Por Dr. Mercola
Os autores de uma revisão envolvendo dados de mais de 602.000 pessoas da Austrália, Europa e EUA afirmam que a antocianina, um pigmento flavonoide encontrado em uma variedade de frutas e vegetais, pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, além de ajudar no tratamento de certos tipos de câncer e diabetes.
Os pesquisadores sugerem que foram identificadas cerca de 400 antocianinas diferentes, a maioria delas concentrada na casca de frutas, principalmente frutas silvestres como mirtilos, framboesas e morangos. Vamos dar uma olhada nessa importante classe de flavonoides que faz maravilhas pela sua saúde.
A alta ingestão de antocianinas pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares
Uma revisão e meta-análise publicada na revista Critical Reviews in Food Science and Nutrition sugere que as antocianinas, pigmentos solúveis em água conhecidos por dar a certas frutas e legumes tons distintos de azul, roxo e vermelho, podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares e auxiliar no tratamento de outros problemas de saúde.
Segundo a Johns Hopkins Medicine, estima-se que 84 milhões de americanos sofrem de algum tipo de doença cardiovascular, que é responsável por uma a cada três mortes nos EUA. Os autores do estudo analisaram dados coletados de 19 estudos prospectivos, concentrando-se na avaliação do efeito das antocianinas na saúde circulatória e cardíaca.
A pesquisa envolveu mais de 602.000 pessoas da Austrália, Europa e EUA, que foram monitoradas por períodos que variaram entre 4 a 41 anos. Comparadas às pessoas que consumiam menos antocianinas, aquelas que faziam um consumo elevado apresentaram:
- 9% menos risco de doença arterial coronariana
- 8% menos chances de morrer por causas associadas a doenças cardíacas
Porém, os autores do estudo não observaram qualquer relação entre a ingestão de antocianinas e um risco reduzido de ataque cardíaco ou derrame. Falando sobre a pesquisa, o professor Glyn Howatson, Ph.D, diretor de pesquisa e inovação do departamento de esporte, exercício e reabilitação da Northumbria University, no Reino Unido, disse:
"Nossa análise é a maior e mais abrangente avaliação da associação entre a ingestão de antocianina na dieta e o risco de doenças cardiovasculares. Evidências crescentes sugerem que esses compostos naturais botânicos podem ser especialmente valiosos na promoção da saúde cardiovascular".
O que são antocianinas e onde encontrá-las?
Antocianinas são uma classe de flavonoides - antioxidantes naturais conhecidos por proteger o corpo contra a degeneração celular.
Geralmente, elas são encontradas em maior concentração na casca das frutas, especialmente frutas silvestres. Porém, frutas vermelhas como morangos e cerejas também têm antocianinas em sua polpa. "Frutas conhecidas por seu alto teor de antocianinas incluem:
Açaí |
Mirtilos |
Framboesas |
Groselhas |
Cerejas |
Uvas rubi ou roxas |
Amoras |
Cranberries |
Morangos |
Os vegetais que contêm antocianinas incluem:
- Berinjela
- Repolho roxo
- Cebola roxa
- Certos tipos de batata
Uma pesquisa publicada em 2010 na revista Nutrition Reviews sugere que o teor de antocianina é geralmente proporcional à intensidade da cor da fruta ou vegetal na qual se encontra, variando entre 2 a 4 gramas (g)/quilograma por item e aumentando conforme o produto amadurece.
Os autores do estudo observam que os níveis de polifenóis, incluindo as antocianinas encontradas nas frutas silvestres (e, portanto, o impacto do consumo de frutas na saúde do coração) são influenciados pelos métodos de processamento pós-colheita, como secagem, pasteurização e prensagem.
Como é de se esperar, você pode obter níveis mais altos de antocianina consumindo frutas com a casca. Os pesquisadores também alegam que os americanos consomem uma média de 12,5 a 215 miligramas de antocianinas por dia e afirmam: "As antocianinas das frutas silvestres são pouco biodisponíveis, amplamente conjugadas no intestino e no fígado e excretadas na urina entre duas a oito horas após o consumo".
Por conta dessa baixa biodisponibilidade, não faz sentido consumir em excesso frutas vermelhas ou qualquer outra fonte de antocianina. Devido à natureza contínua das pesquisas sobre as antocianinas e outros flavonoides, é melhor aguardar até que conclusões mais definitivas sejam tiradas sobre os muitos benefícios associados a elas.
Outros estudos demonstram a importância das antocianinas para a saúde do coração
O autor de um estudo sobre antocianinas escreveu que elas são valorizadas por várias funções biológicas, incluindo suas conhecidas atividades anticarcinogênicas, anti-inflamatórias, antimicrobianas e antioxidantes. Ele declarou que elas "possuem uma variedade de efeitos sobre os vasos sanguíneos, plaquetas e lipoproteínas", tornando-as úteis na redução do risco de doença arterial coronariana.
Os autores da pesquisa mencionada acima e publicada em 2010 alegam que os estudos feitos com mirtilos, cranberries e morangos demonstraram "melhoras significativas na oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL), peroxidação lipídica, capacidade antioxidante plasmática total, dislipidemia e metabolismo da glicose" em indivíduos saudáveis e com fatores de risco metabólicos.
Quanto à maneira pela qual frutas silvestres influenciam a saúde, os autores do estudo declararam: "Acredita-se que os mecanismos subjacentes a esses efeitos positivos incluem a regulação do óxido nítrico-sintase endotelial, diminuição da atividade das enzimas digestoras de carboidratos, diminuição da oxidação, estresse e inibição da expressão gênica inflamatória e a formação de células espumosas". Com base nas evidências, concluiu-se que as frutas silvestres são um complemente essencial a uma alimentação saudável para o coração.
As antocianinas presentes nos mirtilos e morangos diminuem a pressão arterial
Mirtilos e morangos, ambos ricos em antocianinas, destacaram-se por seu papel na proteção do coração e na diminuição da pressão arterial. Pesquisas anteriores revelaram que mulheres entre 25 a 42 anos que ingeriam mais de três porções de mirtilos e morangos por semana tinham 32% menos risco de ter um ataque cardíaco.
É provavel que as antocianinas beneficiem o revestimento endotelial do sistema circulatório, impedindo o acúmulo de placa nas artérias e promovendo uma pressão arterial saudável.
Outra pesquisa demonstrou que esses antioxidantes protegem contra doenças cardíacas, reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação, aumentando a força dos vasos sanguíneos e inibindo a formação de plaquetas. Demonstrou-se também que consumir mirtilos diminui a pressão sanguínea.
Um estudo publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics envolvendo mulheres na pós-menopausa sugere que o consumo de mirtilo afeta positivamente a pressão arterial. Mulheres com pré-hipertensão ou hipertensão receberam um pó placebo ou um pó de mirtilo liofilizado (em uma quantidade equivalente a cerca de 1 xícara de mirtilos frescos) diariamente por oito semanas.
Embora o grupo placebo não tenha sofrido mudanças significativas, as mulheres que fizeram a suplementação com mirtilos tiveram uma queda de 5% a 6% nas leituras de pressão arterial sistólica (número superior) e diastólica (número inferior). As leituras de óxido nítrico também aumentaram consideravelmente nesse grupo.
O óxido nítrico ajuda os vasos sanguíneos a manter sua elasticidade, além de dilatar os vasos sanguíneos, reduzindo a pressão sanguínea. Os autores do estudo declararam: "O consumo diário de mirtilos pode reduzir a pressão sanguínea e a rigidez arterial, o que se deve parcialmente ao aumento da produção de óxido nítrico".
As antocianinas podem auxiliar no tratamento do câncer de cólon
Em um estudo publicado no Scientific Reports, pesquisadores da University of Eastern Finland, em um trabalho conjunto com o U.S. National Institute on Aging, observaram o papel promissor das antocianinas no tratamento do câncer.
O estudo focou no efeito do pigmento das frutas silvestres nas sirtuínas, um tipo de proteína envolvida na regulagem dos processos celulares do corpo com relação ao reparo do DNA, redução da reação à inflamação, longevidade e metabolismo.
Especificamente, o estudo destacou os efeitos das antocianinas em uma sirtuína menos conhecida chamada SIRT6, que tem sido associada ao metabolismo da glicose. Pelo resultado do estudo, é possível concluir que a regulação dessa enzima possa abrir novos caminhos para o tratamento contra o câncer.
"Os resultados mais interessantes do nosso estudo estão relacionados à cianidina, uma antocianina encontrada em abundância no mirtilo, groselha e cassis", disse Minna Rahnasto-Rilla, autora principal do estudo, que possui doutorado em farmácia pela University of Eastern Finland. Especificamente, os pesquisadores observaram que a cianidina:
- Aumenta os níveis de SIRT6 em células humanas de câncer colorretal.
- Diminui a expressão dos genes do câncer ligados à proteína relacionada à torção (Twist1) e aos transportadores de glicose (GLUT1).
- Aumenta expressão do gene O3 (FoXO3), que inibe tumores.
Essas descobertas demonstram que antocianinas como a cianidina podem aumentar a ativação do SIRT6, reduzindo a expressão de genes e o crescimento de células cancerígenas.
O câncer de próstata também foi positivamente influenciado pelas antocianinas
Os pesquisadores acreditam há muito tempo que as diferenças entre alimentação, particularmente o consumo de vinho, que contém antocianinas e outros polifenóis benéficos, podem explicar a alta incidência de câncer de próstata nos EUA quando comparado a outros países.
Considerando a estimativa de 164.000 novos casos da doença em 2018, bem como mais de 29.000 americanos mortos anualmente por câncer de próstata, essa doença é uma preocupação válida.
A dieta mediterrânea, rica em peixes, azeite de oliva e porções saudáveis de frutas, nozes e vegetais, é considerada um inibidor natural do câncer. Sobre o impacto de flavonoides como a cianidina e o kaempferol, os autores de um estudo publicado no Journal of Nutritional Biochemistry disseram:
"Evidências epidemiológicas indicam que os compostos polifenólicos nas dietas protegem contra o câncer. A cianidina e o kaempferol são abundantes em vinhos e plantas …”
Eles descobriram foi que a antocianina cianidina diminui a produção de PGE2 e a expressão de COX-2 em células cancerígenas da próstata humana.
Os autores do estudo declararam que "a cianidina e o kaempferol... reduziram o nível de PGE2 em... culturas celulares e também atenuaram o efeito do ácido araquidônico no aumento da quantidade de PGE2. A cianidina reduziu os níveis de proteína COX-2 com o tempo e a repetição das doses".
Além disso, um estudo de 2015 publicado no International Journal of Oncology descobriu a morte celular induzida pela cianidina e a diferenciação em células de câncer de próstata.
As antocianinas podem prevenir e controlar o diabetes?
A importância das antocianinas na prevenção e tratamento do diabetes tipo 2 foi destacada em uma revisão de 2018 realizada na Wroclaw Medical University, na Polônia.
Os autores revisaram pesquisas anteriores relacionadas à importância das antocianinas na regulagem do metabolismo de carboidratos e na redução da resistência à insulina como fatores principais da redução do risco de diabetes tipo 2. De acordo com a equipe, até o momento, vários estudos envolvendo humanos e animais demonstraram que as antocianinas:
Aumentam a secreção de adiponectina e leptina |
Alimentam a ativação da proteína quinase ativada por AMP |
Aumenta a ativação do PPARγ no tecido adiposo e nos músculos esqueléticos |
Inibe a alfa-glucosidase intestinal e a alfa-amilase pancreática |
Reduz a expressão da proteína carreadora de retinol 4 (RBP4) |
Regula a expressão e translocação do gene transportador de glicose 4 (GLUT4) |
Além disso, as antocianinas melhoram a secreção de insulina nas células beta pancreáticas de roedores. Como as antocianinas individuais e seus glicosídeos têm atividades diferentes, os pesquisadores recomendaram a ingestão de uma vários vegetais como parte de sua alimentação diária para garantir o consumo de uma ampla gama de antocianinas.
Aproveite os benefícios das antocianinas, mas tome cuidado com a ingestão diária de frutose
Embora as frutas silvestres e outras frutas coloridas sejam saborosas e ricas em nutrientes, eu recomendo o consumo com moderação. Mesmo que a fruta contenha açúcares naturais, que ajudam a promover uma saúde ideal, você deve limitar seu consumo de frutose. Sendo assim, eu aconselho que você mantenha sua ingestão de frutose abaixo de 25 gramas por dia, incluindo a frutose recebida de frutas com casca.
Caso você tenha diabetes, problemas cardíacos, pressão alta ou resistência à insulina, limite sua ingestão diária de frutose a 15 gramas até que sua condição melhore. Conforme observado no vídeo do Environmental Working Group (EWG) acima, a maioria das frutas silvestres e frutas de casca fina (além dos legumes) é pulverizada com pesticidas. Assim, é sempre melhor comprar ou cultivar produtos orgânicos.
Para mais informações sobre a importância de consumir produtos orgânicos, consulte a lista EWG's Dirty Dozen. A tabela abaixo, mostra a quantidade de frutose presente em algumas frutas ricas em antocianina:
Fruta |
Porção |
Vitamina E (mg) |
Maçã |
1 média |
9,5 |
Amora |
1 xícara |
3.5 |
Mirtilos |
1 xícara |
7.4 |
Boysenberries |
1 xícara |
4.6 |
Cerejas azedas |
1 xícara |
4.0 |
Cerejas doces |
10 |
3.8 |
Cranberries |
1 xícara |
0.7 |
Peras (vermelhas) |
1 média |
11.8 |
Framboesas |
1 xícara |
3.0 |
Morangos |
1 xícara |
3.8 |
Para alcançar a saúde ideal, é importante seguir uma dieta equilibrada, com fontes alimentares integrais. Certifique-se de incluir uma variedade de alimentos ricos em antocianina com moderação. Como a dieta é apenas um fator no seu bem-estar, também aconselho que você diminua seu nível de estresse, pratique exercícios e durma bem.