Você está sofrendo de paralisia de Bell?

Fatos verificados
Paralisia de bell

Resumo da matéria -

  • A paralisia de Bell é um distúrbio neurológico do sétimo nervo craniano, que provoca uma paralisia facial unilateral; até o presente momento, 13.137 casos da mesma foram registrados no VAERS após a vacina de COVID
  • Fatores que aumentam o risco para a doença são: pressão alta, diabetes, gravidez, obesidade e condições de saúde respiratórias superiores. A incidência geral foi medida entre 30 e 39,9 por 100.000, dependendo da população e geografia
  • A pesquisa sugere que pode haver variações sazonais no diagnóstico. Considere realizar tratamentos complementares para acelerar a recuperação, incluindo acupuntura e medicamentos fitoterápicos

Por Dr. Mercola

A paralisia de Bell é um distúrbio neurológico do sétimo nervo craniano. É caracterizada pelo aparecimento súbito de sintomas que podem começar com dor atrás da orelha, rigidez do pescoço, febre ou fraqueza unilateral e/ou rigidez da face. Em última análise, a paralisia de Bell causa paralisia facial unilateral. Esse é um dos eventos adversos relatados a vacina de COVID-19.

Em 14 de janeiro de 2022, o sistema de notificação de eventos adversos da vacina (VAERS), registrou 13.137 casos de paralisia de Bell. Todo ano, a condição afeta cerca de 40.000 pessoas nos EUA e, embora possa estar presente em qualquer faixa etária e sexo, a incidência parece ser maior em pessoas entre 15 a 45 anos.

Segundo o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame (NINDS), existem diversos fatores que o colocam em maior risco para a doença, incluindo: obesidade, pressão alta, diabetes, gravidez e problemas respiratórios superiores.

Para medir se a incidência da paralisia de Bell aumenta após a vacina de COVID, os pesquisadores calculam a taxa de 100.000 pessoas. Isso permite a comparação direta de duas ou mais taxas com base na análise de 100.000 pessoas. A incidência da paralisia de Bell pode variar dependendo da população e de quando a medição foi realizada.

É fundamental utilizar uma taxa de incidência precisa para uma condição de saúde na população ao comparar a incidência após receber um medicamento ou vacina para determinar se o medicamento eleva a taxa. Por exemplo, a National Organization for Rare Disorders (NORD), estima que a incidência geral da paralisia de Bell na população está entre 25 a 35 por 100.000.

A medida de incidência anual em três anos consecutivos no Japão por volta da década de 1980, rendeu 30 em 100.000, porém essa incidência foi bem maior em 2017. Nesse caso, os pesquisadores postularam que a incidência de 39,9 por 100.000 encontrados foi o resultado de um aumento em infecções por herpes zoster, que "possui um papel na causa da paralisia de Bell."

Apesar dos graves efeitos que pode possuir, a causa exata da paralisia de Bell não está definida. A paralisia de Bell pode ser tratada em semanas ou meses, porém cerca de 25% podem apresentar sintomas de persistência. Dados de pesquisa estão sendo coletados, para determinar se a vacina COVID aumenta a taxa do surgimento de paralisia de Bell.

Existe um risco elevado de paralisia de Bell após a vacina de COVID?

A resposta resumida para essa pergunta é que ainda não foram coletados dados suficientes para provar o que é de fato o causador dessa paralisia. Porém, as indicações são de que a paralisia de Bell é de certo modo um "sinal de segurança", sendo um evento adverso que pode precisar de mais dados, pois há informações que sugerem ser causada pela administração de um medicamento ou vacina.

Um desses sinais envolve um relato de um homem de 61 anos que desenvolveu paralisia unilateral de Bell logo após receber sua primeira e segunda dose da vacina Pfizer BioNTech COVID-19. O homem desenvolveu a paralisia de Bell na primeira vez, cinco horas após a administração da primeira dose da vacina. Seis semanas depois, ele recebeu a segunda dose e desenvolveu a paralisia de Bell dois dias após a vacina.

Em ambos os casos, a paralisia facial unilateral ocorreu no lado esquerdo da face. Embora esse tenha sido um relato de caso, os pesquisadores concluíram: “A ocorrência dos episódios logo após cada dose de vacina, sugere fortemente que a paralisia de Bell foi atribuída à vacina Pfizer-BioNTech, embora uma relação determinante para a causa da mesma não possa ser confirmada.”

Em um comunicado de imprensa que acompanha a publicação desse relato de caso, foi observado que a paralisia unilateral do nervo facial havia sido relatada em ensaios clínicos da Pfizer, Moderna e AstraZeneca, às três vacinas aprovadas para serem utilizadas no Reino Unido.

O homem de 61 anos também tinha diversas comorbidades associadas ao aumento do risco de COVID, incluindo IMC alto, colesterol alto, pressão alta e diabetes tipo 2. Após ambos os incidentes, foi prescrito um fluxo de esteroides. A segunda ocorrência exigiu avaliação por otorrinolaringologista e encaminhamento ao oftalmologista.

Durante um telefonema de acompanhamento dos cientistas, o paciente compartilhou que “... foi aconselhado a discutir futuras vacinas de mRNA com o GP caso a caso, considerando o risco x benefício de ter cada vacina.” Embora esse caso seja impressionante por si só, outros estudos também demonstraram uma ligação potencial entre a paralisia de Bell e as vacinas de COVID.

Dados mostram que a vacina de COVID pode aumentar o risco de paralisia de Bell

Um artigo de junho de 2021 no Journal of the American Medical Association informou que, durante dois ensaios de vacinas de Fase 3, ocorreram 7 casos de paralisia de Bell no grupo da vacina e 1 caso no grupo do placebo. A análise nesse estudo sugeriu que a taxa de paralisia de Bell foi maior em pacientes que contraíram a doença, do que nas pessoas que receberam a vacina.

No entanto, é estranho notar que a taxa de paralisia de Bell nos grupos vacinados observados nesses estudos foi muito menor do que na população geral. Por exemplo, houve 8 casos relatados de paralisia de Bell, 7 dos quais estavam no grupo da vacina que se traduziu em uma incidência de 19 por 100.000, segundo os pesquisadores.

O grupo placebo e grupo da vacina não chegaram perto da taxa registrada na população geral, que pode variar entre 30 e 39,9 por 100.000. No entanto, em janeiro de 2022, uma série de casos e um estudo de caso-controle aninhado avaliou o risco da paralisia de Bell ocorrer nos primeiros 42 dias após o recebimento de BNT162b2, equivalente à vacina da Pfizer, ou CoronaVac fabricado pela Sinovac Biotech em Hong Kong, e descobriu números mais elevados.

Nesse caso, os dados foram coletados dos receptores da vacina entre 23 de fevereiro de 2021 e 4 de maio de 2021. Houveram 28 casos clinicamente confirmados, após a vacina CoronaVac e 16 após a vacina Pfizer. Dados mostraram que a taxa foi de 66,9 casos por 100.000 pessoas por ano para CoronaVac e 42,8 por 100.000 pessoas por ano para a Pfizer.

Outro estudo publicado em 2021, utilizou o banco de dados de farmacovigilância da Organização Mundial da Saúde (OMS) e identificou 0,6% (600 por 100.000) de paralisia de Bell. Por mais que os pesquisadores não tenham encontrado essa taxa variando de maneira significativa da taxa após outras vacinas virais, é 20 vezes maior do que a encontrada na população em geral, o que deve indicar um sinal de segurança.

Outros fatores sugerem que a incidência pode ser maior

Conforme relatado, a paralisia de Bell pode ocorrer após a primeira ou segunda vacinação. Segundo o rastreador da Bloomberg, 536 milhões de doses já foram administradas nos Estados Unidos. Conforme o VAERS, havia 13.137 casos confirmados de paralisia de Bell em 14 de janeiro de 2022. Essa é uma taxa de 24,5 por 100.000, se você considerar que cada vacina é um incidente potencial de causa da paralisia de Bell.

Embora pareça estar na faixa normalmente encontrada na população em geral, existem diversos fatores a serem considerados. Primeiro, essas são as doses administradas e não o número de pessoas que as receberam, pois, muitas pessoas receberam duas e até três vacinas.

Além disso, os dados do VAERS são notoriamente subnotificados. Uma análise recente, descobriu que o fator de subnotificação foi de 41. O que significa que pode ter ocorrido 538.617 casos de paralisia de Bell, o que tornaria a taxa de 100 por 100,00.

Mesmo que o fator de subnotificação não seja tão elevado quanto 41, a história em vídeo da paciente Brittany Galvin, demonstra que os relatórios do VAERS recebidos não são investigados de modo eficiente ou postados no banco de dados em tempo hábil. Ela gravou em áudio uma conversa feita com um investigador do VAERS, onde o mesmo disse que, apesar de seu caso ser considerado “elevado”, levaria de 13 a 19 meses desde ela relatou seus efeitos colaterais até que o caso fosse publicado no banco de dados.

Adicionado a esses desafios está o potencial que a paralisia de Bell pode desenvolver mais de um ano, após um incidente que desencadeia a condição. Um estudo publicado em 2017, avaliou a amostra de 1.025.340 indivíduos coreanos e encontrou uma incidência anual de 0,057% (57 por 100.000). Sendo assim, os pesquisadores identificaram pacientes que tiveram mastoidectomia e os compararam com os participantes do controle.

Eles descobriram que a incidência de paralisia de Bell foi três vezes maior no grupo que fez mastoidectomia, do que no grupo controle. A prevalência foi muito maior durante o primeiro ano de pós-operatório, porém os resultados mostraram que a prevalência foi 3 vezes maior no grupo mastectomia do que no grupo controle, após a análise final de 10 anos de pós-operatório.

Podem existir variações sazonais

É curioso o fato de que existem evidências de que a paralisia de Bell pode ter variações sazonais. Um artigo publicado em 2018, avaliou pacientes na Alemanha que compareceram ao pronto-socorro entre primeiro de janeiro de 2010 e 30 de junho de 2017.

Cientistas descobriram que o número de pacientes com paralisia de Bell diferiu de maneira significativa mês após mês, ao longo do ano. Havia uma probabilidade maior de que a doença fosse diagnosticada em dezembro e uma probabilidade menor em julho. Não parece existir diferença significativa na variação, quando o grupo foi estratificado por idade e sexo.

Pesquisadores reconheceram que, como a população de pacientes era hospitalar, os que tinham paralisia facial unilateral leve podem optar por consultar seu médico responsável e não ir a um pronto-socorro. Porém, eles concluíram: “Os resultados indicam que os fatores ambientais que ocorrem com mais frequência no inverno podem desempenhar um papel na patogênese da paralisia de Bell.”

Quais indicadores podem prever resultados favoráveis para a recuperação?

Pesquisadores também têm se interessado pelos indicadores fisiológicos e clínicos que podem prever resultados favoráveis. Dois estudos publicados em 2020, analisaram indicadores potenciais. O primeiro avaliou um pequeno grupo de 63 pacientes e os acompanhou durante três meses. Os pacientes foram avaliados com o sistema de pontuação de função facial House-Brackmann e eletroneuromiografia, para comparar a diferença entre os potenciais dos músculos faciais em ambos os lados da face.

Eles não encontraram diferenças significativas de fato, em pacientes com paralisia de Bell que tinham bom e mau prognóstico quando analisaram fatores como: idade, sexo, diabetes, pressão alta, dislipidemia ou grau de House-Brackmann. Eles descobriram que o melhor valor preditivo nesse grupo foi a medida da eletroneuromiografia.

O segundo estudo utilizou 1.364 pacientes diagnosticados entre 2005 e 2017. Esses pesquisadores descobriram haver diversos fatores clínicos que pareciam estar associados a resultados favoráveis, incluindo pacientes com bons resultados de eletromiografia, sem diabetes, pressão alta controlada e menor grau de paralisia medido pelo grau de House-Brackmann.

Considere tratamentos complementares

Pessoas com um novo diagnóstico de paralisia de Bell de certo modo vão receber esteroides prescritos, para recuperação da função nervosa. O NINDS recomenda que os esteroides sejam iniciados nas primeiras 72 horas dos sintomas. Embora os benefícios não tenham sido estabelecidos, os indivíduos podem apresentar maior probabilidade de recuperação com a adição de agentes antivirais no tratamento.

Porém, também existem tratamentos alternativos que podem aumentar o as chances de obter um melhor resultado. Por exemplo, segundo a Diretriz de Prática Clínica de Medicina Coreana de Paralisia Facial Idiopática, a acupuntura é uma modalidade de tratamento “muito recomendada.”

Um estudo publicado em 2019, comparou a eficácia da acupuntura comparado a medicamentos prescritos para o tratamento da paralisia de Bell, através de uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados. A revisão incluiu 11 estudos com uma amostra geral de 1.258 participantes.

A avaliação dos resultados desses 11 estudos, revelou que a acupuntura trouxe uma melhora na taxa de cura e mostrou uma diferença significativa entre os indivíduos que utilizam apenas tratamentos por medicamentos e os que utilizam medicamentos em conjunto com a acupuntura. A revisão não avaliou a segurança da acupuntura na paralisia de Bell, porém descobriu parecer ser uma terapia eficaz. No entanto, os pesquisadores alertaram:

“Os resultados da presente meta-análise, mostraram que a acupuntura foi associada ao aumento da taxa de cura e da taxa efetiva total do tratamento da paralisia de Bell, em comparação com os medicamentos. Porém, os resultados devem ser interpretados com cautela, devido à baixa qualidade e heterogeneidade dos estudos incluídos.”

Outro estudo procurou investigar, se a adição de fitoterapia com acupuntura poderia estimular uma recuperação mais rápida e se a combinação elevava o grau de recuperação comparado apenas à acupuntura sozinha. Os pesquisadores utilizaram uma revisão retrospectiva de prontuários em pacientes hospitalizados entre 2004 e 2019.

Foram 856 pacientes divididos em um grupo aonde parte receberam fitoterapia com terapia de acupuntura e outro que recebeu apenas a terapia de acupuntura. Cada um dos pacientes recebeu o mesmo conselho a respeito de dieta, exercícios e estilo de vida saudável de um médico. A medida de resultado primário foi a velocidade de recuperação e a medida de resultado secundário foi o grau de recuperação utilizando a escala de classificação facial de House-Brackmann.

Os pesquisadores descobriram, que um tratamento combinado mostrou uma maior eficácia se tratando de velocidade de recuperação e que a adição de medicamentos fitoterápicos reduziu o tempo de recuperação inicial. Porém, os pesquisadores não encontraram diferença significativa entre os grupos no grau de recuperação.

O período de acompanhamento na maioria dos estudos que avaliam a paralisia facial é cerca de 6 meses ou mais. Porém, os pesquisadores só conseguiram observar os pacientes nesse estudo por cerca de 1 mês, o que pode ter sido insuficiente para refletir as diferenças no grau de recuperação.