Por Dr. Mercola
Os indígenas utilizam a medicina tradicional à base de plantas, no tratamento e prevenção de doenças há milhares de anos. Os compostos bioativos encontrados em plantas medicinais passaram a se tornar os principais pontos de pesquisa para terapias à base de medicamentos e foram replicados em laboratório pela Big Pharma.
O manjericão sagrado, também conhecido como tulsi, (Ocimum sanctum) é uma erva medicinal muito utilizada na medicina ayurvédica devido aos vastos benefícios à saúde que a mesma oferece. Ela tem sido muito utilizada no sudeste da Ásia. Hoje em dia está se destacando cada vez mais na medicina ocidental.
A tulsi é uma poderosa erva adaptogênica, com propriedades antibacterianas, antifúngicas, anti-inflamatórias, analgésicas e antioxidantes conhecidas. Existem diversos produtos contendo a tulsi e estão disponíveis no mercado hoje em dia, incluindo chá, extrato e óleo essencial.
O manjericão sagrado é uma planta com flores da família das mentas. É considerado sagrado no hinduísmo, devido a sua associação com o Senhor Vishnu, uma das principais divindades da religião. Além das funções medicinais, a tulsi também é muito cultivada e utilizada na culinária. O sabor de menta apimentado se fortalece e se concentra durante o cozimento. Fora de sua região nativa, é considerada uma espécie invasora.
A tulsi pode crescer até 5 pés (1,52 m) no calor intenso da Índia, porém normalmente chega a atingir apenas 2 pés (0,61 m) em áreas mais temperadas. É um arbusto perene de curta duração ou planta anual, fatores esses que dependem da região. Já o manjericão, é uma erva culinária famosa, que cresce em diversas áreas e pode ser cultivada em ambientes fechados. Embora sejam do mesmo gênero, são distintamente diferentes no quesito sabor e aparência.
A tulsi pode ajudar na redução do risco de diabetes e pressão alta
Diabetes aumenta o risco de pressão alta e vice-versa. Existem evidências de que o manjericão sagrado influencia a glicose no sangue e pode ajudar na redução da pressão alta.
No ano de 1996, pesquisadores estudaram o efeito do manjericão sagrado na glicose, observado no sangue de ratos albinos. Seus resultados indicaram que a administração de manjericão sagrado pode reduzir a glicose no sangue, após efetuar um jejum e logo após consumir algum alimento. A redução dos níveis de glicose na urina seguiu a mesma tendência.
Esses resultados são semelhantes aos encontrados nos muitos anos de uso do manjericão sagrado em intervenções ayurvédicas para diabetes. Uma revisão da literatura ayurvédica, revelou diversos estudos em que o uso do manjericão sagrado auxiliava no tratamento de diabetes, hepatite, doenças cardiovasculares e doenças infecciosas.
Mais recentemente, os cientistas revisaram diversas plantas com potencial antidiabético e compostos bioativos, incluindo o manjericão sagrado. As folhas da planta contêm eugenol, ácido ursólico, carvacrol e linalol. A tulsi também é rica em vitaminas, minerais, clorofila e outros fitonutrientes, incluindo flavonóides, saponinas e triterpenóides.
As folhas estimulam a secreção de insulina e reduzem os níveis séricos de cortisol e glicose em um modelo animal. Também demonstrou um efeito hipoglicemiante dependente da dose em outro estudo realizado em animais. Em uma pesquisa de banco de dados contendo estudos realizados em humanos, os resultados mostraram que a tulsi mostrou eficácia na redução da glicemia em jejum e dos níveis de colesterol em pacientes com mais de 40 anos, sem alterar o perfil lipídico geral.
O manjericão sagrado possui propriedades anti-inflamatórias, que podem ajudar na redução da pressão arterial. Um estudo de 2016, mostrou que manjericão e cravo-da-índia podem reduzir a pressão arterial sistólica e diastólica, em um modelo animal quando comparado ao grupo controle.
A tulsi pode ajudar na boa aparência da pele e dos dentes
A tulsi é benéfica para a pele de diversas maneiras. Pode ajudar na redução do eczema e a psoríase, além de auxiliar no tratamento de infecções por estafilococos na pele. O óleo essencial possui atividade antifúngica e antibacteriana.
Como mencionado, as folhas possuem ácido ursólico, muito utilizado na indústria cosmética, pois ajuda na remoção de rugas e melhorar a elasticidade da pele. A medicina ayurvédica utiliza a tulsi em uma aplicação tópica com pimenta-preta no tratamento de micose e como uma pasta na pele para ajudar na redução contra irritação decorrente da picada de insetos.
Na prática da medicina ayurvédica, a tulsi é chamada “incomparável”, “mãe da medicina da natureza” e “rainha das ervas”. A referência é uma vasta gama de benefícios para a saúde que os profissionais encontraram. Isso inclui: tratamento de doenças de pele, micose e uma variedade de outras condições de saúde que afetam os sistemas respiratório, digestivo, circulatório e neurológico.
O extrato de manjericão sagrado também pode ajudar na boa aparência de seus dentes e gengivas. Em um estudo publicado em 2014, os pesquisadores compararam um enxaguante bucal contendo manjericão sagrado, com água estéril e clorexidina. Foi descoberto que o extrato de manjericão sagrado inibe os patógenos periodontais em diversas concentrações com a mesma eficácia que a clorexidina.
Os pesquisadores sugerem que o efeito antiplaca pode apresentar benefícios profiláticos. No entanto, os praticantes ayurvédicos alertam contra a mastigação das folhas. As folhas contêm abundância de mercúrio e ferro, liberados quando você as mastiga.
Além de serem ácidos. Os praticantes recomendam começar o dia com 2 a 3 folhas frescas e de estômago vazio. Porém, realizar isso todos os dias, pode causar descoloração e desgaste anormal do esmalte dos dentes.
Protege contra infecções
Uma revisão no Journal of Ayurveda and Integrative Medicine, chamou a tulsi de “erva para tudo”, observando ser eficaz contra “uma diversidade de patógenos humanos e animais” com atividade antimicrobiana de amplo espectro, sugerindo até mesmo que pode ser uma espécie de desinfetante para as mãos, purificador de água, além de ser benéfica na cicatrização de feridas.
A tulsi também é uma das ervas em Ayush Kwath, uma fórmula de ervas ayurvédica recomendada pelo governo da Índia para aumentar a imunidade e combater o COVID-19. Após uma revisão da literatura de Ayush Kwath, os pesquisadores sugeriram que:
“Ayush Kwath devido às suas propriedades imunomoduladoras, antivirais, antioxidantes, anti-inflamatórias, antiplaquetárias, antiateroscleróticas, hepatoprotetoras, renoprotetoras; parece ser eficaz na imunorregulação para o controle de infecções virais como o COVID-19.”
De acordo com uma pesquisa publicada em 2017 na Nature Plants: “Enquanto o reino vegetal continua a servir como uma fonte importante para entidades químicas que apoiam a descoberta de remédios, as ricas tradições da medicina herbal desenvolvida por tentativa e erro em seres humanos ao longo de milhares de anos contêm informações biomédicas inestimáveis esperando para serem descobertas usando abordagens científicas atuais.”
O uso de fitoterapia tradicional para o tratamento de doenças respiratórias ganhou interesse renovado durante a pandemia. O tratamento com plantas é recomendado para crianças e adultos com COVID-19. Na China, e o interesse por remédios tradicionais também está crescendo nos EUA. A fitoterapia é um poderoso arsenal na prevenção e no tratamento de doenças respiratórias como resfriados, gripes e COVID-19.
Como elas contêm vários componentes benéficos que atuam em sinergia para promover o bem-estar, as plantas são únicas. É dito que o Tulsi ajuda protege contra diversas infecções bacterianas, incluindo do trato urinário, dérmicas causadas por Staphylococcus aureus, entre outras bactérias e infecções do trato respiratório, como a pneumonia.
Pode aliviar o estresse, ansiedade e aumentar a função cognitiva
Após a pandemia, cerca de 80% das pessoas que participaram de pesquisas, relataram ter emoções associadas ao estresse prolongado. O relatório da American Psychological Association em fevereiro de 2021, revelou níveis mais elevados de estresse do que nos anos anteriores e muitos entrevistados também relataram sentir-se ansiosos, tristes e com raiva.
O diretor-executivo da American Psychological Association, alertou que “sem abordar o estresse como parte de um plano nacional de recuperação, estaremos lidando com as consequências da saúde mental dessa pandemia nos próximos anos.”
Uma das causas de níveis elevados de estresse é o uso de drogas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, relatam que houve uma estimativa de 100.306 mortes por overdose de drogas no período de 12 meses, sendo encerrado em abril de 2021. Isso representa um aumento de 28,5% no mesmo número de mortes durante o mesmo período do ano anterior.
Um estudo isolou extratos de manjericão sagrado, testados em um modelo animal onde o estresse agudo foi induzido por alterações bioquímicas. Diversos dos compostos mostraram efeitos antiestresse promissores quando utilizados de forma independente, pois normalizaram a hiperglicemia sérica, corticosterona, creatinina quinase e hipertrofia adrenal, que ocorre em situações de estresse elevado.
Um segundo estudo, utilizou a tulsi contra transtornos de ansiedade generalizada, em um grupo de 35 participantes com idade média de 38,4 anos. Os resultados mostraram que o tratamento amenizou de maneira significativa os transtornos de ansiedade e a correlação, entre estresse e depressão. Pesquisadores concluíram, que o manjericão sagrado pode ser considerado um tratamento útil e um “agente ansiolítico promissor nos próximos anos.”
Os distúrbios de estresse podem aumentar o risco de desenvolver demência em quase 3 vezes mais. A associação foi vista mais em homens do que em mulheres, exceto nas que apresentavam transtorno de estresse pós-traumático.
É curioso o fato de que um estudo realizado em animais, mostrou que o manjericão sagrado pode ajudar a administrar a disfunção cognitiva induzida em animais, melhorando assim a função cognitiva naqueles que fazem a intervenção. Em um estudo realizado em humanos, pesquisadores analisaram o efeito que a tulsi teria na cognição e no estresse, com cápsulas de 300 mg de extrato de folhas administradas durante 30 dias.
Os pesquisadores compararam o grupo de intervenção com um grupo placebo, medindo o tempo de reação e as taxas de erro nos testes, bem como o cortisol salivar e utilizando o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). Eles descobriram que aqueles que ingeriam o extrato da folha apresentavam propriedades potenciais de aprimoramento cognitivo.
Erva impressionante, porém não faz mágica
É importante destacar que embora o manjericão sagrado tenha uma lista impressionante de benefícios para a saúde, ele não faz mágica. Em geral, você não pode depender de um suplemento ou apenas uma erva para manter sua saúde e bem-estar a níveis ideais. É de fato importante implementar outras estratégias de estilo de vida para obter uma saúde ideal.
Isso inclui: otimizar sua dieta, fazer exercícios regulares, minimizar sua exposição a toxinas ambientais e ter um sono de qualidade todas as noites. Existem diversas precauções que você deve ter, caso esteja pensando em fazer uso do manjericão sagrado como suplemento.
Existe pouco ou nenhum estudo avaliando a segurança da suplementação de manjericão sagrado durante a gravidez; enquanto o mesmo pode parecer benéfico para sua saúde, não existe uma indicação clara dizendo ser seguro para o feto. Mulheres grávidas ou em processo de amamentação não devem consumir manjericão sagrado.
Além disso, houve dois estudos realizados em animais que sugerem que o uso em excesso pode afetar de maneira negativa a fertilidade. Uma revisão dos efeitos em humanos publicada em 2020, descobriu que o excesso de manjericão sagrado pode desencadear danos ao fígado, náusea, diarreia e batimentos cardíacos acelerados.
As ervas também possuem compostos biologicamente ativos, como ácido ursólico ou eugenol em tulsi, podendo reagir com compostos de outros suplementos ou medicamentos. Pode ser complexo trabalhar com ervas, porém você obterá seus melhores resultados trabalhando com um profissional de saúde natural experiente que pode orientá-lo sobre as soluções apropriadas para suas circunstâncias.