Por Dr. Mercola
A berberina, um alcaloide de coloração amarelada, pode ser encontrada em diversas plantas diferentes, incluindo bérberis, goldenseal, fio de ouro, uva do Oregon e açafrão-da-índia, possuem propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias, antiproliferativas, antidiarreicas, antineoplásicas, antidiabéticas e de reforço imunológico. Ela possui uma longa história de uso na medicina tradicional, incluindo a chinesa, e muitas de suas utilidades agora possuem um apoio científico.
Por exemplo, é eficaz contra vários tipos de bactérias, protozoários e fungos, além de ser muito usada no tratamento de problemas gastrointestinais, incluindo a diarreia do viajante (diarreia, náusea e vômito) e intoxicação alimentar. Possuindo semelhantes mecanismos de ação como o medicamento metformina, a berberina também pode ser usada como um hipoglicemiante oral para diabético tipo 2.
Possui utilidade contra alergias sazonais e também ajuda a combater as células-tronco metastáticas e a insuficiência cardíaca. Muitos profissionais integrativos da saúde juram que a berberina é um suplemento de saúde geral devido à sua capacidade de tratar uma grande variedade de doenças. Conforme observado pelo Dr. Michael Murray:
"Eu suponho que a berberina está prestes a ser a maior revolução na indústria de produtos naturais. Aqui está o motivo: A berberina foi indicada para:
Produzir resultados iguais em ensaios clínicos na melhoria do diabetes tipo 2 ou melhores do que os medicamentos convencionais, incluindo a metformina. |
Melhorar os níveis de lipídios no sangue do que as estatinas. |
Baixar a pressão arterial em muitos casos, assim como qualquer tipo de medicamento anti-hipertensivo. |
Melhorar a função hepática e promover efeitos eficazes contra obesidade. |
Exercer efeitos benéficos significativos na saúde digestiva e no microbioma. |
Produzir dados experimentais encorajadores em várias doenças da atualidade, incluindo câncer, doença de Alzheimer, doença de Parkinson e outras." |
O que faz a berberine ser um remédio tão eficaz?
Muitos dos benefícios para a saúde da berberina, foram associados com sua capacidade de ativar a proteína quinase, ativada por monofosfato de adenosina (AMPK). A AMPK (Proteína Quinase Ativada por Monofosfato de Adenosina) é uma enzima que fica dentro das suas células cerebrais. Às vezes é chamada de "chave-mestre do metabolismo", pois é muito importante para a regulagem do mesmo.
Baixos níveis de AMPK tem sido ligado à resistência à insulina, disfunção mitocondrial, obesidade, neurodegeneração e inflamação crônica, todas as quais estabelecem as bases para a origem de uma ampla variedade de doenças crônicas graves. Em um artigo falando sobre os usos clínicos de berberina para a síndrome metabólica e diabetes tipo 2, o Natural Medicine Journal destaca seu efeito na AMPK:
"A AMPK induz uma cadeia de eventos dentro das células, todos envolvidos na manutenção da homeostase energética... A AMPK regula uma série de atividades biológicas que normalizam os desequilíbrios lipídicos, energéticos e da glicose. A síndrome metabólica ocorre quando essas vias reguladas a AMPK são desligadas, causando uma síndrome que inclui hiperglicemia, diabetes, anormalidades lipídicas e desequilíbrios energéticos...
"A AMPK ajuda a coordenar as respostas a esses estressores, enviando energia para o reparo e manutenção celular, ou para um retorno à homeostase, aumentando as chances de sobrevivência. Os hormônios leptina e adiponectina ativam a AMPK. Em outras palavras, ativar a AMPK pode produzir os mesmos benefícios que exercícios físicos, dietas e perda de peso, que são mudanças de costumes consideradas benéficas para uma grande quantidade de doenças."
Um modo de avaliar o potencial da berberina é imaginar que a mesma possui o mesmo efeito sobre o paciente que realizar mais exercícios e, ao mesmo tempo, restringir a ingestão de calorias. Pense a respeito dos efeitos da supressão da AMPK como se fosse igual aos efeitos de uma dieta hipercalórica, enquanto leva um estilo de vida sedentário."
A berberina pode ajudar a aliviar os sintomas de ansiedade e depressão
A AMPK também é um importante neuroprotetor. Conforme explicado no Journal of Neurochemistry, "AMPK identifica o estresse metabólico e integra diversos sinais fisiológicos, restaurando o equilíbrio de energia. Várias funções são relacionadas na AMPK no [sistema nervoso central]..." A berberina também beneficia a saúde do cérebro e o bem-estar psicológico ao elevar os neurotransmissores essenciais.
Vários estudos demonstraram a eficácia da berberina contra a ansiedade e depressão, em parte pela inibição da monoamina oxidase, uma enzima que decompõe a serotonina, noradrenalina e dopamina no cérebro. Esses neurotransmissores desempenham papéis fundamentais no humor, além de estarem relacionados com a depressão.
Um estudo indiano publicado em 2008, confirmou que a berberina possui efeitos antidepressivos, revertendo o "desespero comportamental" observados em ratos com comportamentos estressados. É curioso o fato de que os efeitos não foram dependentes da dose. Até mesmo as doses mais baixas tiveram um efeito benéfico. Segundo os autores:
"Berberina (5 mg / kg, i.p.) após sua elevada administração em ratos, houve um aumento dos níveis de norepinefrina (31%), serotonina (47%) e dopamina (31%) em todo o cérebro. A administração crônica de berberina (5 mg / kg, i.p.) durante 15 dias provocou um aumento significativo dos níveis de norepinefrina (29%), serotonina (19%), bem como dopamina (52%)...
Com uma dose mais elevada (10 mg / kg, i.p.), não ocorreu alterações nos níveis de norepinefrina (12%), porém foi observado um aumento significativo nos níveis de serotonina (53%) e dopamina (31%)."
Um estudo similar realizado por pesquisadores sul-coreanos, descobriu que a berberina era útil no tratamento de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Como ocorreu no estudo indiano, os ratos que tiveram um estresse prolongado exibiram comportamentos conduzidos pela ansiedade reduzidos de maneira significativa, após receberem berberina. Eles também foram mais aptos para completarem testes de navegação complexos.
O mais interessante é que a berberina demonstrou "restaurar as principais anormalidades neuroquímicas nos cérebros de ratos no modelo de PTSD", um efeito bastante surpreendente que "sustenta um mecanismo de ação central, onde a berberina restaura cérebros danificados por estresses elevados ou medo."
A berberina facilita os efeitos colaterais associados à abstinência de drogas
A berberina também demonstrou ativar os receptores Sigma1, uma subclasse de receptores opioides que respondem à morfina e substâncias parecidas, incluindo aquelas produzidas de maneira natural no organismo, além de inibir o glutamato, melhorando assim a ansiedade e a depressão. Os receptores Sigma1 exercem uma função no estresse oxidativo, no funcionamento do sistema nervoso e na sobrevivência dos neurônios, além de constar que influenciam em problemas neuropsiquiátricos, incluindo condições psicóticas.
Um estudo publicado no Korean Journal of Physiology and Pharmacology, avaliou o efeito que a berberina exercia na depressão, ansiedade e também no sistema noradrenérgico. Aqui, eles utilizaram para testes, ratos viciados em morfina para observar se a berberina poderia facilitar a abstinência da mesma, sintomas que incluem depressão e ansiedade. Conforme explicado pelos autores:
"Ratos machos expostos à morfina crônica, intermitente e crescente (10 ~ 50 mg / kg) por 10 dias. Após a última injeção de morfina, o comportamento do tipo depressão e ansiedade associado à descontinuação da morfina permaneceu durante pelo menos 3 dias após a retirada, sem qualquer alteração na atividade ambulatorial. A administração diária de berberina diminuiu de maneira significativa a imobilidade no teste de natação forçada e aumentou a exploração de braço aberto no teste de labirinto em cruz elevado...
Ingeridos em conjunto, demonstraram que a administração de berberina reduziu de maneira significativa os comportamentos associados à abstinência de morfina... sendo isso causado talvez por meio da modulação do fator de liberação de corticotrofina hipotalâmico e do sistema noradrenérgico central. A berberina pode ser um agente útil no tratamento ou para aliviar sintomas complexos de abstinência e prevenir recaídas no uso de morfina."
Berberine é benéfica para a saúde intestinal e muito mais
A berberina também demonstrou promover um trato gastrointestinal saudável e microbioma de várias maneiras, e isso também pode ter um impacto benéfico no seu humor e em sua saúde mental. Muitas pesquisas mostram que a saúde intestinal exerce uma função muito importante na saúde do cérebro, podendo influenciar o seu humor, melhorando ou piorando o mesmo. A respeito de melhorar sua saúde intestinal, estudos mostraram que a berberina ajuda:
Prevenir diarreia atrasando o tempo em que o alimento leva para passar pelo intestino delgado |
Reduzir o risco de intestino gotejante |
Proteger contra danos intestinais causados por um consumo excessivo de álcool |
Inflamação intestinal (Doença de Crohn) causada por citocinas inflamatórias |
Nutre os micróbios que produzem ácidos graxos de cadeia curta benéficos, conhecidos por possuírem muitos benefícios para a saúde |
Melhora os sintomas da doença do fígado gorduroso, normalizando o microbioma intestinal |
A normalização das bactérias intestinais também trouxe um menor peso corporal, menores níveis séricos de lipídios, menores níveis de glicose e insulina, além da normalização da resistência à insulina |
Interações com medicamentos
Embora a berberina seja segura e bem tolerada, pode ser contra-indicada caso esteja usando alguns medicamentos. Por exemplo, a berberina pode atrapalhar a absorção de tetraciclina e outros antibióticos parecidos, tornando-os ineficazes. Além disso, como a berberina inibe de modo significativo as enzimas CYP3A (enzimas necessárias para metabolizar a maioria dos medicamentos) ela pode reduzir a depuração dos medicamentos, podendo assim, aumentar seu efeito. Isso pode causar uma overdose, a qual os riscos variam dependendo do medicamento em questão.
A berberina inibe o CYP3A, assim como a curcumina, que prejudica a desintoxicação da fase 2, onde seu organismo torna as toxinas solúveis em água para que possam ser excretadas. Portanto, não seriam suplementos para usar durante o jejum, onde existe grande lipólise e liberação de toxinas armazenadas que precisam ser metabolizadas.
Por causa de todos os seus benefícios, faço uso de berberina já tem mais de 2 anos. No entanto, por ser um alcalóide potente, acredito que necessita ter um ciclo. Então, eu consumo uma semana sim e outra não. Como uma alternativa, você pode evitar durante os finais de semana. O princípio geral é o ciclo, semelhante com o funcionamento da dieta cetogênica. Não é aconselhável estar em uma dieta cetogênica de modo constante.
Além disso, conforme observado por Murray: "A berberina… eleva os efeitos dos medicamentos hipoglicêmicos orais usados no tratamento do diabetes tipo 2 através de seus inúmeros efeitos antidiabéticos. Pessoas que consomem medicamentos hipoglicêmicos orais devem monitorar os níveis de glicose no sangue caso estejam fazendo o uso de berberina e ajustar a dosagem de seus medicamentos conforme necessário, sob os cuidados de um médico responsável."