Por Dr. Mercola
A autofagia significa literalmente “comer a si mesmo”, e se refere ao processo realizado pelo seu corpo para eliminar células danificadas e componentes celulares digerindo-os. Este é um processo essencial de limpeza que incentiva a propagação de novas células, mais saudáveis, fundamental para o rejuvenescimento celular e a longevidade.
A autofagia também destrói invasores do seu organismo como vírus, bactérias e outros agentes patológicos, além de desintoxicar as células retirando materiais que podem ser prejudiciais. A desaceleração da autofagia pode contribuir como uma grande variedade de doenças, incluindo Alzheimer e Parkinson.
Esse processo de desaceleração acontece com a idade. A boa notícia é que existem diversos meios de se ativar e acelerar este processo natural, prevenindo assim muitos problemas de saúde antes que eles apareçam.
A ativação da autofagia é um ótimo modo de se tratar muitas doenças
Os pesquisadores agora veem a autofagia como um possível método de tratamento de doenças. Assim como foi publicado em um artigo em 2012, "Autophagy Modulation as a Potential Therapeutic Target for Diverse Diseases:"
"A autofagia ocorre normalmente na maioria das células, eliminando agregados de proteínas e organelas danificadas para manter a homeostase citoplasmática. O que inclui a degradação de mitocôndrias disfuncionais via mitofagia, um processo citoprotetor que limita a produção de espécies reativa de oxigênio (ERO) e libera proteínas intramitocondriais tóxicas....
Além de seu papel vital para a homeostase, esta forma de degradação envolve várias doenças humanas, incluindo doenças metabólicas, neurodegenerativas, câncer e doenças infecciosas... A autofagia pode ser desregulada em diversas doenças, incluindo doenças metabólicas, doenças neurodegenerativas, doenças infecciosas e o câncer.
A autofagia pode ser inibida por algumas doenças em alguns estágios diferentes do desenvolvimento da doença, enquanto, em outros casos, a atividade autofágica pode acabar sendo permissiva em relação a patogênese. Além disso, a melhoria da longevidade foi observada em um grande leque de espécies em decorrência da indução da autofagia, assim pacientes em idade avançada podem ser possíveis alvos de processos terapêuticos da autofagia.
As abordagens farmacológicas para regular ou inibir este processo estão recebendo uma atenção considerável, devido às informações presentes acima. Por exemplo, a regulação da autofagia pode ter um benefício terapêutico em algumas doenças neurodegenerativas... enquanto sua inibição está sendo estudada como uma estratégia no tratamento de algumas formas de câncer."
A autofagia e o tratamento do mal de Parkinson
O biólogo japonês Yoshinori Ohsumi recebeu o Prêmio Nobel de medicina em 2016 por sua descoberta dos verdadeiros mecanismos de autofagia, ou como as células reciclam seus conteúdos. Como relatado pela The Conversation:
"Ohsumi identificou os genes e moléculas que são responsáveis pelo processo de autofagia. Ao fazer isso, ele alterou os paradigmas da ciência sobre o controle de qualidade celular. Ele criou a possibilidade para que os pesquisadores... entendam como as deficiências na autofagia estão ligadas a doenças neurológicas...
Proteínas tóxicas se acumulam nas células do cérebro chamadas neurônios, em doenças neurodegenerativas. Os neurônios são insubstituíveis. Para evitar o acúmulo de proteínas anormalmente grandes, eles precisam continuar reciclando as proteínas e as quebrando em pequenos aminoácidos. E a autofagia os permite fazer isso.
O processo acontece no sequestro de proteínas indesejadas nos dutos, chamados "autofagossomos". Após esse processo, eles armazenam essas proteínas em uma organela da célula chamada 'lisossomo', onde essas proteínas podem ser recicladas. Quando este processo não acontece da maneira certa, pode haver um acúmulo dessas proteínas prejudiciais."
Ativar a autofagia pode ajudar na prevenção de doenças neurológicas degenerativas
Como o processo de autofagia elimina as proteínas que podem causar danos, ativá-lo, ou os mecanismos de reparo, em casos nos quais houve uma disfunção, os pesquisadores acreditam que seja possível tratar doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson.
Por incrível que pareça, certos medicamentos utilizados no tratamento contra o câncer podem iniciar o processo de autofagia ao ativar a proteína chamada parkina, de acordo com pesquisadores. A parkina está envolvida no processo de autofagia e algumas drogas utilizadas no tratamento do câncer ativam esta proteína especificamente. Como Carbel Moussa, Professora assistente de neurologia na Universidade de Georgetown relatou:
"Mantenha em mente de que os medicamentos contra o câncer matam as células cancerígenas e também podem ser tóxicos para outras células. Então, o primeiro passo foi descobrir como estes medicamentos funcionam nas células cancerígenas e neurônios. Nossa pesquisa inicial em modelos de cultura celular foi impressionante: Após os testes com diversas drogas para o tratamento do câncer que estimulam a autofagia, células cancerígenas em cultura morreram.
Após isso, nós introduzimos proteínas tóxicas cultivadas em células neurológicas e a tratamos coma autofagia gerada por diversos medicamentos utilizados no tratamento de câncer, capazes de destruir tumores. Enquanto as células não tratadas morreram, aquelas que foram tratadas, sobreviveram e limparam as proteínas tóxicas.
Ativar a autofagia pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, as substâncias tóxicas e infecciosas são eliminadas no processo. Pelo outro, se o processo de autofagia vai além de 'reciclar' e eliminar as proteínas, ele pode destruir as células, levando à morte celular. Isso significa que para evitar a morte de neurônios insubstituíveis, precisamos ter cuidado com a autofagia."
A autofagia cíclica, o processo natural para melhorar a saúde e a longevidade
Existem muitas estratégias no estilo de vida que podem ser capazes de ter estes benefícios aumentando a autofagia cíclica. O jejum pode ser o mais importante e mais efetivo.
Longos períodos de jejum com ingestão apenas de água, são um tipo de período de "inanição" que podem induzir a autofagia. Uma quantidade tão pequena quanto 200 calorias pode prejudicar o processo, então é importante ser rigoroso quanto ao principal tipo de autofagia que você quer, uma vez que o período de jejum deve ser de 16 horas, 72 horas ou até mais.
Mas a autofagia não pode permanecer continuamente ativada no seu corpo. Você também precisa permitir que as células se reconstruam e rejuvenesçam, o que ocorre durante a fase de realimentação. Isso significa que períodos de alimentação normal e jejum cíclicos são importantes.
O jejum é uma ferramenta poderosa para ativar a autofagia
De acordo com uma pesquisa que foi publicada nos anos recentes, o jejum com ingestão apenas de água por múltiplos dias, que é uma das intervenções metabólicas mais profundas que você pode fazer para melhorar radicalmente a sua saúde, pois ele permite que seu corpo regule positivamente a autofagia e a mitofagia para remover as células senescentes danificadas do seu corpo, incluindo células pré-malignas. Ele também é uma forma extremamente eficiente de estender sua longevidade e eliminar o excesso de peso.
Existem alguns problemas, no entanto, você precisa falar com seu médico sobre isso, caso esteja tomando algum medicamento, para ter certeza se é seguro, uma vez que alguns medicamentos precisam ser tomados com comida e/ou podem se tornar tóxicas caso a química do seu corpo se normalize. Ele pode apresentar riscos para pessoas que estejam tomando medicamentos para hipertensão ou hipoglicemia, pois elas podem acabar sofrendo uma overdose.
Continuar tomando seus suplementos alimentares durante o jejum também é uma atitude recomendável. Também é necessário tomar sais de alta qualidade. Para garantir a segurança do paciente durante o jejum, algumas condições de saúde podem precisar de uma supervisão médica rigorosa.
Um método mais brando de se melhorar sua autofagia é o jejum intermitente, se você permanecer em jejum por pelo menos 16 horas por dia. Este é o tempo mínimo necessário para se ativar a autofagia. O jejum intermitente consiste em fazer todas as refeições do dia em uma janela de oito horas, além de não comer nada durante todo o período do jejum.
Recomendo um jejum intermitente de 16 horas e vá progressivamente aumentando para 20 horas por dia caso queira começar a fazer jejum com ingestão apenas de água. Assim que você tiver feito isso por um mês, será muito mais fácil fazer um jejum com ingestão apenas de água por cinco dias.
O jejum pode ajudar a curar seu pâncreas
Os poderes regenerativos do jejum foram comprovados em uma pesquisa recente com uma dieta que simulava um jejum - caracterizada por períodos de fome e alimentação - podendo reverter diabetes e realmente regenerar o pâncreas. Valter Longo, Ph.D., professor de gerontologia e ciências biológicas e diretor do USC Longevity Institute, liderou o estudo.
O estudo fazia períodos de jejum e alimentação, as células beta de produção de insulina foram criadas, este processo lembra o processo de desenvolvimento do pâncreas. Estas células detectam açúcar no seu sangue e liberam insulina se os níveis ficarem muito altos. Os sintomas de diabetes também foram revertidos como um dos efeitos colaterais. Em modelos de diabetes tipo 1 e 2 tiveram a secreção de insulina e homeostase de glucose restauradas. Segundo Longo:
"Nossa conclusão é que ao forçar os ratos a estados extremos e depois fazê-los voltar — deixando com fome e depois alimentando-os novamente — as células do pâncreas acionam um tipo de reprogramação do desenvolvimento que reconstrói as partes do órgão que não estavam mais funcionando...
Medicamente, essas descobertas têm o potencial de serem muito importantes, já que mostramos que — pelo menos em camundongos — você pode reverter os sintomas do diabetes através da dieta. Cientificamente, as descobertas são talvez ainda mais importantes, porque mostramos que você pode usar a dieta para reprogramar as células sem precisar fazer alterações genéticas".
Longo desenvolveu a dieta que simula o jejum, envolve restringindo as calorias em 75 porcento a menos do que o consumo diário de calorias por 5 dias por mês. Como muitos podem ter muita dificuldade em fazer um jejum com ingestão apenas de água por cinco dias consecutivos, essa abordagem pode facilitar o processo. É muito importante selecionar alimentos com baixos níveis de carboidratos, com poucas proteínas e rico em gorduras saudáveis durante os cinco dias de restrição calórica.
Durante o restante do mês você pode comer o que quiser. O objetivo é simular períodos de alimentação e jejum. No entanto, mesmo que pareça simples, Longo sugere que o melhor é fazer esta dieta com a supervisão de um médico, uma vez que ela é muito mais sofisticada do que a maioria das pessoas pensa.
Outros métodos para ativar a autofagia
• Exercícios cíclicos — Dia sim, dia não, faça 30 minutos de treino intervalado de alta intensidade ou treino de resistência. O estresse do exercício gera a autofagia assim como o jejum.
• Comer mais alimentos ativadores da autofagia — no seu livro, Whittel inclui 140 tipos diferentes de alimentos que ajudam a ativar a autofagia — como chá de bergamota, chá verde e açafrão.
• Ativar o monofosfato de adenosina a proteína quinase ativada (AMPK) através de uma dieta adequada e suplementação nutricional — a AMPK é uma enzima que estimula a da autofagia mitocondrial e a biogênese assim como outras cinco funções importantes: insulina, leptina, o alvo de mamíferos da rapamicina (mTOR) o fator de crescimento similar à insulina tipo 1 e o coativador 1 alfa do receptor ativado por proliferador de peroxissoma gama.
Também ajuda a proteger contra o tipo de estresse oxidativo que leva à Doença de Parkinson, melhorando o fator de crescimento dos nervos. Os níveis de AMPK reduzem naturalmente com a idade. Outros hábitos alimentares que reduzem a atividade da AMPK são comer muitas gorduras que são prejudiciais para a saúde e não comer gorduras saudáveis o suficiente e não ingerir flavonoides o suficiente. Outro fator que se apresenta como um forte inibidor da AMPK é a resistência à insulina.
Então, para manter uma autofagia saudável, manter essa enzima ativada através de uma dieta adequada é um fator importante. A pirroloquina quinone (PQQ) e a berberina são dois suplementos alimentares conhecidos por ativar a AMPK, assim, iniciando uma mitofagia e a biogênese mitocondrial. Estes dois suplementos também podem ser benéficos para o funcionamento mitocondrial e para a saúde.
Ativar a autofagia - um método simples de melhorar sua saúde e prevenir doenças
Abordar a autofagia é algo que deve ter sua importância e pode ajudar a prevenir doenças, incluindo doenças neurodegenerativas e o câncer, considerando que a sua saúde depende do bom funcionamento das células. Seu corpo não consegue limpar as células que morrem/param de funcionar perfeitamente por ficarem lotadas de toxinas e detritos, e isso pode se tornar um problema exacerbado, é por isso que a autofagia é necessária para o seu corpo.
As boas notícias são que não é difícil otimizar sua autofagia. Tanto os exercícios quanto a adição de certos alimentos e suplementos são estratégias benéficas para ajudar nesse processo, apesar de o jejum parecer o método mais eficiente. Se você se dedicar o suficiente, incorporar estas estratégias no seu estilo de vida será o melhor para você.