O mistério do ginkgo biloba

Fatos verificados
ginkgo biloba

Resumo da matéria -

  • Ginkgo biloba é a árvore viva mais antiga do mundo, e algumas árvores na China têm 2.500 anos
  • O ginkgo biloba sobreviveu à extinção dos dinossauros, e uma árvore sobreviveu ao bombardeio atômico de Hiroshima
  • Estas árvores são tão resistentes que teoricamente poderiam viver para sempre e morrer apenas de ameaças específicas, como secas ou pragas, não de velhice
  • Os cientistas acreditam que o crescimento contínuo das células cambiais do ginkgo biloba lhe permite escapar da senescência e da morte

Por Dr. Mercola

O ginkgo biloba, uma árvore nativa da Ásia, principalmente China, Coreia e Japão, oferece muitos benefícios quando usado como suplemento.

Algumas de suas ações mais impressionantes estão associadas à função cerebral e da memória, mas estudos também indicaram que o ginkgo biloba pode reduzir os sintomas de ansiedade, melhorar o glaucoma (através de seus efeitos antioxidantes e vasculares) e melhorar o fluxo sanguíneo em condições como a síndrome de Raynaud e a disfunção erétil.

Algumas das ações positivas do ginkgo biloba podem resultar da maneira como a planta aumenta a adenosina trifosfato (ATP), a principal fonte de energia do seu corpo a nível celular. "Essa atividade demonstrou aumentar o metabolismo da glicose no cérebro para obtenção de energia e aumento de sua atividade elétrica", de acordo com a Nutrition Review.

O ginkgo biloba recebeu atenção extra por sua incrível longevidade e resistência ao envelhecimento, como normalmente visto em animais e em muitas plantas. As descobertas sobre as notáveis qualidades de sobrevivência do ginkgo biloba também podem lançar luz sobre os mecanismos por trás dos resultados observados na suplementação humana com ginkgo biloba.

Uma árvore que é um fóssil vivo

O ginkgo biloba, também chamado às vezes de nogueira-do-japão, é a árvore viva mais antiga do mundo, sendo considerada um fóssil vivo. Acredita-se que algumas árvores de ginkgo biloba hoje na China têm 2.500 anos, sendo que uma delas tem 3.000 anos.

O ginkgo biloba sobreviveu, inalterado, aos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo, quando os dinossauros vagavam pela Terra e foram extintos, e até ao bombardeio atômico de Hiroshima e ao grande incêndio que ocorreu após o terremoto de 1923 em Tóquio. Veja como o Departamento Florestal de Oregon descreveu o fenômeno:

"Quatro árvores de ginkgo biloba em Hiroshima, no Japão, resistiram às bombas atômicas do final da Segunda Guerra Mundial — prósperas, até florescentes — enquanto tudo ao redor delas foi devastado pela explosão.

Acredita-se também que o ginkgo biloba forneça proteção contra incêndio, pois suas cascas e folhas secretam uma seiva retardadora de chamas. Muitas dessas árvores sobreviveram ao grande incêndio após o terremoto de Tóquio em 1923 — e um templo cercado por ginkgo biloba conseguiu resistir incólume ao enorme incêndio."

Claramente, o ginkgo biloba tem uma resiliência incrível e hoje vive em ambientes poluídos, como estradas urbanas e grandes cidades modernas, o que parece nada em comparação a sobreviver à era dos dinossauros e à bomba atômica.

O nome ginkgo deriva das palavras japonesas "gin" e "kyo", que significam "prata" e "damasco", respectivamente, e se referem a seu fruto com aparência de damasco. É a única espécie sobrevivente da família Ginkgoaceae.

O que explica a longevidade do ginkgo biloba?

Assim como os seres humanos, as árvores têm um sistema imunológico. Mas, diferentemente do sistema imunológico humano, que começa a se degenerar com a idade, o sistema imunológico do ginkgo biloba, "mesmo que tenha 1.000 anos, se parece com o de uma árvore de 20 anos", Richard Dixon, biólogo da Universidade de North Texas, disse ao New York Times.

Em um artigo publico no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Dixon e seus co-autores descobriram que os genes no câmbio vascular do ginkgo biloba (as células vivas por trás de sua casca) não contêm provisão para morte ou senescência.

Em vez disso, escrevem os pesquisadores, os genes no câmbio vascular continuam resistindo a doenças e fornecem "metabólitos protetores secundários pré-formados" como se a árvore fosse jovem.

"A análise transcriptômica indica que o câmbio vascular das árvores mais antigas, apesar de sofrer menos geração de xilema [tecido vascular da planta], não apresenta evidência de senescência; ao contrário, a extensa expressão de genes associados a defesas pré-formadas e induzíveis provavelmente contribui para a notável longevidade dessa espécie…

Propomos que o crescimento contínuo das células cambiais permite que o ginkgo biloba escape da senescência em todo o nível da planta…

A proporção cerne/alburno aumentou com a idade no ginkgo biloba, e a expressão dos genes das vias monolignol e flavonoide/estilbeno não foi significativamente reduzida nas árvores antigas. Assim, os metabólitos especializados protetores acumulados com o crescimento contínuo podem aumentar a resistência de antigas árvores perenes para se adaptarem a diferentes ambientes."

Como funcionam os genes do câmbio?

Como, especificamente, os genes encontrados no câmbio vascular protegem o ginkgo biloba? Os pesquisadores escrevem:

"As redutases de éter benzílico fenil-cumarato (PCBER) são um dos principais componentes proteicos do xilema, onde fornecem proteção reduzindo os dímeros fenólicos para produzir moléculas antioxidantes. Notavelmente, dos dois homólogos de PCBER no genoma do ginkgo biloba, apenas um era fortemente expresso no câmbio vascular."

Os flavonoides também podem estar em jogo, eles escrevem:

"Os flavonoides são uma classe importante de metabólitos secundários das plantas que podem proteger contra o estresse biótico e abiótico. Em nosso conjunto de dados, 41 genes foram anotados como genes-chave que codificam enzimas associadas à biossíntese de flavonoides, incluindo a síntese de chalcona e estilbeno."

O genoma do ginkgo biloba é enorme e contém 10,6 bilhões de "letras" de DNA em comparação com o genoma humano, que contém 3 bilhões de letras.

A capacidade de se defender contra o estresse é um dos principais contribuintes para a longa vida do ginkgo biloba, concluem os pesquisadores. De fato, as antigas árvores macho de ginkgo biloba ainda produzem pólen viável e as fêmeas mais velhas ainda produzem um grande número de sementes; em ambos os casos, elas parecem árvores mais jovens.

O ginkgo biloba pode não envelhecer, mas ainda pode morrer

Peter Brown, diretor da Rocky Mountain Tree-Ring Research, concorda com os autores do PNAS sobre os mecanismos antienvelhecimento do ginkgo biloba e leva o pensamento científico um passo adiante: ele arrisca a dizer que o ginkgo biloba e outras árvores semelhantes possam, em teoria, viver para sempre.

O que mata as árvores perenes como ginkgo biloba, diz ele, não é a idade avançada, mas uma ameaça específica a elas, como uma seca, infestações de insetos ou pragas, ou o desenvolvimento urbano:

"Sendo organismos modulares, todos os anos elas formam madeiras novas, novas raízes, novas folhas, novos órgãos sexuais... Elas não são como os animais, como nós. Depois que nascemos, todas as nossas partes estão presentes e, em um determinado momento, elas começam a ceder."

De fato, se o câmbio de uma árvore estiver intacto, ela ainda poderá viver como um toco oco, produzindo folhas e flores. Se os tocos não tiverem folhas para a fotossíntese, ela também pode obter água através do sistemas de raízes compartilhados com árvores vizinhas, descobriram os cientistas. Resumindo a longevidade do ginkgo biloba, os pesquisadores do PNAS escrevem:

"O envelhecimento ocorre na maioria dos organismos multicelulares e, em leveduras e células de animais, é frequentemente acompanhado pelo atrito de telômeros, alterações epigenéticas, perda de proteostase e mutações somáticas. No entanto, nas plantas, o envelhecimento é complexo e multifatorial, sendo regulado por fatores genéticos e ambientais.

O envelhecimento está associado à deterioração do crescimento e da diferenciação, bem como à maturidade, enquanto a senescência, que termina na morte, é o último estágio de desenvolvimento.

[...]Devido aos complexos ciclos de vida das plantas, as teorias evolucionárias do envelhecimento foram um pouco negligenciadas no reino vegetal, e, portanto, os mecanismos subjacentes ao envelhecimento em todo o nível da planta permanecem enigmáticos."

Agora, esses mecanismos notáveis do ginkgo biloba estão sendo descobertos.

O ginkgo biloba oferece muitos benefícios para os seres humanos

O ginkgo biloba é um extrato e suplemento nutricional campeão de vendas, com benefícios variados e impressionantes. Além das propriedades cognitivas e do aumento da memória, aqui estão outras ações do ginkgo biloba reveladas pelos estudos.

Inibição do fator ativador de plaquetas — Esse fator impede a coagulação do sangue e evita a formação de placas no interior das paredes arteriais.

Aumenta a produção de óxido nítrico (NO) nos vasos sanguíneos — Isso promove a função endotelial saudável e subsequentes efeitos positivos no sangue periférico e cerebral.

Inicia a captação sinaptosomal de dopamina — Essas ações melhoram a função cognitiva e a 5-hidroxitriptamina (serotonina), um neurotransmissor conhecido por mobilizar o cérebro e o corpo para a ação, o que está relacionado a efeitos positivos na cognição e na atenção.

Modula diferentes sistemas neurotransmissores — Essas ações incluem a inibição da monoamina oxidase A, uma enzima que pode afetar a noradrenalina, serotonina e dopamina no cérebro.

Exerce a atividade de eliminação dos radicais livres — O ginkgo biloba tem propriedades neuroprotetoras e antiapoptóticas, como a inibição da neurotoxicidade do amiloide-β e proteção contra desafios hipóxicos. Pode ser particularmente benéfico para a doença de Alzheimer.

Trata frieiras e a disfunção de pequenos vasinhos — O ginkgo biloba tem efeitos positivos sobre a inflamação pela exposição ao frio; os benefícios podem se estender à síndrome de Raynaud.

Ajuda com microrganismos patogênicos da pele — Essas condições microbianas podem incluir acne vulgar, blefarite, caspa, psoríase e condições causadas por Staphylococcus aureus.

Pode ajudar no tratamento da esclerose múltipla — Em um estudo, o ginkgo biloba exerceu modestos efeitos benéficos sobre a fadiga e outras medidas funcionais em pessoas com esclerose múltipla.

O ginkgo biloba reduziu os níveis de alumínio em ratos

Em um estudo de 2005 do Life Sciences, os pesquisadores descobriram que o extrato de ginkgo biloba (GbE) exerceu um efeito protetor na memória e na função de aprendizado de ratos tratados com alumínio, um metal suspeito no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Veja o que os pesquisadores relataram após a administração de alumínio em ratos:

"A administração de alumínio aumentou significativamente a latência de escape e a distância de busca, indicativas de disfunção cerebral. O tratamento com GbE protegeu significativamente contra a disfunção cerebral induzida pelo alumínio, como evidenciado pela menor latência de escape e distância de busca em comparação com o grupo Al [alumínio] sozinho…

Em resumo, esse estudo demonstra que a GbE é eficaz para melhorar a capacidade de aprendizado espacial e a memória de ratos intoxicados com alumínio. Essa proteção parece dever-se à diminuição da expressão de APP [proteína precursora amiloide] e caspase-3 no cérebro dos ratos, resultando em uma diminuição na produção de fragmentos insolúveis de abeta-amiloide."

Alguns cuidados com o ginkgo biloba

Embora o ginkgo biloba possa oferecer benefícios neuroprotetores, metabólicos e imunológicos, algumas pessoas apresentaram dores de estômago ou dores de cabeça após a tomarem seu suplemento, um sinal de que o ginkgo biloba pode não ser ideal para todos. Com dosagens maiores, indivíduos sensíveis podem apresentar episódios de tontura, diarreia e náusea.

Mulheres grávidas e amamentando não devem tomar ginkgo biloba, e pessoas com epilepsia não devem usar o suplemento, pois pode causar convulsões. Além disso, as pessoas suscetíveis à hera venenosa e plantas semelhantes devem evitar o ginkgo biloba devido ao potencial alérgico dos alquilfenóis de cadeia longa de suas folhas.

Se você é mais velho, está grávida ou tem um risco conhecido de sangramento, o ginkgo biloba pode aumentar seu risco de sangramento. Não tome ginkgo biloba se você estiver fazendo uso de um medicamento para afinamento do sangue, devido a interações. Pelo menos motivo, não tome ginkgo biloba antes de se submeter a cirurgias ou procedimentos odontológicos.

Além disso, não coma sementes cruas ou torradas de ginkgo biloba, pois podem causar efeitos colaterais graves e podem causar intoxicação. Com essas precauções, você poderá aproveitar os benefícios dessa árvore que possui uma capacidade incrível de viver praticamente para sempre.