Identificados os Principais Fatores de Risco Ambiental para Demência

cérebro humano apagado

Resumo da matéria -

  • A doença de Alzheimer afeta atualmente cerca de 5,4 milhões de americanos. Estima-se que até 2050, os diagnósticos de Alzheimer triplicarão
  • A Doença de Alzheimer compartilha muitos fatores de risco com doenças cardíacas. Isso inclui tabagismo, consumo de álcool, diabetes, altos níveis de açúcar no sangue em jejum, resistência à insulina, obesidade e pressão alta

Por Dr. Mercola

"Demência" é um termo genérico que abrange uma série de doenças e problemas neurológicos que se desenvolvem quando os neurônios no cérebro morrem ou deixam de funcionar normalmente. A morte ou mau funcionamento dos neurônios causa mudanças na memória, no comportamento e na capacidade de pensar.

A doença de Alzheimer, que é a forma mais séria de demência, finalmente leva à incapacidade de realizar até as mais básicas funções orgânicas, como engolir ou andar. A doença de Alzheimer é fatal, pois as opções de tratamento convencionais são poucas e limitadas em eficácia. Considerando que não há cura conhecida e tão poucos tratamentos, a prevenção é vital.

Identificados os Principais Fatores de Risco Ambiental

Tal como acontece com o autismo, é razoável suspeitar que uma variedade de fatores atue, contribuindo coletivamente para o rápido aumento da prevalência de Alzheimer.

Especialistas em Alzheimer do Centro de Pesquisas de Demência da Universidade de Edimburgo na Escócia, compilaram uma lista dos principais fatores de risco ambiental os quais acredita-se estarem contribuindo para a epidemia. Conforme relatado pela BBC News:

"É sabido que a demência está associada a fatores relacionados ao estilo de vida, como hipertensão arterial na meia-idade, tabagismo, diabetes, obesidade, depressão e baixa escolaridade, além de fatores genéticos.

Mas pesquisadores de Edimburgo disseram que um terço do risco de demência é inexplicável e querem determinar se outras questões estão em jogo, incluindo o meio ambiente."

Não é de surpreender (se você estiver prestando atenção à pesquisa), que deficiência em vitamina D, poluição do ar e exposição a pesticidas ocupacionais estão no topo desta lista. Também há evidencias "limitadas, mas robustas" sugerindo que viver perto de linhas de energia pode influenciar sua suscetibilidade à demência.

Todas as Formas de Poluição do Ar Aumentam o Risco de Demência

O fator de risco com a mais robusta entidade de pesquisa por trás é a poluição do ar. Na verdade, não conseguiram encontrar um único estudo que não mostrasse uma associação entre exposição à poluição do ar e demência. Partículas, óxidos nítricos, ozônio e monóxido de carbono foram todos associados a um risco elevado.

Além de aumentar o risco de demência, um recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre mortes relacionadas ao meio ambiente afirma que 1 em cada 4 mortes no mundo estão relacionadas a viver e trabalhar em ambiente tóxico - sendo a poluição aérea o maior contribuinte para esse risco. Conforme observado pela diretora-geral da OMS, Dra. Margaret Chan:

"Um ambiente saudável sustenta uma população saudável. Se os países não tomarem medidas para criar ambientes onde as pessoas vivam e trabalhem com saúde, milhões continuarão doentes e morrerão muito jovens."

Durante a Assembleia Mundial da Saúde, realizada em maio de 2016, a OMS prometeu “propor um guia para aumentar a resposta global do setor de saúde para reduzir os efeitos da poluição do ar."

Poluição, Diabetes e Demência

Pesquisadores americanos também alertaram que a exposição à poluição do ar por apenas um ou dois meses pode ser suficiente para aumentar seu risco de desenvolvimento de diabetes — especialmente se você for obeso.

A diabetes, por sua vez, é um fator de risco significativo para a doença de Alzheimer, dobrando suas chances de contrair essa forma devastadora de demência. Houve até uma tentativa de chamar a doença de Alzheimer de diabetes tipo 3 em dado momento.

Pesquisas recentes também confirmaram que, quanto maior a resistência à insulina de um indivíduo, menos açúcar ele tem em partes importantes de seu cérebro, e essas áreas normalmente correspondem às áreas afetadas pela doença de Alzheimer.

Não é preciso mencionar que o contribuinte mais significativo para a resistência à insulina e diabetes tipo 2 não é a poluição, mas sim a alimentação. Mais especificamente, alimentar-se com uma dieta excessivamente rica em carboidratos líquidos (carboidratos totais menos fibra) e com baixíssimo teor de gorduras saudáveis, o que discutirei mais adiante, pode contribuir para a resistência à insulina.

Exposição Sensata ao Sol é Importante para a Saúde Cerebral

O Centro Escocês de Pesquisa sobre a Demência também observou que há uma associação muito clara entre deficiência em vitamina D e demência. De fato, estudos demonstraram que a vitamina D desempenha função crítica na saúde do cérebro, função imunológica, expressão gênica e inflamação - todas as quais influenciam a doença de Alzheimer.

Em um estudo realizado em 2014, considerado o estudo mais robusto de sua espécie na época, pessoas que apresentavam deficiência grave em vitamina D tinham risco 125% maior de desenvolver alguma forma de demência em comparação com aquelas com níveis normais. Segundo os autores:

"Nossos resultados confirmam que a deficiência em vitamina D está associada a um risco substancialmente maior de desenvolvimento de demência por todas as causas e doença de Alzheimer. Isso aumenta o debate em progresso sobre a função da vitamina D em condições não esqueléticas."

Resultados também sugerem que há um nível limite de vitamina D circulante, abaixo do qual aumenta-se o risco de demência. Identificou-se que este limite fica em torno de 20 nanogramas por mililitro (ng/ml) ou 50 nanomoles por litro (nmol/L). É importante reconhecer que níveis mais elevados estão associados a uma melhor saúde do cérebro.

Com base em uma visão mais ampla dos dados científicos disponíveis, 20 ng/ml ainda é muito baixo, já que a maior parte da pesquisa sugere que uma faixa saudável está entre 40 a 60 ng/ml, certamente não inferior a 40 ng/ml. Infelizmente, a grande maioria das pessoas é severamente deficiente nesta vitamina, em grande parte porque foram enganadas a temer a exposição ao sol.

Pesquisadores estimaram previamente que metade da população em geral está em risco de deficiência ou insuficiência de vitamina D. Entre os idosos, essa estimativa chega a 95%. Isso sugere que a vitamina D pode ser um fator muito importante para prevenção bem sucedida na população em geral.

Uma grande variedade de tecido cerebral contém receptores de vitamina D e, quando ativados pela vitamina D, facilita o crescimento dos nervos no cérebro.

Pesquisadores também acreditam que possuir níveis otimizados de vitamina D aumenta os níveis de substâncias químicas cerebrais importantes e protegem as células cerebrais, aumentando a eficácia das células da glia na saúde dos neurônios danificados.

A vitamina D também pode exercer alguns de seus efeitos benéficos no cérebro através de suas propriedades anti-inflamatórias e de reforço imunológico, que já estão bem estabelecidas.

A Saúde do Coração e a Saúde do Cérebro Estão Intimamente Associadas

Pode ser útil recordar que o Alzheimer compartilha muitos fatores de risco com doenças cardíacas. Isso inclui tabagismo, consumo de álcool, diabetes, níveis elevados de açúcar no sangue em jejum, resistência à insulina e obesidade.

A rigidez arterial (aterosclerose) está associada a um processo característico da doença de Alzheimer, ou seja, o acúmulo de placa beta-amiloide no cérebro.

A American Heart Association (Associação Americana do Coração - AHA) também adverte que há uma forte associação entre hipertensão e doenças cerebrais, como o comprometimento cognitivo vascular (perda da função cerebral causada pelo fluxo sanguíneo prejudicado em seu cérebro) e demência.

Em um ensaio clínico, os indivíduos testados que consumiram xarope de milho com alto teor de frutose (HFCS) desenvolveram fatores de risco mais elevados para doenças cardiovasculares em apenas duas semanas, demonstrando o quão influente sua alimentação pode ser para o coração e para a saúde cerebral a longo prazo.

Tais conclusões combinam bem com as conclusões do neurologista Dr. David Perlmutter, autor de "Grain Brain" (Cérebro de Grão) e "Brain Maker" (Formador do Cérebro), que concluiu que qualquer coisa que promova resistência à insulina também aumentará o risco de Alzheimer.

Exercícios São Importantes para a Prevenção de Alzheimer

A boa notícia é que as escolhas de estilo de vida, como alimentação, exercícios e sono, podem promover impacto significativo no risco. Como observado anteriormente pelo Dr. Richard Lipton da Faculdade de Medicina Albert Einstein - onde estudam o envelhecimento saudável - mudanças no estilo de vida "parecem mais promissoras do que os estudos feitos com medicamentos até agora" quando trata-se de tratamento de doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer.

Exercícios, por exemplo, demonstraram proteger o cérebro contra a doença de Alzheimer e outros tipos de demência, e também melhora a qualidade de vida se você já tiver sido diagnosticado. Em um estudo realizado, pacientes diagnosticados com Alzheimer de leve a moderado que participaram de um programa de exercícios supervisionado por quatro meses tiveram significativamente menos sintomas neuropsiquiátricos associados à doença (especialmente velocidade mental e atenção) do que o grupo controle que não se exercitou.

Outros estudos demonstram que o exercício aeróbico ajuda a reduzir os níveis de tau no cérebro. (Lesões cerebrais conhecidas como taupatias se formam quando a proteína tau colapsa em fios torcidos que acabam matando as células do cérebro.) De acordo com a coautora Laura Baker:

"Essas conclusões são importantes porque sugerem fortemente que uma intervenção potente no estilo de vida, como a prática de exercícios aeróbicos, pode afetar as alterações relacionadas ao Alzheimer no cérebro. Nenhum medicamento atualmente aprovado pode rivalizar com esses efeitos."

Função cognitiva e memória também podem ser melhoradas através da prática de exercícios regulares, e esse efeito está, em parte, relacionado ao efeito que o exercício exerce sobre a neurogênese e no recrescimento das células cerebrais. Ao direcionar a via genética chamada fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), exercícios, na verdade, promovem o crescimento e a conectividade das células cerebrais.

Em um estudo realizado por um ano, idosos que se exercitaram aumentaram e expandiram o centro de memória do cérebro em até 2% ao ano, onde normalmente esse centro encolhe conforme envelhecemos. Também foi sugerido que exercícios podem desencadear uma mudança na forma como a proteína precursora do amiloide é metabolizada, retardando assim o início e a progressão da doença de Alzheimer.

Exercícios também aumentam os níveis de proteína PGC-1alfa. Pesquisas mostraram que pessoas com Alzheimer têm menor quantidade dessa proteína em seus cérebros e que as células que contêm mais proteína produzem menos proteína tóxica amiloide associada à doença de Alzheimer.

Alimentação para a Saúde do Cérebro

Reduzir os carboidratos líquidos e aumentar o consumo de gordura saudável é outra parte importante da equação, e meu plano nutricional otimizado pode colocar você no caminho certo neste ponto.

Pesquisa realizada pela Clínica Mayo revelou que dietas ricas em carboidratos estão associadas a um aumento de 89 por cento no risco de demência, enquanto dietas ricas em gordura estão associadas a um risco reduzido de 44 por cento.

Perlmutter coloca a maioria de seus pacientes em dieta cetogênica, rica em gordura e baixa em carboidratos, sem glúten, juntamente com exercícios receitados. Uma das maneiras mais fáceis de otimizar sua dieta é certificar-se de que você está consumindo apenas alimentos de verdade.

Evite alimentos processados de todos os tipos, pois eles contêm vários ingredientes prejudiciais ao cérebro, incluindo açúcar refinado, frutose processada, grãos (particularmente glúten), ingredientes geneticamente modificados (GM) e pesticidas como glifosato (herbicida considerado pior que o DDT, que já foi associado à doença de Alzheimer). A opção por produtos orgânicos ajudará você a evitar pesticidas tóxicos.

Também opte por carnes orgânicas e produtos produzidos com animais alimentados com capim, já que animais criados em operações concentradas de alimentação animal (CAFOs) são rotineiramente alimentados com grãos transgênicos contaminados com pesticidas, juntamente com uma variedade de medicamentos.

Alguns pesquisadores até sugeriram que a doença de Alzheimer pode ser uma forma de ação lenta da doença da vaca louca, adquirida pela ingestão de carnes contaminadas. É uma teoria bastante convincente, considerando a doença da vaca louca originada no sistema CAFO, onde herbívoros são forçados a consumir partes de animais.

Para Proteger seu Coração e seu Cérebro, Troque o Açúcar por Gorduras Saudáveis e Outras Dicas Úteis

Idealmente, você deve tentar manter os níveis de açúcar adicionado a um mínimo e a frutose total abaixo de 25 gramas por dia, ou até 15 gramas por dia, se você já tiver resistência à insulina/leptina ou qualquer distúrbio relacionado.

Gorduras saudáveis para adicionar à sua dieta incluem abacates, manteiga produzida a partir de leite orgânico cru proveniente de animais alimentados com capim, gema orgânica de ovos provenientes de animais alimentados com pasto, óleo MCT, coco e óleo de coco (o óleo de coco, e para um grau ainda maior o óleo MCT, mostraram-se promissores para tratar o Alzheimer) e nozes cruas, como noz-pecã e macadâmia, ambas com uma proporção quase ideal de proteínas e gorduras saudáveis.

Evite todas as gorduras trans ou gorduras hidrogenadas que foram modificadas de forma a prolongar sua vida útil na prateleira do mercado. Isso inclui margarina, óleos vegetais e vários tipos de manteiga. Também é aconselhável:

  • Evitar glúten — Pesquisas demonstraram que a barreira hematoencefálica é afetada negativamente pelo glúten. O glúten também torna seu intestino mais permeável, o que permite que as proteínas entrem na corrente sanguínea, onde elas sensibilizam o sistema imunológico e promovem a inflamação e a autoimunidade, as quais desempenham função no desenvolvimento da doença de Alzheimer.
  • Otimizar sua saúde intestinal evitando alimentos processados, antibióticos e produtos antibacterianos, água fluoretada e clorada e consumindo regularmente alimentos tradicionalmente fermentados e cultivados, junto com probiótico de alta qualidade, se necessário.
  • Otimizar seus níveis de vitamina D — Isso é feito idealmente através da exposição sensata ao sol, mas como último recurso, suplementos de vitamina D3 são melhores do que nada. Apenas certifique-se de aumentar a ingestão de vitamina K2 se consumir um suplemento oral de vitamina D. Quanto à dosagem, a dose "certa" é aquela que manterá o seu nível sanguíneo entre 40 e 60 ng/ml.
  • Melhorar seus níveis de magnésio — O magnésio não apenas funciona em conjunto com a vitamina D e K2, mas pesquisa preliminar também sugere que possuir níveis mais elevados de magnésio no cérebro ajuda a diminuir os sintomas de Alzheimer. O treonato de magnésio é um dos poucos suplementos de magnésio que parece ser capaz de atravessar a barreira hematoencefálica, tornando-se minha escolha favorita.
  • Aumentar a ingestão de ômega-3 de origem animal — Eu prefiro óleo de krill ao óleo de peixe, pois o óleo de krill também contém astaxantina, que parece ser particularmente benéfico para a saúde do cérebro.