporaria ao ser aerossolizado, reduzindo o risco de ser absorvido pela pele.
No entanto, aumenta o risco de inalação. Ele acrescenta que, embora o protetor solar pulverizado aumente o risco de inalar benzeno, “se você estiver fora, o benzeno se dissipará em concentrações muito baixas de maneira rápida.”
Ele também recomenda que a aplicação de protetor solar aerossolizado em ambientes fechados pode acarretar um risco significativo, pois "há uma excessiva quantidade de produtos químicos voláteis presentes [protetor solar em aerossol], além do benzeno que são propelentes e outras coisas que estão saindo e você não deve inalar."
FDA descobre que seu corpo absorve ingredientes ativos em protetor solar
Em janeiro de 2020, o FDA anunciou os resultados de seu estudo de absorção de filtro solar, publicado no Journal of the American Medical Association. Os pesquisadores procuraram encontrar a concentração plasmática de seis ingredientes ativos de produtos de proteção solar.
Eles usaram formulações de loção, ‘spray’ aerossol, ‘spray’ nonaerosol e de bomba, para avaliar a farmacocinética da avobenzona, oxibenzona, octocrileno, homosalato, octisalato e octinoxato. O primeiro desfecho foi a concentração plasmática máxima em 48 participantes randomizados que completaram o ensaio.
Os pesquisadores descobriram que os participantes absorveram quantidades significativas dos ingredientes ativos, os levando a concluir que os produtos químicos testados em todas às quatro formulações “foram absorvidos e tiveram concentrações plasmáticas que ultrapassaram o limite da FDA, para dispensar alguns dos estudos de segurança adicionais para protetores solares. ”
Este foi o seguimento de um estudo principal, que também mostrou que seu corpo absorve produtos químicos em níveis que podem representar riscos à saúde. Nesse estudo, os participantes aplicaram 2 miligramas (mg) de protetor solar por centímetro quadrado em 75% do corpo quatro vezes ao dia durante quatro dias. Amostras de sangue foram coletadas ao longo de 21 dias.
Os pesquisadores descobriram que as concentrações de oxibenzona eram muito mais altas do que o limite de segurança presumido após apenas alguns dias de uso. Apesar disso, o FDA continua sugerindo que os norte-americanos usem filtro solar.
A oxibenzona está longe de ser inofensiva
No estudo principal discutido acima, os pesquisadores descobriram que as amostras de sangue dos participantes que aplicaram formulações com oxibenzona tinham níveis que ultrapassaram 0,5 nanogramas por mililitro (ng/mL) em duas horas de uma única aplicação no primeiro dia. Esta exposição excedeu 20 ng / mL no sétimo dia.
É importante observar que a oxibenzona e vários outros ingredientes ativos encontrados nos filtros solares aumentam a capacidade de outros produtos químicos penetrarem na pele. Isso pode incluir herbicidas tóxicos, pesticidas e repelentes de insetos.
Um estudo publicado em 2004 demonstrou que oxibenzona, metoxicinamato de octilo, homosalato, salicilato de octilo, padimate O e sulisobenzona aumentam de maneira significante a absorção do herbicida 2,4-D. Isso pode ser uma grande preocupação para os trabalhadores agrícolas que passam horas todos os dias ao sol.
A oxibenzona também é um desregulador endócrino e pesquisas publicadas em 2018 alertaram que induz alterações no tecido mamário quando usado durante a gravidez e a lactação. Como observado pelos autores do estudo:
"Esses dados sugerem que a oxibenzona, em doses relevantes para exposições humanas, produz alterações duradouras na morfologia e função das glândulas mamárias. Estudos adicionais são necessários para determinar se a exposição a essa substância química durante a gravidez e lactação interfere na proteção oferecida pela gravidez contra o câncer de mama."
A falta de vitamina D é outra preocupação
Como você pode ver, a história dos filtros solares envolve conselhos convencionais de longa data para evitar a exposição ao sol desprotegida a todo custo. No entanto, essa atitude de tudo ou nada, de certo modo prestou um grande desserviço à saúde pública.
A Academia Americana de Dermatologia, por exemplo, sugere o uso diário de filtro solar para prevenir o câncer de pele, independente das condições climáticas ou da pigmentação da pele — dois fatores que não podem ser ignorados ao se avaliar os riscos e benefícios da exposição ao sol e uso de filtro solar.
No entanto, muitos foram levados a temer o sol, as deficiências de vitamina D se tornaram um problema sério, como foi demonstrado durante o surto de COVID-19.
A pesquisa também sugere que a exposição inadequada ao sol pode estar correlacionada ao desenvolvimento de "cânceres específicos, esclerose múltipla, diabetes, doenças cardiovasculares, autismo, doença de Alzheimer e degeneração macular relacionada à idade."
Embora seja essencial evitar queimaduras solares, também é importante ter cuidado ao determinar a melhor maneira de atingir seu objetivo de obter vitamina D, através de exposição solar adequada. A exposição consistente e sensata ao sol é vital para uma saúde ideal, mas os protetores solares não são sua única escolha para se proteger da superexposição.
Proteção solar interna e outras dicas para pessoas sensíveis ao sol
Como os pesquisadores do estudo piloto de 2019 observaram, o dióxido de titânio e o óxido de zinco são de maneira geral reconhecidos como seguros e eficazes em comparação com uma longa lista de produtos químicos de proteção solar, cuja segurança ainda está sob investigação. Ambos também protegem contra os raios UVA (ultravioleta) e UVB (ultravioleta B). No entanto, usar protetor solar sempre que estiver no sol, bloqueia a capacidade do corpo de produzir vitamina D.
É importante lembrar que você precisa de uma abordagem equilibrada para uma exposição ao sol. Você pode usar roupas para proteger a pele quando estiver ao ar livre por longos períodos, reduzindo o risco de queimaduras solares. Considere comer muitas frutas e vegetais, ricos em antioxidantes para ajudar a proteger sua pele. A astaxantina demonstrou ser um protetor solar interno eficaz, protegendo a pele dos danos da radiação UVA (ultravioleta).
Se você usar filtro solar de óxido de zinco ou dióxido de titânio, tome cuidado para não usar produtos nanométricos. Lembre-se de dar ao seu corpo a chance de produzir vitamina D, antes de aplicar o protetor solar. Tome sol apenas o suficiente para sua pele ficar um pouco rosada. Além disso, proteja seu rosto do sol usando um protetor solar ou chapéu seguro. A pele do rosto é fina e mais sujeita a danos causados pelo sol, como rugas prematuras.