Por Dr. Mercola
A massagem é uma das formas mais antigas e mais simples de assistência médica para promover o bem-estar geral e aliviar a dor e a ansiedade. A pele é o seu maior órgão sensorial, e receptores especializados na derme, a segunda camada da pele, reagem a estímulos externos, como calor, frio e pressão, enviando mensagens através do sistema nervoso para o cérebro, a fim de estimular a liberação de endorfinas.
As endorfinas promovem o relaxamento e uma sensação de bem-estar, aliviam a dor e reduzem os níveis de mediadores químicos relacionados ao estresse, como cortisol e noradrenalina, diminuindo assim a frequência cardíaca, respiratória e o metabolismo, além de diminuir a pressão arterial.
Uma massagem mais vigorosa estimula a circulação sanguínea e melhora o suprimento de oxigênio e nutrientes para os tecidos do corpo, além de ajudar o sistema linfático a eliminar resíduos. Ela alivia a tensão, os nós musculares e a rigidez articular, melhorando a mobilidade e a flexibilidade.
Acredita-se que a massagem também é capaz de aumentar a atividade do nervo vago, um dos 10 nervos cranianos que afeta a secreção de líquidos digestivos, a frequência cardíaca e a respiração.
Ela mostrou-se eficaz para diversas condições de saúde — em particular, a tensão relacionada ao estresse, que pode desempenhar um papel considerável no desenvolvimento de problemas de saúde físicos e psicológicos.
Aqui, eu analiso seis áreas nas quais a massagem demonstrou ser capaz de produzir resultados benéficos: dor, saúde mental, inflamação, função imunológica, espasmos musculares e flexibilidade.
Massoterapia para o alívio da dor
A dor é um problema extremamente comum. E a massagem é apenas um dos muitos tratamentos alternativos que podem ser úteis.
Uma meta-análise e revisão sistemática publicada em 2016 incluiu 60 estudos de alta qualidade e sete de qualidade mais baixa que investigavam o uso da massagem para vários tipos de dor, incluindo dores musculares e ósseas, dores de cabeça, dor interna profunda, fibromialgia e dor na medula espinhal.
A revisão mostrou que a massoterapia é melhor no alívio da dor em comparação com a ausência de tratamento, e mesmo quando comparada a outros tratamentos para a dor, como acupuntura e fisioterapia, a massagem terapêutica provou ser benéfica.
Mais especificamente, estudos demonstraram que a massoterapia pode aliviar dores associadas a:
• Tensão, dores de cabeça e enxaqueca — Em um estudo, participantes que receberam duas massagens tradicionais de 30 minutos por cinco semanas relataram uma diminuição na frequência de crises de enxaqueca em comparação com o grupo de controle que não recebia a massagem terapêutica. Eles também apresentaram menos distúrbios do sono, e testes revelaram um aumento na serotonina.
Em outro estudo, o efeito da massagem tailandesa — que envolve movimentos de torção, compressão e alongamentos profundos — foi avaliada em pacientes com cefaleia tensional crônica ou enxaqueca.
Os participantes foram submetidos a um tratamento com ultrassom ou três sessões semanais de massagem tailandesa durante três semanas. Aqueles que receberam massagem tailandesa relataram um aumento no limiar de dor à pressão, enquanto aqueles no grupo de ultrassom mostraram uma redução. Ambos os grupos tiveram uma redução significativa na intensidade da enxaqueca.
• Dores do parto — De acordo com Rebecca Dekker, Ph.D. em enfermagem e fundadora do Evidence Based Birth, uma hipótese sobre como a massagem reduz a dor do parto é a teoria do portão ou de controle da dor. “A massagem suave, ou não dolorosa, pode atuar sobre a Teoria do Portão, inundando o corpo com sensações agradáveis, para que o cérebro não perceba tanto as sensações de dor”, diz ela.
Por outro lado, acredita-se que a massagem intensa e profunda atue por meio do controle inibitório nocivo difuso. "A ideia é que o estímulo da massagem dolorosa é tão intenso que estimula o cérebro a liberar seus próprios hormônios naturais de alívio da dor, chamados endorfinas.
Seu corpo é inundado com endorfinas que ajudam a perceber menos dor das contrações", diz Dekker, que acrescenta: "Os pesquisadores também acreditam que a massagem pode diminuir o cortisol ou hormônios relacionados ao estresse e aumentar os níveis de serotonina e dopamina no cérebro."
• Fibromialgia — A Associação Nacional de Fibromialgia e Dor Crônica recomenda massagem para a dor da fibromialgia, afirmando que ela pode aliviar os sintomas.
Uma meta-análise e revisão sistemática de nove ensaios clínicos randomizados envolvendo 404 pacientes e avaliando os efeitos da massoterapia para fibromialgia concluiu que “a massoterapia com duração de ≥5 semanas apresentou efeitos benéficos imediatos na melhora da dor, ansiedade e depressão em pacientes com FM (fibromialgia). A massoterapia pode ser considerada um dos tratamentos complementares e alternativos viáveis para a FM.”
• Dores do câncer — De acordo com o Australian Cancer Council, a massoterapia pode ser útil para aliviar os efeitos colaterais associados aos tratamentos convencionais do câncer, e há evidências mostrando que a massagem pode reduzir a dor, fadiga, náusea, ansiedade e depressão em pacientes com câncer.
O Conselho observa que, embora algumas pessoas tenham receio de que câncer possa se espalhar através da massagem, tais medos são infundados, e a massagem leve “pode ser administrada com segurança a pessoas em todos os estágios do câncer”, pois “a circulação linfática — resultante da massagem ou outros movimentos — não faz com que o câncer se espalhe”.
Um artigo científico discutindo a massoterapia para pacientes com câncer, publicado na Current Oncology em 2007, observou também que a massagem é “muito segura” e que “complicações são extremamente raras... Os efeitos adversos foram associados principalmente a massagem feita por leigos e com outras técnicas que não a massagem sueca”.
Um dos maiores estudos observacionais sobre massagem e câncer foi feito no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, que pontuou sintomas como dor, fadiga, estresse e ansiedade, náusea e depressão em 1.290 pacientes com câncer. Os pacientes tinham a opção de três estilos de massagem: Sueca, de toque leve e massagem nos pés. Os resultados revelaram que “a pontuação dos sintomas diminuiu em gravidade em aproximadamente 50% dos pacientes. A massagem sueca e a de toque leve foram consideradas superiores à massagem nos pés”.
• Dor nas costas — Diversos estudos corroboram com o uso da massagem para a dor nas costas. Dentre elas:
◦Um estudo de 2017 relatou que 49,4% dos pacientes com dor lombar persistente que receberam 10 sessões de massagem ao longo de um período de 12 semanas melhoraram clinicamente em 12 semanas e, desses, 75% mantiveram a melhora clínica após 24 semanas.
◦Um estudo de 2011 concluiu que a massoterapia (sessões semanais de uma hora por 10 semanas) “pode ser eficaz para o tratamento da lombalgia crônica, com benefícios que duram pelo menos seis meses". Tanto as massagens relaxantes quanto as estruturais se mostraram úteis, oferecendo benefícios similares.
◦Um estudo de 2016, que avaliou o efeito da massagem tailandesa com duração de pelo menos 3 meses em pacientes com dor lombar, constatou que o tratamento diminuiu significativamente a tensão muscular e a intensidade da dor ao final do tratamento.
◦Uma meta análise de 2016 da Biblioteca Cochrane, analisando 25 estudos, a maioria dos quais financiados por organizações sem fins lucrativos, concluiu que a massagem é mais eficaz do que os métodos inativos do grupo de controle para as dores lombares agudas, subagudas e crônicas. Quando aplicada, a massagem se mostrou eficaz para dores subagudas e crônicas, mas não para casos agudos.
◦Um estudo de 2007 descobriu que pacientes que apresentavam dores lombares há seis meses ou mais e receberam massagens de 30 minutos, duas vezes por semana, durante cinco semanas, relataram uma redução da dor, depressão, ansiedade e distúrbios do sono em comparação com indivíduos no grupo de controle, que receberam terapia de relaxamento.
A frequência e a dosagem importam para certos tipos de dor
Algumas pessoas experimentam alívio imenso com a massagem, enquanto outras nem tanto. A diferença pode estar relacionada à dose. Pesquisadores do Group Health Research Institute, em Seattle, analisaram a dose ideal de massagem para pessoas com dor cervical crônica.
Os participantes do estudo receberam massagens de 30 minutos, duas ou três vezes por semana, ou massagens de 60 minutos, uma, duas ou três vezes por semana. Um grupo de controle não recebeu massagens.
Em comparação com o grupo sem massagem, aqueles que receberam massagens três vezes por semana tiveram quase cinco vezes mais probabilidade de relatar uma melhora significativa na função, e mais que o dobro de probabilidade de relatar uma diminuição considerável da dor.
Os melhores resultados foram obtidos por aqueles que receberam massagens de 60 minutos duas ou três vezes por semana. Aparentemente, massagens mais longas funcionam melhor para dores no pescoço, bem como a execução de vários tratamentos por semana, especialmente durante as quatro primeiras semanas.
Se decidir experimentar a massagem terapêutica e perceber que não está obtendo resultado, você pode tentar aumentar a dose e a frequência. Há também outras variáveis que impactam a eficácia da massagem, como técnica e nível de habilidade do massoterapeuta.
Ao escolher um massoterapeuta, peça a seu médico holista para recomendar um terapeuta credenciado, com experiência no alívio do tipo de dor que você procura tratar.
Massoterapia para a saúde mental
Outra área na qual a massagem terapêutica pode ser útil é no tratamento do estresse, ansiedade e depressão, incluindo o estresse observado em pacientes com demência. Como mencionado, a massagem afeta o sistema nervoso através das terminações nervosas da pele, o que estimula a liberação de endorfinas que ajudam a induzir uma sensação de relaxamento e bem-estar.
Um estudo de 2015 descobriu que a massagem tailandesa reduz significativamente um marcador de estresse chamado alfa-amilase salivar (sAA), sugerindo que “pode ter um efeito modesto na redução do estresse”. A American Massage Therapy Association também cita uma série de estudos mostrando que a massagem ajuda a aliviar o estresse, reduzindo a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e os níveis de cortisol.
Estudos que analisam especificamente estados psicológicos também demonstraram os resultados da massagem em pontuações mais baixas na escala de estresse, na escala de depressão do POMS (Profile of Mood State, ou Perfil do Estado de Humor) e na escala de estado de ansiedade.
Uma meta-análise que avaliou a massoterapia em pacientes com depressão concluiu que “a massagem terapêutica está associada a um alívio significativo nos sintomas da depressão”. De maneira similar, um estudo controlado randomizado e com prova de conceito, que avaliou os efeitos da massagem sueca em pacientes com transtorno de ansiedade generalizada, descobriu que duas sessões semanais por seis semanas é um tratamento eficaz.
A massagem pode ajudar a aliviar a inflamação
Os benefícios da massagem terapêutica para alívio da dor já são suficientemente fundamentados para que este seja um tratamento comumente utilizado durante a fisioterapia e reabilitação de lesões.
Em um estudo, pesquisadores fizeram biópsias musculares nos participantes, que receberam massagem terapêutica ou nenhum tratamento para lesão muscular causada por exercício. Segundo os autores, a massagem terapêutica reduziu a inflamação e promoveu a biogênese mitocondrial do músculo esquelético.
No entanto, o estudo possui detratores que apontaram suas falhas. Ainda assim, há razões para crer que a massagem tem um efeito benéfico sobre a inflamação, já que a dor e a inflamação tendem a andar lado a lado. Ao reduzir um, você também reduz o outro, e, como discutido acima, há diversas evidências sustentando a afirmação de que a massagem pode ser capaz de aliviar a dor.
A massoterapia melhora o sistema imunológico
A massagem linfática é caracterizada por movimentos longos, suaves e rítmicos, realizados com leve pressão para aumentar o fluxo da linfa através do corpo, auxiliando assim a remoção de toxinas.
Ao aumentar a circulação de linfócitos, um tipo de célula branca do sangue, particularmente prevalente no sistema linfático e que ajuda combater infecções e doenças, a massagem linfática também ajuda a fortalecer o seu sistema imunológico.
Mais duas áreas nas quais a massoterapia pode ser útil
Por último, mas não menos importante, duas outras áreas em que a massoterapia é útil: para tratamento de espasmos musculares, ou cãibras, e para melhorar a flexibilidade. Músculos lesionados e sobrecarregados tendem a apresentar espasmos e cãibras, causando dor e desconforto.
A massagem terapêutica, neste caso a massagem neuromuscular, que envolve uma pressão mais profunda, pode ajudar a relaxar e acalmar esses músculos para evitar espasmos e cãibras.
De maneira similar, por aliviar a tensão dos músculos e a rigidez das articulações, a massoterapia pode ajudar a melhorar a flexibilidade e a amplitude de movimento, o que pode ser particularmente benéfico para indivíduos que sofrem de artrite ou lesões musculares.