O que a poluição atmosférica faz com seu corpo

poluição atmosférica

Resumo da matéria -

  • Em Abril de 2019, Londres inaugurou uma área de emissão ultra baixa na região central da cidade, que vai custar aos motoristas mais de $16 por dia para dirigir nesse espaço, a menos que eles atendam a certos padrões restritos com relação a emissões de poluentes
  • A exposição à poluição atmosférica também foi associada com o nascimento de bebês com peso abaixo da média, lentidão no desenvolvimento intra-uterino, parto de natimortos, anomalias congênitas e problemas no desenvolvimento cerebral dos fetos
  • Viver em uma área com níveis mais elevados de poluição do ar também está associado ao desenvolvimento de diabetes Tipo 2 em adultos, bem como à funções cognitivas reduzidas, doenças cardíacas e transtornos do sono
  • A poluição atmosférica resultante do cultivo de milho está associada a 4.300 mortes prematuras por ano, com os danos associados à essas plantações estimados entre $14 e $64 bilhões

Por Dr. Mercola

Em Abril de 2019, Londres inaugurou uma área de emissão ultra baixa na região central da cidade, que vai custar aos motoristas mais de $16 por dia para dirigir nesse espaço, a menos que eles atendam a certos padrões restritos com relação a emissões de poluentes. Espera-se que essa ação reduza as emissões de veículos motorizados em torno de 45 por cento na área central Londres.

Setenta e dois por cento dos adultos de Londres dizem apoiar essa medida para taxar os veículos poluentes, ao passo que o prefeito de Londres, Sadiq Khan, descreveu a poluição do ar na cidade como uma “emergência de saúde pública”. No Reino Unido, a poluição atmosférica causa cerca de 40.000 mortes por ano, ecoando taxas de mortalidade similares em todo o mundo como resultado da poluição do ar.

Uma pesquisa publicada no periódico The Lancet revelou que 9 milhões de mortes prematuras foram causadas pela poluição em 2015, o que representa 16 por cento das mortes em todo o mundo — “três vezes mais mortes do que são causadas pela AIDS, tuberculose e malária juntas, e 15 vezes mais do que todas as guerras e outras formas de violência”, escreveram os pesquisadores.

Os danos causados pela poluição atmosférica começam no útero

Respirar um ar poluído causa danos sutis e perigosos que começam no útero e acumulam durante toda sua vida. Somente nos EUA, mais de 3 por cento dos nascimentos prematuros foram atribuídos à poluição atmosférica, especificamente ao material particulado (PM 2.5, do inglês, particulate matter) no ar.

PM 2.5 se refere à poeira, sujeira, fuligem e fumaça — partículas com menos de 2.5 micrômetros de diâmetro. Esse é o tipo mais estudado de poluição atmosférica. Essas partículas podem ser absorvidas pelo seu corpo e causar inflamações crônicas, o que por sua vez aumenta seu risco de desenvolver uma série de problemas de saúde, desde o câncer até doenças cardíacas e pulmonares.

Os custos atribuídos aos 3,32 por cento de nascimentos prematuros associados com a poluição atmosférica foram estimados em $5,09 bilhões. Como ressaltado pelos pesquisadores, “Reduzir as taxas de PTP [parto pré-termo, do inglês, ‘preterm birth’] é importante para prevenir não apenas as complicações neonatais como a síndrome da angústia respiratória, sepse, e hemorragia intra-ventricular, mas também resultados psicológicos, comportamentais e educacionais adversos mais tarde na vida, principalmente com relação à paralisia cerebral e atrasos no desenvolvimento neuronal”.

Exposição à poluição atmosférica também foi associada com o nascimento de bebês com peso abaixo da média, desenvolvimento intra-uterino mais lento, parto de natimortos, anomalias congênitas e problemas no desenvolvimento cerebral dos fetos.

Há muito se questiona como a exposição das mães à poluição atmosférica pode ser nociva para o desenvolvimento de seus bebês, mas as pesquisas apresentadas no Congresso Internacional da European Respiratory Society revelaram que as partículas de poluição são capazes de invadir a placenta e possivelmente prejudicar o bebê em desenvolvimento no útero.

O estudo foi pequeno, envolvendo placentas de cinco mulheres Londrinas, mas revelou o que os pesquisadores acreditam ser partículas de carbono em alguns macrófagos placentários. A autora do estudo, Dra. Norrice Liu da Universidade Queen Mary de Londres, explicou:

“Nossos resultados fornecem a primeira evidência de que partículas de poluição inaladas podem se mover dos pulmões para a circulação sanguínea e depois chegar até a placenta. Não sabemos se as partículas que encontramos também podem ser transportadas até o feto, mas nossas evidências sugerem que isso é de fato possível.

Também sabemos que as partículas não precisam necessariamente entrar no corpo do bebê para causar algum efeito adverso, porque se elas tiverem algum efeito sobre a placenta, isso terá impacto direto sobre o feto.”

A poluição atmosférica é letal para as crianças

A poluição atmosférica é responsável por doenças respiratórias que causam a morte de 543.000 crianças com 5 anos de idade ou mais novas por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Respirar ar poluído também é a causa de asma em 14 por cento das crianças em todo o mundo.

“A poluição atmosférica está envenenando milhões de crianças e arruinando suas vidas”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da OMS. “Isso é indesculpável. Toda criança tem o direito de respirar ar puro para que possa crescer e atingir seu potencial pleno.” Infelizmente, a OMS estima que aproximadamente 93 por cento das crianças do mundo (ou 1,8 bilhão) vivem em áreas cujo ar é tão poluído que sua saúde e desenvolvimento estão sob risco.

Mesmo nas crianças que residem em uma das áreas de baixa emissão na cidade de Londres, os pesquisadores descobriram que sua capacidade pulmonar foi reduzida em cerca de 5 por cento quando a poluição ultrapassou os níveis estipulados por lei — e nenhuma melhora na capacidade pulmonar foi observada mesmo quando pequenas melhorias na qualidade do ar ocorreram.

“Intervenções que oferecem reduções maiores nas emissões de poluentes podem resultar em melhorias na saúde das crianças”, concluíram os pesquisadores. Os pesquisadores de Londres estão agora entregando mochilas com equipamento de monitoramento do ar para 250 crianças em idade escolar na cidade, e elas usarão essas mochilas durante uma semana.

Os cientistas estão tentando determinar em que lugares as crianças são mais expostas à poluição atmosférica, com o objetivo de fazer recomendações que reduzam essa exposição e, espera-se, melhorar sua saúde durante toda a vida.

“Foi descoberto que a poluição atmosférica restringe o desenvolvimento pulmonar das crianças. Funções pulmonares reduzidas na infância podem persistir até a idade adulta, e frequentemente estão associadas com outros problemas de saúde, incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica, mais tarde na vida”, disse Ben Barratt, da King's College de Londres em um comunicado à imprensa.

Como as plantações de milho estão poluindo o ar

É comum colocar a culpa pela poluição atmosférica nas emissões automotivas, mas o milho, uma das principais culturas agrícolas usadas para produção de ração animal, etanol biocombustível e alimentos, é outra fonte frequentemente negligenciada.

A poluição do ar resultante do cultivo de milho está associada com 4.300 mortes prematuras por ano, apenas nos EUA, escreveram os pesquisadores na Nature Sustainability — com os danos associados estimados entre $14 e $64 bilhões.

A maior parte da poluição se deve às emissões de amônia graças uso em grande escala de fertilizante à base de nitrogênio. “A amônia resultante da aplicação de fertilizantes contabiliza em torno de 70 por cento das mortes atribuídas à poluição”, disse à NPR o autor do estudo, Jason Hill da Universidade de Minnesota. “Parte desse nitrogênio é transportado para as vias fluviais e outra parte é liberado na atmosfera como amônia.”

À medida que os fertilizantes se decompõem em seus constituintes básicos, a amônia é liberada no ar. Quando a amônia na atmosfera atinge áreas industriais, ela se combina com a poluição resultante da combustão de diesel e outros combustíveis derivados de petróleo, criando micro-partículas. Funcionários e vizinhos residentes ao redor de operações concentradas de alimentação animal (CAFO, do inglês, concentrated animal feeding operation) relatam maiores incidências de asma, dores de cabeça, irritações dos olhos e náuseas.

Uma pesquisa publicada no periódico American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine também revelou que marcadores de funções pulmonares foram relacionadas com a distância que essas pessoas residem das CAFOs.

Quanto mais perto se mora dessas fazendas de confinamento animal, e quanto maior a densidade de animais nesses locais, maiores foram os prejuízos pulmonares revelados nessas populações. As funções pulmonares dos residentes nessas vizinhanças apresentou um declínio simultâneo com o aumento dos níveis de poluição atmosférica por amônia causado pelas CAFOs, revelou o estudo.

O milho é uma faca de dois gumes, poluindo o ar não apenas na fazendo onde é cultivado mas também nas CAFOs onde é usado como ração animal. Também existem outros efeitos que ocorrem em cascata.

Agricultura é a fonte número 1 de poluição atmosférica

A causa número 1 de poluição atmosférica na maior parte dos EUA, China, Rússia e Europa tem conexão com a agricultura e o uso de fertilizantes — especificamente com o componente nitrogênio desses fertilizantes usado supostamente para enriquecer o solo e gerar colheitas maiores.

De fato, uma pesquisa publicada no jornal Geophysical Research Letters demonstrou que em certas áreas densamente habitadas, as emissões agrícolas superam de longe as outras fontes de material particulado na poluição atmosférica.

Os pesquisadores sabem a muito tempo que os micróbios do solo convertem fertilizantes à base de nitrogênio em óxidos de nitrogênio que são então liberados no ar. Entretanto, costumava ser estimado que apenas 1 quilograma desses gases seria produzido para cada 100 quilos de fertilizante utilizado, ou aproximadamente 1 por cento.

Os pesquisadores teorizavam que a quantidade desse gás aumentaria de maneira linear, ou seja, se manteriam ao redor de 1 por cento da quantidade usada de fertilizantes. Contudo, testes mais detalhados descobriram que o aumento é exponencial e não linear, tendo em vista que a pesquisa original não levava em conta a conversão que ocorre quando fertilizantes de nitrogênio são aplicados em excesso nos campos.

Na Califórnia, as áreas agrícolas podem ser responsáveis por até 51 por cento dos óxidos de nitrogênio sendo dispersos no ar de todo o estado, especialmente em áreas que usam fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio.

As CAFOs também são altamente problemáticas, já que ejetam ar carregado com partículas de esterco no ambiente ao seu redor 24/7. Além da amônia, outros componentes tóxicos liberados frequentemente pelas CAFOs incluem:

  • Sulfato de hidrogênio, que tem cheiro de ovo podre e pode causar inflamação nos olhos e nas membranas do trato respiratório, perda de neurônios olfativos e até mesmo a morte.
  • Metano, um gás do efeito estufa, sem odor mas altamente inflamável.
  • Material particulado, incluindo partículas de rações e materiais usados para abrigar animais, esterco seco, solo, pelos e penas de animais, que podem causar bronquite crônica e sintomas respiratórios, declínio nas funções pulmonares e síndrome tóxica da poeira orgânica (ODTS, do inglês, organic dust toxic syndrome), uma doença grave semelhante à gripe.

Poluição atmosférica conectada à diabetes e danos cerebrais e cardíacos

Respirar ar poluído é prejudicial para sua saúde em todas as idades, inclusive na idade adulta. Embora o funcionamento pulmonar apresente um declínio gradual com a idade, há evidências de que a poluição atmosférica acelera esse processo de declínio.

Morar em uma região com altos níveis de poluição atmosférica também é algo associado com o desenvolvimento de diabetes Tipo 2 em adultos, bem como funções cognitivas reduzidas e distúrbios do sono.

“Evidência de que a exposição à poluição atmosférica afeta a estrutura do cérebro foi descoberta através de mapeamento por ressonância magnética (MRI, do inglês, magnetic resonance imaging) dos participantes no Estudo Framingham Offspring, indicando que uma exposição maior a PM 2.5 está associada com uma redução no volume total do cérebro”, de acordo com um relatório da Royal College of Physicians.

Quanto aos danos que a poluição do ar causam ao seu coração, os pesquisadores explicaram:

“A evidência é convincente para os efeitos que as exposições a curto e longo prazo à poluição atmosférica têm sobre doenças cardiovasculares em adultos. A exposição à poluição atmosférica pode exacerbar condições cardíacas já existentes e contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, resultando em aumento das internações hospitalares e das mortes por doenças cardiovasculares.”

Maneiras de combater a subtração da sua saúde causada pela poluição atmosférica

No mundo ideal, viveríamos em um ambiente com ar limpo e fresco para respirar. Infelizmente, isso em geral é a exceção, e não a regra. Em sua casa, o ar interno pode ser uma fonte importante de contaminantes, portanto recomendo tomar medidas para manter limpo o ar no interior da sua residência, incluindo abrir as janelas que permitir a entrada de ar fresco e evitar o uso de poluentes aéreos conhecidos, como produtos químicos de limpeza, odorizantes de ambiente e velas aromáticas.

Purificar o ar na sua casa também é uma ação inteligente, assim como manter um estilo de vida saudável. O que você come pode ajudar no combate aos efeitos da poluição atmosférica sobre a sua saúde, por exemplo, incluir na sua dieta ácidos graxos ômega-3, que são anti-inflamatórios, pode ajudar a proteger seu coração da poluição no ar.

Outros nutrientes para se consumir bastante, especialmente se você more em uma área muito poluída, incluem vitaminas C e E, que podem ser benéficas para crianças com asma, e vitaminas do complexo B, que em altas doses têm o efeito demonstrado de compensar totalmente os danos causados por material particulado muito fino contido na poluição atmosférica.

Em um nível mais fundamental, os pesquisadores do estudo sobre o milho sugeriram “intervenções estratégicas” na produção desse grão, “incluindo mudar o tipo de fertilizante utilizado e o método de aplicação, melhorar a eficácia no uso do nitrogênio, mudar para outras culturas que requerem menos fertilizantes, e realocar a produção para outras regiões geográficas”.

Em um nível pessoal, certifique-se de optar por alimentos orgânicos e produzidos em regimes de agricultura biodinâmica, e evite os produtos de grandes fazendas industrializadas, que estão piorando os problemas da poluição atmosférica ao invés de colaborar com a redução deles.