Evitar alimentos vegetais faz bem ou mal para saúde?

Fatos verificados
Dieta carnivora

Resumo da matéria -

  • As fitoalexinas são compostos de defesa de plantas que podem fazer mais mal do que bem quando consumidos, e as pessoas geralmente subestimam quantos compostos de defesa existem em alimentos vegetais
  • É comum acreditar que as moléculas vegetais agem como antioxidantes para os seres humanos, mas elas não agem diretamente como catadoras de radicais livres no seu corpo; na verdade, elas ativam o seu sistema de resposta antioxidante — um mecanismo conhecido como hormose
  • Os alimentos de origem animal são saudáveis e contêm todos os nutrientes necessários para a saúde ideal, incluindo as vitaminas A, C, E e K2, além de colina, carnitina e creatina

Por Dr. Mercola

Dr. Paul Saladino estudou na Universidade do Arizona com foco em medicina integrativa. Ele completou sua residência em psiquiatria na Universidade de Washington em 2019, e é um profissional certificado em medicina funcional pelo Instituto de Medicina Funcional.

Neste entrevista, Paul discute sobre os benefícios surpreendentes da dieta carnívora, a qual é o assunto do seu novo livro, "The Carnivore Code", que atualmente está disponível para pré-venda.

Eu vejo Paul como um dos maiores especialistas nos benefícios proporcionados à saúde pela dieta de origem animal. No entanto, ele toma medidas extremas, defendendo a dieta carnívora ao ponto de excluir todos os alimentos vegetais, o que pode gerar muitos debates.

Porém as evidências que ele apresenta são muito convincentes. Pessoalmente não conheço ninguém que tenha revisado a literatura de forma cuidadosa o bastante para argumentar de forma coerente contra a estratégia de Paul. (Em parte, essas são as consequências de ter passado pelas ciências médicas básicas duas vezes, já que ele estudou para ser um assistente de médico, e posteriormente para se tornar médico).

Provavelmente Paul vai desafiar suas crenças nesta entrevista. O objetivo não é ofender ninguém. Se acredita que deve evitar alimentos animais por razões éticas, a escolha é certamente sua. No entanto, se tiver sofrendo de problemas de saúde que a dieta vegetariana não consegue resolver, ou que talvez tenha até piorado sua situação, talvez queira ouvir o que Paul tem a dizer.

A bioquímica das plantas e mamíferos

Paul também fez uma analogia descritiva que ajuda a explicar por que os nutrientes vegetais não são necessariamente necessários para a bioquímica humana. A diferença entre a bioquímica vegetal e animal pode ser comparada aos sistemas operacionais PC e Mac. Embora suas funções sejam aparentemente as mesmas, os sistemas são diferentes e incompatíveis.

Seu corpo possui seu próprio sistema antioxidante, que é diferente do das plantas. Seu sistema imunológico é a sua principal defesa, e você tem imunidade inata e adaptativa. As plantas não possuem essas defesas. Elas só produzem moléculas para se defenderem contra invasores.

É comum acreditar que as moléculas vegetais agem como antioxidantes para os seres humanos, mas, de acordo com Paul, elas não agem diretamente como catadoras de radicais livres no seu corpo. Na verdade, elas podem ativar o seu sistema de resposta antioxidante, conhecido como hormose.

"Nós temos glutationa, temos a enzima superóxido dismutase, temos ácido úrico, temos vitamina E. Temos moléculas que fazem a coleta dos radicais livres no corpo humano", disse Paul.

"Estamos falando do movimento dos elétrons... Elétrons não emparelhados são radicais livres. Eles viajam pelo corpo puxando elétrons para fora das moléculas... Mas temos a glutationa, nossa força policial celular, para chegar e dizer: "Ei, vou te dar um elétron, assim você vai se acalmar". É isso que a glutationa faz. Esse é o nosso sistema antioxidante.

As plantas não fazem isso. As moléculas vegetais não entram no nosso corpo para doar elétrons. Elas fazem o oposto. Como elas são moléculas de defesa vegetal, elas são pró-oxidantes. Plantas e animais possuem sistemas operacionais diferentes e nossas moléculas não agem das mesmas formas. O mesmo vale para as vitaminas e minerais das plantas e as vitaminas e minerais dos animais."

Os benefícios exclusivos dos alimentos de origem animal para a saúde

Segundo Paul, os alimentos de origem animal são exclusivamente saudáveis para seres humanos, e este é um tópico que ele discute profundamente no capítulo 8 do seu livro. Um exemplo é a vitamina B12. Uma pesquisa citada em seu livro mostra que os níveis de B12 parecem estar relacionados ao tamanho do cérebro, sendo que baixos níveis da vitamina estão associados a um volume cerebral menor.

"Sabemos que o tamanho do cérebro vem reduzindo nos últimos 15.000 anos", disse Paul. "Certamente, quando os seres humanos pararam de caçar, começaram a cultivar mais. Seus níveis de B12 e muitos outros nutrientes caíram demais. E essa é uma hipótese convincente para esta redução do tamanho do cérebro...

A B12 é crucial para o ciclo do folato. Ela é necessária para a conversão da homocisteína em metionina, e também é necessária para formação da succinilcoenzima A para o ciclo de Krebs. Além disso, é necessária para o crescimento dos neurônios. Ela é muito importante."

Paul também fala sobre "os três C", que estão totalmente, ou quase totalmente, ausentes nos alimentos de origem vegetal:

Creatina — A creatina, encontrada somente em alimentos de origem animal, e não nos alimentos de origem vegetal, faz parte do sistema fosfágeno dos seus músculos. Ele armazena um item de fosfato como a creatina fosfato, e doa esse fosfato para a ATP quando esta é usada durante exercícios intensos. Ela também faz parte do metabolismo energético do seu corpo.

"Há estudos incrivelmente notáveis que eu discuto no livro em que vegetarianos e veganos fizeram a suplementação de 5 gramas de creatina por dia, que é a quantidade de creatina em meio quilograma de carne; todos eles sofreram melhoras na memória de trabalho, inteligência e tarefas de tomada de decisão", disse Paul.

Colina — A colina é importante para as membranas de todas as células do seu corpo. Também já foi demonstrado que ela protege contra a esteatose hepática não alcoólica, como explicado no artigo "A colina é crucial para a saúde hepática".

Carnosina — A carnosina é importante devido à sua capacidade de limitar o estresse oxidativo ao prevenir a formação dos produtos finais da glicação avançada (AGEs) e produtos finais da lipoxidação avançada (ALEs), ambos correlacionados ao envelhecimento em humanos.

A carnosina não está presente em alimentos de origem vegetal, e em seu livro, Paul cita uma pesquisa mostrando que vegetarianos apresentam níveis mais elevados de formação de AGE em seus corpos. Parece haver dúzias de condições clínicas para as quais a carnosina é útil.

Incluindo doenças cardíacas, câncer e mal de Alzheimer. Ela também é uma precursora da histamina, atenua os danos causados pelos ALEs, que são ainda mais destrutivos que os AGEs, e ajuda a combater a disfunção mitocondrial, que é o centro do envelhecimento e das doenças crônicas.

Como observado por Paul, uma pesquisa mostra uma correlação clara entre níveis elevados de vitamina K2 e uma menor incidência de doenças cardiovasculares. Não existe nenhuma correlação desse tipo para a vitamina K1. Infelizmente, a maioria das calculadoras de nutrição avaliam apenas a K1, o que justifica por que muitas pessoas acreditam erroneamente que não há vitamina K1 em alimentos de origem animal.

"Qualquer nutricionista ou pessoa que dizer que não há quantidades suficientes de vitamina K em alimentos de origem animal está 100% errada", disse Paul, "pois, na verdade, há maiores quantidades de vitamina K do tipo bom (vitamina K2) em alimentos de origem animal do que em qualquer outro lugar".

O mesmo vale para as vitaminas E e C. Nenhuma delas é medida de forma apropriada em alimentos de origem animal, o que gera a crença errônea de que precisamos de alimentos de origem vegetal para conseguir estes nutrientes. No entanto, Paul apresenta amplas evidências em seu livro de que a carne e outros alimentos de origem animal contêm quantidades suficientes de ambas as vitaminas E e C.

Mas e a diversidade da microbiota intestinal?

Durante a entrevista, Paul também discutiu sobre a percepção comum de que as fibras e os alimentos de origem vegetal são essenciais para se ter uma microbiota intestinal saudável, e para a prevenção da constipação e do câncer. Como esta foi uma entrevista anormalmente longa, não posso cobrir todos os detalhes neste artigo, então caso queira saber de mais informações, por favor escute a entrevista inteira.

A respeito das fibras e diversidade da microbiota intestinal, pesquisadores de Harvard demonstraram que pessoas com dietas exclusivamente carnívoras apresentam a mesma diversidade alfa de bactérias intestinais do que pessoas que se alimentaram exclusivamente com uma dieta de origem vegetal por uma semana. Na verdade, a dieta carnívora aumentou a diversidade beta, que é outra medida de diversidade, de forma que a diversidade aumentou de forma geral.

Dietas carnívoras são excelentes para o tratamento de doenças autoimunes

Embora as dietas carnívoras sejam capazes de beneficiar qualquer pessoa, elas parecem particularmente úteis para aquelas com doenças autoimunes.

"Não consigo nem contar quantos casos de artrite psoriática eu já vi desaparecer com a dieta", disse Paul. "Há várias histórias em meu Instagram. Já postei vários depoimentos de pessoas que tinham psoríase em placas, fibromialgia, eczema, asma e lúpus...

Não posso afirmar que a dieta carnívora cura 100% dos casos, mas ela é uma intervenção muito poderosa. Acho que em algumas pessoas podem haver outras coisas acontecendo, como disbiose intestinal, infecções intestinais ou toxicidade de metais pesados. Quem sabe? Mas é uma intervenção muito eficiente.

De forma geral, é isso que o livro mostra: 'Ei, olha: plantas têm toxinas. Consumir alimentos de origem animal é seguro. Não tenha medo. Se estiver doente ou não estiver se sentindo capaz de fazer suas atividades como gostaria, experimente a dieta carnívora, principalmente se tiver alguma doença autoimune.'

A dieta carnívora é incrível. Quero dizer, ela curou totalmente a minha doença autoimune e eu já vi acontecer com muitas e muitas pessoas. É muito bom. Acho que ela vai mudar a medicina."

O problema dos estudos epidemiológicos

Paul também entrou em mais detalhes sobre preconceitos de usuários saudáveis e o problema dos estudos epidemiológicos (que são observacionais, não intervencionistas, e dessa forma não podem determinar efeitos causais), ambos os quais contribuíram para a crença de que dietas de base vegetal são melhores que as dietas de base carnívora.

"Tem uma ótima página de internet que eu usei como referência no livro, chamada spuriouscorrelations.com. Aconselho as pessoas a visitar a página", disse Paul.

"Ela mostra que existe uma forte correlação entre o consumo de queijo e a morte por se enforcar no lençol da cama, e coisas do tipo... é muita bobeira. É possível fazer correlações entre quaisquer coisas que não possuam um relacionamento causal...

O que provavelmente estamos vendo é que pessoas que consomem mais frutas e legumes também praticam outros costumes saudáveis. E esse também é o motivo por trás das Zonas Azuis. As pessoas de Loma Linda vivem mais porque não fumam ou não bebem. Os mórmons vivem mais porque não fumam ou não bebem.

Pessoas que podem praticar exercícios, ficar sob a luz do sol — esses são comportamentos saudáveis que geram longevidade. Mas quando o assunto é a alimentação, não podemos afirmar nada porque há um fator muito complicado.

Tem um estudo no livro que mostra isso muito bem. Ele é chamado UK Shoppers Study. No estudo, compararam a taxa de mortalidade padrão dos vegetarianos com a da população geral. E os vegetarianos vivem mais.

Mas então compararam a taxa de mortalidade dos vegetarianos com a de outras pessoas da população que consomem carnes. Elas eram onívoras, mas tinham costumes saudáveis. Então, foram capazes de comparar dois grupos de pessoas que seguem as advertências médicas e têm hábitos saudáveis e apresentaram taxas de mortalidade equivalentes.

Então provavelmente não é a exclusão da carne que gera bons resultados. São as outras atividades que as pessoas praticam. Esse é o preconceitos de usuários saudáveis...

Então o que fazemos? Geramos uma hipótese. Então testamos a hipótese. Mas é muito difícil testar essa hipótese, porque como se faz um estudo por tempo suficiente fornecendo somente frutas e legumes a algumas pessoas?

Então o que foi feito é uma série de cinco estudos que eu discuto no livro em que as frutas e legumes foram removidos da dieta. É um estudo intervencionista... O outro grupo consumiu cerca de 700 gramas de legumes por dia... Após quatro semanas, avaliaram o estresse oxidativo, marcadores de inflamação e marcadores de ativação imunológica.

E o que descobriram? Que eles eram os mesmos para os dois grupos. O que significa que quando retiramos as frutas e os legumes (são estudos de depleção de frutas e legumes), não há prejuízos. Não havia nenhuma diferença. Então não há benefícios em ter esses alimentos na dieta."