Por que é melhor evitar os esteroides

Fatos verificados
efeitos dos esteroides

Resumo da matéria -

  • Os esteroides podem ser administrados topicamente (através de um creme ou pomada), por via oral ou por injeção. Os esteroides atuam inibindo a produção de compostos químicos inflamatórios, reduzindo assim os sintomas associados à inflamação
  • Três dos efeitos colaterais mais comuns, mesmo após o uso a curto prazo, são a osteoporose (densidade óssea reduzida), catarata e risco aumentado de diabetes. No entanto, também foram relatados efeitos mais graves como sepse com risco de vida
  • Em um estudo de 2019, 8% dos pacientes com osteoartrite do quadril ou joelhos que receberam uma a três injeções de esteroides acabaram tendo o quadro piorado. Efeitos adversos foram observados em 10% dos indivíduos com OA no quadril, em 4% dos indivíduos com OA nos joelhos

Por Dr. Mercola

Caso você tenha artrite, é provável que já tenha recebido injeções de esteroides para aliviar os sintomas. Infelizmente, cada vez mais pesquisas sugerem que esse tratamento pode, na verdade, causar muito mais mal do que bem, mesmo a curto prazo.

O primeiro uso registrado de esteroides data de aproximadamente 1930, quando um extrato de tecido adrenocortical animal foi usado para combater a insuficiência adrenal humana. Após mais de uma década de testes e pesquisas, o primeiro paciente com artrite reumatoide foi tratado com aplicação de esteroides.

Os resultados, a princípio, foram impressionantes, e não demorou para que o medicamento fosse prescrito para outros pacientes com artrite. Em 1950, foram utilizadas as primeiras formulações orais e intra-articulares. Hoje, os esteroides podem ser administrados topicamente através de um creme ou pomada, por via oral ou por injeção.

Embora os sistemas de entrega dos componentes ativos possa diferir, os esteroides funcionam inibindo a produção de compostos químicos inflamatórios, reduzindo assim os sintomas associados à inflamação, seja ela sistêmica ou em localizada, como uma articulação.

Na década de 1960, muitos efeitos colaterais relacionados à toxicidade e sintomas de abstinência estavam aparecendo, e protocolos de abstinência já haviam sido formulados. Até hoje, os pesquisadores continuam a descobrir efeitos nocivos do tratamento.

Três dos efeitos colaterais mais comuns, mesmo após o uso a curto prazo, são a osteoporose (densidade óssea reduzida), catarata e risco aumentado de diabetes. No entanto, efeitos mais graves, como sepse com risco de vida (envenenamento do sangue), também foram relatados.

Uma única injeção de esteroides pode gerar uma grande perda óssea

Em um artigo publicado em outubro de 2019 no The Atlantic, o Dr. James Hamblin relata o caso perturbador de uma jovem que, após o parto, reclamou de dores no quadril. Uma injeção de esteroide foi administrada para ajudar com a dor, após um raio X revelar uma pequena quantidade de líquido na articulação, o que pode ser um sinal de inflamação.

Seis meses depois, a mulher retornou ao hospital, agora incapaz de andar. A imagem revelou que toda a cabeça do fêmur havia desaparecido, fazendo que uma substituição total do quadril fosse necessária.

Enquanto o médico dela, Ali Guerrmazi, no Boston Medical Center, não sabia exatamente como isso aconteceu, ele suspeitava que a perda óssea estivesse relacionada à injeção de esteroides. Como observado por Hamblin:

“Esta não é uma suspeita qualquer. Os médicos há muito consideram uma injeção de esteroides - do tipo que provém das glândulas suprarrenais e modula a resposta do corpo ao estresse - como uma maneira relativamente inofensiva de aliviar temporariamente a dor nas articulações.

No pior dos casos, o que aconteceu foi que a injeção não ajudou na dor... Como especialista em dores nas articulações, Guermazi já tinha realizado milhares de injeções de esteroides ao longo de décadas de trabalho. Ele treinou outros profissionais da mesma forma como foi treinado: acreditando que as injeções são seguras desde que não sejam usadas demais.

Hoje ele acredita que o procedimento é mais perigoso do que se imaginava. Ele, juntamente a um grupo de colegas da Universidade de Boston, estão levantando a bandeira para advertir médicos e pacientes.”

O uso dos esteróides pode comprometer as articulações

Guermazi, junto aos colegas mencionados, publicaram recentemente os resultados de um estudo onde foram avaliados os resultados do tratamento com esteroides de 459 pacientes com osteoartrite (OA) do quadril ou joelho. Os pacientes receberam entre uma e três injeções intra-articulares de corticosteroides (SIGC) (mediana de 1,4 injeções) para a OA.

Em 8% desses casos, a injeção acabou causando complicações que pioraram a articulação. Os quadris parecem ser muito mais propensos a danos causados pelas injeções do que os joelhos, pois efeitos adversos foram observados em 10% daqueles com OA no quadril, em comparação com 4% daqueles com OA nos joelhos. De acordo com os autores:

“Quatro efeitos adversos principais foram encontrados nas estruturas articulares dos pacientes após injeções de SIGC: progressão acelerada da OA, fratura por insuficiência subcondral, complicações devido à osteonecrose e destruição rápida das articulações, incluindo perda óssea”.

Destes, a progressão acelerada da OA foi o sintoma mais comum, respondendo a cerca de 6% dos efeitos adversos; 0,9% apresentaram fratura por insuficiência subcondral, 0,7% osteonecrose e 0,7% tiveram rápida destruição articular e perda óssea.

Outros perigos do uso prolongado de esteróides

Os perigos do uso prolongado de esteroides já são bem documentados. Infelizmente, frequentemente médicos e pacientes acreditam que eles são a única opção disponível para aliviar os sintomas. No entanto, os efeitos a longo prazo do medicamento podem, em muitos casos, superar os benefícios do tratamento, dependendo da condição.

Dentre os que receberam os esteroides prescritos no estudo do BMJ descrito acima, quase metade recebeu o medicamento para diagnósticos relacionados a dores nas costas, alergias ou infecções respiratórias. Os esteroides também são comumente prescritos para outras condições de saúde, incluindo lúpus, vasculite sistêmica (inflamação dos vasos sanguíneos), miosite (inflamação muscular) e gota.

O lugar comum na maioria das condições para as quais os esteroides são prescritos é a inflamação. Seja por doença, enfermidade ou lesão, a intenção por trás do uso de esteroides é reduzir a inflamação, o que por sua vez leva a uma redução dos sintomas.

No entanto, os esteroides não são a única opção, e muitas vezes sequer são a melhor opção para reduzir a inflamação. Como a adição de hormônios (esteroides) ao seu corpo altera o delicado equilíbrio hormonal natural, qualquer adição pode causar uma longa lista de alterações reversíveis e / ou irreversíveis, incluindo:

Úlceras estomacais

Aumento da incidências de pelos faciais

Aumento do risco de doença cardíaca

Infecções genitais por leveduras e candidíase oral

Densidade óssea reduzida e osteoporose

Sangramento gastrointestinal

Afinamento da pele e estrias

Aumento do apetite e ganho de peso

Síndrome metabólica

Alto risco de infecção

Problemas de memória e cognição

Cataratas

Insônia

Glaucoma

Rosto inchado

Hipomania, hiperatividade, depressão ou psicose

Infecções do trato urinário

Supressão da secreção de hormônio supra-renal

Cicatrização lenta

Alto nível de açúcar no sangue e diabetes

Retenção de líquidos

Acne

Suor noturno

Aumento da pressão arterial

Abstnência de esteróides

Se você optar por usar esteroides por um período prolongado, também é importante saber que a interrupção abrupta da medicação pode desencadear efeitos adversos e potencialmente até letais, dependendo de quanto tempo você toma o medicamento. Os sintomas associados à abstinência de esteroides incluem:

Fadiga e fraqueza

Redução do apetite

Náusea e vômito

Dores no corpo e/ou nas articulações

Perda de peso

Dores abdominais e/ou íleo (a interrupção temporária do peristaltismo intestinal)

Diarreia

Pressão baixa

Tontura

Baixos níveis de açúcar no sangue

Febre

Alterações mentais como depressão, alterações de humor e pensamentos suicidas

Desidratação

Dores de cabeça

Tremores

Erupções cutâneas

Alterações no ciclo menstrual

Níveis elevados de cálcio e/ou desequilíbrio eletrolítico

Alternativas mais seguras

Em casos específicos, é possível que tratamento exija o uso de esteroides. No entanto, eu acredito que os esteroides são frequentemente prescritos para condições que podem ser tratadas de maneiras muito mais seguras.

Em alguns casos, você pode evitar o uso de esteroides incorporando mudanças de hábito simples que reduzem naturalmente a inflamação em seu corpo. Portanto, antes de recorrer aos esteroides, considere implementar algumas das sugestões a seguir para descobrir se elas são suficientes para o seu caso:

Curcumina — A curcumina é um dos compostos químicos presentes na cúrcuma (açafrão da terra) e sua ação tem propriedades anti-inflamatórias. A curcumina ajuda a equilibrar citocinas excitatórias e inibitórias (substâncias secretadas pelo sistema imunológico que afetam outras células).

Elimine alimentos que promovem a inflamação — Os alimentos que contribuem significativamente para a resposta inflamatória do seu corpo incluem praticamente todos os alimentos processados, açúcares, glúten, óleos vegetais processados (gorduras trans) e álcool. As lectinas também podem causar problemas se você for sensível a elas.

Consuma alimentos que reduzem a inflamação — para reduzir a inflamação crônica, é interessante ajustar sua dieta de forma geral. Alimentos que ajudam a reduzir a inflamação são geralmente ricos em antioxidantes e gorduras saudáveis. Exemplos incluem o chá-verde, legumes, caldo de osso, abacate e óleo de coco.

Mantenha-se hidratado — Quando desidratadas, suas células não conseguem funcionar de maneira ideal e têm mais dificuldade para eliminar toxinas; portanto, procure manter-se bem hidratado. Como regra geral, beba água suficiente manter a sua sede saciada. Uma forma simples de avaliar a sua hidratação é observar a cor da sua urina. Se a urina possuir uma cor amarelo-claro, é normalmente um sinal de que você está devidamente hidratado.

Exercite-se e mantenha-se ativo diariamente — O exercício ajuda a diminuir o estresse e melhora a qualidade do seu sono, o que por sua vez reduz os níveis de inflamação. O exercício também melhora sua função cardíaca e pulmonar, flexibilidade e amplitude de movimento.

Movimento de não-exercício também são importante. Idealmente, procure se mover o máximo possível ao longo do dia. Se possível, tente limitar o seu tempo sentado a não mais que três horas diárias.

Otimize seu peso — Se você estiver acima do peso, tente unir exercícios com uma dieta saudável para trazer algum alívio às articulações. Um estudo de 2013 revelou que adultos com sobrepeso ou obesos e com OA de joelho que seguiram um programa intensivo de dieta e exercício, passaram a sentir menos dores do que aqueles submetidos apenas ao regime de dieta ou exercício isolados.

O Dr. Aman Dhawan, especialista em medicina esportiva ortopédica do Centro Médico Milton S. Hershey, da Penn State Health, afirma que qualquer perda de peso pode se transformar em enormes melhorias na dor e na função das articulações.

Reduza o estresse — A ciência demonstra que o estresse aumenta a resposta inflamatória em seu corpo. Meditação, Ioga, esportes, exercícios físicos e exercícios de respiração profunda são formas de ajudar a reduzir o estresse.

Um dos meus métodos favoritos é o EFT (Emotional Freedom Techniques), que utiliza toques suaves nos pontos de acupuntura na cabeça e parte superior do corpo para ajudá-lo a limpar a mente e alcançar seus objetivos.

Tenha um sono de qualidade — Dormir oito horas com boa qualidade de sono é importante para a sua saúde por diversas razões. Entre elas, a redução da inflamação em seu corpo.

Óleos essenciais e aromaterapia — Existem muitos usos para os óleos essenciais, desde elevar seu humor até ajudar a reduzir a inflamação.

Desintoxicação na sauna — Embora existam diversas maneiras de ajudar o seu corpo a se desintoxicar (o que é importante para diminuir a inflamação), o uso de uma sauna com luz próxima ao infravermelho está entre as mais simples e econômicas.

Terapia com plasma rico em plaquetas — A terapia com plasma rico em plaquetas (PRP) libera fatores de crescimento que podem ajudar a curar e fortalecer áreas do corpo humano, incluindo as articulações dos joelhos.

Uma pesquisa publicada no American Journal of Sports Medicine investigou os efeitos do PRP quando aplicado a pacientes com OA em ambos os joelhos. Em seis semanas a três meses, os joelhos tratados com uma ou duas aplicações de PRP observaram uma redução significativa na dor e rigidez. Na marca de seis meses, a evolução dos resultados positivos do PRP diminuiu, mas a dor e a função do joelho ainda eram melhores do que antes do tratamento.

+ Recursos e Referências