Por Dr. Mercola
Quando uma mulher está grávida, ela de fato consome alimentos para duas pessoas. Todos os alimentos, medicamentos, suplementos e drogas afetam o bebê em crescimento. O organismo também produz diferentes níveis de hormônios que podem ser benéficos durante a gravidez. Todo mês, o organismo da mulher passa por uma variedade de hormônios que regulam o acúmulo de sangue no útero para sustentar a gravidez, a maturação de um óvulo e a retirada dos hormônios que provocam à menstruação.
A progesterona é um desses hormônios, sendo muitas vezes chamado de “hormônio da gravidez” devido a sua importante função, desde a implantação do embrião até o parto do bebê. Depois que o óvulo é liberado do ovário, o organismo lúteo produz progesterona para manter os estágios iniciais da gravidez.
O corpo lúteo é um grupo de células que se formam após o óvulo deixar o ovário. A progesterona faz com que o útero se torne um ambiente saudável para um óvulo fertilizado se implantar e desenvolver. Conforme o embrião fertilizado se implanta, a progesterona estimula o crescimento adicional dos vasos sanguíneos e ativa o endométrio para secretar nutrientes que ajudam no crescimento.
Durante as primeiras semanas, a progesterona é essencial para estabelecer a placenta. Quando a placenta se estabelece, ela passa a produzir progesterona durante a 12° semana. Durante os 2 trimestres restantes, os níveis de progesterona continuam a aumentar e desempenham uma função importante no fortalecimento dos músculos da parede pélvica, evitando a lactação e o crescimento do tecido mamário da mãe.
Os cientistas não identificaram consequências médicas graves na produção de progesterona em excesso, porém a suplementação da mesma sem estar grávida tem sido associada a um pequeno risco de desenvolver câncer de mama. No entanto, sem uma quantidade de progesterona suficiente, as mulheres podem ter períodos menstruais irregulares e intensos, sendo que uma queda dos níveis do mesmo pode levar ao aborto espontâneo.
A progesterona pode auxiliar na prevenção do aborto espontâneo
O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE), recomendou que mulheres apresentando sangramento no início da gestação e que já teve algum aborto espontâneo, recebessem progesterona para ajudar na redução do risco de perder outra gravidez. A orientação foi baseada em evidências de pesquisas, que mostraram que mulheres que tiveram maior número de abortos espontâneos, obtiveram melhores resultados com a suplementação de progesterona.
Segundo o artigo da BBC, 1 a cada 5 mulheres grávidas apresentam manchas nas primeiras 12 semanas de gravidez. Esse é um sangramento leve que ocorre de forma intermitente. Caso ocorra sangramento durante a gravidez, isso é chamado de ameaça de aborto. Hoje em dia, a maioria das mulheres com sangramento é enviada para casa, onde é aconselhada a esperar e observar o que acontece.
No entanto, uma nova orientação do NICE recomenda o uso de um pessário de progesterona na vagina duas vezes ao dia, fornecendo assim, uma suplementação de progesterona que ajuda durante o período de gravidez. Um estudo realizado no Centro Nacional de Pesquisa de Aborto de Tommy, mostrou que as mulheres que já tiveram sangramento e nenhum aborto anterior, não obtiveram benefícios com a suplementação de progesterona.
Pesquisas anteriores avaliaram o uso de progesterona para auxiliar no período de gravidez. Um estudo publicado em 2005, analisou ensaios clínicos randomizados de mulheres que receberam suplementação de progesterona antes de 34 semanas de gestação. Os dados indicaram que reduziu a incidência de parto prematuro em mulheres apresentando um alto risco.
Um segundo artigo publicado em 2013, descobriu segundo os resultados de 17 ensaios, não haver nenhuma evidência que sustenta o uso de progestágeno para o tratamento da ameaça de aborto espontâneo. Um terceiro estudo realizado em animais publicado em 2020, analisou o uso de progesterona durante o início da gravidez no desenvolvimento fetal.
Eles descobriram que a administração pode alterar a função pituitária e testicular em crianças do sexo masculino. Os resultados sugeriram que a progesterona teve um efeito específico no início da gravidez, devendo ser utilizada apenas “quando houver evidências claras de eficácia, por um mínimo período necessário.”
A progesterona pode prevenir cerca de 8.450 abortos espontâneos todo o ano
A orientação do NICE foi baseada em estudos publicados em 2020, onde foi descoberto que a progesterona em mulheres apresentando sangramento no início da gravidez, poderia prevenir cerca de 8.450 abortos espontâneos todo o ano. Ambos os estudos foram publicados no dia 30 de janeiro de 2020. O estudo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology examinou os resultados de dois grandes ensaios clínicos conduzidos pelo Tommy's National Center for Miscarriage Research e pela University of Birmingham.
Os ensaios clínicos realizados foram: o ensaio Progesterona no Aborto Recorrente (PROMISE) e o Progesterona no Aborto Espontâneo (PRISM). O ensaio PROMISE estudou 836 mulheres em 45 hospitais na Holanda e no Reino Unido Dados revelaram que mulheres com abortos recorrentes tiveram uma taxa de sucesso na gravidez 2,5% maior, devido a progesterona.
No ensaio PRISM, 4.153 mulheres de 48 hospitais no Reino Unido as que apresentavam sangramento no início da gravidez receberam progesterona. Os dados revelaram que houve um aumento de 5% de recém-nascidos em comparação com as mulheres que receberam um placebo. Nas mulheres que tiveram três ou mais abortos espontâneos, os dados mostraram um aumento de 15% no número de bebês nascidos das mulheres que receberam progesterona.
O segundo estudo no qual a orientação do NICE foi baseada e publicada no BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynecology. Esse artigo analisou a economia do estudo PRISM, concluindo que o custo médio do tratamento foi de £ 204 ($ 272,19) a cada gravidez. Os pesquisadores concluíram:
“Os resultados sugerem que a progesterona está ligada a um pequeno impacto positivo e um pequeno custo adicional. Dadas as evidências disponíveis, a progesterona é de certo modo considerada uma intervenção econômica, sobretudo em mulheres que tiveram aborto (s) anterior (es).”
Mulheres que não estão grávidas podem ter sintomas de baixa progesterona, onde podem apresentar alguns sintomas como: ciclos menstruais irregulares, secura vaginal, alterações de humor, dores de cabeça ou enxaquecas. A progesterona ajuda a complementar o estrogênio durante um ciclo menstrual normal. Sem o efeito da progesterona, o estrogênio pode aumentar o risco de ganho de peso, sensibilidade mamária, miomas e problemas de vesícula biliar.
Diferentes formas de administrar a progesterona
Nem todas as formas e tipos de progesterona são iguais. Os médicos prescrevem a progesterona para regular o ciclo menstrual, tratar lesões precursoras hiperplásicas no endométrio e como anticoncepcional. A progesterona sintética pode estar ligada a defeitos congênitos, por isso é importante ter certeza de que está utilizando uma fonte natural e consulte sempre seu médico responsável ao utilizar qualquer tipo de progesterona, esteja você grávida ou não.
Alguns diferentes tipos de progesterona, incluem: supositórios vaginais, gel, inserção, cápsula oral ou injeção. O gel vaginal é utilizado uma vez ao dia, sendo o único produto aprovado pela FDA para reprodução assistida, como a fertilização in vitro. Até agora, foram prescritas mais de 40 milhões de doses na última década.
Supositórios vaginais são à base de cera, inseridos de duas a três vezes ao dia. No entanto, o vazamento pode ser complicado e, embora sejam muito utilizados, não são aprovados pelo FDA. As inserções vaginais são aprovadas para suplementação, porém não são aprovadas para reposição de progesterona.
Embora não sejam formuladas ou aprovadas pelo FDA para uso vaginal, as cápsulas orais de progesterona têm sido utilizadas por via vaginal até três vezes por dia, pois apresentam menos efeitos colaterais quando utilizadas dessa forma do que por via oral.
Finalmente, a progesterona pode ser administrada como uma injeção à base de óleo. É o método de parto mais antigo, injetando nas nádegas uma vez ao dia. Por ser à base de óleo, as injeções podem ser dolorosas e as reações cutâneas são comuns.
Mulheres que utilizam suplementação de progesterona no início da gravidez, podem presenciar alguns efeitos colaterais. Esses efeitos colaterais devem ser relatados ao seu médico responsável de maneira imediata.
Sangramento vaginal anormal |
Mudanças na mama ou secreção |
Alterações na visão |
Reações alérgicas |
Dor no peito |
Problemas para falar e andar |
Confusão |
Fortes dores de cabeça |
Infecção urinária |
Sintomas similares aos da gripe |
Entorpecimento ou fraqueza repentina |
Dor e inchaço |
Falta de ar |
Náusea e vômito |
Colorações anormais nas fezes |
Perda do apetite |
Dor na parte superior direita da barriga |
Fadiga incomum |
Pele ou olhos com coloração amarela |
Cólicas estomacais |
Inchaço abdominal |
Dores nas costas |
Depressão |
Oscilações no humor |
Aumento do apetite |
Retenção de fluidos |
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Mais desafios caso esteja grávida durante a pandemia
Mulheres grávidas durante a pandemia possuem mais desafios para se manterem saudáveis e proteger a saúde de seus filhos. A gravidez exige mais das funções pulmonares. Isso inclui gestantes com comorbidades como doenças do coração, pressão arterial alta, diabetes e problemas pulmonares, podendo apresentar um maior risco de infecção e doenças graves.
Comunique qualquer alteração ao seu médico responsável, como sangramentos ou diminuição do movimento fetal, bem como sinais de parto prematuro. Pesquisadores acreditam que 80% das pessoas com COVID-19 terão sintomas menores ou serão assintomáticas. Esses são estudos similares aos feitos com a influenza na Inglaterra, que descobriram que a maior parte das pessoas que estavam gripadas eram assintomáticas.
Isso significa que é preciso ter cuidado até mesmo com aqueles que aparentam estar saudáveis. Um fator crucial na prevenção, é enxaguar as mãos por pelo menos 20 segundos e evitar contato com o rosto.
Consumir suplementos e medicamentos durante a gestação pode afetar o crescimento do seu bebê de formas que ainda não são de fato conhecidas ou documentadas. Até mesmo alguns medicamentos comuns, têm consequências a longo prazo.
Por exemplo, existem evidências de que o paracetamol, também conhecido e vendido como Tylenol, pode dobrar o risco de autismo e aumentar o risco de transtornos de déficit de atenção em crianças.
Manter níveis saudáveis de vitamina D durante a gravidez também é um fator crucial. Em uma revisão sistemática da Cochrane, os autores encontraram evidências de que a suplementação com vitamina D pode reduzir o risco de pré-eclâmpsia, baixo peso ao nascer e nascimento prematuro. Ele também desempenha uma função importante na redução do risco de infecções respiratórias superiores, que inclui gripe e COVID-19.
A vitamina C desempenha uma função importante no tratamento de COVID-19, porém grandes doses não devem ser utilizadas como forma preventiva. Para proteger sua saúde, procure consumir alimentos ricos em vitamina C, como pimentão, kiwi, morango, brócolis, tomate e ervilha.