A luz UV é realmente capaz de tratar o sangue de pacientes da COVID-19?

Fatos verificados
Luz uv para covid-19

Resumo da matéria -

  • O uso da luz UV para matar o vírus da COVID-19 surgiu recentemente em uma coletiva de imprensa em abril
  • A irradiação ultravioleta de sangue (UBI) é um tratamento eficaz amplamente utilizado antes do desenvolvimento dos antibióticos
  • Em meio à pandemia da COVID-19, o uso da ozonioterapia deve ser mais explorado

Por Dr. Mercola

É possível que a luz ultravioleta (UV) seja um tratamento interno para o SARS-CoV-2? Sabemos que ela mata patógenos, principalmente sobre superfícies. E a técnica já é utilizada no processamento de alimentos, estações de tratamento de águas residuais e dispositivos médicos para matar germes — na verdade, de acordo com a Duke Health, a luz UV é capaz de cortar a transmissibilidade de quatro grandes superbactérias.

William Bryan, atual diretor da Diretoria de Ciência e Tecnologia do Departamento de Segurança Interna dos EUA, sugeriu que a luz UV possa ser capaz de matar o coronavírus. Mas também há evidências de que a luz UV e um tratamento à ela relacionado, a ozonioterapia, podem ser utilizados internamente para tratar infecções virais, inclusive infecções da COVID-19.

Irradiação ultravioleta de sangue: Uma cura esquecida pelo tempo

A irradiação ultravioleta de sangue (UBI), também chamada de terapia de fotoluminescência (PT), era um tratamento para infecções aceito até os anos 40 e 50, utilizado para septicemia, pneumonia, tuberculose, poliomielite e outras doenças. A popularidade da UBI foi ofuscada pela estreia do antibiótico penicilina e da vacina contra a poliomielite, desenvolvimentos médicos considerados milagres na época.

A UBI, que foi chamada de "A cura esquecida pelo tempo" pela literatura médica, possui duas características marcantes. Primeiramente, não há relatos de que os micróbios tratados por ela tenham desenvolvido resistência, um fenômeno tão comum com os antibióticos que acabou limitando a utilidade destes medicamentos e criando as perigosas "superbactérias".

Em segundo lugar, a desativação dos patógenos promovida pela UBI pode não ocorrer devido às propriedades antivirais da luz UV vislumbradas em superfícies, mas sim devido a outros mecanismos. De acordo com a série de livros Advances in Experimental Medicine and Biology:

"A UBI pode aprimorar a capacidade fagocítica de várias células fagocíticas (neutrófilos e células dendríticas), inibir os linfócitos e oxidar lipídios do sangue. A natureza oxidativa da UBI pode possuir mecanismos em comum com a ozonioterapia e outras oxigenoterapias ...

A UBI afeta várias funções dos glóbulos vermelhos do sangue e de vários leucócitos diferentes, como já foi provado em vários estudos in vitro. Um modelo comum são as células estimuladoras em culturas mistas de leucócitos; outro são as células auxiliares em culturas estimuladas por mitógenos. Os raios UV também reverteram a produção de citocinas e bloquearam a liberação de citocinas. Os raios UV também são capazes de perturbar a mobilização da membrana celular."

Embora os pesquisadores não questionem a eficácia da UBI no tratamento de infecções, eles discutem como o mecanismo exato ainda não foi totalmente definido:

"No entanto, não é impossível que a morte de linfócitos em circulação possa reduzir a inflamação sistêmica, o que seria benéfico em casos de sepse. Também está claro que a UBI pode oxidar lipídios e lipoproteínas do sangue, aumentando assim o estresse oxidativo.

Mas também é possível que uma breve explosão de estresse oxidativo possa ser benéfica, embora níveis crônicos contínuos de estresse oxidativo normalmente sejam considerados prejudiciais. Muitas defesas antioxidantes são reguladas positivamente por uma breve exposição ao estresse oxidativo ... A natureza oxidativa da UBI nos encorajou a traçar paralelos com a ozonioterapia."

As investigações iniciais da UBI

A suspeita de que os raios UV poderiam matar patógenos partiu de uma simples descoberta ocorrida em 1877. Cientistas perceberam que a água com açúcar permanecia clara sob a luz do sol, mas ficava turva quando em um local sombreado. Quando examinada por meio de um microscópio, foi descoberto que a "turbidez" da água era um crescimento bacteriano, o qual era retardado pela luz UV do sol.

Em 1903, Niels Ryberg Finsen ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por abrir "uma nova via para a ciência médica" através da descoberta do efeito da radiação luminosa concentrada no tratamento de doenças, especialmente o lúpus vulgar. De acordo com os pesquisadores da série de livros Advances in Experimental Medicine and Biology, a primeira máquina da UBI foi uma "câmara de irradiação" primitiva, em formato circular, que:

"... continha um conjunto labiríntico de canais que conectavam as portas de entrada e de saída. Todos os canais eram cobertos por uma janela de quartzo formada no topo da câmara.

A câmara de irradiação foi projetada para causar o máximo de turbulência no sangue em circulação ... para prevenir a formação de uma fina camada de sangue na janela da câmara que poderia absorver e filtrar uma boa quantidade da luz UV."

Hoje em dia, procedimentos médicos autólogos que capturam e retornam células ou tecidos obtidos de um mesmo indivíduo estão bem estabelecidos.

Afirmações sobre a luz UV para o tratamento da COVID-19 possuem embasamento fático

Uma versão moderna na "câmara de irradiação" original da UBI está atualmente em desenvolvimento, embora não esteja claro se é esta a pesquisa à qual o Presidente Trump se refere. Médicos do Centro Médico Cedars-Sinai em Los Angeles, em parceria com a empresa farmacêutica especializada AytuBioScience, estão desenvolvendo e comercializando um dispositivo UV chamado "Healight".

De acordo com a página Nurse.org, "a tecnologia Healight fornece luz ultravioleta A (UVA) de forma intermitente por meio de um cateter endotraqueal" a pacientes sob ventilação mecânica. A luz foi "desenvolvida em 2016 pela equipe de pesquisas do programa Ciência e Tecnologia Medicamente Associadas (MAST) do Cedars-Sinai, liderada pelo dr. Mark Pimentel".

O foco original da pesquisa, antes da pandemia da COVID-19, era o tratamento de patógenos associados a problemas gastrointestinais. Mas agora há esperanças de o tratamento funcione para pacientes da COVID-19.

"Nossa equipe já demonstrou que a administração de espectros específicos da luz UVA é capaz de erradicar viroses em células humanas infectadas (inclusive o coronavírus) e bactérias da região, enquanto preserva células saudáveis", disse Mark.

O dr. Ali Rezaie, outro membro da equipe do MAST, disse: "Acreditamos que esta abordagem terapêutica tem o potencial de afetar significativamente a alta morbidade e mortalidade dos pacientes infectados pelo coronavírus e pacientes infectados com outros patógenos respiratórios."

O presidente e diretor executivo da Aytu, Josh Disbrow, disse à BioWorld que o dispositivo será capaz de alcançar o coronavírus onde estiver mais concentrado, na traqueia e nos pulmões, reduzindo a carga viral enquanto preserva as células saudáveis. A empresa busca uma autorização de emergência da FDA para que pacientes com COVID-19 sob ventilação mecânica possam receber o tratamento enquanto dados do ensaio clínico são coletados.

Uma pesquisa publicada na revista Transfusion descobriu que a luz UV desativa o vírus SARS no sangue, um coronavírus muito similar ao vírus da COVID-19.

Um dispositivo similar ao Healight foi aprovado pela UE em 2015, mas ainda não foi aprovado pela FDA. De acordo com o fabricante, o Sistema UVLrx 1500 "oferece a primeira entrega intravenosa simultânea de luz ultravioleta A (UVA)" e, devido ao seu Dry Light Adapter™ e ao cateter I.V. padrão, "elimina a necessidade de remoção do sangue do corpo".

Mídia demonstra indiferença à pesquisa da Luz UV para a COVID-19

Quando a terapia de luz UV foi mencionada em uma conferência de imprensa recente, ela recebeu, em maioria, coberturas negativas por parte da mídia tradicional, ou até cobertura nenhuma, possivelmente porque os repórteres não entendem o conceito de luz UV interna, ou não leram a pesquisa. "Quando o vírus já tiver dominado seu corpo, nenhuma quantidade de luz UV em sua pele fará qualquer diferença", escreveu a BBC.

O tratamento UV para a COVID-19 foi mal projetado e não foi testado, disseram especialistas no jornal USA Today. A luz UV é "perigosa", disse o jornal The Washington Post. Devido à censura à medicina não convencional praticada hoje em dia pelos gigantes da tecnologia, um vídeo sobre a Healight foi removido do YouTube. O Vimeo também deletou o vídeo da Healight e o Twitter suspendeu temporariamente a conta da Aytu.

A mídia tradicional foi pega de surpresa pela parceria entre os médicos do Cedars-Sinai e a Aytu, bem como pelo vídeo promocional sobre a Healight. O jornal Los Angeles Times perguntou:

"... se é adequado para uma empresa de biotecnologia recorrer a animações do YouTube e tweets no Twitter para 'divulgar' um dispositivo médico que supostamente está em revisão pela FDA. Qual seria a audiência alvo dessas animações? Se não são os examinadores da FDA, será que são os investidores de ações, que geralmente não se empolgam muito com a Aytu?"

No entanto, quando se trata de perguntas para quem são projetados avisos precoces de um tratamento não aprovado, o Times deveria investigar a grande indústria farmacêutica. Ela é notória por tentar empolgar as pessoas exatamente dessa maneira.

Por exemplo, em 2010, quando ainda estava esperando a aprovação da FDA para seu medicamento flibanserina, a BoehringerIngelheim Pharmaceuticals tentou vender a doença do "distúrbio do desejo sexual hipoativo" para criar uma demanda para o medicamento — que a FDA acabou rejeitando, alegando que os benefícios "não justificam os efeitos colaterais" do medicamento.

Os anúncios onipresentes de "verificação de sintomas" e "conscientização sobre doenças" da grande indústria farmacêutica funcionam da mesma maneira. Alguém já tinha ouvido falar sobre insuficiência pancreática exócrina ou distúrbios do sono causados por trabalho em turnos e outras doenças obscuras antes da indústria começar a vender estas doenças para criar uma demanda para seus medicamentos? Ou —alguém ouviu falar do papilomavírus humano (HPV) antes da Merck iniciar sua campanha publicitária "Um a menos" durante o lançamento do seu medicamento para HPV, o Gardasil?

Quando o assunto são acordos financeiros entre médicos e a indústria, a grande indústria farmacêutica é especialista. Em 2011, a FDA teve que afrouxar suas regras de conflito de interesse para médicos que participam de comitês consultivos porque não conseguiu encontrar médicos livres de pagamentos da grande indústria farmacêutica.

Ozonioterapia também pode ser promissora para a COVID-19

Em meio a um combate contra uma pandemia viral no qual tratamentos aceitos falham de maneiras abismais, mais atenção deve ser dada à ozonioterapia. O oxigênio é um dos fatores fundamentais para a cura de infecções. O ozônio aprimora a entrega de oxigênio ao encorajar sua liberação pela hemoglobina e aumentar a flexibilidade dos glóbulos vermelhos do sangue, permitindo que estes fluam melhor através de pequenos tubos capilares.

A produção de óxido nítrico, antioxidantes e ATP também é aprimorada pelo ozônio, que serve para melhorar a circulação sanguínea, modular as citocinas e o sistema imunológico, e reduzir a inflamação. Como o ozônio ataca os lipídios e a COVID-19 é um vírus revestido por lipídios, o ozônio reduz ou elimina sua infecciosidade ao destruir seu revestimento lipídico.

O ozônio é nocivo para o epitélio respiratório dos pulmões, portanto respirá-lo deve ser rigorosamente evitado. No entanto, o ozônio é uma substância natural valiosa que pode ser utilizada com segurança de várias maneiras, inclusive infusão através da vagina, reto e ouvidos em terapias guiadas por clínicos especialistas. O ozônio também pode ser obtido em saunas de ozônio e bebendo água de ozônio.

Tecnicamente, é possível gerar ozônio a partir do ar ambiente, mas a maneira mais eficiente de gerar o gás é através da água potável, utilizando um concentrador de oxigênio. Se o concentrador estiver funcionando à uma taxa de fluxo baixa, é possível obter uma alta taxa de saturação do oxigênio, de 93% a 95%. No entanto, é bom saber que este método não é o correto para outras estratégias de fornecimento de ozônio.

Assim como a UBI, a ozonioterapia desafia as ortodoxias e lucros da medicina tradicional e da grande indústria farmacêutica, e por isso é subnotificada. Ainda assim, ela é sustentada por evidências científicas. Dr. Robert Rowen, um dos maiores especialistas em ozonioterapia, e dr. Howard Robins, especialista em terapia bio-oxidativa, escreveram na revista Journal of Infectious Diseases and Epidemiology:

"Quando o sangue é tratado com ozônio, ele reage instantaneamente com ligações duplas, ricas em elétrons, de lipídios e outras moléculas. Isso cria metabólitos oxidantes mais fracos, mais duradouros, chamados ozonídeos: espécies reativas de oxigênio e produtos de oxidação lipídica, incluindo peróxidos, peroxilos, alcenos e alcanos.

Estas moléculas parecer agir como mensageiras para os efeitos bioquímicos e imunomoduladores da terapia ... A ozonioterapia pode ser facilmente realizada no mundo inteiro, até mesmo em países muito pobres. Com poucos tratamentos convencionais para pneumonias virais, a atual epidemia poderia impulsionar os estudos da ozonioterapia."

É possível receber realizar a ozonioterapia através de clínicos especializados na prática, e aprender mais sobre o procedimento na página de internet do dr. Robert.

A luz UV e a ozonioterapia devem ser consideradas para tratar a COVID-19

Ao enfrentar uma pandemia viral sem precedentes como a COVID-19, que desafia os tratamentos convencionais, pensar em tratamentos "fora da caixa" pode ser exatamente do que precisamos. As pessoas frequentemente dispensam tratamentos mais antigos, pois acham que a medicina e a ciência já avançaram muito desde então.

Mas será que avançaram mesmo? Temos antibióticos que criaram superbactérias resistentes a antibióticos que não podem ser eliminadas. Agora temos vírus que se aprimoram mais rápido do que qualquer tratamento para tratá-los. Ignoramos a UBI, a ozonioterapia e novas pesquisa sobre elas por nossa própria conta e risco — principalmente se o número de casos e mortes causadas pela COVID-19 continuarem a aumentar.