Você pode controlar o medo

Fatos verificados
Medo

Resumo da matéria -

  • A diferença entre ter medo e estar assutado é que o medo paralisa sua mente, mas você pode continuar funcional quando está assustado
  • Muitas pessoas gostam de ficar assustadas em um ambiente controlado, ao saltar de bungee jump ou andar de montanha-russa, por exemplo. É o elemento do desconhecido que pode desencadear o medo
  • A preparação e o conhecimento reduzem o medo. É o que as pessoas em profissões de alto risco usam para diminuir o risco de ferimentos e morte; elas se preparam meticulosamente

Por Dr. Mercola

Em apenas poucas semanas o mundo mudou. O vírus SARS-CoV-2, que desencadeia a infecção conhecida como COVID-19, foi oficialmente chamado de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial da Saúde em 30 de janeiro de 2020. A preocupação com a disseminação do vírus desencadeou uma série de eventos com consequências de longo alcance.

Uma trégua unilateral de duas semanas foi convocada no Iêmen para impedir a disseminação do vírus, o comércio está fechado e há uma disseminação silenciosa de medo criada pelas manchetes diárias que alegam mais mortes, mais infecções e mais mudanças. Embora o fechamento do comércio e as demissões sejam reais, é difícil separar a verdade da ficção em alguns relatos.

Muitos estão preocupados com a segurança no emprego, em colocar comida na mesa, em ser demitido e com o estresse do isolamento da família e dos amigos. Não houve muitos outros períodos na história em que o mundo inteiro parou na expectativa de ver o que o dia seguinte traria.

A diferença entre sentir medo e estar assustado

No momento atual, algumas pessoas estão com medo, o que não é surpresa, considerando como as manchetes comunicam as notícias. Cada uma parece pior do que a anterior, pois a mídia compete pelos leitores. Distinguir a diferença entre ter medo e estar assustado é um bom ponto de partida, pois um dificulta a vida e o outro aumenta a atenção e deixa os sentidos mais aguçados.

Muitas pessoas gostam de se sentir assustadas em um ambiente controlado. Pode ser revigorante quando mais oxigênio chega ao cérebro e a pulsação aumenta. Pense em quando você assiste a um suspense ou anda de montanha-russa. A razão pela qual as pessoas gostam dessas atividades é a sensação de estarem assustadas num ambiente controlado.

Sob circunstâncias controladas, como andar numa montanha-russa ou saltar de bungee jump, as pessoas experimentam simultaneamente estresse e prazer. Em um estudo, os pesquisadores mediram o cortisol, a frequência cardíaca, a pressão arterial, o estado emocional e a imunorreatividade antes e depois de 12 iniciantes em bungee jump.

Eles descobriram o que você provavelmente já vivenciou se gosta de parques temáticos: a ansiedade e o cortisol estavam altos antes do salto, enquanto a imunorreatividade e a euforia ficaram altas após o salto. Mas estar assustado e sentir euforia são muito diferentes da sensação de medo, que gera ansiedade e preocupação.

Em vez de provocar aquela reação natural de luta ou fuga que pode salvar sua vida se você estiver sendo atacado, o medo paralisa sua mente e seu corpo. A resposta de medo durante a pandemia do COVID-19 não é uma novidade para a sociedade. Em 2015, a manchete da American Psychological Association poderia ter feito referência a 2020: "Uma epidemia de medo". O autor falava sobre a epidemia de Ebola na África Ocidental.

Embora tenha havido apenas um pequeno número de casos confirmados nos EUA, o medo de infecção desencadeou, em alguns casos, o que pode ter sido uma resposta desproporcional. Pais no Texas, Mississippi e Nova Jersey tiraram os filhos da escola, e um professor no Maine foi dispensado.

É esperado que haja uma resposta de medo a uma nova ameaça

Ameaças novas e diferentes aumentam mais o nível de ansiedade de uma pessoa do que as ameaças com consequências iguais ou semelhantes, porém familiares. Isso pode estar relacionado à resposta da amígdala no cérebro, que ajuda o cérebro a processar emoções.

Um estudo descobriu que a atividade na amígdala subia quando eram mostradas aos participantes uma série de imagens de flores e cobras desconhecidas, enquanto a série de imagens de flores e cobras familiares não aumentou essa atividade. Como Ryan Holiday escreve:

"Está com medo? Isso não é luta ou fuga. É paralisia. Isso só piora as coisas. Especialmente agora. Especialmente em um mundo que exige soluções para os muitos problemas que enfrentamos. Eles certamente não vão se resolver. E a inação (ou a ação errada) pode piorá-los, pode colocar você em ainda mais perigo. A incapacidade de aprender, adaptar-se, de acolher a mudança também."

A preparação e o conhecimento reduzem o medo

No entanto, embora os sentimentos passageiros de medo sejam esperados quando se é confrontado com novas experiências, a sensação contínua de ansiedade e paralisia interferem na vida cotidiana. Esses sentimentos são prejudiciais à sua saúde mental. Holliday escreve que é "Treinamento. Coragem. Disciplina. Compromisso. Calma", isso reduz o pânico e o medo que as manchetes hiperbólicas da mídia usam para gerar receita.

Treinamento, instrução e preparação são a base da coragem. A diferença entre ter medo e estar assustado é que o medo paralisa sua capacidade de avaliar o que está acontecendo e tomar decisões. Mas a preparação e as informações ajudam você a tomar decisões e agir, mesmo quando está assustado. Esta é a definição de coragem: agir mesmo estando assustado.

Em 1933, no auge da Grande Depressão, Franklin D. Roosevelt estava do lado de fora da ala leste do Capitólio norte-americano para fazer seu discurso de posse depois de ter sido eleito presidente dos EUA. Nos primeiros minutos, ele disse a frase se repete há gerações: “a única coisa que devemos temer é o próprio medo..."

No entanto, esse é apenas o meio de uma frase e não comunica o pensamento completo. Ao ler essas palavras, você verá que ele estava dizendo às pessoas que o medo era uma escolha e o verdadeiro inimigo da recuperação. Sua descrição do medo — um "terror sem nome, irracional e injustificado" — soa tão verdadeira agora quanto em 1933.

"Este é, entre todos, o momento de falar a verdade, toda a verdade, com franqueza e ousadia. Nem precisamos recear enfrentar com honestidade as condições que hoje imperam em nossa terra. Esta grande nação subsistirá como já subsistiu, reviverá e prosperará. Então, antes de mais nada, deixe-me afirmar minha sólida convicção de que a única coisa que devemos temer é o próprio medo — um terror sem nome, irracional e injustificado que paralisa os esforços necessários para converter o recuo em avanço."

O medo é alimentado pela desinformação e pelas manchetes emocionalmente carregadas. De fato, ler as notícias quando não há uma pandemia pode inspirar igual medo. Como aponta o Psychology Today, raramente são as boas notícias que fazem as manchetes e atraem os leitores. Em vez disso, é a violência, a agitação, as mortes e a destruição.

Não existe um problema tão ruim que não possa ser piorado

No entanto, como Holliday escreve, é a preparação e as informações que tornam mais fácil deixar o medo de lado, avaliar as manchetes com a mente esclarecida e discernir quando as coisas não estão agregando. Ele usa uma história sobre o astronauta canadense Chris Hadfield:

"Não é que os astronautas sejam mais corajosos do que as outras pessoas", diz ele. "Somos apenas, sabe, meticulosamente preparados...” Pense em alguém como John Glenn, o primeiro americano a orbitar a Terra, cuja frequência cardíaca nunca ultrapassou os 100 batimentos por minuto em toda a missão. É isso que a preparação faz por você.

Os astronautas enfrentam todo tipo de situações difíceis e de alto risco no espaço — onde a margem para erros é pequena. De fato, em seu primeiro passeio espacial, Chris perdeu a visão de seu olho esquerdo. Então, seu outro olho se rasgou e ficou cego também. Em completa escuridão, ele tinha de encontrar o caminho de volta, se quisesse sobreviver.

Mais tarde, ele viria a dizer que a chave em tais situações é lembrar a si mesmo de que “há seis coisas que eu poderia fazer agora, todas as quais ajudarão a melhorar a situação. E vale a pena lembrar também que não existe um problema tão ruim que você também não possa piorar".

Ben Okri, romancista e poeta, tem os mesmos pensamentos quanto ao medo e os danos que este causa à mente e ao corpo humano. Escrevendo no Guardian, ele procura definir a diferença entre a consciência de um problema e o pânico devido ao problema. Ou, em outras palavras, assustado, mas capaz de pensar com clareza, ou paralisado pelo medo. Ele escreve:

"Deve-se estar ciente do coronavírus, ciente do que precisa ser feito para diminuir sua propagação — e precisamos fazer tudo isso. Mas não se deve piorar a situação com a imaginação negativa que é o medo. Pois, assim como o fogo, a imaginação pode criar ou destruir. Pode nos fazer agir com o pior de nós.

É isso que o pânico faz. O pânico é o medo com ação amplificada. Com o pânico, a sanidade é perdida. Desde que o vírus entrou na nossa cultura mental, ele tornou-se onipresente. Fomos tragados por seu mundo, por seu temível poder."

O medo de longo prazo prejudica a sua saúde

A preparação começa com a compreensão das consequências de longo prazo do medo e do pânico para a saúde — e a percepção de que essas condições de saúde não são inevitáveis nem necessária para a sua sobrevivência. O medo desencadeia a liberação de cortisol, parte da resposta de luta ou fuga e do estresse crônico. Como você descobrirá neste breve vídeo, ele tem consequências de longo alcance.

É hora de assumir o controle da sua saúde física e mental, controlando o medo e o estresse que a mídia parece empenhada em depositar no público. Essas habilidades serão importantes ao longo da sua vida. Você pode reconhecer a resposta física ao medo e ao estresse crônico mesmo que não reconheça os sentimentos. Muitos desses sintomas físicos e mentais incluem:

Dores de cabeça

Tensão ou dor muscular

Ansiedade

Dor no peito

Fadiga

Dor de estômago

Distúrbios do sono

Inquietação

Falta de motivação

Sensação de estar sobrecarregado

Irritabilidade ou raiva

Tristeza ou depressão

Explosões de raiva

Úlceras

Retração social

Mudanças nos hábitos de alimentação

Ganho ou perda de peso

Cicatrização mais lenta

Maior uso de álcool, tabaco ou outras drogas

Dor nas costas, pescoço e ombro

Piora das condições crônicas de saúde

Supressão do sistema imunológico, resultando em doença viral (resfriados)

Maior chiado em pessoas com asma

Supressão de células exterminadoras naturais e desenvolvimento de tumores

Estratégias para reduzir o medo e manter o foco

Existem várias estratégias que você pode usar para reduzir seu medo. É importante começar com o entendimento de que os sentimentos não têm vida própria. Em outras palavras, os sentimentos são gerados. Seus sentimentos mudam de acordo com as suas circunstâncias e pensamentos. Assistir a um filme engraçado pode provocar risadas e sentimentos de felicidade. Assistir a um filme triste leva muitos a chorar.

Ler as manchetes durante uma epidemia ou pandemia pode desencadear medo. Há um fator desconhecido na situação. Você pode não ter controle sobre a mídia, mas a boa notícia é que você tem controle sobre seus pensamentos e sua saúde. Quando você sente tristeza assistindo a um filme triste, os sentimentos são gerados pelo que você vê no filme e por seus pensamentos.

Em outras palavras, seus pensamentos desencadeiam os sentimentos. Uma das estratégias que você pode usar para reduzir ou eliminar os sentimentos de medo é mudar seus pensamentos. O Psychology Today recomenda reduzir a ansiedade limitando sua exposição às notícias e tentando consumir notícias positivas quando for acompanhar o que está acontecendo no mundo.

É importante prestar muita atenção a "termos vagos ou carregados, estatísticas citadas e suposições não declaradas". Em outras palavras, não aceite de cara o que está nas notícias, mas considere as informações e questione o que lhe está sendo dito.

Outras técnicas para reduzir o estresse incluem praticar exercícios, comer alimentos naturais, limitar o consumo de açúcar e ter boas noites de sono. Quando você está cansado e seu corpo não está devidamente nutrido para funcionar direito, você se torna mais propenso a cair na armadilha do medo. Outra estratégia consiste nas Técnias de Libertação Emocional (EFT).