A cannabis oferece forte alívio da dor

 
cannabis para alívio da dor

Resumo da matéria -

  • Descobertas clínicas de pesquisadores no Canadá indicam que os efeitos da cannabis no alívio da dor são 30 vezes mais potentes que os da aspirina para diminuir a inflamação
  • Além dos aspectos psicoativos do tetra-hidrocanabinol (THC) e das características farmacológicas dos canabinoides, como o canabidiol (CBD) derivado das variedades C. sativa, existe um potencial para uso medicinal
  • Para explorar a “versatilidade medicinal” da cannabis, os cientistas concentraram-se em duas moléculas específicas, canaflavina A e canaflavina B, a fim de identificar a biossíntese que as tornou “medicinalmente relevantes”
  • Os especialistas dizem que a divisão entre maconha e cânhamo é bastante simples: quando a cannabis contém 0,3% ou menos de THC, é cânhamo; quando contém mais de 0,3% de THC, é maconha
  • Descobriu-se que baixas dosagens de canabidiol administradas por sete dias aliviam a dor e a ansiedade, sintomas frequentemente associados à dor neuropática ou crônica, mas sem os efeitos colaterais ou o potencial de dependência de opioides

Por Dr. Mercola

A maconha (Cannabis sativa L.) tem sido tema de muita discussão nos EUA, não apenas nas últimas décadas, mas há mais de um século. É uma das plantas mais controversas do mundo, mais até do que a papoula e o peiote.

No entanto, difícil é contestar as descobertas clínicas de que os efeitos analgésicos da cannabis são 30 vezes mais potentes do que os da aspirina para diminuir a inflamação, de acordo com cientistas da Universidade de Guelph, em Ontário, Canadá, país onde o uso da cannabis tornou-se legal desde 17 de outubro de 2018.

Tariq Akhtar e Steven Rothstein, professores do departamento de biologia molecular e celular do McGill University Health Center, trabalharam com outros cinco no estudo, observando que, além dos aspectos psicoativos do tetrahidrocanabinol (THC) e dos aspectos farmacológicos dos canabinoides como o canabidiol (CBD) derivado das variedades de C. sativa, existe um potencial para vários usos medicinais.

Um dos pontos levantados pelo estudo, publicado no periódico Phytochemistry, é a “versatilidade medicinal” da planta e seu foco em duas moléculas específicas, a cannflavina A e a cannflavina B. Curiosamente, a pesquisa observa que as canaflavinas A e B foram descobertas em 1985, quando seus benefícios foram comparados aos do ácido acetilsalicílico, vendido como "aspirina".

Como as pesquisas sobre a maconha foram diligentemente regulamentadas no Canadá, para não mencionar os EUA, décadas de oportunidades frustradas de descoberta foram perdidas devido à proibição de seu uso. No entanto, uma vez suspensa a proibição, Akhtar e Rothstein prosseguiram, munidos com pesquisas genômicas avançadas.

O que vem a seguir: engenharia molecular

O objetivo declarado pela equipe era "entender melhor como essas moléculas são criadas", observou Akhtar. “Existem muitos genomas sequenciados que se encontram publicamente disponíveis, incluindo o genoma da Cannabis sativa, que pode ser extraída para obtenção de informações. Quando se sabe o que está procurando, é possível dar vida aos genes, por assim dizer, e entender como moléculas como as canaflavinas A e B são formadas.”

Para identificar a biossíntese que produz os dois "compostos de cannabis medicinalmente relevantes", os cientistas explicaram:

“É apresentada evidência de uma O-metiltransferase (CsOMT21) codificada no genoma da C. sativa, que converte especificamente a flavona comum da planta, conhecida como luteolina, em crosseriol, ambos os quais se acumulam na C. sativa. Portanto, esses resultados implicam a seguinte sequência de reação para a biossíntese das canaflavinas A e B: luteonina crosseriol canaflavina A e canaflavina B.

Estudos separados afirmam que as flavonas, quando ingeridas, servem como agentes antioxidantes, neuroprotetores e anticâncer. Vale a pena destacar que, embora outras plantas tenham sido examinadas para determinar vias biossintéticas semelhantes, curiosamente, até muito recentemente, a cannabis ainda não.

Agora, no entanto, a equipe está trabalhando com a empresa canadense Anahit International Corp, que detém uma patente licenciada da universidade, para desenvolver um "sistema biológico capaz de criar essas moléculas, o que nos daria a chance de produzir grandes quantidades", disse Rothstein.

Isso é importante porque, atualmente nos EUA, as pessoas que buscam alívio para a dor geralmente recorrem aos opioides, populares por sua capacidade de bloquear com eficácia os receptores de dor no cérebro, mas existem duas grandes desvantagens: inúmeros efeitos colaterais e uma probabilidade muito séria de dependência.

O caso contínuo da cannabis

As canaflavinas A e B também foram discutidas em um estudo colaborativo de 2014, que descobriu que a fonte de sua poderosa ação advinha de "dois mediadores pró-inflamatórios, a prostaglandina E2 e os leucotrienos". Descobriu-se que as sementes não continham os fenólicos usualmente encontrados nas folhas e flores do cânhamo, e sua germinação produzia canaflavinas A e B, não acionava os canabinoides.

Em 2018, outro estudo canadense produzido pelo McGill University Health Center e liderado por Gabriella Gobbi, professora de psiquiatria e pesquisadora do Programa de Reparo Cerebral e Neurociência Integrativa (BRaIN) da McGill, relatou que o CBD, livre de efeitos colaterais, é uma alternativa segura aos medicamentos vendidos com prescrição para alívio da dor, sem a alteração psicológica associada ao THC.

A equipe conseguiu demonstrar que o CBD não funciona nos receptores canabinoides CB1 como o THC, mas sim através dos mecanismos específicos dos receptores relacionados à ansiedade, chamados serotonina 5-HT1A, além da dor, conhecida como vaniloide TRPV1.

Os cientistas também extrapolaram a dosagem de CBD para ação analgésica e alívio da ansiedade, bem como para dores crônicas nas costas, ciática, diabética, câncer e outros tipos de dor. O principal autor do estudo e pós-doutor pela Universidade McGill, Danilo De Gregorio acrescentou: “Descobrimos, em modelos animais de dor crônica, que baixas dosagens de CBD administradas por sete dias aliviam a dor e ansiedade, dois sintomas frequentemente associados a dores crônicas ou neuropáticas.”

Gobbi chamou a pesquisa de "novo avanço para uma aplicação da cannabis medical com base em evidências" — alívio da dor sem euforia e, mais importante, sem o risco de dependência. Notavelmente, o FDA aprovou o óleo de CBD sob uma forma purificada, conhecida como Epidiolex, por prescrição médica para dois tipos de epilepsia.

A diferença crucial entre a maconha e o cânhamo

Embora a maconha e o cânhamo sejam frequentemente mencionados de forma intercambiável, importantes distinções são necessárias. Ambos vêm da Cannabis sativa e contêm canabidiol (CBD), mas a quantidade de CBD é a grande diferença, e essa diferença é crucial.

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade de Minnesota e da Faculdade de Ciências de Recursos Naturais, Agrícolas e Alimentares são um dos poucos grupos de cientistas nos EUA que recebem autorização federal para estudar a cannabis.

Após 12 anos de estudo, publicado on-line no New Phytologist, o biólogo de plantas George Weiblen explicou: "Enquanto a maconha é rica em tetrahidrocanabinol psicoativo (THC), o cânhamo produz principalmente um canabidiol não eufórico (CBD)”. As implicações de décadas de confusão por parte da comunidade médica, legisladores e do público em geral foram abordadas por EurekAlert:

"A descoberta de um único gene que diferencia as duas variedades, o que segundo Weiblen levou mais de 12 anos de pesquisa, poderia fortalecer o argumento dos produtores de cânhamo de que seus produtos não deveriam estar sujeitos às mesmas leis dos narcóticos do primo canabinoide do cânhamo..."

Em 22 de março de 2019, o Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS), que atua implicitamente a pedido do Congresso dos EUA, enviou uma ficha técnica para definição do cânhamo, comparando as diferenças na composição química e genética da maconha, bem como sua produção e uso. Como o vice-diretor do Serviço de Extensão Cooperativa da Carolina do Norte, Tom Melton, explica sucintamente:

“A diferença é que o cânhamo não contém mais de 0,3% (em peso seco) de THC (tetrahidrocanabinol), a substância psicoativa encontrada na maconha. Em comparação, a maconha normalmente contém de 5 a 20% de THC. O cânhamo não deixa ninguém chapado."

A breve história do cânhamo nos EUA

Como afirmado anteriormente, os EUA têm um longo histórico de confusão e desinformação quando se trata da cannabis. Uma breve linha do tempo publicada pelos departamentos de história da Universidade de Miami e da Universidade do Estado de Ohio, mostra como diferentes áreas e legislaturas viam a maconha e seus constituintes:

  • Em 1862, o doce de haxixe era anunciado na Vanity Fair como um estimulante prazeroso e inofensivo, e uma maneira de tratar "nervosismo e melancolia", juntamente com o fato de que "sob sua influência, todas as classes parecem reunir nova inspiração e energia".
  • O primeiro esforço para estabelecer regulamentos federais para maconha foi realizado em 2 de junho de 1906, quando a Lei de Alimentos e Drogas Puras foi aprovada.
  • Entre 1914 e 1925, 26 estados aprovaram leis em proibição à planta.
  • O Congresso aprovou a Lei de Controle e Prevenção de Abuso de Drogas em 1970, colocando a maconha "na categoria mais restritiva de drogas que não têm uso permitido na prática médica".
  • As leis da maconha medicinal foram aprovadas na Califórnia em 1996, em todo o estado, enquanto o Colorado se tornou o primeiro estado a permitir que os dispensários de maconha comercializassem maconha para uso recreativo em 2014.

O Projeto de Lei Agrícola de 2018 legalizou o cultivo de cânhamo para uso industrial pela primeira vez desde que Franklin D. Roosevelt assinou a “Lei Tributária da Marijuana de 1937”. A American Farm Bureau Federation faz seu próprio esclarecimento:

“O cânhamo industrial não é maconha, embora seja uma variedade diferente da mesma espécie, fato que às vezes resultou em uma associação negativa e impediu o cultivo da planta. Essa espécie é Cannabis sativa L., que historicamente foi classificada nos EUA como substância controlada no Cronograma I e regulamentada pela Lei de Substâncias Controladas.

Desde a década de 1990, variedades dessa planta contendo baixos níveis de delta-9-tetrahidrocanabinol, ou THC, que é o ingrediente que confere à maconha suas propriedades psicoativas, foram legalizadas em muitos países europeus, bem como no Canadá e na Austrália. O limiar comum de THC permitido para o cânhamo industrial é de 0,3% com base em seu peso seco.”

A cannabis usada contra dor reduz o risco de dependência

Um dos pontos mais irônicos e instigantes em relação ao uso da cannabis como remédio para dor e inflamação é este: a cannabis, especialmente quando tão eficaz em trazer alívio, é uma substância natural (leia-se: não sintética) capaz de reduzir as taxas de dependência fora de controle, agora reconhecidas pelas comunidades médica e por órgão da lei. Além disso, como observado pelo Medical News Today, os efeitos colaterais do uso de CBD não são prejudiciais nem letais:

“Muitos estudos em pequena escala analisaram a segurança do CBD em adultos. Eles concluíram que os adultos tendem a tolerar bem uma ampla variedade de doses. Os pesquisadores não encontraram efeitos colaterais significativos no sistema nervoso central, nos sinais vitais ou no humor, mesmo entre as pessoas que faziam uso de dosagens altas.

O efeito colateral mais comum foi o cansaço. Além disso, algumas pessoas relataram diarreia e alterações no apetite ou no peso... Ainda faltam dados disponíveis sobre sua segurança a longo prazo."

Segundo o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, a essência do problema, apropriadamente intitulada de "crise opioide”, surgiu inicialmente de empresas farmacêuticas nos anos 90, que asseguraram coletivamente às entidades médicas que os analgésicos opioides não causavam vício, de modo que passaram a ser prescritos com mais frequência.

Isso resultou numa cascata de eventos: primeiro, os médicos começaram a prescrevê-los com mais frequência, o que naturalmente levou ao consumo generalizado de medicamentos prescritos, depois se espalhou para os opioides sem prescrição antes de se tornar aparente que eles poderiam ser realmente viciantes.

Efeitos colaterais comuns ao uso de opioides

Uma lista de efeitos colaterais causados pelo uso de opioides é abordada pela Sociedade Americana contra o Câncer. Entre eles, sonolência, que torna inseguro dirigir ou operar máquinas. Náusea, vômito e coceira também são comuns. Constipação ou dificuldade em urinar também são efeitos colaterais que as pessoas experienciam com o uso de opioides, além de efeitos mentais, como confusão, alucinações e pesadelos.

Embora os pacientes possam notar que certos efeitos colaterais diminuem sem intervenção adicional ao tratamento, uma combinação de efeitos colaterais, como inchaço na garganta, urticária ou dificuldade em respirar acompanhada de náusea, pode ser uma reação alérgica a um medicamento.

É aconselhável que os pacientes nunca pararem de tomar seus medicamentos repentinamente e busquem orientação médica quanto à diminuição, aumento ou interações com outros medicamentos que possam estar tomando e que podem agravar os problemas. Além disso, as pessoas geralmente têm reações diferentes aos fármacos, incluindo medicamentos sem prescrição, mas também existe uma epidemia opioide a se considerar.