Os benefícios para a saúde de viver perto do mar

Fatos verificados
saúde

Resumo da matéria -

  • Adultos de áreas urbanas urbanos que moram a 1 quilômetro ou menos da costa apresentam melhor saúde mental do que aqueles que moravam a mais de 50 quilômetros de distância
  • Quando a renda familiar foi considerada, o estudo mostrou que, para os entrevistados de renda mais baixa, indivíduos que moravam a menos de 1 km da costa apresentaram um risco 40% menor de saúde mental ruim em comparação com aqueles que moram a 50 km ou mais
  • Mesmo entre aqueles que vivem entre 1 e 5 km da costa, havia um risco 25% menor de problemas de saúde mental em comparação com aqueles que moravam mais longe
  • Na Europa, o projeto Blue Health está analisando como as vias navegáveis interiores e as costas afetam a saúde e a incidência de doenças
  • Pesquisas canadenses também revelaram que morar perto da água pode reduzir o risco de morte prematura em 12% a 17% em residentes de áreas urbanas, especialmente mortes relacionadas a acidente vascular cerebral ou causas relacionadas à respiração

Por Dr. Mercola

Muitas pessoas sonham em morar perto da praia, e é possível que exista uma razão intrínseca para isso. A vida costeira pode ser muito boa para a saúde mental, de acordo com um estudo comandado por pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra. A pesquisa baseia-se em estudos anteriores que ligam ambientes naturais à saúde mental e bem-estar, e sugere que você pode melhorar muito mais que o seu humor optando por morar perto do mar.

Nos EUA, os municípios litorâneos representam menos de 10% da área total (com exceção do Alasca), mas 39% da população reside nessas áreas. Além disso, cada vez mais pessoas querem morar perto do litoral.

De acordo com o Serviço Nacional do Oceano (NOS), a população dos municípios localizados diretamente no litoral americano aumentou em quase 40% entre 1970 a 2010, e estima-se que aumente em mais 8% (cerca de 10 milhões de pessoas) até 2020.

"As regiões costeiras são consideravelmente mais povoadas do que a média dos EUA, e a densidade populacional nas áreas costeiras só tende a aumentar no futuro. De fato, a densidade populacional das cidades litorâneas é seis vezes maior que em municípios equivalentes no interior", segundo a NOS, e é possível que o aumento da saúde mental seja uma das razões.

Viver perto da costa é bom para a saúde mental

Já foi revelado que, na Inglaterra, a saúde geral é melhor entre indivíduos que moram perto da costa. Além disso, a associação é ainda mais forte entre os grupos de baixa renda.

Para o estudo apresentado, os pesquisadores usaram dados da Pesquisa de Saúde da Inglaterra, que entrevistou 25.963 adultos entre 2008 e 2012. Eles relacionaram a saúde dos entrevistados à sua proximidade com o mar para determinar se resultados semelhantes se aplicariam à saúde mental.

Os resultados mostraram que adultos de áreas urbanas urbanos que moram a 1 quilômetro ou menos da costa apresentam melhor saúde mental do que aqueles que moravam a mais de 50 quilômetros de distância. Quando os dados foram analisados como um todo, houve uma redução de 20% na incidência de saúde mental ruim entre aqueles que moravam perto da costa em comparação com aqueles que estavam mais afastados.

No entanto, ao considerar-se a renda familiar, o estudo mostrou que, para os entrevistados de renda mais baixa, indivíduos que moravam a menos de 1 km da costa apresentaram um risco 40% menor de saúde mental ruim em comparação com aqueles que moram a 50 km ou mais.

Mesmo entre aqueles que vivem entre 1 e 5 km da costa, havia um risco 25% menor de problemas de saúde mental em comparação com aqueles que moravam mais longe. Os pesquisadores explicaram:

“A estratificação pela renda familiar revelou que a relação entre proximidade da costa e resultados de saúde mental estava presente apenas para as pessoas com renda familiar mais baixa, e se estendia até distâncias menores que 5 km.

Especificamente, os resultados sugerem que as pessoas que vivem em áreas urbanas no quintil de menor renda familiar são menos propensas a sofrer de um transtorno mental comum (TMC), como ansiedade ou depressão, se morarem a até 5 km da costa, em comparação com as que vivem em áreas urbanas no interior (> 50 km).

Em particular, morar a menos de 1 km da costa está associado às reduções mais fortes na probabilidade de TMCs para indivíduos pertencentes às camadas econômicas inferiores.”

Jo Garrett, que liderou o estudo, disse em um comunicado à imprensa: "Nossa pesquisa sugere, pela primeira vez, que pessoas de famílias mais pobres que moram perto da costa apresentam menos sintomas de distúrbios de saúde mental. Quando se trata de saúde mental, essa zona 'protetora' pode desempenhar um papel útil para ajudar a equilibrar a situação entre indivíduos com alta e baixa renda".

As "áreas azuis" promovem a saúde

Tem-se falado muito sobre o papel positivo das áreas verdes na saúde humana, e agora os pesquisadores estão voltando sua atenção para os chamados "áreas azuis" (corpos d'água) e seus efeitos na saúde. Na Europa, o projeto BlueHealth está analisando como as vias navegáveis interiores e as costas afetam a saúde e a incidência de doenças. Entre as suas descobertas, podemos citar:

  • Viver perto da costa foi associado a uma melhor saúde geral e mental, em parte porque incentiva a participação em atividades terrestres externas, especialmente caminhadas.
  • Quando uma área urbana localizada próxima a um rio de Barcelona, na Espanha, foi reformada, houve um aumento de 25% na quantidade de usuários do espaço, o que por sua vez promoveu atividades físicas e interações sociais, levando a melhorias na saúde e no bem-estar da população local.
  • Estima-se que o aumento da atividade física entre usuários adultos devido à recuperação da área tenha levado a uma redução de 7,3 mortes e 6,2 casos de doenças ao ano. "Isso corresponde a DALY (Disability Adjusted Life Years - Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade) e um impacto econômico e de saúde anual de 23.4 milhões de euros (R$ 108 milhões)."

Pesquisas canadenses também revelaram que morar perto da água pode reduzir o risco de morte prematura em 12% a 17% em residentes de áreas urbanas, especialmente mortes relacionadas a acidente vascular cerebral ou causas relacionadas à respiração.

Os pesquisadores sugeriram que mais pesquisas são necessárias para determinar por que as áreas azuis melhoram a saúde, mas outros especialistas sugeriram que isso poderia ser "devido a oportunidades de redução do estresse e aumento da atividade física", especialmente em comunidades de camadas socioeconômicas mais baixas.

Também existem evidências de que o borrifo do mar pode ter um efeito de limpeza do ar, talvez levando a uma menor poluição atmosférica. Similarmente, em Wellington, na Nova Zelândia, o aumento da visibilidade das áreas azuis esteve relacionado a um menor estresse psicológico, e um estudo em adultos mais velhos descobriu que aqueles com a melhor vista do mar apresentavam níveis mais baixos de depressão. Entre os idosos de Hong Kong, os pesquisadores observaram:

“Aqueles com vista para uma área azul em casa tinham maior probabilidade de relatar boa saúde geral, enquanto a exposição intencional estava ligada a maiores chances de bem-estar elevado. A visita regular a áreas azuis era mais provável para indivíduos que moravam a uma distância equivalente a 10 a 15 minutos de caminhada e que consideravam que os locais de visita possuíam instalações adequadas e presença de vida selvagem.

Visitas mais longas às áreas azuis, bem como aquelas que envolvem atividades de maior intensidade, foram associadas a um maior bem-estar. Nossas evidências sugerem que, pelo menos para os idosos, as áreas azuis de Hong Kong podem ser um importante recurso de saúde pública.”

Estudantes universitários também se beneficiam da área azul, que é considerado "psicologicamente restauradora" no ambiente urbano. Notavelmente, os benefícios das áreas azuis se estendem além dos oceanos, podendo incluir áreas de água doce, como os Grandes Lagos da América do Norte. De fato, a distância dos Grandes Lagos e a porcentagem de lagos interiores apresentaram um efeito protetor na saúde mental.

Indivíduos estressados também relataram uma “diminuição acentuada dos sentimentos negativos” após passarem algum tempo em um ambiente urbano de zona úmida, o que sugere que muitos tipos diferentes de áreas azuis podem ser benéficos.

As atividades ao ar livre fazem bem para você

Independentemente de se você mora na costa ou no interior, passar um tempo em ambientes naturais podem proteger a saúde.

Um enorme estudo, envolvendo dados de 143 estudos e mais de 290 milhões de pessoas, revelou que a exposição a áreas verdes, definida como terra aberta e não desenvolvida, com vegetação natural, levou a reduções significativas na pressão arterial diastólica (o número inferior), cortisol salivar (um marcador fisiológico de estresse) e frequência cardíaca, juntamente com reduções significativas de Diabetes tipo 2 e mortalidade geral, bem como mortalidade especificamente relacionada a problemas cardíacos.

Além disso, o aumento da exposição às áreas verdes levou a uma redução da incidência de acidente vascular cerebral, pressão alta, dislipidemia, asma e doença cardíaca coronária. Em indivíduos internados, outras pesquisas mostraram que a jardinagem, que requer algum tempo ao ar livre, promove um "locus interno de controle e bem-estar."

Observou-se uma diminuição da tristeza e da ansiedade entre os idosos internados que praticavam jardinagem. De forma geral, a jardinagem está ligada a:

  • Sensação de realização
  • Paz e bem-estar
  • Diminuição dos sintomas de depressão
  • Um efeito protetor das funções cognitivas
  • Desenvolvimento de vínculos sociais

Prescrições de terapia natural e em parques

Com o aumento das pesquisas mostrando que os espaços verdes e azuis têm muito a oferecer para a saúde e o bem-estar humano, é de se esperar que as terapias baseadas na natureza estejam surgindo como ferramentas para melhorar a saúde pública.

Em uma revisão sistemática de estudos controlados e observacionais, a terapia assistida pela natureza levou a melhorias significativas em diversas condições de saúde que vão da obesidade até a esquizofrenia. Os benefícios também foram documentados para os sobreviventes do câncer, incluindo:

  • As tradicionais corridas de "Barco do Dragão" chinesas, conduzidas em corpos d'água naturais, podem melhorar a qualidade de vida em sobreviventes de câncer de mama
  • Ambientes naturais podem combater a fadiga da atenção em sobreviventes de câncer de mama recém-diagnosticados
  • Programas de atividades ao ar livre promovem um sentimento de autoestima e comunitário para crianças e adolescentes sobreviventes do câncer
  • Paisagens terapêuticas podem diminuir a ansiedade e melhor a saúde

Também existe um movimento ParkRx, ou Park Prescriptions, criado através de uma colaboração entre o Instituto no Golden Gate, a Associação Nacional de Recreação e Parques e o Serviço Nacional de Parques. Ele envolve um prestador de serviços de saúde ou sociais dando a um paciente ou cliente uma “receita” para passar mais tempo na natureza, a fim de melhorar sua saúde física e bem-estar.

Quanto tempo é necessário para obter os benefícios que a natureza oferece?

No mínimo um estudo sugeriu que gastar 120 minutos ou mais em ambientes naturais durante a semana anterior estava associado a uma maior probabilidade de boa saúde e melhor bem-estar.

No entanto, há retornos decrescentes com a exposição à natureza além de 120 minutos, e a associação se reduziu consideravelmente a partir de 200 a 300 minutos por semana, o que sugere que 120 minutos semanais é o tempo ideal para colher os benefícios da natureza sem exagero — se é que é possível exagerar.

No entanto, nem toda a exposição a áreas verdes ou azuis pode ser medida em minutos. Pode ser que morar perto da natureza, seja ela terra ou água, traga os maiores benefícios, oferecendo acesso fácil aos seus efeitos calmantes e, talvez, incentivando mais caminhadas ou outras atividades físicas ao longo das suas trilhas, praias ou margens.

Mesmo que você não consiga ver a costa de sua casa, morar perto da água permite se dar ao luxo de visitá-la com frequência. Não importa onde você mora, não deixe de passar algum tempo em contato com a natureza, desde florestas e montanhas até rios, pântanos e oceanos, e aproveite as muitas formas que isso pode melhorar a sua saúde.