Por Dr. Mercola
Pesquisas sobre o condicionamento físico moderno vêm lembrar que a atividade física é um dos melhores "remédios preventivos" para muitos males comuns, de transtornos psiquiátricos a doenças cardíacas, diabetes e câncer.
Muitos estudos também confirmaram que passar longos períodos sentado é um fator independente de risco de doenças e morte prematura. Portanto, não é de se surpreender que a inatividade possa estar custando dezenas de bilhões de dólares todos os anos para a economia global em termos de gastos com saúde e perda de produtividade.
Conforme relatado pela Reuters, entre outros, um estudo recente que analisou os dados de 1 milhão de indivíduos em todo o mundo descobriu que a falta de atividade física teve um custo global de 67,5 bilhões de dólares em 2013.
Desse total, US$ 32,2 foram arcados pelo setor público, US$ 12,9 pelo setor privado e US$ 9,7 por lares domésticos. De acordo com as descobertas, uma hora de exercício por dia pode cortar a maior parte dessas despesas.
Segundo os pesquisadores, a inatividade também é culpada por mais de 5 milhões de mortes todos os anos. Para se ter ideia, em termos de fator de risco, o tabagismo mata cerca de 6 milhões por ano.
Exercícios e movimentos que não são propriamente exercícios têm igual importância
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, no mínimo, 150 minutos de exercício moderado por semana, mas pode ser que isso não seja o suficiente, de acordo com os pesquisadores do estudo mencionado.
Ulf Ekelund, Ph.D., cientista sênior em condicionamento físico e professor da Escola Norueguesa de Ciências Esportivas e da Universidade de Cambridge, contou à Reuters:
"Você não precisa praticar esportes ou frequentar academia... mas tem que [se movimentar] pelo menos uma hora por dia", disse ele. E citou como exemplo uma caminhada de 5,6 km em uma hora (km/h) ou uma pedalada de 16 km/h.
Eu sempre salientei que os movimentos que não são propriamente exercícios, como ficar de pé no trabalho e caminhar, são tão importantes quando uma rotina de treinos. Por outro lado, a pesquisa também aponta que ter uma rotina de exercícios é tão importante quanto manter-se ativo e evitar se sentar. Como observado pela Reuters:
"As pessoas que permaneciam sentadas oito horas por dia, mas eram ativas, apresentaram menor risco de morte prematura do que aquelas que passavam menos horas sentadas, mas que também eram menos ativas, sugerindo que o exercício seja particularmente importante, independentemente de quantas horas se passe sentado por dia.
De acordo com as descobertas, o maior risco de morte prematura foi atribuído a pessoas que passavam longos períodos sentadas e não praticavam exercícios..."
Em suma, você precisa das duas coisas. Quanto mais tempo sentado, de mais exercício você precisa. Por outro lado, embora menos tempo sentado se traduza em menor necessidade de exercício, isso não exclui o fato de que você precisa se exercitar.
Mas de quanto movimento e exercício regrado você precisa exatamente? Pesquisas anteriores forneceram valiosas pistas que merecem atenção.
De quanto exercício você precisa?
Um estudo impressionantemente extenso, que analisou os hábitos de exercício e a saúde de 661.000 adultos, revelou que, na verdade, existe uma "zona habitável" na qual o exercício gera os maiores benefícios para a saúde e a longevidade.
Como esperado, esse estudo confirmou que quem não prarica nenhum tipo de exercício aprsenta o maior risco de morte prematura. Mas algumas de suas descobertas foram mais intrigantes:
- Aqueles que se exercitavam, mas não atendiam à recomendação de 150 minutos de exercício moderado por semana, apresentaram 20% a menos de risco de morte prematura.
- Aqueles que atendiam à recomendação de 150 minutos de exercício moderado por semana apresentaram 31% a menos de risco de morte prematura durante o período de 14 anos do estudo, em comparação com aqueles que não se exercitavam.
- Triplicar a quantidade recomendada de exercício resultou no maior dos benefícios. Aqueles que praticavam 450 minutos por semana (7,5 horas na semana ou pouco mais de uma hora por dia) de exercício moderado, como caminhada, apresentaram 39% a menos de risco de morte prematura, em comparação com quem não se exercitava.
- Aqueles que se exercitavam 10 vezes acima do nível recomendado apresentaram uma redução do risco de mortalidade semelhante à daqueles que atendiam à recomendação de 150 minutos por semana.
Um segundo estudo de larga escala, cujo enfoque foi a intensidade dos exercícios, descobriu que aumentar a intensidade de tempos em tempos também teve um impacto definitivo na saúde e longevidade. Esse estudo contou com os dados de pesquisa de saúde de mais de 200.000 adultos.
Gastar até 30% do tempo semanal de exercícios com atividades de alta intensidade levou a um risco de morte prematura 9% menor em comparação com o mesmo tempo de exercício a um ritmo consistentemente moderado.
O maior benefício foi encontrado entre aqueles que gastavam MAIS de 30% do tempo de exercício com atividades de alta intensidade. Esse grupo demonstrou uma diminuição extra de 13% do risco de morte prematura em comparação com aqueles que praticavam uma quantidade igual de exercícios, só que de intensidade baixa a moderada.
Em suma, os dados sugerem que, para ter o máximo de saúde e longevidade, você deve praticar, no mínimo, 7,5 horas de exercício por semana (cerca de uma hora por dia) e gastar pelo menos 2h15 por semana (vinte minutos por dia) com exercícios de maior intensidade.
De quanta atividade sem exercício você precisa?
A outra pergunta é: De quanta atividade geral ou movimentos que não são propriamente exercícios você precisa? Responder essa pergunta é um pouco mais difícil, mas, em geral, parece seguro dizer que, quanto mais melhor. Alguns estudos oferecem pistas gerais.
Por exemplo, um estudo recente, publicado no American Journal of Preventive Medicine, descobriu que passar mais de três horas por dia sentado é responsável por 3,8% da mortalidade geral nos 54 países pesquisados.
Os pesquisadores concluíram que reduzir o tempo que se passa sentado para menos de três horas por dia pode aumentar sua expectativa de vida em 2,4 meses.
Reduzir em 50% o tempo que se passa sentado (ou seja, 4,7 horas por dia) resultaria num declínio de 2,3% da mortalidade geral. Pode não parecer muito, mas o valor real não consiste necessariamente em viver mais tempo, mas em ter mais saúde enquanto ainda se está vivo.
Os movimentos que não são propriamente exercícios melhoram a saúde geral
Conforme explicado pelo Dr. James Levine, que dedicou grande parte de sua carreira a investigar os efeitos do tempo que se passa sentado para a saúde, o simples ato de se levantar é responsável pela ativação de uma série de funções moleculares.
Com 90 segundos de pé, os sistemas celular e muscular que processam o açúcar no sangue, os triglicérides e o colesterol — mediados pela insulina — são ativados.
Esses efeitos moleculares são ativados simplesmente pelo fato de carregar o peso do corpo sobre as pernas. Esses mecanismos celulares também são responsáveis por levar combustível para dentro das células. Quando repetido com frequência, pode diminuir drasticamente o risco de diabetes e obesidade. A pesquisa de Levine revela que, a nível molecular, seu corpo foi criado para estar na vertical e em movimento o dia inteiro.
De acordo com Levine, quando você para de se movimentar por períodos prolongados, como quando você passa o dia inteiro sentado numa mesa, trabalhando no computador, é como se você estivesse dizendo ao seu corpo que é hora de desligar; não há necessidade de manter as funções que sustentam a vida, pois a inatividade sinaliza que o organismo (você) está se preparando para a morte.
Então, embora você certamente precise se sentar e descansar de vez em quando, é o repouso que deve interromper a atividade, não o contrário. A postura assumida quando se está sentado em uma cadeira ou sofá também causa um impacto adverso no metabolismo.
Além de ruim para as costas e o pescoço, também desativa "os sistemas fundamentais de abastecimento que integram o que está acontecendo na corrente sanguínea com o que se passa nos músculos e nos tecidos", diz Levine.
Por exemplo, fica sentado provoca um aumento nos níveis de açúcar no sangue, na pressão arterial, no colesterol e no acúmulo de toxinas, todos com consequências adversas para a saúde ao longo do tempo.
Pouca atividade física é o segundo maior fator de risco de morte prematura, ficando atrás apenas do tabagismo
Em paralelo, outro estudo recente descobriu que pouca atividade aeróbica (medida por VO2 máximo) é o segundo maior fator de risco de morte prematura, ficando atrás apenas do tabagismo. Nesse estudo, foram analisados mais de 790 homens de meia idade ou mais velhos, e "cada aumento mensurável no nível de condicionamento físico traduziu-se 21% a menos de risco de morte ao longo dos 45 anos de acompanhamento", relata o site Medicinenet.com.
O tabagismo foi o fator de risco mais significativo para a morte prematura, mas a capacidade aeróbica foi um fator mais influente do que o colesterol alto e a pressão alta. Dr. William Zoghbi, chefe de cardiologia do Hospital Metodista de Houston, no Texas, disse ao Medicinenet.com:
"O mais surpreendente da descoberta é que [o condicionamento físico] é prognosticamente importante muitos anos mais tarde. Nós já tínhamos ouvido que o condicionamento físico é, de fato, um fator determinante para a longevidade. Este estudo sustenta isso."
Uma variedade equilibrada é o segredo para ter saúde e longevidade
Mesmo que faça a melhor dieta do mundo, você ainda precisa permanecer ativo e se exercitar regularmente se quiser potencializar sua saúde e longevidade. Sempre costumo comparar os exercícios a um remédio, tendo em vista a seguinte perspectiva: ambos precisam da dosagem certa para se colher os benefícios desejados.
Uma forma de ver o impacto e os benefícios dos movimentos que não são exercícios e os exercícios propriamente ditos, é que o primeiro ajuda a melhorar a saúde e a qualidade de vida, enquanto o segundo pode ajudá-lo a viver com saúde por muito mais tempo. Ambos são importantes.
Quanto ao melhor investimento de tempo semanal, lembre que os maiores resultados para a longevidade foram encontrados entre aqueles que praticavam de 150 a 450 minutos de exercício por semana, grande parte dos quais com atividades de intensidade moderada, como caminhada.
A inclusão de sessões de atividade intensa pode contribuir ainda mais para a longevidade. Quanto aos movimentos que não são propriamente exercícios, a recomendação geral é de não passar mais do que 3 horas por dia sentado.
Na análise final, um dos segredos para potencializar a saúde é permanecer o mais ativo que puder, o dia inteiro. Sempre que tiver a chance de se movimentar e alongar o corpo no decorrer do dia, faça isso.
E embora não tenha sido destacado em nenhum dos estudos discutidos aqui, a melhor aposta é incorporar uma ampla variedade de atividades, incluindo exercícios de fortalecimento do core, musculação, alongamentos e atividades de alta intensidade.
O treino intervalado de alta intensidade (HIIT) aumenta a produção do hormônio do crescimento humano (hGH), que é fundamental para a saúde, força, vigor e, claro, longevidade.