Nova pesquisa mostra a origem da doença de Parkinson no intestino

idoso no consultório médico

Resumo da matéria -

  • A doença de Parkinson pode ter origem no trato gastrointestinal
  • Pesquisadores injetaram alfa-sinucleína desdobrada, uma proteína associada à doença de Parkinson, no intestino de camundongos saudáveis e depois fizeram um acompanhamento
  • Um mês depois, elas haviam aparecido no tronco encefálico, e depois de três meses haviam viajado para a amígdala e o mesencéfalo; dentro de sete e 10 meses, haviam aparecido em ainda mais regiões do cérebro
  • Os pesquisadores também injetaram as proteínas desdobradas no intestino de camundongos que tinham um nervo vago cortado; depois de sete meses, não havia nenhuma presença de morte celular no cérebro dos camundongos, e parecia que as proteínas não conseguiam avançar até o cérebro
  • Problemas de memória e ansiedade também surgiram nos camundongos que tinham o nervo vago intacto e que receberam as proteínas desdobradas no intestino, o que não foi visto nos outros grupos de camundongos

Por Dr. Mercola

O intestino é um elemento-chave para a saúde geral, desempenhando um papel no risco de doenças crônicas como doenças cardíacas, obesidade, problemas de sono e depressão. A doença de Parkinson, um distúrbio do sistema nervoso central que causa sintomas como tremores e problemas de equilíbrio, há muito é considerada uma doença de origem idiopática, o que significa que não há causa conhecida.

Uma pesquisa publicada no periódico Neuron pode contestar essa ideia, pois sustenta ainda mais a noção de que a doença de Parkinson pode se originar nas células do intestino e viajar até o cérebro através do nervo vago, o décimo nervo craniano que vai do tronco encefálico até o abdomen.

Se for esse o caso, isso abre novos caminhos para a prevenção e o tratamento da doença, começando com o fortalecimento da saúde intestinal. No entanto, existem outros fatores que contribuem para a doença de Parkinson e que também devem ser considerados.

As proteínas associadas ao Parkinson podem viajar do intestino até o cérebro

A alfa-sinucleína é um tipo de proteína encontrada naturalmente no corpo humano. Quando as proteínas são desdobradas, elas podem se aglomerar e causar danos às células nervosas que levam a áreas de matéria cerebral morta chamadas corpos de Lewy. Essas regiões com células cerebrais mortas levam aos sintomas da doença de Parkinson, como problemas de movimento e fala.

Em 2003, uma pesquisa do neuroanatomista alemão Dr. Heiko Braak sugeriu pela primeira vez que a doença de Parkinson pudesse se originar no trato gastrointestinal.

O estudo em destaque, que foi realizado em camundongos, baseia-se nisso, fornecendo "a primeira evidência experimental de que a doença de Parkinson possa começar no intestino e percorrer o nervo vago", escreveu o autor Dr. Ted Dawson, professor de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, ao The Guardian.

Pesquisadores injetaram alfa-sinucleína desdobrada no intestino de camundongos saudáveis e depois a acompanharam para ver onde terminaria. Um mês depois, ela havia aparecido no tronco encefálico, e depois de três meses havia viajado para a amígdala e mesencéfalo. Dentro de sete e 10 meses, havia aparecido em ainda mais regiões do cérebro.

Em seguida, os pesquisadores injetaram as proteínas desdobradas no intestino de camundongos que tinham o nervo vago cortado. Após sete meses, não havia presença de nenhuma morte celular no cérebro dos camundongos, e parecia que as proteínas não haviam conseguido avançar até o cérebro. O estudo também avaliou mudanças comportamentais, como a capacidade de construir ninhos, nos grupos de camundongos.

Depois de sete meses, os camundongos que tinham o nervo vago intacto e que receberam as proteínas desdobradas em seu intestino construíram ninhos menores e bagunçados, um sinal de problemas com o controle motor.

Os camundongos que não receberam a injeção e aqueles que receberam a injeção, mas tinham o nervo vago cortado, tiveram uma pontuação consistentemente mais alta nas atividades de construção de ninho.

Problemas de memória e ansiedade também surgiram nos camundongos que tinham o nervo vago intacto e que receberam as proteínas desdobradas no intestino, o que não foi visto nos outros grupos de camundongos. "Esse estudo sustenta a hipótese de Braak na etiologia da doença idiopática de Parkinson (DP)", concluíram os pesquisadores.

Falando à Medical News Today, Dawson acrescentou: "Como esse modelo começa no intestino, ele pode ser usado para estudar todo o espectro e curso de tempo da patogênese da doença de Parkinson", e possivelmente descobrir maneiras de impedir o avanço dos sintomas.

O microbioma afeta o sucesso da medicação de Parkinson

A levodopa é uma droga que atua como um precursor da dopamina. Em pessoas com Parkinson, os danos às células nervosas do cérebro fazem com que os níveis de dopamina diminuam, razão pela qual o Levodopa é frequentemente administrado como tratamento para aumentar os níveis de dopamina e aliviar os sintomas. No entanto, isso não funciona com todo mundo.

A eficácia do levodopa pode depender da composição da microbiota do paciente. Em algumas pessoas, os microrganismos intestinais podem metabolizar a medicação antes que ela tenha a chance de atravessar a barreira hematoencefálica, tornando-a ineficaz.

Pesquisas realizadas por cientistas da Universidade da Califórnia, São Francisco e Harvard identificaram enzimas específicas produzidas por bactérias intestinais que trabalham juntas para metabolizar a levodopa no intestino. Ao bloquear uma ou ambas as enzimas, é possível que a eficácia da droga possa ser melhorada em algumas pessoas. De acordo com o estudo:

“Nós caracterizamos uma via interespécie para o metabolismo da l-dopa [levodopa] bacteriana intestinal e demonstramos sua relevância nas microbiotas intestinais humanas. Variações nessas atividades microbianas podem contribuir para as respostas heterogêneas à l-dopa observada entre os pacientes, incluindo diminuição da eficácia e efeitos colaterais nocivos.”

As espécies bacterianas identificadas que metabolizam o Levodopa foram Enterococcus faecalis e Eggerthella lenta. Os cientistas também identificaram uma molécula capaz de bloquear uma enzima produzida pela Enterococcus faecalis, que preservou níveis mais elevados de Levodopa nos micróbios intestinais de pacientes com Parkinson, bem como em camundongos portando as bactérias em seu intestino.

O autor do estudo Peter Turnbaugh, Ph.D., professor adjunto de microbiologia e imunologia da UCSF, disse em um comunicado à universidade: “Este estudo, junto com outras publicações recentes, enfatiza a utilidade do conhecimento biológico e químico detalhado sobre como nossos micróbios associados moldam o tratamento da doença”.

Nervo vago cortado está associado a um risco 40% menor de Parkinson

Sustentando ainda mais a possibilidade de que a doença de Parkinson comece no intestino e viaje até o cérebro através do nervo vago, temos um estudo envolvendo pessoas que já haviam passado por uma retirada cirúrgica do nervo vago, muitas vezes realizada em pessoas que sofrem de úlceras para reduzir a quantidade de secreção ácida e o potencial para úlceras pépticas.

Usando o registro nacional na Suécia, os pesquisadores compararam 9.430 pessoas que se submeteram a uma vagotomia aos registros de mais de 377.200 que não haviam sido submetidas à cirurgia. Embora os pesquisadores não tenham encontrado uma diferença no número bruto de pessoas que desenvolveram Parkinson entre ambos os grupos, depois de investigar mais, eles descobriram algo interessante.

As pessoas que passaram por uma vagotomia troncular, em que o tronco do nervo é totalmente removido, ao contrário de uma vagotomia seletiva, tiveram um risco 40% menor de desenvolver a doença de Parkinson.

As bactérias intestinais podem piorar o acúmulo de proteínas desdobradas

Uma pesquisa adicional publicada em 2016 também encontrou uma relação funcional entre bactérias intestinais específicas e o início da doença de Parkinson. Usando camundongos preparados para superexpressar a alfa-sinucleína, os pesquisadores descobriram que “a microbiota intestinal é necessária para déficits motores, ativação da microglia e patologia de αSyn [proteína alfa-sinucleína]”.

Além disso, os pesquisadores observaram que “o tratamento antibiótico melhora, enquanto a recolonização microbiana promove a fisiopatologia em animais adultos, sugerindo que a sinalização pós-natal entre o intestino e o cérebro modula a doença”. Outras relações também foram observadas no estudo, incluindo:

  • A administração oral de metabólitos microbianos a camundongos isentos de germes promoveu neuroinflamação e sintomas motores
  • A colonização de camundongos preparados para superexpressar a alfa-sinucleína com a microbiota de pacientes com doença de Parkinson aumentou as deficiências físicas nos camundongos em comparação com os transplantes de microbiota de doadores humanos saudáveis.

Os pesquisadores concluíram que “essas descobertas revelam que as bactérias intestinais regulam os transtornos do movimento em camundongos e sugerem que alterações no microbioma humano representam um fator de risco para a doença de Parkinson”. A conexão faz sentido, pois sintomas gastrointestinais, como constipação, podem começar décadas antes do início dos sintomas da doença de Parkinson.

A pesquisa também mostra que pessoas com Parkinson têm uma expressão aumentada da relação receptor do tipo toll 4 (TLR4) e ligante específico da endotoxina bacteriana, rompimento da barreira intestinal, aumento da translocação bacteriana e perfis de genes pró-inflamatórios mais elevados no cólon em comparação com pessoas sem a doença.

A inflamação causada pelo TLR4 pode ser outra via envolvida no desenvolvimento da doença de Parkinson e neuroinflamação e neurodegeneração relacionadas.

Os pesticidas também estão associados ao Parkinson

O intestino é uma via intrigante que precisa ser mais explorada em tratando de Parkinson, mas outros fatores também estão envolvidos, incluindo a exposição a toxinas externas, como os pesticidas. A exposição a pesticidas está fortemente associada à doença de Parkinson e pode aumentar seu risco em 80% em alguns casos.

Acredita-se que os pesticidas possam contribuir para a morte de neurônios dopaminérgicos e mesmo a exposição de baixo nível pode imitar os efeitos das mutações que causam a doença de Parkinson. Em um estudo, quando pesquisadores expuseram neurônios produtores de dopamina a dois pesticidas (paraquat e maneb), isso impediu que as mitocôndrias se movimentassem devidamente, levando à depleção de energia dentro dos neurônios.

"As pessoas expostas a esses produtos químicos têm um risco cerca de 250% maior de desenvolver a doença de Parkinson do que o restante da população", disse Scott Ryan, da Universidade de Guelph, em um comunicado à imprensa.

"Até agora, a relação entre os pesticidas e a doença de Parkinson baseava-se principalmente em estudos em animais, bem como em pesquisas epidemiológicas que demonstravam um aumento do risco entre agricultores e outros expostos a produtos químicos agrícolas. Somos um dos primeiros a investigar o que está acontecendo dentro das células humanas".

Além disso, pessoas com uma predisposição genética para a doença de Parkinson podem ser mais afetadas pela exposição aos pesticidas, se colocando em risco mesmo em níveis mais baixos. "As pessoas com predisposição para a doença de Parkinson são mais afetadas pelas exposições de baixo nível aos agroquímicos e, portanto, estão mais propensas a desenvolver a doença", disse Ryan. "Essa é uma das razões pelas quais algumas pessoas que vivem perto de áreas agrícolas correm maior risco".

Dicas para diminuir o risco de Parkinson

Evitar a exposição a pesticidas, deixando de usá-los na sua casa ou jardim e optando por alimentos orgânicos ou cultivados biodinamicamente, é uma ferramenta importante para se reduzir o risco de Parkinson. Manter sua saúde intestinal é outro passo importante, que pode ser realizado da seguinte maneira:

Faça Evite

Coma muitos alimentos fermentados — Escolhas saudáveis incluem lassi (um tipo de iogurte indiano), kefir fermentado no leite de animais terminados a pasto, natto (soja fermentada) e vegetais fermentados.

Antibióticos, a menos que seja absolutamente necessário, e quando o fizer, volte a nutrir seu intestino com alimentos fermentados e/ou um suplemento probiótico de alta qualidade.

Tome um suplemento probiótico — Embora eu não seja um grande defensor de muitos suplementos (pois acredito que a maioria de seus nutrientes precisa vir dos alimentos), os probióticos são uma exceção se você não come alimentos fermentados regularmente.

Carnes produzidas convencionalmente e outros produtos de origem animal, em CAFO costumam receber baixas dosagens de antibióticos com certa frequência.

Aumente seu consumo de fibra solúvel e insolúvel, com foco em vegetais, nozes e sementes, incluindo sementes germinadas.

Água com cloro e/ou fluoretada — especialmente no banho, que é pior do que beber.

Suje as mãos no jardim — A exposição a bactérias e vírus pode ajudar a fortalecer o sistema imunológico e fornecer imunidade duradoura contra doenças.

Suje as mãos no jardim, o que pode ajudar você a reaver seu sistema imunológico com microorganismos benéficos das plantas e do solo.

Alimentos processados — Açúcares em excesso, juntamente com outros nutrientes "mortos", alimentam as bactérias patogênicas.

Os emulsificantes como o polissorbato 80, a lecitina, a carragenina, os poligliceróis e a goma xantana, também parecem ter um efeito adverso na flora intestinal.

A menos que sejam 100% orgânicos, eles também podem conter organismos geneticamente modificados que tendem a estar fortemente contaminados com pesticidas, como o glifosato.

Os adoçantes artificiais também podem alterar as bactérias do intestino de maneiras adversas.

Abra suas janelas — Pesquisas mostram que abrir uma janela e aumentar o fluxo de ar natural pode melhorar a diversidade e a saúde dos micróbios em sua casa, o que, por sua vez, lhe traz benefícios.

Produtos químicos agrícolas, o glifosato (Roundup), em particular, é um antibiótico conhecido e que pode matar muitos micróbios benéficos se você comer alimentos contaminados por ele.

Lave a louça à mão em vez de usar uma lava-louças — Uma pesquisa mostrou que lavar louças à mão deixa mais bactérias nos pratos do que as máquinas de lavar, e comer nesses pratos menos esterilizados pode diminuir o risco de alergias, estimulando o sistema imunológico.

Sabonete antibacteriano mata bactérias boas e más e contribui para o desenvolvimento da resistência a antibióticos.