Como os exercícios podem reduzir o risco de morte por COVID-19?

Fatos verificados
Sistema imunologico

Resumo da matéria -

  • Ter uma boa saúde e um sistema imunológico robusto é a principal defesa contra a COVID-19. Além de pacientes com idade avançada, aqueles que apresentam comorbidades como diabetes e doenças cardíacas e estão em risco elevado de complicações da doença, a obesidade se mostrou o maior fator determinante para casos de necessidade de internação dos pacientes
  • Muitos estudos associaram a obesidade à baixa função imunológica e a um alto risco de infecção
  • Praticar exercícios físicos é uma estratégia de saúde fundamental que fortalecerá seu sistema imunológico através de diversos mecanismos

Por Dr. Mercola

Se a pandemia de COVID-19 está nos ensinando algo é a importância de manter uma boa saúde e uma forte resposta imunológica. Além de pacientes com idade avançada, aqueles que apresentam comorbidades como diabetes e doenças cardíacas e estão em risco elevado de complicações da doença, a obesidade se mostrou o maior fator determinante para casos de necessidade de internação dos pacientes, superada apenas pela idade avançada.

A obesidade é um fator de risco para os casos graves de COVID-19

Pacientes obesos com COVID-19 estão em maior risco do que aqueles que têm doenças cardíacas e cardiovasculares, de acordo com pesquisadores da NYU GrossmanSchool. O que não deve ser surpresa, considerando estudos anteriores que associaram a obesidade a maiores riscos de infecção.

Como descoberto em um desses estudos, "há uma reação descontrolada entre as inflamações locais em tecido adiposo e resposta imunológica alterada pela obesidade". Outra pesquisa científica destacou que "existem fortes evidências de que o excesso de adiposidade causa impactos negativos nas funções imunológicas do organismo de indivíduos com obesidade". Um artigo de 2018 explicou:

"O tecido adiposo é considerado um órgão endócrino extremamente ativo que secreta hormônios similares à citocina, chamados adipocinas, que são fatores pró ou anti-inflamatórios que ligam o metabolismo ao sistema imunológico.

A leptina é uma das adipocinas mais relevantes, com importantes funções fisiológicas no controle central do metabolismo de energia e na regulagem da interação entre o metabolismo e o sistema imunológico, sendo a base de um campo de estudos em crescimento chamado imunometabolismo.

O receptor da leptina está presente em todo o sistema imunológico e se mostrou capaz regular as reações imunológicas inatas e adaptativas."

A boa notícia é que temos muito controle sobre nossa própria saúde. A obesidade, a resistência à insulina, o diabetes tipo 2 e as doenças cardíacas são todas reversíveis e, se quiser se preparar para a próxima pandemia (que já está sendo anunciada), é melhor começar a melhorar sua saúde em vez de simplesmente mascarar ou "controlar" os sintomas com remédios.

Exercícios podem reduzir o risco de morte por COVID-19

Além de ter uma alimentação saudável (dê a preferencia à base de alimentos orgânicos) e implementar horários para as refeições, praticar exercícios é uma estratégia fundamental para fortalecer o sistema imunológico.

De acordo com uma pesquisa recente publicada em 19 de março de 2020 em uma edição da Redox Biology, exercícios regulares podem ajudar a prevenir a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), uma complicação letal e a maior causa de morte em pacientes de COVID-19. Segundo a Universityof Virginia Health System:

"Uma pesquisa realizada por Zhen Yan, Ph.D. da Schoolof Medicine, mostrou que descobertas médicas 'indicam fortemente' que exercícios podem prevenir ou ao menos reduzir a SDRA, que afeta entre 3% e 17% de todos os pacientes com COVID-19.

Com base nas informações disponíveis, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças estimam que 20% a 42% dos pacientes hospitalizados por causa do COVID-19 vão desenvolver a SDRA. O número estimado de pacientes que precisam de tratamento intensivo é de 67% a 85%.

Pesquisas realizadas antes da pandemia sugerem que 45% dos pacientes que desenvolvem um quadro grave da SDRA vão a óbito. "Tudo o que se fala atualmente é sobre respiradores e distanciamento social, como se tudo o que pudéssemos fazer fosse evitar a exposição ou depender de um respirador para sobreviver caso sejamos infectados", diz Yan.

O outro lado da história é que aproximadamente 80% dos casos confirmados de pacientes com COVID-19 têm sintomas mais brandos e não têm necessidade de suporte respiratório. Mas por quê? Descobertas sobre uma enzima antioxidante endógena oferecem pistas importantes e nos instigaram a desenvolver uma terapia experimental sobre a SDRA causada pelo COVID-19."

O antioxidante endógeno (fabricado pelo corpo) em questão é o superóxido dismutase extracelular (EcSOD), que é excretado pelos músculos para dentro da circulação sanguínea. O EcSOD protege os tecidos e previne doenças que eliminam os radicais livres prejudiciais. É possível aumentar o EcSOD através da prática de exercícios.

A pesquisa de Yan mostra que uma queda no EcSOD é observada em muitas doenças, como as doenças agudas pulmonares, isquemia cardíaca e falência renal. Uma única seção de exercícios gera um aumento na produção desse antioxidante valioso, então, Yan pede às pessoas que "encontrem meios de se exercitar mesmo durante o distanciamento social". A Universityof Virginia escreve:

"Dizemos com frequência que exercícios são remédios. O EcSOD é um exemplo perfeito de que podemos aprender com o processo biológico dos exercícios para o avanço da medicina. Embora nos esforcemos para saber mais sobre os mistérios que cercam os benefícios da prática regular de exercícios, não precisamos esperar até que saibamos tudo", afirma Yan.

Os exercícios ajudam a moldar o sistema imunológico

Em notícias relacionadas, uma pesquisa publicada no periódico Nutrients, em 28 de Fevereiro de 2020, mostra como a atividade física e a alimentação ajudam a moldar o sistema imunológico durante o envelhecimento. Como dito no abstract:

"Com o avanço da idade, o sistema imunológico passa por um processo de remodelagem, chamado imunossenescência, que é acompanhado por mudanças consideráveis nas subpopulações de leucócitos e pela queda de várias funções de células imunológicas.

Clinicamente, a imunossenescência é caracterizada pelo aumento da susceptibilidade a infecções, uma reativação mais frequente de vírus latentes, queda na eficácia das vacinas por um aumento na prevalência de câncer e autoimunidade.

Fisiologicamente, o sistema imunológico tem algumas estratégias adaptativas para lidar com o envelhecimento... Embora a falta de atividades físicas, a queda na massa muscular e uma nutrição defasada facilitem a iImunossenescência e a inflamação crônica, fatores como exercícios e hábitos alimentares afetam positivamente o envelhecimento do sistema imunológico."

Mais importante, a pesquisa detalha como os exercícios ajudam na imunossenescência e desaceleram o processo de envelhecimento das reações imunológicas inatas e adaptativas. Estudos mostram que os exercícios auxiliam as funções das células exterminadoras naturais e dos neutrófilos (células brancas do sangue), que fazem parte do sistema imunológico inato.

Testes de intervenção demonstraram que os exercícios reforçam características da imunidade inata como a redução de certos monócitos pró-inflamatórios (que são indicativos de infecção).

"No geral, os resultados indicam que o aumento da atividade física fortalece as funções do sistema imunológico inato, o que reduz os riscos de infecção e o potencial inflamatório", aponta a pesquisa.

Os exercícios também se mostraram aprimoradores da proliferação de células T induzida por mitogenia, que é associada à melhora do funcionamento do sistema imunológico adaptativo. Estudos também confirmaram que "os exercícios induzem a morte celular de células-T senescentes resistentes à apoptose... Desse modo... atividades físicas regulares podem... reduzir parcialmente a queda do funcionamento das células-T relacionadas ao envelhecimento".

Para maioria das pessoas, o exercício ideal é o treino de oclusão vascular

Existem muitos tipos de exercícios, mas o meu favorito é o de treino oclusão vascular, principalmente porque é a estratégia perfeita para pessoas acima dos 50 ou 60 anos ganharem massa muscular com um risco reduzido de lesões.

Esse tipo de treino não apenas aumenta a massa muscular que excreta o antioxidante endógeno EcSOD, discutido na primeira seção do artigo, mas também melhora a força e a resistência enquanto reduz a gordura corporal. Para a maior parte das pessoas que não são atletas profissionais, essa é a única forma de treino de resistência necessária.

Uma das razões pelas quais o treino de oclusão vascular é tão útil é o aumento de óxido nítrico, que tem sido estudado no tratamento de COVID-19 na faculdade de medicina de Harvard, de acordo com o New York Times. O treino de oclusão vascular também ativa uma sequência metabólica que reverte, de certo modo, muitas características do envelhecimento. Porexemplo:

  • Estimula a produção de hormônios endógenos "fitness" como o hormônio do crescimento humano e o IGF-1.
  • Provoca a liberação do fator induzível por hipóxia 1-α (HIF-1 alpha), que, por sua vez, aumenta o hormônio do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) — um dos mais poderosos sinais angiogênicos no corpo. Essencialmente, o VEGF atua como um "fertilizante" para o crescimento de novos vasos sanguíneos e capilares para as células-troco musculares. O treino de oclusão vascular revelou um aumento dos níveis de VEGF em 410% em jovens, e o fortalecimento das células-tronco musculares em 380% após oito dias de prática.
  • Ele reduz um hormônio chamado miostatina, que é um regulador negativo para o crescimento de massa muscular. Quando os níveis de miostatina estão elevados, o corpo é simplesmente incapaz de produzir massa muscular. Isso é importante porque os idosos apresentam níveis mais elevados do que os jovens. Como a miostatina é um regulador negativo do crescimento da massa muscular que suprime a síntese de proteína, inibir a miostatina vai ajudar a aumentar a síntese de proteína muscular e, assim, a massa muscular.
  • Aumenta os níveis de lactato, que o cérebro usa como combustível. O lactato também eleva o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), um fator de crescimento cerebral que contribui para a neuroplastia e o aumento do desempenho cognitivo.

Eu tenho me exercitado por mais de cinquenta anos e nunca conheci uma estratégia que melhore a saúde metabólica e física em geral tão bem quanto essa, especialmente depois dos 60. Eu comecei a praticar o treino de oclusão vascular há pouco mais de uma ano e nunca tive tanta massa muscular quanto tenho agora.

E é mais vantajoso agora, que está quase impossível de comprar halteres e anilhas, e as academias estão fechadas. Você nem precisa usar pesos no treino de oclusão vascular, se não quiser. Ele pode ser implementado com o peso do corpo, por exemplo, ou você pode usar elásticos em vez de pesos, que são muito mais baratos.

As faixas elásticas são uma opção barata para usar no treino

Ultimamente tem sido muito mais difícil encontrar halteres para treinar em casa. Eles estão esgotados em todos os lugares, já que mais pessoas têm procurado por equipamentos esportivos para usar enquanto estão em isolamento. A boa notícia é que você não precisa de pesos, especialmente se quiser praticar o treino de oclusão vascular.

Uma alternativa simples e barata são as faixas e cordas elásticas encontradas em diferentes formas, tamanhos e níveis de resistência. A maioria das marcas oferece elásticos de resistência leve, média e intensa, que podem ser ajustados para o uso criativo durante os exercícios.

A resistência aumenta com a extensão, particularmente no fim do movimento, momento em que o esforço está aumentando ou está em seu pico. Isso faz com que os músculos sejam exercitados de modos diferentes e auxilia no desenvolvimento de movimentos musculares funcionais.

As faixas elásticas também promovem mudanças na velocidade dos movimentos e treinam os músculos para se adaptarem a mudanças, diferentes dos halteres e barras que, em parte, dependem do impulso, gerando uma gama de movimentos sem peso.

As faixas elásticas podem ser usadas para malhar o corpo todo e são úteis quando se quer trabalhar as partes superior ou inferior do corpo, braços, quadris, pernas e glúteos.

Adicionar as faixas elásticas a uma rotina dinâmica para as articulações esferoides, como aquelas dos quadris e ombros, pode aquecer a musculatura, desafiando-a com pouca resistência e aumentando a circulação e o movimento.

Para uma amostra de rotina de exercícios usando elásticos, assista ao vídeo acima. Não importa qual exercício você faça, qualquer coisa é melhor que nada, e quando realizado com consistência ao longo do tempo, vai melhorar sua saúde e reduzir os riscos não apenas de COVID-19, mas de todas as outras doenças virais e infecciosas.

+ Recursos e Referências