Você pode pegar uma infecção compartilhando um sabonete?

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Resumo da matéria -

  • Estudos rigorosos comprovaram que o sabonete em barra, apesar de virar de uma bagunça, não transfere germes para a pele, mesmo depois de ser inoculado por milhões de bactérias, enquanto os produtos antibacterianos exigem pelo menos dois minutos de contato com a pele para que funcionem
  • O FDA proibiu o uso de triclosan nos sabonetes antibacterianos, mas continua permitindo o triclosan em produtos hospitalares, antissépticos para as mãos e creme dental, apesar dos estudos que demonstram danos à sua saúde e ao meio ambiente
  • Lavar as mãos com sabonete em barra, usando uma técnica adequada, é um meio eficaz de proteger sua saúde e o meio ambiente

Por Dr. Mercola

Os germes estão por toda parte. De acordo com Charles Gerba, microbiologista da Universidade do Arizona, a cozinha é o cerne de sua casa e dos germes que ela abriga. Algumas partes da cozinha que podem ser mais sujas do que o banheiro incluem a esponja, a pia, a tábua de cortar, a porta da geladeira e as bancadas.

De acordo com o Dr. Neil Schachter, autor de "The Good Doctor's Guide to Colds and Flu" (em tradução livre: O guia do bom médico contra resfriados e gripes), alguns dos locais mais repletos de germes na comunidade incluem banheiros públicos, a escola ou creche do seu filho, o transporte público e o consultório médico. Em resposta às intensas campanhas publicitárias que alertam sobre os objetos repletos de germes, muitos passaram a usar sabonete antibacteriano.

De fato, uma pesquisa descobriu que 74% dos norte-americanos usam sabonete antibacteriano e 75% das mulheres com filhos disseram que remover o sabonete antibacteriano do mercado as deixaria irritadas. No entanto, é importante observar que os sabonetes antibacterianos só são eficazes se deixados na pele por um período mínimo de dois minutos. À medida que as vendas dos sabonetes antibacterianos líquidos aumentam, as do sabonete em barra estão caindo.

Segundo a pesquisa de uma agência de inteligência de marketing, as vendas de sabonete em barra caíram 5% entre 2010 e 2015, pois o produto sofre de percepções negativas. Quase 48% dos consumidores acreditam que o sabonete em barra possa ser um refúgio para as bactérias, e os consumidores mais jovens acreditam nisso mais do que os demais.

Você não vai pegar uma doença através de um sabonete em barra

Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) chamam a lavagem das mãos de "uma vacina faça você mesmo", pois é uma das melhores maneiras de remover germes, evitar adoecer e impedir a propagação de doenças. No entanto, embora a remoção dos germes possa limitar a propagação de uma infecção, a adição de substâncias antibacterianas pode aumentar o risco de outras condições negativas para a saúde. Embora os millennials acreditem que o sabonete em barra possa abrigar bactérias, pesquisas provam que isso não é verdade.

O primeiro estudo rigoroso a responder essa questão foi publicado em 1965. Pesquisadores contaminaram intencionalmente suas mãos com quase 5 bilhões de bactérias, incluindo cepas causadoras de doenças, como estafilococos e E. coli. Eles então lavaram as mãos com o sabonete em barra, seguidos de outra pessoa que lavou as mãos com a mesma barra de sabonete. Foi feita uma cultura a partir de amostras das mãos da segunda pessoa, e os pesquisadores descobriram que as bactérias não foram transferidas. Eles concluíram:

  • Os sabonetes em barra não favorecem a proliferação de bactérias sob condições normais de uso.
  • Os sabonetes em barra são inerentemente antibacterianos devido às suas características físico-químicas.
  • A quantidade de bactérias que pode haver num sabonete em barra, mesmo sob condições extremas de uso (uso intenso ou saboneteiras mal projetadas que não escoam a água), não constitui um risco à saúde.

Quase 20 anos depois, outro estudo (patrocinado por um fabricante de sabonetes) confirmou essas descobertas. Aqui, eles inocularam os sabonete em barra com uma bactéria patogênica e 16 participantes lavaram as mãos com esses sabonetes. Após a lavagem, nenhum dos participantes apresentou níveis detectáveis de bactérias nas mãos. Segundo os pesquisadores, "existe pouco risco em lavar as mãos rotineiramente com sabonetes em barra previamente usados e defende-se o uso frequente de sabonete e água na lavagem das mãos para evitar a propagação da doença".

O CDC continua recomendando lavar as mãos como a principal forma de defesa e endossa o uso de sabonetes líquidos e em barra. Embora estudos ocasionais tenham documentado a presença de bactérias ambientais nas barras de sabonete, nenhum estudo demonstrou que o sabonete em barra possa ser uma fonte de infecção.

Além disso, ao usar o sabonete em barra, você deixa de contribuir para as estimadas 270 milhões de garrafas de plástico jogadas no lixo anualmente. Como a maioria das pessoas usa sete vezes mais sabonete líquido do que sabonete em barra em cada lavagem, você também reduz as despesas de sua família, pois o sabonete em barra é mais barato.

Aposente seu sabonete líquido antibacteriano

Você já pensou em quantas vezes por dia lava as mãos com sabonete? Embora tenha um histórico impressionante de preservar a saúde, a cada lavagem de mãos, seu corpo pode absorver um pouquinho do produto que está sendo usado. Os fabricantes tentaram convencer os consumidores de que o uso de ingredientes antibacterianos é a melhor maneira de reduzir sua exposição aos germes causadores de doenças.

Mas, de acordo com o FDA, a ciência não prova que os sabonetes antibacterianos de livre comercialização são melhores na prevenção de doenças do que lavar as mãos com água e sabonete comum. Após avaliar a literatura disponível, o FDA emitiu uma proposta de norma exigindo que os fabricantes forneçam informações sobre a segurança e eficácia dos ingredientes antibacterianos se eles quiserem continuar comercializando esses produtos.

Pouquíssimas informações foram fornecidas pelos fabricantes, levando a agência a emitir uma norma final proibindo a comercialização de produtos produtos antissépticos que contivessem 19 aditivos bacterianos, incluindo triclosan e triclocarban. A Dra. Theresa Michele, da Divisão de Medicamentos Sem Prescrição do FDA, disse:

"Seguir a prática simples de lavar as mãos é uma das maneiras mais eficazes de prevenir a propagação de muitos tipos de infecções e doenças em casa, na escola e em outros lugares. Esse conselho nunca é demais. É simples e funciona."

Embora a norma afete os produtos destinados ao uso com água, ela não afeta os antissépticos para as mãos, lenços, cremes dentais e produtos antibacterianos usados nos serviços de saúde. Em resposta aos comentários enviados pelos fabricantes, o FDA adiou a norma para três ingredientes adicionais, incluindo cloreto de benzalcônio, cloreto de benzetônio e cloroxilenol (PCMX). A norma faz parte de um esforço mais amplo para reduzir o uso geral de produtos antibacterianos pelo consumidor e potencialmente reduzir a resistência bacteriana.

No entanto, enquanto o FDA coleta informações sobre esses três componentes antibacterianos adicionais em consideração para uso nos sabonetes antibacterianos, já existem pesquisas demonstrando seus efeitos para a saúde humana e o meio ambiente.

Cloreto de benzalcônio — Esse componente é comumente usado em cosméticos como agente antimicrobiano. Hoje, ele é proibido para uso em cosméticos no Canadá e no Japão. A substância demonstrou repetidamente toxicidade em estudos experimentais, laboratoriais e clínicos, além de poluição ambiental.

Em um estudo que avaliou a segurança do componente, os pesquisadores descobriram que ele era comumente usado em concentrações de até 5%, mas a análise de dados concluiu que poderia ser usado com segurança em concentrações de apenas 0,1%.

Pode causar danos extensos aos olhos e aos tecidos oculares mais profundos, parece ser muito tóxico para a vida aquática e, quando queimado, produz gases tóxicos, incluindo cloro, óxido de nitrogênio e amônia. A exposição prolongada pode produzir efeitos colaterais, como erupções cutâneas, reações alérgicas, vermelhidão, inchaço e bolhas. A exposição a longo prazo pode levar à asma, dermatite crônica e outros distúrbios por mediação imunológica.

Cloreto de benzetônio — Também proibido para uso em cosméticos no Canadá e no Japão, seus efeitos tóxicos incluem irritação na pele e nos tecidos. Ele pode ser especialmente desconfortável, pois é um espermicida que desencadeia irritação vaginal com queimação e coceira. Quando em contato, os usuários podem sofrer irritação nos olhos e danos na córnea.

Efeitos genotóxicos foram demonstrados em laboratório em concentrações comumente encontradas em águas residuais. Embora possa ter um impacto significativo no meio ambiente, é importante observar que as estações de tratamento de águas residuais não estão preparadas para remover esses tipos de sais sintéticos de amônio dos efluentes.

PCMX — Um produto químico persistente que se bioacumula no ambiente e tem sido associado à toxicidade do sistema orgânico. É classificado como irritante para a pele e tóxico ou nocivo pela União Europeia. Sabe-se que o produto químico causa dermatite de contato e pode desencadear alergias de pele. O produto é altamente tóxico para os peixes e encontrado em efluentes de águas residuais.

O triclosan apresenta perigos para a saúde e o meio ambiente

Embora o FDA tenha de fato removido o triclosan dos produtos antibacterianos que necessitam de água para lavar as mãos, ele continua nos antissépticos para as mãos, lenços umedecidos, creme dental e vários outros produtos. Esse ingrediente tem sido associado a alergias, disfunção da tireoide, perturbação endócrina, ganho de peso e respostas inflamatórias. Verificou-se também que o triclosan agrava o crescimento de tumores hepáticos e renais.

A perturbação endócrina é uma grave preocupação, pois pode levar a uma ampla variedade de problemas de saúde, incluindo câncer de mama, ovário, próstata e testículo. Também está associada a nascimentos prematuros, com recém-nascidos abaixo do peso, puberdade precoce em meninas e criptorquidia em meninos.

Verificou-se que a exposição a níveis baixos de triclosan afeta a expressão gênica associada ao hormônio da tireoide. Por sua vez, isso pode alterar a taxa de desenvolvimento pós-embrionário mediado pelo hormônio da tireoide em anfíbios. De acordo com a Dra. Janet Woodcock, diretora do Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos do FDA:

"Os consumidores podem pensar que os produtos antibacterianas são mais eficazes na prevenção da propagação de germes, mas não temos evidências científicas de que eles sejam melhores do que água e sabonete comum. De fato, alguns dados sugerem que os ingredientes antibacterianos podem causar mais mal do que bem a longo prazo."

Os efeitos negativos a longo prazo do triclosan também estão relacionados a danos ao meio ambiente. O uso, descarte e escoamento de produtos que contêm triclosan são responsáveis pela liberação dessa substância tóxica no meio ambiente que, por fim, chega às estações de tratamento de águas residuais. Em 2007, o Grupo de Trabalho Ambiental estabeleceu uma parceria com pesquisadores e descobriu que 40% das amostras de águas residuais coletadas na área da baía de San Francisco continham triclosan.

Depois de deixar as estações de tratamento de águas residuais, o triclosan também pode ser encontrado em campos agrícolas, onde os resíduos de águas residuais podem ser aplicados como fertilizantes, contaminando os alimentos cultivados nos campos. A contaminação por triclosan não é removida pelos métodos típicos de tratamento de águas.

Ele foi encontrado em lodos ativados, águas superficiais e sedimentos e, de acordo com um estudo de 95 diferentes contaminantes orgânicos de águas residuais em córregos dos EUA, o triclosan foi um dos compostos mais frequentemente detectados em algumas das concentrações mais altas.

Essa prevalência é preocupante, pois o triclosan é convertido em dioxina quando exposto à luz solar em um ambiente aquático. Ele também se combina com o cloro para formar clorofórmio. Ambos conhecidos por serem cancerígenos para os humanos. Por ser lipofílico, foi encontrado absorvido e bioacumulado em tecidos adiposos de organismos aquáticos. O efeito sobre os hormônios naturais da atividade anfíbia sugeriu que o triclosan talvez seja um desregulador endócrino para os anfíbios.

Técnica correta para lavar as mãos: sua melhor defesa contra os germes

Lavar as mãos corretamente pode reduzir as bactérias transferidas de pessoa para pessoa. Em um estudo envolvendo recrutas militares, os pesquisadores descobriram que ensinar a lavagem simples das mãos em um grande centro de treinamento da Marinha resultou numa redução de 45% das visitas ambulatoriais por doenças respiratórias. Para ser verdadeiramente eficaz no controle de doenças, observe as seguintes orientações:

  • Use água morna e corrente com sabonete neutro.
  • Com as mãos molhadas, pegue o sabonete e faça bastante espuma até os pulsos, esfregando por pelo menos 15 ou 20 segundos. Uma boa maneira de contar esse tempo é cantar "Parabéns para você" duas vezes.
  • Certifique-se de lavar todas as superfícies, incluindo as costas das mãos, pulsos, entre os dedos e debaixo das unhas.
  • Enxágue bem com água corrente.
  • Seque bem as mãos, preferencialmente com uma toalha de papel. Em locais públicos, use também uma toalha de papel para abrir a porta como proteção contra os germes que as maçanetas possam abrigar.
+ Recursos e Referências