A chegada de um tempo mais quente reduzirá a disseminação do COVID-19?

Fatos verificados
o tempo mais quente vai desacelerar o covid-19

Resumo da matéria -

  • No entanto, os cientistas também sabem que as pandemias não seguem padrões sazonais. Até que o vírus se torne endêmico, ele deve continuar a se espalhar
  • A deficiência de vitamina D, mais comum nos meses de inverno, contribui para as flutuações sazonais da gripe; a única maneira de saber se você possui uma deficiência é realizando um teste

Por Dr. Mercola

Existe uma temporada para tudo, e isso inclui os vírus. Seja o vírus do resfriado comum ou o da gripe, a temporada começa no outono. Em dezembro, a propagação viral está a todo vapor, até atingir o pico em fevereiro. No entanto, isto é diferente no hemisfério sul. Quando o inverno se aproxima na África, Austrália e Brasil, os EUA e a Europa estão entrando na primavera e verão.

Ter alguma ideia de como o vírus da gripe se espalha pode ajudar a ter uma compreensão melhor do novo coronavírus (COVID-19) que está atualmente se espalhando por todo o mundo. Curiosamente, os vírus Influenza e COVID-19 têm características semelhantes, incluindo uma camada lipídica sensível ao calor.

O nome "influenza" se origina do antigo nome italiano, que era "influenza difreddo" ou "influência do frio". No entanto, enquanto os meses mais frios apresentam taxas mais altas de infecção, você ainda pode pegar uma gripe ou resfriado durante todo o ano.

Outros vírus respiratórios também circulam durante a temporada da gripe, podendo desencadear sintomas semelhantes. O vírus sincicial respiratório (VSR) causa doenças graves em crianças pequenas e, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, é "uma das principais causas de morte por doenças respiratórias em indivíduos com 65 anos ou mais."

Embora a gripe seja bastante comum e bem estudada, ela ainda pode ser letal. As estimativas variem de ano para ano, mas o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) estimou que, para a temporada 2018-2019, houve 35,5 milhões de casos de gripe, com 490.000 hospitalizados 34.200 mortos. Porém, a realidade é que essas são apenas estimativas, já que "as mortes por gripe em crianças são relatadas ao CDC, enquanto as mortes por gripe em adultos não são notificadas nacionalmente."

Aumenta o número de infecções por gripe COVID-19

Para melhorar a precisão do rastreamento de doenças e mortes, os pesquisadores analisam a taxa de mortes por pneumonia e influenza, já que a maioria das mortes por influenza envolve o desenvolvimento de pneumonia. Na temporada de gripe de 2018 e 2019, o CDC constatou que a porcentagem de mortes atribuídas a pneumonia e influenza foi igual ou superior aos limiares epidêmicos por 10 semanas.

As taxas registradas na temporada 2017-2018 estiveram acima de números de epidemia por 16 semanas, e excederam 10% por quatro semanas. Embora esses dados pareçam alarmantes, é importante notar que eles se baseiam apenas nas pessoas que apresentam sintomas ou procuram um médico. Assim como o COVID-19, existem muitos portadores da gripe assintomáticos, mas estes ainda podem infectar as pessoas ao seu redor.

A Harvard Health Publishing relata que 20% a 30% das pessoas podem ter o vírus sem apresentar sintomas, mas os dados de um estudo comunitário na Inglaterra sugerem que "a maioria das infecções por influenza é assintomática". Isso é semelhante ao que os pesquisadores vêm descobrindo sobre o COVID-19.

Quase 80% das pessoas com o novo coronavírus são assintomáticas, ou apresentam sintomas leves que não apresentam a necessidade de uma consulta médica. Dos 20% restantes, a Organização Mundial da Saúde descobriu que cerca de 13,8% desenvolvem formas mais graves da doença, definida como desconforto respiratório significativo com níveis de saturação sanguínea menores ou iguais a 93%.

Diferentemente da porcentagem de mortes por gripe, que podem chegar a 10% nas semanas de pico, os números do COVID-19 indicam que o “toque de recolher” ao redor do mundo manteve a porcentagem global flutuando entre 4% e 5%. Obviamente, essa é uma média global, e existem países com porcentagens mais altas e mais baixas. Você pode acompanhar as mudanças nos números no mapa da Johns Hopkins.

Lembre-se, o número mostrado no mapa é o número relatado de pessoas que foram testadas para o COVID-19, não o número total, que pode ou não apresentar sintomas. Embora qualquer morte seja indesejada, o distanciamento social, a higienização frequente das mãos e a compreensão de como o vírus se espalha podem manter a taxa de mortalidade menor do que a da pneumonia e influenza.

A sobrecarga dos recursos médicos comumente observada durante a temporada de gripe está atualmente combinada com o COVID-19, que também causa problemas respiratórios. Esses são fatos importantes para se lembrar ao se ler as manchetes e as notícias sobre o assunto.

O COVID-19 pode recuar nos meses de verão

Assim como a gripe tem uma temporada baseada nos fatores climáticos, os cientistas preveem o mesmo para o COVID-19. Pesquisadores estudaram a infectividade de 21 a 23 de janeiro, antes que o governo chinês adotasse, em 24 de janeiro, medidas para conter a propagação do vírus. Isso deu aos cientistas dados sobre sua propagação viral natural sem obstáculos.

Eles descobriram que, no estágio inicial do surto, áreas com baixas temperaturas e menor umidade tiveram um número maior de infectados do que aquelas com climas mais quentes e úmidos. Dados de 14 países com mais de 20 casos entre 8 e 29 de fevereiro revelaram que sua gravidade dependia da temperatura e umidade. Quanto mais altas as duas medições, menor a gravidade durante esse período.

No entanto, ainda é apenas uma suposição se o clima quente de fato ajudará a achatar a curva e, assim, reduzir a pressão sobre os recursos médicos.

Normalmente, esse tipo de vírus exibe sazonalidade, mas, como relata a BBC, as pandemias podem não seguir padrões sazonais. Jan Albert, professor de controle de doenças infecciosas no Instituto Karolinska, em Estocolmo, falou sobre haver ou não um fluxo sazonal:

“Em algum momento, esperamos que o Covid-19 se torne endêmico. Nessa altura, seria realmente surpreendente se ele não apresentasse sazonalidade. A grande questão no momento é se a sensibilidade deste vírus [a fatores climáticos] influenciará sua capacidade de se espalhar em uma situação de pandemia. Não sabemos ao certo, mas considerar esta possibilidade.”

Infecções endêmicas são aquelas que se movem através da população humana há anos. Muitos dos coronavírus são endêmicos e, portanto, respondem às mudanças sazonais, dando aos pesquisadores a esperança de que o COVID-19 responda de maneira semelhante à chegada dos meses de primavera e verão.

Especialistas em todo o mundo tentaram estimar a propagação da doença, e acreditam que ela oscila entre 2.0 e 2.5, o que significa que para cada pessoa infectada, outras duas a 2.5 serão infectadas.

Uma das razões pelas quais os pesquisadores esperam uma queda na transmissibilidade durante o verão é a umidade mais elevada. O virologista Thomas Pietschmann, do Centro de Pesquisa Experimental e Clínica de Infecções em Hannover, Alemanha, explica:

"O que há de especial neste vírus é que os humanos estão o enfrentando pela primeira vez. A partir dos dados que temos da China, podemos concluir que o vírus passou de um animal para o homem apenas uma vez, e se espalhou a partir daí.

Os vírus têm maior estabilidade sob baixas temperaturas. Isto é semelhante aos alimentos, que duram mais tempo na geladeira. Nos dias frios e geralmente secos do inverno, as pequenas gotículas, juntamente com os vírus, flutuam no ar por mais tempo do que quando a umidade do ar está alta."

Os vírus afetam os gêneros de maneiras diferentes

Os dados também mostraram que as mulheres têm uma taxa de sobrevivência ao COVID-19 mais alta do que os homens; isso é semelhante à gripe. Embora aparentemente homens e mulheres sejam infectados na mesma proporção, a porcentagem de mortos é maior entre os homens. O New York Times relata que o CDC chinês publicou uma análise mostrando que a mortalidade do COVID-19 em homens era de 2.8%, enquanto em mulheres era de 1,7%.

Os pesquisadores observaram o mesmo fenômeno com os surtos dos vírus SARS e MERS. Alguns especialistas acreditam que as diferenças podem estar na capacidade de gerar uma melhor resposta imunológica contra infecções.

As flutuações sazonais podem estar relacionadas à vitamina D

Enquanto muitos acreditam que tomar a vacina contra a gripe reduz os riscos, a eficácia geralmente é inferior a 50%. Em vez disso, você pode ter uma melhor chance de reduzir a gravidade e a infecciosidade prestando atenção nos seus níveis de vitamina D. Muitos acreditam que a ascensão e a queda das infecções se baseiam em três fatores, dois dos quais envolvem seu sistema imunológico:

  • Passar mais tempo em ambientes fechados durante os meses de inverno significa que é mais provável que você seja infectado ao respirar o mesmo ar que alguém que esteja portando um vírus.
  • Os dias são mais curtos e a falta de luz solar afeta os níveis de vitamina D e melatonina, o que, por sua vez, afeta o sistema imunológico.
  • O vírus sobrevive melhor em climas frios e secos.

Já em 1981, os pesquisadores estavam propondo motivos para a sazonalidade das epidemias de influenza. Em uma revisão da literatura publicada, os pesquisadores observaram que a produção sazonal robusta de vitamina D, normalmente uma opção mais fácil durante os meses de verão, deixa as pessoas com deficiência no inverno.

Essa deficiência predispõe as crianças a infecções respiratórias. Eles também descobriram que adultos injetados com vírus vivos da influenza eram mais propensos a desenvolver sintomas quando os níveis de vitamina D estavam baixos. Eles concluíram que o estímulo sazonal proposto em 1981 era uma função da deficiência de vitamina D.

Alguns cientistas sugeriram que a vitamina D induz outra molécula, a catelicidina, a ativar genes envolvidos no sistema imunológico. A GrassrootsHealth relata que vários ensaios clínicos randomizados demonstraram a eficácia da vitamina D na redução do risco de contração da gripe, independentemente do mecanismo.

Para dar o máximo de suporte à capacidade do seu corpo de combater infecções, você deve buscar um nível de vitamina D entre 60 e 80 ng/mL, sendo 40 ng/mL o limiar mais baixo a ser considerado como suficiente. Embora as pesquisas possam sugerir o quanto seria necessário para uma pessoa comum atingir o limiar de 40 ng/mL, sua necessidade individual pode variar.

Para saber se você precisa de suplementação ou não, é necessário testar os seus níveis de vitamina D. A exposição regular à luz solar é a maneira ideal de otimizar os níveis da vitamina, mas isso pode não ser possível durante os meses de inverno, se você mora no hemisfério norte.

Nos EUA, por exemplo, o GrassrootsHealth facilita bastante, oferecendo um kit de teste de vitamina D acessível como parte de sua pesquisa patrocinada pelo consumidor. Ao se inscrever, a pessoa ainda contribui para outras pesquisas vitais na área da saúde, que podem ajudar milhões nos próximos anos. Toda a receita desses kits vai diretamente para a GrassrootsHealth. Eu não obtenho lucro com a venda desses kits, apenas os indico para a conveniência dos meus leitores.

Fortaleça seu sistema imunológico e reduza as infecções

Existem várias estratégias que você pode usar para apoiar seu sistema imunológico e reduzir o número e a gravidade das infecções. Seu sistema imunológico é sua primeira linha de defesa do seu corpo contra infecções.

Além da otimização das suas taxas de vitamina D e aplicação das sugestões listadas abaixo, você também deve lavar as mãos com frequência para reduzir a propagação de vírus e bactérias que desencadeiam infecções. Para obter informações sobre eficácia e técnicas, consulte "O impacto da lavagem eficaz das mãos contra infecções".

Nutrição — O papel do seu microbioma intestinal na função do sistema imunológico tem sido bem documentado nos últimos anos. Para apoiar sua microbiota intestinal, é importante se alimentar bem e cuidar das suas bactérias benéficas.

Você pode fazer isso limitando antibióticos apenas a uso crítico, consumir uma dieta rica em fibras para alimentar sua microbiota, e incluir alimentos fermentados e probióticos no seu plano nutricional para introduzir bactérias benéficas no seu intestino. Evite açúcares e alimentos processados, que alimentam bactérias nocivas.

Dormir — A privação do sono possui impactos severos, incluindo danos ao sistema imunológico. Como eu já escrevi anteriormente, falta de sono aumenta o risco de obesidade, demência, câncer, osteoporose e resulta em envelhecimento prematuro. Se você possui problemas para dormir, consulte "33 principais dicas para otimizar sua rotina de sono" para sugestões para ajudá-lo a obter um sono de qualidade.

Exercício — Exercitar-se regularmente pode reduzir o risco de você ser infectado por um vírus, com pelo menos um estudo relatando que esta redução pode chegar a 46%. Mesmo aqueles que já foram infectados experimentaram uma redução na gravidade de seus sintomas.

Como o exercício mostrou repetidamente ser capaz de fortalecer o sistema imunológico, trate-o como uma parte crucial da sua rotina diária, por mais que nem todo mundo goste da ideia.