Por Dr. Mercola
A assa-fétida — uma especiaria da culinária indiana cujo nome se traduz em "resina apodrecida" e também conhecida como hing, hingu ou heeng — é uma goma obtida de um tipo de erva-doce gigante. Tem um cheiro desagradável semelhante ao de alho podre e pés suados, mas um apetitoso sabor salgado de umami. Na França, a erva é conhecida como esterco do diabo.
De acordo com o GoodFood.com, os índios jainistas e brâmanes a usam há muito no lugar do alho e da cebola. Também é popular entre as pessoas nas quais a cebola causa problemas digestidos.
Embora às vezes seja possível encontrar a assa-fétida em sua forma de goma crua, ela é mais comumente vendida como um pó misturado com farinha, amido ou açafrão. Isso provavelmente é bom, pois ingerir a assa-fétida in natura pode causar diarreia intensa e/ou vômito. Tem um odor muito forte e deve ser usada em quantidades muito pequenas. Conforme observado por GoodFood.com:
"Depois que um recipiente de assa-fétida é aberto, melhor fechá-lo o mais rápido possível. Então, mantenha-o hermeticamente fechado em um recipiente plástico ou, no mínimo, dentro de duas embalagens. Se o aroma escapar, você vai acordar com a casa cheirando a alho velho...
Geralmente, a assa-fétida em pó costuma ser diluída e usada na proporção aproximada de uma ou duas pitadas para cada 250 gramas do ingrediente principal... O cozimento prologando suaviza o sabor...
A assa-fétida funciona melhor quando inicialmente frita por cinco a dez segundos em óleo quente até que seu odor se desprenda — ligue o exaustor ou mantenha a janela aberta. Em seguida, adicione rapidamente os demais ingredientes para impedir que queime."
Os benefícios da assa-fétida para a saúde
Com seu sabor de cebola e alho, você pode usá-la em substituição a qualquer um desses ingredientes. Muitos recomendam usar a assa-fétida em pratos à base de feijão, pois previne os gases.
Sua capacidade de prevenir gases se deve aos compostos antibacterianos que impedem a atividade das bactérias intestinais que são responsáveis pela flatulência. Também possui vários outros benefícios para a saúde, incluindo propriedades antibacterianas, antiparasitárias e antivirais.
Em 2009, pesquisadores descobriram que certos compostos da erva eram mais eficazes para matar o vírus da influenza H1N1 do que o medicamento antiviral amantadina.
Outro estudo descobriu que o ácido ferúlico presente na assa-fétida tem a capacidade de controlar a fasciolíase, uma doença hepática zoonótica (que pode se espalhar entre animais e pessoas) causada pela ingestão de agrião ou outras plantas aquáticas contaminadas com Fasciola hepatica e/ou Fasciola gigantica.
De acordo com um artigo da Pharmacognosy Review, a assa-fétida também possui propriedades antiespasmódicas, carminativas, expectorantes, laxantes e sedativas, para citar apenas algumas. Seus usos históricos incluem o tratamento de histeria, condições nervosas, bronquite, asma, coqueluche, pneumonia infantil e cólica flatulenta.
De acordo com um documento da Pharmacognosy Review, a erva é particularmente benéfica para a asma, graças aos óleos voláteis que são eliminados pelos pulmões. Também funciona como um anticoagulante natural e ajuda a abaixar a pressão arterial. Na medicina tradicional da Índia, é usada para quebrar e eliminar cálculos renais e biliares.
Historicamente, também é usada como antídoto para o ópio. De acordo com o Pharmacognosy Review, “administrada na mesma quantidade que o ópio ingerido pelo paciente, corta o efeito da droga".
A assa-fétida tem propriedades anticancerígenas e de prolongamento da vida
A assa-fétida também contém várias substâncias químicas que demonstram ter atividades anti-inflamatórias, anticancerígenas e antimutagênicas. Conforme relatado pela Pharmacognosy Review:
"A resina seca, administrada por via oral a ratos Sprague–Dawley em dosagens de 1,25 e 2,5% p/p da dieta, produziu uma redução significativa na multiplicidade e tamanho dos tumores mamários palpáveis induzidos por N-metil-N-nitrosoureia e um atraso no período médio de latência do aparecimento do tumor.
A administração oral a camundongos aumentou a porcentagem de vida útil em 52,9%. A administração intraperitoneal não produziu nenhuma redução significativa no crescimento do tumor.
O extrato também inibiu uma carcinogênese química de dois estágios, induzida por 7,12-dimetilbenzatraceno e óleo de croton na pele de camundongos, com redução significativa na formação de papiloma."
Da mesma forma, um estudo publicado no Journal of Ayurveda e Integrative Medicine em 2017 confirmou que a resina da assa-fétida tinha efeitos antitumorais contra o câncer de mama. De acordo com os autores:
"Nossos resultados mostraram que o tratamento com assa-fétida foi eficaz na redução do peso e volume do tumor nos camundongos tratados. O peso corporal aumentou consideravelmente nos camundongos BALB/c fêmeas em comparação com aqueles de controle.
Além do efeito antitumoral, a assa-fétida diminuiu as metástases pulmonares, hepáticas e renais e também aumentou as áreas de necrose no tecido tumoral, respectivamente."
Outros estudos também descobriram que o ácido ferulsinoico isolado da assa-fétida tem a capacidade de prolongar a expectativa de vida, aumentando a vida útil média do Caenorhabditis elegans em até 18,03% e a expectativa de vida máxima entre 8,33% e 41,6%.
Acredita-se que uma melhor tolerância ao estresse térmico e reduções na peroxidação lipídica sejam responsáveis por esse efeito. Segundo os autores, "o ácido ferulsinóico teve eficácia terapêutica como antioxidante, com a possibilidade de seu uso como uma droga antioxidante".
A utilidade da assa-fétida no tratamento de doenças em mulheres
A assa-fétida também pode ser útil no tratamento de uma variedade de doenças da saúde feminina, como esterilidade, trabalho de parto prematuro, dor menstrual excessiva e leucorreia.
A Pharmacognosy Review sugere tomar 12 centigramas de goma de assa-fétida frita no ghee com 120 gramas de leite de cabra fresco e 1 colher de sopa de mel, três vezes ao dia por quatro semanas, para aumentar a secreção de progesterona, o que pode ser útil nessas situações.
Em ratos machos, a assa-fétida em dosagens entre 25 e 200 mg/kg demonstrou aumentar consideravelmente a contagem e a viabilidade dos espermatozoides, melhorando a fertilidade.
No entanto, é necessário ter cuidado se você estiver grávida ou planejando engravidar, pois a assa-fétida também tem a capacidade de impedir a gravidez e induzir o aborto. Os efeitos antifertilidade foram observados em ratos na dosagem de 400 mg/kg, impedindo a gravidez em 80% dos casos.
As lactantes também devem evitar a assa-fétida, que pode ser transferida para o bebê através do leite materno, visto que certos compostos químicos da erva podem contribuir para determinados distúrbios do sangue. Para tratar cólica, a assa-fétida é normalmente aplicada ao umbigo da criança na forma de uma pasta, em vez de ser ingerida.
Os benefícios cerebrais e cardiovasculares
Como mencionado, a assa-fétida demonstrou baixar a pressão sanguínea e parece ser bastante eficaz nisso, observa o Pharmacognosy Review. Um dos mecanismos responsáveis por esse efeito hipotensivo é a vasodilatação. Foi comprovado que tinturas e extratos aquosos da resina da goma seca têm efeitos anticoagulantes e relaxantes para os músculos lisos.
Além disso, certos compostos parecem ter a capacidade de inibir a acetilcolinesterase, o que significa que a assa-fétida pode ser útil contra a doença de Alzheimer. Em estudos com animais, a assa-fétida em dosagens de 200 a 400 miligramas por quilo também demonstrou melhorar a formação da memória.
A assa-fétida ajuda a promover a saúde intestinal
Outra área de utilidade dessa erva mal-cheirosa é a prevenção e o tratamento de variadas doenças intestinais. Um estudo que analisou os efeitos da assa-fétida na dispepsia funcional (DF), um distúrbio crônico do trato digestivo superior, descobriu que a erva é segura e eficaz. Conforme relatado neste estudo:
"No estudo duplo-cego, controlado por placebo, 43 indivíduos diagnosticados com desconforto de moderado a grave da dispepsia funcional sem existência de úlcera foram selecionados aleatoriamente para receber cápsulas rígidas (250 mg × 2/dia) de placebo ou de uma formulação com assa-fétida de qualidade alimentar (Asafin) por 30 dias.
Quando avaliado por um conjunto de ferramentas de indexação validadas... quase 81% no grupo Asafin mostrou melhoras significativas na pontuação geral e na qualidade de vida em comparação com o grupo que recebeu o placebo. No final do estudo, 66% dos indivíduos do grupo Asafin permaneceram livres de sintomas.
Embora a pontuação dos sintomas tenha melhorado significativamente nos dois grupos... a porcentagem relativa de indivíduos no grupo Asafin com redução de mais de 80% de vários sintomas foi: inchaço (58%), apetite (69%), movimento pós-prandial (74%), enjoo por movimento (75%) e digestão (77%) em comparação com menos de 10% de melhora inespecífica no grupo placebo.
Todos os indivíduos permaneceram seguros, sem eventos adversos ou variações nos parâmetros hematológicos e bioquímicos."
Cozinhando com assa-fétida
Se o mal cheiro na cozinha não for um impedimento, condimente suas refeições com esta erva medicinal.
Em “Asafoetida Stinks, But It Helps the Cook” (em tradução livre "A assa-fétida fede, mas ajuda o cozinheiro"), publicado no Seattle Times, Monica Bhide detalha como usar a erva na culinária e fornece uma receita de cheesecake saboroso coberto com pimenta e chutney de tomate verde para começar.
Dicas adicionais de culinária podem ser encontradas no Food Channel da NDTV, e uma receita de água com limão e assa-fétida é fornecida pela netmeds.com.