Essa erva pode ser eficaz contra atividade viral?

Fatos verificados
artemisinina para infecção de covid 19

Resumo da matéria -

  • Extratos feitos de Artemisia annua apresentaram atividade antiviral contra SARS-CoV-2 em estudos laboratoriais e agora estão sendo utilizados em testes de ensaios clínicos feitos em pessoas com COVID-19
  • Extratos feitos de Artemisia foram estudados como tratamento para infecções por HIV, obesidade, alergias, intolerância à glicose e no tratamento de alguns tipos de câncer; tem sido utilizado como tratamento contra a malária por 30 anos
  • A planta possui altos níveis de zinco, gálio e selênio, todos contendo propriedades antivirais e anti-inflamatórias. Extratos de Artemisia também foram analisados em 2003, após o surto de SARS-CoV-2 com resultado positivo no laboratório
  • Em agosto de 2021, a OMS incluiu um derivado chamado artesunato na próxima fase do ensaio Solidariedade, testando medicamentos contra COVID-19, porém até o momento, não se tem evidências definitivas de que os produtos da Artemísia sejam eficazes contra COVID-19

Por Dr. Mercola

A medicina tradicional realizada à base de plantas possui uma longa história e os medicamentos de origem vegetal contribuíram de maneira ampla para a saúde e para a medicina ocidental. O Natural Product Insider relatou há pouco tempo os resultados de uma pesquisa onde a Artemisia annua foi selecionada como a melhor candidata à base de ervas contra o coronavírus.

Existem duas formas comuns de Artemísia, também conhecida como absinto. Essas são a Artemisia vulgaris e a Artemisia annua. Apesar de se tratar do mesmo gênero de plantas, elas são diferentes. Artemisia vulgaris é uma planta de certo modo venenosa, nativa do Norte da África e da Eurásia. Artemisia annua é chamada de absinto doce e é nativa da Ásia.

A espécie pertence à maior família de plantas com flores, Asteraceae. As plantas são vistas em climas temperados, tendo um forte aroma dos terpenoides que as constituem. Essas plantas preferem climas quentes e ensolarados, crescendo bem em temperaturas entre 68 (20° C) e 77 graus F (25 °C).

A artemísia foi estudada como forma de tratamento para intolerância à glicose, infecções por HIV, alergias, obesidade, malária e para o tratamento de alguns tipos de câncer. Pesquisadores exploram as propriedades antivirais da artemísia para o tratamento de COVID-19.

Resultados promissores com Artemisia annua no tratamento contra COVID-19

Pesquisadores do Southwest College of Naturopathic Medicine em Tempe, Arizona, testaram 30 tipos de ervas, observando o efeito que podem ter contra o vírus que desencadeia os sintomas de COVID-19. Os pesquisadores extraíram os compostos utilizando um solvente de 70% etanol e identificaram o metabólito artemisinina de mais de 600 metabólitos secundários em Artemisia annua.

Johanne Gerstel, Ph.D., pesquisadora do Instituto Ric Scalzo, disse sobre os resultados: “Sabemos haver uma atividade que impede a propagação do vírus. Nós possuímos um novo e amplo composto que tem esse efeito eficaz contra o coronavírus.”

Segundo o artigo no Natural Products Insider, os pesquisadores primeiro identificaram o absinto doce como uma potencial opção contra o COVID-19 e, em seguida, testaram diferentes extratos de etanol para identificar aqueles com atividade positiva. Os solventes também foram testados para encontrar os metabólitos da artemisinina que eram eficazes contra o vírus.

Esse não foi o primeiro estudo a determinar que a artemisinina possui uma influência no coronavírus. Uma revisão da literatura recente extraída de bancos de dados online, como PubMed, NCBI, ResearchGate e Google Scholar, revelou que Artemisia possui um potencial antiviral e imunoestimulante contra o coronavírus.

Alguns países africanos possuem certas evidências de que um extrato da planta ajudou a controlar os sintomas de COVID-19 na população. Vários estudos mostraram que a artemisinina possui uma função promissora no tratamento do vírus.

Além disso, a planta possui altos níveis de zinco, gálio e selênio. O zinco é conhecido por interromper a replicação do vírus na célula; o gálio reduz as formas de citocinas que aumentam a resposta inflamatória; e o selênio regula a concentração de linfócitos CD4.

Outra demonstração da atividade antiviral

Uma colaboração realizada entre pesquisadores da Columbia University, University of Washington e Worcester Polytechnic Institute, demonstrou que um extrato com água quente de Artemisia annua tinha atividade antiviral contra o coronavírus. Os extratos foram testados no vírus propagado em células humanas.

Os pesquisadores utilizaram extratos de quatro continentes diferentes, todos demonstrando atividade antiviral contra o coronavírus. O estudo publicado em junho de 2021 revelou que o extrato com água quente da Artemisia interrompeu a replicação do vírus, incluindo de duas novas variantes.

Embora pareça não bloquear a entrada do vírus na célula, o extrato reduziu a resposta inflamatória e bloqueou a infecção após a contaminação do vírus. Além disso, nesse estudo, o extrato de uma amostra de folhas secas com mais de 12 anos ainda se mostrou eficaz.

Dados revelaram que as concentrações podem variar em quase 100 vezes e ainda serem eficazes, segundo o estudo. Em uma entrevista ao Spectrum News 1, um dos pesquisadores do Worcester Polytechnic Institute disse:

"É muito importante agora, pois não possuímos nenhum tipo de terapia, e parece que pode ser considerado uma terapia, além de ser muito fácil de implementar no mundo todo para nos ajudar a obter um controle sobre essa horrível pandemia viral, que está trazendo terror a vários lugares, sobretudo na Índia."

No entanto, é importante observar que tem havido diversos tipos de terapias que se mostraram promissoras no tratamento de COVID-19, incluindo ivermectina, hidroxicloroquina com zinco e manutenção de níveis ideais de vitamina D para reduzir a infecção potencial e reduzir a gravidade da doença.

Até o momento, os pesquisadores ainda estão tentando determinar o mecanismo de ação da artemisinina contra o coronavírus. Houve algumas evidências de que ela impede a atividade enzimática, estimula a imunidade adaptativa que tem como principal foco o vírus e desregula as citocinas pró-inflamatórias.

A artemisia é recomendada pela OMS?

Os cientistas chineses foram os primeiros a descobrir Artemisia annua e sua eficácia contra a malária na década de 1970. Nos dias atuais, a OMS recomenda terapias à base de artemisinina contra a malária, sobretudo desde o crescimento da doença resistente à cloroquina. Parasitas resistentes têm reduzido a eficácia de novos medicamentos contra a malária.

A artemisinina é utilizada nos dias atuais apenas em combinação com outros medicamentos antimaláricos, para ajudar a prevenir a resistência potencial da monoterapia. Se tem o conhecimento de que o maior acesso às terapias combinadas à base de artemisinina, seja um fator crucial na redução do número de mortes por malária nos últimos 15 anos.

Em agosto de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que testaria três novos medicamentos na próxima fase do ensaio de Solidariedade. Patrocinados pela OMS, os ensaios de Solidariedade têm como principal objetivo estudar possíveis medicamentos para pessoas que foram hospitalizadas em situações graves de COVID. Os medicamentos aprovados em agosto são: artesunato, imatinibe e infliximabe. Cada um dos medicamentos é aprovado para serem utilizados em outras condições de saúde. Artesunato é um derivado da artemisinina, usado nos dias atuais para o tratamento da malária.

Imatinib é utilizado no tratamento de câncer, já o infliximabe é prescrito para doenças relacionadas ao sistema imunológico, como artrite reumatoide ou doença de Crohn. Segundo a OMS, a artemisinina tem sido muito utilizada nos últimos 30 anos, no tratamento da malária e outras doenças parasitárias.

O medicamento é considerado muito seguro, e o Therapeutics Advisory Group recomendou a avaliação do artesunato devido suas propriedades anti-inflamatórias. Na última fase do estudo de Solidariedade, a OMS experimentou o remdesivir, onde descobriu possuir pouco ou nenhum efeito.

Segundo a BBC, a fabricante de medicamentos Gilead rejeitou as descobertas e, em um comunicado, mencionou que os resultados eram "inconsistentes" e que estava "preocupada" com os resultados que ainda não foram analisados. Os quatro medicamentos foram testados em 500 hospitais diferentes de mais de 30 países. Em agosto de 2021, a BBC relatou que a OMS disse não haver evidências de que os produtos derivados da Artemísia possuíam alguma eficácia contra o COVID-19.

Artemisia annua testada durante surto de SARS em 2003

Bem antes do COVID-19, os pesquisadores haviam isolado uma classe de compostos no absinto doce que apresentava atividade contra o câncer, a esquistossomose e a malária. Foi descoberto de modo mais recente, que a planta é bioativa contra certos vírus, como citomegalovírus, hepatite B e C, e membros da família do herpes, incluindo o vírus do herpes tipo 1 e Epstein-Barr.

Após o surto de 2003, pesquisadores começaram a avaliar a eficácia de diferentes ervas medicinais chinesas contra o vírus. Quatro extratos se mostraram promissores, incluindo o de Artemisia annua.

Com base nessa e em outras pesquisas, os cientistas do Instituto Max Planck na Alemanha colaboraram com os da Freie Universität Berlin para realizar estudos laboratoriais, avaliando os compostos bioativos na planta contra o coronavírus. Peter H. Seeberger, um dos dois cientistas que supervisionaram a pesquisa, comentou:

"Por já ter trabalhado com compostos derivados das plantas annua, eu estava familiarizado com as atividades interessantes das mesmas contra muitas doenças diferentes, incluindo uma série de vírus. Portanto, sentimos que valeu a pena explorar a atividade dessa planta contra o COVID-19.”

Seeberger também foi encorajado pela colaboração internacional, pois os cientistas trabalham juntos para encontrar compostos que possam trazer uma melhora no tratamento de pessoas com COVID-19. Ele disse:

“Dados os resultados encorajadores de colegas chineses em 2005 e as semelhanças entre o novo vírus e aquele que causou a SARS, os extratos de plantas e derivados da artemisinina precisam ser testados quanto antes. Essa colaboração internacional torna isso possível.”

Após demonstrar a capacidade antiviral em laboratório, os pesquisadores passaram a testar o absinto doce em um ensaio realizado em humanos. Eles utilizaram uma linha de sementes cultivadas desenvolvida pela ArtemiLife Inc. de Kentucky. Pesquisadores descobriram que, quando os compostos foram extraídos dessa linha, eles demonstraram uma atividade antiviral mais forte.

Klaus Osterrieder da Freie Universität Berlin conduziu os ensaios de atividade, onde descobriram que o uso de um extrato etanólico de Artemisia e café produzia os melhores resultados. Quando testada sozinha, a artemisinina não demonstrou tanta atividade antiviral. Osterrieder achou os resultados notáveis:

"Fiquei surpreso ao descobrir que os extratos de annua funcionaram melhor do que os derivados puros de artemisinina, além disso, a adição de café aumentou a atividade.”

O Reino Unido realizou testes em humanos no final de 2020 em colaboração com a Universidade de Kentucky, para verificar a eficácia do produto Artemisia annua cultivado em Kentucky. Em janeiro de 2021, a Mateon Therapeutics, dos Estados Unidos, fez parceria com o fabricante indiano de suplementos Windlas Biotech e anunciou um ensaio clínico que testaria a segurança e eficácia de outro suplemento de artemisinina.

O estudo utiliza uma cápsula de suplemento contendo 500 mg de artemisinina purificada contra COVID-19. Ele foi considerado concluído em 9 de setembro de 2021, porém seus resultados ainda não foram publicados. Se forem bem-sucedidos, esses estudos podem significar a descoberta de um tratamento para o COVID-19 que atenda a muitos critérios. Esses incluem estar disponíveis de maneira ampla, barato, eficaz e com um perfil de segurança já conhecido.