Por Dr. Mercola
O jejum é praticado há séculos. Na verdade, a ciência mostra que, assim como os animais, nós humanos temos um instinto de jejuar há eras: Por exemplo, Hipócrates recomendava e defendia o jejum utilizando vinagre de cidra de maçã.
As religiões do mundo todo desenvolveram práticas de jejum de forma independente, e os gregos o usavam para tratar doenças e para se prepararem para rituais pelos quais se comunicavam com forças sobrenaturais. O jejum também já foi usado como uma forma de protesto político.
Gandhi jejuou em pelo menos 14 ocasiões, e em três delas por até 21 dias. Um dos jejuns políticos mais longos de que se tem registro foi por Terence McSweeney, antigo prefeito de Cork, na Irlanda, que, por motivos políticos, jejuou por 74 dias até sua morte em 1920. O jejum pode parecer assustador e desafiante, mas pode proporcionar benefícios a longo prazo e ajuda seu corpo a eliminar toxinas.
O jejum melhora a sensibilidade à insulina
Pesquisas recentes, assim como outros estudos mais antigos, descobriram que o jejum pode melhorar a sensibilidade à insulina, reverter a diabetes e ajudar no controle de peso, se praticado em conjunto com exercícios físicos.
A pesquisa, apresentada na Digestive Disease Week de 2019, se baseou no jejum praticado nas orações dos muçulmanos durante o Ramadão. O estudo piloto envolveu 14 pessoas saudáveis que jejuaram por 15 horas por dia, do amanhecer até o crepúsculo, por 30 dias.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue dos participantes antes do início do jejum e no final da quarta semana da prática. Amostras adicionais foram coletadas uma semana após o final do jejum. A pesquisa foi parcialmente apoiada pelo National Institute of Health Public Health Service.
Jejuar por 30 dias provocou um aumento nos níveis da proteína tropomiosina (TPM), que, por sua vez, melhora a resistência à insulina e reduz os efeitos colaterais de dietas ricas em açúcar. Altos níveis de TPM 1, 3 e 4 foram identificados nas amostras de sangue dos participantes. A TPM é muito importante para manter saudáveis as células responsáveis pela resistência à insulina.
A TPM 3, em especial, é muito importante para melhorar a sensibilidade à insulina, proporcionando um melhor controle de glicemia.
O jejum pode provocar o crescimento das células beta pancreáticas
Um editorial redigido na BMJ pelo cientista renomado Dr. James DiNicolantonia analisou os resultados de vários estudos sobre vários episódios em que o jejum induziu o crescimento das células beta pancreáticas em camundongos.
Este crescimento está associado a um aumento na expressão da proteína Ngn3, envolvida na conversão do DNA em RNA, muito importante para as células endócrinas nas ilhotas de Langerhans, responsáveis pela produção de insulina.
O crescimento das células beta nas ilhotas, induzido por jejuns intermitentes, foi acompanhado por uma boa melhora no controle de glicemia dos animais do estudo. Essas observações são de muito interesse para pessoas que sofrem de diabetes tipo 1, pois frequentemente sofrem uma destruição inflamatória quase completa das células beta das ilhotas.
Porém, a mesma coisa acontece nos estágios mais avançados de diabetes tipo 2 graves. DiNicolantonio acredita que estas descobertas podem ser replicadas clinicamente, permitindo a reversão da diabetes tipo 2 para pessoas “disciplinadas o suficiente para se comprometerem a adotar um estilo de vida que teria ajudado a prevenir o desenvolvimento da diabetes”.
Como um primeiro passo, ele recomenda que você adote um estilo de vida saudável para prevenir a diabetes, com uma dieta rica em alimentos inteiros, em conjunto com a prática regular de exercícios físicos. Isso ajuda a melhorar a sua sensibilidade à insulina e pode ser o suficiente para, com o tempo, reverter a diabetes em pessoas recentemente diagnosticadas com a doença.
Para as pessoas que não respondem ao tratamento, ele recomenda um jejum intermitente. Ao voltar a praticar uma alimentação saudável após sair de um jejum, pode-se adotar algumas medidas suplementares para proteger as células beta da toxicidade, para que elas conservem suas capacidades funcionais.
Pode ser possível reduzir o estresse oxidativo das ilhotas utilizando espirulina, acetilcisteína e/ou berberina. O objetivo é ter um controle de glicemia normal sem a necessidade de medicamentos e cumprir com uma alimentação e um estilo de vida de prevenção da diabetes.
Deixar de tomar café da manhã antes de praticar exercícios pode ajudar no controle de peso
Outro estudo recente, publicado na revista Journal of Nutrition, avaliou a eficiência da omissão de uma refeição antes da prática de exercícios matinais. Os pesquisadores queriam verificar se deixar de tomar café da manhã antes dos exercícios afetaria a relação do corpo com os alimentos durante o resto do dia.
Apesar dos exercícios serem muito importantes para o controle de peso e para a saúde, alguns estudos demostraram que pessoas que começam a praticar exercícios, muitas vezes, compensam a queima de energia comendo em maiores quantidades durante o resto do dia, ou fazendo menos esforços.
Os pesquisadores recrutaram 12 homens jovens, saudáveis e fisicamente ativos, os quais concluíram três etapas de ordem aleatória separadas por intervalos de mais de uma semana. Durante uma etapa, os participantes ingeriram muita aveia e leite durante o café da manhã, que foi seguido por repouso. Em outra etapa, eles tiveram o mesmo café da manhã, porém este foi seguido por um exercício de 60 minutos.
Na última etapa, os participantes jejuaram durante a noite e praticaram exercícios pela manhã antes de comerem. A ingestão calórica das próximas 24 horas dos participantes foi monitorada e calculada. Os pesquisadores descobriram que os participantes que jejuaram e se exercitaram tiveram um consumo negativo de 400 calorias durante o dia, se comparados aqueles que comeram e repousaram ou que comeram antes de se exercitarem.
De acordo com os pesquisadores, esses resultados são importantes para as pessoas que desejam incluir exercícios em seus esforços de controle de peso. Javier Gonzalez, PhD, da Universidade de Bath, supervisionou o estudo e sugeriu que a prática de exercícios com estômago vazio provavelmente não faz com que o indivíduo coma em excesso. Pelo contrário, leva a um déficit calórico.
As taxas de obesidade aumentam, afetando muitos problemas de saúde
A diabetes é uma doença em que seu corpo desenvolve uma resistência à sinalização de insulina e leptina, o que leva à hiperglicemia. A medicina convencional tenta tratar os sintomas da diabetes, mas a doença é prevenível e, na maioria dos casos, reversível, necessitando apenas de mudanças nos hábitos alimentares e no estilo de vida.
Um fator de risco muito importante que leva a resistência à insulina é o consumo excessivo de carboidratos e de açúcar, pois essas substâncias, além de aumentarem seus níveis de insulina, Aumentam também, de forma gradual, a resistência celular à insulina. O consumo excessivo de carboidratos e de açúcar também é uma das principais causas da obesidade, uma epidemia cada vez maior nos EUA.
A National Health and Nutrition Examination Survey é uma pesquisa elaborada com o objetivo de analisar as condições de saúde e nutrição dos americanos. Suas descobertas mais recentes, publicadas sobre o período de 2015-2016, mostram um aumento na taxa de doenças associadas à obesidade, incluindo diabetes, pressão alta, doenças cardiovasculares, artrite e alguns tipos de câncer.
Outros benefícios do jejum
Além de ajudar nos seus esforços de controle de peso, o jejum também proporciona vários outros benefícios fundamentais para uma vida saudável. A alternância entre se alimentar e jejuar simula os hábitos alimentares dos nossos ancestrais e leva o corpo a um estado mais natural, proporcionando uma grande quantidade de benefícios bioquímicos.
Quando você se alimenta durante o dia, seu corpo se acostuma a queimar açúcar e carboidratos como combustíveis principais, regulando negativamente as enzimas envolvidas no uso e na queima das gorduras. Isso aumenta a sua resistência à insulina e seus riscos de ganhar peso. É importante saber que, para perder gordura, seu corpo precisa ser capaz de queimá-la.
Duas ótimas maneiras de desenvolver um metabolismo capaz de queimar gorduras é através dos jejuns e de uma dieta cetogênica cíclica. Além de melhorar a sensibilidade à insulina e à leptina, o jejum também normaliza os níveis de grelina, conhecida como o “hormônio da fome”.
A produção do hormônio do crescimento (HGH) também é influenciada pelo jejum, aumentando em até 1.300% em mulheres e 2.000% em homens. O HGH é muito importante para as condições físicas, longevidade e desenvolvimento muscular, e aprimora a queima de gorduras.
O jejum também ajuda a suprimir a inflamação, reduz danos oxidativos, melhora as funções imunológicas, e reduz os riscos de doenças cardíacas. Um dos efeitos do aumento do nível de cetona provocado pelos jejuns é a melhora das funções cognitivas e a redução dos riscos de doenças neurológicas, como a demência, mal de Alzheimer e mal de Parkinson.
Evite de se alimentar por pelo menos três horas antes de dormir
Apesar do estudo em questão demostrar que pessoas que praticam jejuns intermitentes do nascer ao pôr do sol obtêm benefícios para a saúde, se alimentar apenas algumas horas antes de dormir pode causar efeitos negativos. Intensificando o problema, as refeições noturnas dos americanos costumam ser as maiores do dia, e muitas vezes contêm alimentos ultraprocessados.
Nas melhores circunstâncias, seu estômago leva horas para esvaziar após as refeições. Esse processo pode demorar ainda mais com o envelhecimento, ou se você sofre de refluxo gastroesofágico, pois quando você se deita para dormir, fica mais fácil para o ácido entrar no seu esôfago, causando o refluxo.
Mesmo se você não sofrer de azia, é possível que tenha refluxo gastroesofágico, caso sofra de sintomas como rouquidão, pigarro crônico e até mesmo asma. Comer durante a noite também desestabiliza o relógio interno do seu corpo.
Assuma o controle da sua saúde com o jejum intermitente
Milhões de pessoas sofrem de diabetes tipo 2, mas esse não é um risco inevitável. O jejum é a intervenção metabólica mais eficiente que eu conheço. É como receber um transplante de células tronco gratuito, que regula muito positivamente a autofagia e a mitofagia.
O jejum também estimula a biossíntese mitocondrial durante a fase de realimentação, que permite que seu corpo se regenere naturalmente. Por essas razões, além de ser beneficial para a diabetes tipo 2 e para a obesidade, o jejum é beneficial para a saúde de forma de geral, e talvez até mesmo para a longevidade. Existem evidências que sugerem que o jejum pode ajudar a prevenir, ou até mesmo reverter, a demência, pois ajuda seu corpo a eliminar detritos tóxicos.
O jejum também pode ser beneficial para outras doenças, como ovários policísticos, rins policísticos e células cancerígenas de crescimento rápido. Isso acontece porque, quando a autofagia aumenta, seu corpo começa a decompor proteínas velhas, como as células de crescimento rápido.
Então, durante a fase de realimentação, há um aumento do hormônio do crescimento, melhorando a reconstrução de novas proteínas e células. E outras palavras, o jejum reativa e acelera o ciclo natural de regeneração do seu corpo.
Praticar jejuns gradualmente mais longos também diminui a maior parte dos efeitos colaterais associados ao jejum, por meio da transição para uma dieta rica em gorduras e com baixo teor de carboidratos, a fim de ajudar seu corpo a se ajustar ao uso da gordura como sua principal fonte de energia.