A sobrecarga de ferro destrói as mitocôndrias e sabota a saúde

Fatos verificados
sobrecarga de ferro

Resumo da matéria -

  • O ferro é essencial para a vida, pois transporta o oxigênio aos seus tecidos. A hemoglobina, a proteína dos glóbulos vermelhos do sangue, contém ferro como seu núcleo, que se liga ao oxigênio, fornecendo-o aos seus tecidos
  • Problemas de saúde comumente associados a níveis elevados de ferro incluem cirrose, câncer, hepatite C, artrite gotosa, arritmia, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, mal de Alzheimer, dentre outros
  • Uma pesquisa recente mostra que o excesso de ferro danifica a função mitocondrial e prejudica o funcionamento cardíaco, pois induz a morte das células musculares do coração

Por Dr. Mercola

O ferro é necessário para a vida, pois é essencial para a transferência de oxigênio para seus tecidos. A hemoglobina, proteína dos glóbulos vermelhos do sangue, que contém ferro em seu núcleo, se liga de forma reversível ao oxigênio e o fornece aos seus tecidos. Sem uma oxigenação adequada, suas células rapidamente começam a morrer.

O ferro também é um componente crucial para várias proteínas e enzimas e está envolvido na produção de energia, funções imunológicas, metabolismo e funções endócrinas. Por estas razões, o baixo nível de ferro (anemia) pode causar problemas consideráveis à saúde.

No entanto, o que muitas pessoas não entendem é que o excesso de ferro é, na verdade, mais comum do que raro, e a sobrecarga de ferro pode ser ainda mais problemática, como detalhado no artigo "Por que o controle de seu nível de ferro é crucial para sua saúde", que apresenta minha entrevista com Gerry Koenig, ex-presidente do Instituto dos Distúrbios do Ferro e da Fundação Hemocromatose.

Como seu corpo tem uma capacidade limitada de excretar o ferro, ele pode facilmente se acumular em órgãos como o fígado, coração e pâncreas. Isso é perigoso, pois o ferro é um poderoso oxidante, que pode danificar seus tecidos e contribuir para uma variedade de problemas de saúde, que incluem:

Cirrose

Câncer, incluindo câncer colorretal, de fígado e de pulmão — níveis elevados de ferritina estão associada a um risco 2,9 vezes maior de morte por câncer, e doadores de sangue demostraram ter uma menor chance de desenvolver certos tipos de câncer, se comparados a não doadores

Hepatite C — como descrito em um artigo de 2007, até mesmo "aumentos leves ou moderados no abastecimento de ferro parecem ter relevância clínica significativa" para esta e outras doenças

Artrite gotosa

Arritmia cardíaca

Doenças cardiovasculares

Diabetes tipo 2 e síndrome metabólica — a ferritina elevada foi associada à disfunção do metabolismo da glicose, aumentando em cinco vezes os riscos de diabetes em homens e quatro vezes em mulheres, uma correlação com magnitude similar à da obesidade.

A ferritina elevada também dobra os riscos de síndrome metabólica, uma doença associada com um aumento nos riscos de pressão alta, doenças hepáticas e doenças cardíacas

Mal de Alzheimer

A sobrecarga de ferro prejudica a função mitocondrial

O ferro causa danos consideráveis, principalmente por catalisar uma reação dentro da membrana mitocondrial. Quando o ferro reage com o peróxido de hidrogênio, são formados radicais livres de hidroxila.

Estes estão entre os radicais livres mais prejudiciais ao corpo, pois causam uma disfunção mitocondrial grave, que, por sua vez, é a raiz da maioria das doenças degenerativas crônicas. Os radicais livres de hidroxila são um estresse oxidativo que também danificam as membranas plasmáticas, células-tronco, proteínas e DNA.

Além de todo esse dano, uma pesquisa recente mostra que o excesso de ferro também promove a apoptose e a ferroptose em cardiomiócitos. A apoptose é a morte celular programada de células doentes e esgotadas, e como o próprio nome sugere, a ferroptose se refere à morte celular que depende do ferro e é controlada por ele, especificamente.

Os cardiomiócitos são células musculares do coração que geram e controlam as contrações rítmicas desse órgão, permitindo que este mantenha um ritmo saudável. Resumindo, o excesso de ferro é capaz de prejudicar o funcionamento cardíaco ao induzir anormalidades mitocondriais e a morte de células musculares do coração.

Como a sobrecarga de ferro afeta os riscos de Mal de Alzheimer

Além de aumentar os riscos de problemas relacionados ao coração, a sobrecarga de ferro também é motivo de preocupação para o Mal de Alzheimer, cuja prevalência aumentou drasticamente nas últimas décadas.

De acordo com uma pesquisa publicada em 2018, o acúmulo de ferro (que aumenta o estresse oxidativo e causa um tipo de "efeito de ferrugem" no cérebro) é comum entre os pacientes com Alzheimer.

Outra pesquisa sugere que níveis elevados de ferro no líquido cefalorraquidiano estão fortemente relacionados com a presença do alelo de risco de Alzheimer APOE-e4, e que níveis elevados de ferro no cérebro podem ser o mecanismo que torna o APOE-e4 um grande fator de risco genético para a doença.

Até hoje, um dos focos principais dos tratamentos convencionais tem sido limpar as proteínas amiloides, mas embora esta abordagem pareça sensata, as tentativas obtiveram sucesso limitado.

Agora os pesquisadores sugerem que a limpeza do excesso de ferro pode ser uma maneira mais eficiente de reduzir os danos e retardar ou prevenir o processo do mal de Alzheimer. Você pode aprender mais sobre o assunto lendo o artigo "Como o excesso de ferro aumenta o risco de Alzheimer".

A desregulação do ferro é surpreendentemente comum

É fácil consumir ferro demais, pois normalmente ele é adicionado à maioria dos multivitamínicos. Muitos alimentos processados também são fortificados com ferro. Duas porções de cereal fortificado no café da manhã podem fornecer até 44 miligramas (mg) de ferro em alguns casos, o que está perigosamente próximo do limite de tolerância de 45 mg para adultos, e bem acima do valor diário recomendado, que consiste em meros 8 mg para homens e 18 mg para mulheres na pré-menopausa (ou seja, mulheres que ainda menstruam mensalmente).

Infelizmente, muitos médicos não entendem ou não se atentam para a importância de verificar a sobrecarga de ferro. Um dos maiores fatores de risco da sobrecarga de ferro é ter uma condição chamada hemocromatose, que prejudica a regulagem de ferro do seu corpo, fazendo com que ele absorva quantidades acima do normal.

A mutação gênica C282Y é considerada responsável pela maior parte dos casos de hemocromatose. É preciso herdar duas cópias da mutação (uma da sua mãe e outra do seu pai) para causar a doença (e mesmo assim, apenas algumas pessoas ficam doentes).

Considera-se que mais de 30% dos estadunidenses possuem duas cópias deste gene defeituoso, e, de acordo com um estudo, estima-se que 40% a 70% das pessoas com dois genes C282Y defeituosos vão desenvolver evidências clínicas de sobrecarga de ferro.

Se você possuir apenas uma cópia, você não ficará doente, mas começará a absorver um pouco mais de ferro do que o restante da população, aumentando seus riscos de sobrecarga e de sofrer as complicações com ela associadas.

Fatores comuns que aumentam os riscos de sobrecarga de ferro

Praticamente todos os homens adultos e mulheres na pós-menopausa estão em risco de sobrecarga de ferro, já que não perdem sangue de forma regular. A perda de sangue é a principal forma de reduzir o excesso de ferro, já que o corpo não possui mecanismos ativos de excreção. Outros possíveis fatores que contribuem para o aumento dos níveis de ferro incluem:

  • Cozinhar em panelas ou frigideiras de ferro — cozinhar alimentos ácidos nesses tipos de panelas ou frigideiras aumenta a absorção de ferro.
  • Consumir alimentos processados como cereais e pães brancos fortificados com ferro — o ferro utilizado nesses produtos é o ferro inorgânico, não muito diferente da ferrugem, e é muito mais perigoso do que o ferro presente na carne.
  • Beber água mineral rica em ferro — o mais importante é se certificar de utilizar algum tipo de precipitador de ferro e/ou um filtro de osmose reversa.
  • Tomar multivitamínicos e suplementos minerais, pois ambos frequentemente contêm ferro.
  • Consumir álcool regularmente, pois isso aumenta a absorção de ferro da sua alimentação.

Como verificar e tratar a sobrecarga de ferro

Verificar seus níveis de ferro é fácil, sendo possível através de um exame de sangue chamado exame de ferritina. Acredito que seja um dos exames mais importantes e que todo mundo deveria fazer de forma regular, como medida preventiva e proativa para a saúde. O exame mede a molécula que carrega o ferro, uma proteína encontrada dentro das células, chamada ferritina, que armazena o ferro. Se seus níveis de ferritina estiverem muito baixos, significa que seus níveis de ferro também estão baixos.

A quantidade saudável de ferritina no sangue está entre 20 e 80 nanogramas por mililitro (ng/ml). Abaixo de 20 ng/ml é uma forte indicação de deficiência de ferro, e acima de 80 ng/ml sugere um excesso de ferro. A quantidade ideal está entre 40 e 60 ng/ml.

No entanto, observe que muitas páginas de saúde dirão que quantidades muito maiores que estas são "normais", mas como mencionado na minha entrevista com Gerry Koenig no artigo mencionado anteriormente, níveis acima de 300 ng/ml são particularmente tóxicos e eventualmente causarão danos graves.

Se você tiver hemocromatose, ou se seu exame de ferritina revelar níveis elevados de ferro, doar sangue duas ou três vezes por ano é o tratamento mais seguro, mais eficiente e mais barato. Se você tiver uma sobrecarga intensa, pode ser necessário realizar flebotomias de forma regular.

Se, por alguma razão, o banco de sangues não aceitar seu sangue, é possível obter uma prescrição para flebotomia terapêutica. Ao mesmo tempo, também é importante evitar o excesso de consumo de ferro através de suplementos, água mineral, panelas e frigideiras de ferro ou alimentos processados fortificados.

Também é possível limitar sua absorção de ferro evitando consumir alimentos ricos em ferro em conjunto com alimentos ou bebidas ricas em vitamina C, já que a vitamina C aumenta a absorção de ferro. Caso necessário, também é possível tomar um suplemento de cúrcuma. A cúrcuma age como um forte quelante do ferro e pode ser um suplemento útil se seu ferro estiver elevado.

Também recomendo o exame GGT para eliminar a possibilidade de toxicidade por ferro

Além de exame de ferritina, o exame gama glutamil transferase (GGT) também pode ser usado como um marcador de excesso de ferro, e é um grande indicador de riscos de morte cardíaca repentina, resistência à insulina, doenças cardiometabólicas e doenças renais crônicas.

Nos últimos anos, cientistas descobriram que o GGT é altamente interativo com o ferro. O baixo GGT tende a proteger contra a ferritina alta, de forma que se seu GGT estiver baixo, você está muito protegido, até mesmo se sua ferritina estiver um pouco acima do ideal.

Quando tanto sua ferritina quanto seu GGT estão altos, você apresenta um risco considerável de desenvolver problemas de saúde crônicos e morte prematura, pois possui uma combinação de ferros livres (que são altamente tóxicos) e um armazenamento de ferro para manter a intoxicação ativa. Dito isso, mesmo se sua ferritina estiver baixa, possuir níveis elevados de GGT é motivo de preocupação, e isso precisa ser tratado.

Por essa razão, o recomendável é fazer um exame GGT além do exame de ferritina para descartar a possibilidade de toxicidade por ferro. O nível ideal de GGT é abaixo de 16 unidades por litro (U/L) para homens e abaixo de 9 U/L para mulheres. Acima de 25 U/L para homens e 18 U/L para mulheres significa que os riscos de doenças crônicas são consideravelmente maiores.

Para reduzir seu nível de GGT, é preciso implementar estratégias que aumentam a glutationa, um poderoso antioxidante produzido no seu corpo, já que o GGT está inversamente relacionado à glutationa. Conforme seu nível de GGT aumenta, sua glutationa é reduzida. Isso faz parte da equação que explica como o GGT elevado danifica sua saúde. Ao elevar seu nível de glutationa, você reduzirá seu GGT.

O aminoácido cisteína, encontrado na proteína do soro do leite, aves e ovos, é muito importante para a produção de glutationa pelo seu corpo. Carnes vermelhas, que não contêm cisteína, tendem a aumentar o GGT, assim como o álcool, de forma que ambos devem ser evitados.

Certos medicamentos também podem aumentar o GGT. Se este for o caso, é melhor consultar seu médico para determinar se é possível parar de tomar o medicamento ou trocá-lo por outro diferente. A desintoxicação geral é outro componente importante caso seu GGT esteja elevado, pois a remoção das toxinas do corpo é o trabalho do seu fígado. O fato de que seu GGT está elevado significa que seu fígado está sob estresse.

+ Recursos e Referências