Cryptosporidium: aumento do parasita fecal em piscinas

família na piscina

Resumo da matéria -

  • O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA relata que o protozoário cryptosporidium, que provoca diarreia, febre e fadiga, é a terceira principal causa de doença diarreica nos Estados Unidos; dos 444 surtos notificados entre 2009 e 2017, 35% estavam associados a piscinas tratadas
  • Embora seja desconfortável e angustiante, não se trata de uma infecção grave em pessoas com sistema imunológico forte, mas pode ser fatal para quem se encontra imunocomprometido por doenças hereditárias, medicamentos ou doenças
  • Os sintomas são causados pelo parasita que penetra no revestimento epitelial do trato intestinal, onde se reproduz, desenvolvendo esporos de paredes finas que reinfectam o hospedeiro ou esporos de paredes espessas que são excretados nas fezes em busca de um novo hospedeiro
  • Previna-se antes de entrar na piscina. Verifique se há testes de segurança em piscinas públicas, faça você mesmo o teste com tiras reagentes, tome um banho antes de entrar na piscina e não beba água da piscina

Por Dr. Mercola

Nos meses de verão, muitas pessoas frequentam piscinas em clubes para se refrescar e aproveitar o tempo com a família e amigos. Certas famílias dedicam algum tempo a ensinar os filhos menores a nadar, uma habilidade que pode salvar vidas, ou apenas gostam de passam algumas horas brincando na água.

Independentemente de como passa seu tempo na água ou perto dela, não precisa sair de lá com nenhum parasita. Infelizmente, piscinas públicas e banheiras de hidromassagem podem ser focos de atividades indesejadas. O Hospital Infantil da Filadélfia adverte que as crianças podem adquirir impetigo, dermatite por pseudomonas e pé de atleta ao nadarem em piscinas.

O EHA Consulting Group também menciona a exposição ao Escherichia coli, cryptosporidium (crypto) e shigella. Os protozoários e bactérias da lista — Escherichia coli, cryptosporidium e shigella — desencadeiam diarreia infecciosa, que pode ser fatal em pessoas imunocomprometidas.

Em especial, o CDC alerta que o cryptosporidium é a principal causa de surtos de diarreia associados à água e a terceira relacionada ao contato com animais.

Os surtos de cryptosporidium têm aumentado, tornando-se a terceira maior causa de diarreia

Em junho de 2019, o CDC informou que os surtos de cryptosporidium aumentaram, em média, 13% a cada ano entre 2009 e 2017. Durante esse período, 444 surtos de criptosporidíase foram registrados, dos quais 7.465 casos foram encontrados em 40 estados dos EUA e em Porto Rico.

O CDC define um surto como duas ou mais infecções associadas a uma fonte comum por localização e hora. Esses relatos de cryptosporidium são voluntariamente feitos ao CDC através do Sistema Nacional de Relato de Surtos (NORS) nos EUA. O primeiro surto registrado foi em 2009, sendo o primeiro ano de relato ao NORS. Das infecções relatadas, 287 incluíram hospitalização e houve uma morte.

Os surtos registrados com maior frequência e que estão associados a infecções em água recreativa foram provenientes de piscinas e parques aquáticos. Dos 444 surtos, 35% estavam associados à água de piscina tratada; 15% estavam relacionados ao contato com gado (em especial, bezerros em amamentação); 13% estavam vinculados a creches e 3% estavam associados a ingestão de leite não pasteurizadoou bebida fermentada de maçã.

Como acontece com qualquer produto alimentício, é possível que o leite cru abrigue microrganismos. Quando o gado é criado em operações de engorda de animais em confinamento, o leite deve ser pasteurizado para reduzir a possibilidade de doenças transmitidas por alimentos, embora não elimine esse risco por completo.

Um estudo recente revelou que a taxa de surtos no leite cru diminuiu efetivamente em 74% desde 2005, enquanto as verduras respondem por 46% de todas as doenças transmitidas por alimentos, segundo dados do CDC.

Seu risco de exposição ao cryptosporidium se dá pela ingestão do protozoário em água contaminada ou alimentos crus. Você também pode entrar em contato com ele tocando em superfícies como acessórios de banheiro ou ao trocar fraldas e, em seguida, levar a mão à boca.

Embora normalmente não seja grave em pessoas com sistema imunológico forte, pode ser fatal para quem se encontra imunocomprometido. Os grupos de maior risco incluem pessoas com HIV/AIDS, pessoas com câncer ou doenças hereditárias que afetam o sistema imunológico e pacientes submetidos a transplante que fazem uso de medicamentos que suprimem o sistema imunológico.

O CDC alerta que a exposição a fontes de água recreativa tratada durante o pico do verão pode resultar em centenas ou milhares de casos, já que uma única pessoa infectada pode excretar até 108 oocistos em uma ocorrência de diarreia.

Os oocistos sobrevivem sete dias ou mais, mesmo na presença de concentrações recomendadas de cloro. Considerando que as pessoas podem usar várias piscinas, o risco se multiplica ainda mais.

Como a criptosporidíase se desenvolve?

O cryptosporidium tem início como um oocisto esporulado que entra no ambiente através das fezes de um hospedeiro infectado. Os oocistos são resistentes ao tratamento com cloro e podem ser encontrados no suprimento de água potável. Eles também podem resistir a temperaturas congelantes.

Depois que um hospedeiro ingere os esporos e estes entram no trato intestinal, o oocisto libera esporozoítos, a forma assexuada móvel do parasita, que se desenvolve dentro do oocisto.

Os esporozoítos entram no revestimento epitelial dos pulmões (se os esporos foram inalados) ou nos intestinos, quando os esporos foram ingeridos. As células então passam por uma reprodução assexuada, levando a um estágio de reprodução sexuada.

Após a fertilização, o zigoto resultante se desenvolve em um dentre dois tipos de oocistos. Um oocisto de parede espessa, que sai do hospedeiro para o ambiente, ou um oocisto de paredes finas, que autoinfesta o hospedeiro. Os oocistos de parede espessa são transmitidos pelas fezes do hospedeiro, e o ciclo recomeça.

Quais são os sintomas da criptosporidíase?

Uma infecção por cryptosporidium pode resultar numa série de sintomas, sendo o mais característico a diarreia. Num indivíduo com sistema imunológico em bom funcionamento, a diarreia é autolimitada e geralmente se resolve em três semanas. A doença pode estar associada a febre ou fadiga e, embora o intestino delgado seja o mais afetado, a criptosporidíase tem sido encontrada nos tratos pulmonar e biliar.

Mais especificamente, as fezes são líquidas e a diarreia pode se tornar aguda, com caráter explosivo. A diarreia com evacuação explosiva é uma forma aguda da condição, caracterizada pela passagem de fezes líquidas e gás quando o reto se enche com mais do que pode conter.

Normalmente, o intestino grosso é a última parada para o material residual que transita pelo trato gastrointestinal, sendo também onde o excesso de líquido é absorvido. No entanto, durante um processo diarreico, os intestinos se movem rápido demais para que o intestino grosso absorva os fluídos.

Tome cuidado com as piscinas

É importante se precaver antes de entrar numa piscina pública ou privada. As doenças diarreicas podem ser passadas de uma pessoa para outra pela água da piscina. Qualquer pessoa que tenha diarreia ou tenha estado doente nos últimos dois meses corre o risco de contaminar a piscina com bactérias ou protozoários.

Fezes microscópicas podem contaminar uma piscina ou banheira de hidromassagem inteira, deixando outras pessoas doentes se ingerirem a água.

Embora muitos donos de piscinas públicas e privadas procurem manter um ambiente saudável, é importante lembrar que o cryptosporidium é capaz de resistir ao tratamento com cloro. A Giárdia é outra que pode sobreviver por até 45 minutos em piscinas com cloro.

Uma das precauções que todos devem tomar antes de entrar na água é passar pela ducha para remover o máximo de sujeira e bactéria antes de entrar numa piscina. Também é importante não fazer xixi ou cocô na água, nem engolir água. O CDC recomenda levar as crianças ao banheiro de hora em hora, trocar fraldas longe da área da piscina e beber muito líquido para se manter hidratado.

A primeira linha de defesa é manter as pessoas doentes fora da piscina, seja esta pública ou privada. Embora seja difícil impedir que as crianças bebam água da piscina, é muito mais fácil impedir que elas usem brinquedos como copos e baldes que possam incentivá-los a colocar água na boca.

Teste a água e relate seus sintomas

Outro passo que você pode dar é verificar os resultados de inspeção publicados pelo departamento de saúde. Funciona de modo semelhante a como os restaurantes passam pelas inspeções de saneamento. Embora muitas piscinas públicas sejam submetidas a testes, as piscinas particulares geralmente não são. Para você mesmo testar, compre dessas tiras reagentes para avaliar a qualidade da água da piscina.

Em uma pesquisa realizada para o Conselho de Qualidade da Água e Saúde (WQHC), foi relatado que 25% dos adultos nadariam dentro de uma hora após um quadro de diarreia, 50% nunca passavam pela ducha antes de entrarem na piscina e 60% engoliam água da piscina. A mesma pesquisa relatou que 72% dos adultos não sabiam que o cryptosporidium era um parasita frequentemente transmitido pela água.

Em um comunicado de imprensa do CDC em 2016, a agência divulgou dados de inspeção coletados em 2013 em cinco estados com os maiores de locais de recreação em água, incluindo piscinas públicas e banheiras de hidromassagem.

Dados de 84.187 inspeções de rotina revelaram que 1 em cada 8 resultaram em fechamento imediato do estabelecimento devido a graves violações, enquanto quase 80% identificaram pelo menos uma violação. As violações mais comuns eram pH inadequado, problemas com equipamentos de segurança e problemas com a concentração de desinfetantes.

O CDC recomenda que, ao visitar piscinas, você faça sua própria inspeção contra alguns dos problemas mais comuns para a saúde e a segurança, incluindo o uso de tiras reagentes para determinar as concentrações de cloro e bromo. Verifique se o ralo na parte inferior do lado mais fundo da piscina está visível e se a tampa do ralo está firme e em boas condições.

Se não houve um salva-vidas de serviço, veja se há equipamento de segurança nas proximidades, como uma boia salva-vidas. Como o cryptosporidium pode permanecer no intestino delgadopor até dois meses, durante os quais ainda é possível transmitir a infecção, se você tiver apresentando quadros de diarreia, é importante ficar fora da piscina e relatar seus sintomas ao departamento de saúde local ou estadual, que os repassará ao CDC.

Evite a hipercloração da sua piscina ou banheira de hidromassagem

Após um surto de cryptosporidium em Ohio, durante o qual vários casos foram identificados e associados a uma piscina, os pesquisadores relataram que a piscina acusada passou por uma hipercloração. Um estudo de caso-controle foi lançado para encontrar a fonte do surto; 150 casos prováveis e confirmados foram identificados e associados à piscina.

Através desta investigação, os pesquisadores descobriram que medidas proativas podem diminuir a transmissão e prevenir um surto. No entanto, embora se tenha recorrido à hipercloração nesta situação, alguns compostos perigosos se formam quando o cloro é misturado com compostos à base de carbono, como urina, cocô e sujeira.

Em um estudo, os pesquisadores misturaram ácido úrico derivado de urina humana com cloro e descobriram que isso resultou em dois subprodutos detergentes altamente tóxicos (DBPs): cloreto de cianogênio e tricloramina. O cloreto de cianogênio é classificado como um agente de guerra química que provoca toxicidade pulmonar, cardíaca e do sistema nervoso central. A tricloramina tem sido associada a danos nos pulmões de pessoas que trabalham em piscinas.

A combinação de cloro e compostos de carbono cria mais do que esses dois DBPs. Em um estudo, os pesquisadores descobriram que apenas 40 minutos passados numa piscina com cloro estava associado a danos no DNA por tais produtos químicos. O risco de câncer dos DBPS é maior pela exposição da pele do que por ingerir água.

Falta de conscientização sobre o cryptosporidium pode aumentar esse risco

O cryptosporidium tornou-se uma das causas mais comuns de doenças transmitidas pela água. Esse protozoário pode ser encontrado por todo os Estados Unidos e pelo mundo. Lavar as mãos cuidadosamente depois de usar o banheiro ou trocar fraldas se faz ainda mais necessário à medida que você se torna consciente de que as doenças são causadas por um parasita que é basicamente transmitido pela exposição às fezes.

O parasita se espalha quando você leva as mãos contaminadas à boca. Suas mãos ficam contaminadas depois de tocar em objetos que talvez tenham sido tocados antes por mãos infectadas. Objetos como corrimãos de escada, botões de elevador, maçanetas e brinquedos para bebês apresentam o mesmo risco.

Nem sempre se pode dizer, só de olhar, que algo esteve em contato com matéria fecal, já que apenas uma quantidade mínima é necessária para transmitir os esporos de cryptosporidium. Para reduzir a propagação do parasita, é importante que você repasse essas informações para seus parentes e amigos e explique que tomar uma ducha antes de entrar na piscina é um passo preventivo que eles podem tomar.

O parasita é notório por ser imune ao cloro. Para matá-lo ou inativá-lo na água potável, a água deve ser fervida por um minuto. Se você mora em altitudes acima de 1900 metros, a água deve ser fervida por três minutos. A água deve então ser resfriada e armazenada na geladeira em um recipiente de vidro limpo e higienizado com uma tampa bem fechada.

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