Por Dr. Mercola
Vários problemas de saúde diferentes se enquadram no termo genérico de doença cardiovascular. Alguns são desencadeados por um processo chamado aterosclerose, conhecido popularmente como endurecimento das artérias, uma condição na qual a placa se acumula nas paredes das artérias. Quando as artérias ficam obstruídas, você corre o risco de sofrer um ataque cardíaco ou derrame.
Quando o músculo cardíaco fica fraco demais para bombear sangue e oxigênio suficientes para atender às necessidades do corpo, isso pode causar insuficiência cardíaca e fazer com que os rins não funcionem como deveriam. Por sua vez, isso pode causar insuficiência cardíaca congestiva, quando seu corpo retém líquidos e congestiona órgãos vitais, incluindo os pulmões. De acordo com a atualização de 2019 da American Heart Association sobre doenças cardíacas, 6,2 milhões de americanos viviam com insuficiência cardíaca entre 2013 e 2016.
Diferentes tipos de arritmias e problemas nas válvulas cardíacas também estão incluídos no termo doença cardiovascular. Independentemente da forma adotada, as doenças cardíacas afetam um número crescente de pessoas nos EUA a cada ano. Elas são a principal causa de morte em homens e mulheres, com cerca de uma morte a cada 37 segundos. O tipo mais comum é a doença arterial coronariana, responsável por cerca de 20% das mortes em adultos com menos de 65 anos.
Pequenas mudanças no estilo de vida podem causar um impacto significativo nesses números. Aumentar sua atividade física durante a meia-idade pode reduzir o risco de morte por doença cardíaca. Outros fatores de risco modificáveisincluem parar de fumar, controlar ativamente a pressão arterial, manter um peso saudável, controlar o açúcar no sangue e reduzir o estresse.
Os benefícios da soja fermentada na saúde cardiovascular
A alimentação é outra parte significativa da prevenção de doenças cardiovasculares. A American Heart Association diz que a "alimentação saudável é uma das melhores armas que você tem para combater doenças cardiovasculares. Os alimentos que você consome (e a quantidade) podem afetar outros fatores de risco controláveis como colesterol, pressão arterial, diabetes e excesso de peso."
Uma escolha nutricional que eu apoio há anos é o consumo de alimentos fermentados. Um estudo recentemente publicado na BMJ descobriu uma associação entre consumir natto, que é feito de soja fermentada, e uma diminuição da taxa de morte por doença cardiovascular em homens e mulheres.
Os pesquisadores usaram dados de 14,8 anos de acompanhamento com 92.915 participantes entre 45 e 74 anos durante os anos 90. Os participantes do estudo apresentaram um risco menor de morte quando consumiram mais soja fermentada. No entanto, os dados não revelaram uma associação estatisticamente significativa entre a quantidade total de produtos de soja consumidos pelos participantes e a mortalidade por todas as causas.
Os pesquisadores alertaram que qualquer associação pode ser reduzida por fatores de confusão que não foram contabilizados no estudo. Os participantes relataram seus hábitos alimentares em um questionário durante cinco anos, que incluíram a ingestão de produtos de soja fermentados como natto e missô e produtos não fermentados como o tofu.
Os pesquisadores escreveram em um comunicado de imprensa que esses tipos de produtos de soja são populares nos países asiáticos. Eles formularam a hipótese de que a soja fermentada pode ser responsável pela associação entre comer natto e um menor risco de doença cardíaca, uma vez que o alimento é mais rico em fibras e compostos bioativos do que produtos não fermentados.
Em um editorial editorial vinculado ao BMJ, os cientistas apontaram que a soja fermentada é frequentemente consumida com outros produtos alimentares. Por exemplo, o missô é um tempero com alto teor de sal. O editor editorial relatou que outro estudo mostrou que o missô não aumenta o risco de pressão alta, sugerindo que "a soja fermentada no missô pode proteger os consumidores dos efeitos adversos do alto teor de sal".
A soja fermentada aumenta a saúde do coração, pois é rica em vitamina K2
Outro componente nutricional importante para a saúde do coração é a vitamina K2 MK-7. A vitamina K é uma vitamina solúvel em gordura que seu corpo não armazena bem, por isso é rapidamente esgotada quando não é ingerida frequentemente através da alimentação. Alguns medicamentos comuns também podem diminuir a quantidade dessa vitamina no corpo.
Há duas formas principais da vitamina e vários subtipos que podem confundir um pouco as coisas. É importante saber isso porque a vitamina K2 desempenha um papel importante na saúde dos ossos e do coração e é sintetizada por bactérias no seu intestino. Como eu explico no artigo em destaque, para a saúde do coração, você precisa da vitamina K2 na forma MK-7, encontrada em alimentos fermentados como o Chucrute, o natto e alguns queijos.
O MK-7 é produzido pela cepa bacteriana Bacillus subtilis, que não é encontrada em todos os tipos de alimentos fermentados, o que significa que nem todo tipo de alimento fermentado produz a vitamina K2 MK-7.
A forma MK-7 tem uma grande vantagem, pois é biodisponível e permanece em seu corpo por mais tempo do que a outra forma suplementar popular de K2, a MK-4. Uma das razões pelas quais o MK-7 é tão importante na saúde do coração envolve uma complexa reação bioquímica que ativa enzimas importantes no transporte de cálcio das artérias para os ossos.
Sem a vitamina K2, o risco de calcificação arterial aumenta, bem como o risco de doenças cardíacas. Por conta disso, um estudo de 2019 propôs a possibilidade de que uma suplementação terapêutica de vitamina K2 pudesse impedir ou interromper o crescimento da calcificação vascular em pessoas com "ingestão excessiva de cálcio".
O estudo de Roterdã foi uma análise realizada há quase 30 anos, observando causas de doenças em idosos. Ele determinou que aqueles que tinham a maior quantidade de vitamina K2 eram menos propensos a sofrer calcificação severa em suas artérias e morrer de doença cardíaca. Eles também apresentaram um risco menor de mortalidade por todas as causas. Esta foi uma descoberta profunda, uma vez que não havia uma correlação semelhante para a vitamina K1.
Evite consumir soja não fermentada
Por muitos anos, a soja tem sido um tema controverso no mundo da saúde nutricional. Grande parte da discussão pode ter se baseado em resultados como o estudo apresentado, descobrindo que aqueles que consomem grandes quantidades de soja têm as menores taxas de doenças cardíacas.
No entanto, a diferença é que, no Ocidente, a maioria dos produtos de soja vendidos e consumidos não é fermentada. Não apenas isso, 94% da soja produzida nos EUA pe geneticamente modificada e pulverizada com herbicidas como Roundup, dicamba e glufosinato, o que significa que, a menos que você procure especificamente por soja sem agrotóxicos, será exposto a esses herbicidas quando consumir a soja ocidental.
Isso é significativo, já que a segunda maior safra produzida nos EUA é a soja os EUA são o segundo maior produtor de soja do mundo.
Além disso, ingerir soja não fermentada pode ter um efeito negativo na sua saúde, pois ela possui altos níveis de lectinas, fitatos que podem impedir a absorção adequada de minerais cruciais como cálcio, magnésio, zinco e ferro.
Outro estudo com homens japoneses comparou a ingestão alimentar de produtos de soja contra a rigidez arterial e descobriu que aqueles que ingeriam mais soja fermentada apresentavam menor rigidez arterial, independente do nível de inflamação geral do corpo.
Laticínios fermentados reduzem o risco de doenças cardíacas
Os laticínios não fermentados podem ter uma relação inversa com as doenças cardíacas Em um estudo realizado pela University of Eastern Finland, os cientistas envolveram 1.981 homens de 42 a 60 anos. No início do estudo, nenhum dos participantes apresentava doença cardíaca coronária. Durante um seguimento médio de 20,1 anos, os pesquisadores descobriram 472 eventos.
Os tipos de alimentos que os homens ingeriram foram avaliados usando registros alimentares. Eles descobriram que aqueles que ingeriram a maior quantidade de laticínios fermentados apresentaram um risco 27% menor em comparação com aqueles que ingeriram laticínios não fermentados, que apresentaram um risco 52% maior.
Um segundo estudo analisou mulheres que ingeriram laticínios fermentados. Os pesquisadores incluíram mulheres australianas com idades entre 45 e 50 anos no Estudo Longitudinal Australiano sobre a Saúde da Mulher. A coleta de dados teve início em 2001 e foi concluída em 2016.
Os pesquisadores observaram doenças cardiovasculares relatadas pelos pacientes e diabetes tipo 2 diagnosticada por médicos. Eles descobriram uma relação inversa entre a quantidade de laticínios fermentados que as mulheres ingeriam e seu risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Mas a mesma relação não existe no caso do diabetes tipo 2.
Os resultados de ambos os estudos confirmaram que os laticínios fermentados podem proteger contra doenças cardíacas. Jyrki Virtanen, Ph.D, autor do estudo da University of Eastern Finland, disse à Newsweek:
"Nossas descobertas e as de outros estudos sugerem que produtos lácteos fermentados podem ser benéficos à saúde quando comparados a laticínios não fermentados. Portanto, pode ser uma boa ideia usar mais laticínios fermentados como iogurte, kefir, quark e leite fermentado."
Faça sua própria soja e laticínios fermentados
Muitos dos iogurtes vendidos nos EUA são adoçados com açúcar e têm sabor de frutas. Em outros países, o iogurte costuma ser combinado com limão, alho e cominho. Caso escolha consumir o iogurte para otimizar sua flora intestinal, convém evitar marcas comerciais que têm mais em comum com doces do que com alimentos saudáveis.
Procure iogurte orgânico feito com 100% de leite de animais terminados a pasto, em vez de laticínios com pouca gordura ou desnatados. Você também pode fazer seus próprios alimentos fermentados, pois o processo é muito simples.
Você só precisa de uma cultura inicial de alta qualidade e leite de animais terminados a pasto. Confira os "benefícios do iogurte caseiro versus industrializado" para receber instruções passo a passo e algumas dicas adicionais que vão ajudá-lo a obter a consistência desejada e o melhor gosto possível.
Você também pode fazer natto em casa, que é um dos poucos produtos de soja que eu recomendo. O processo de fermentação remove as desvantagens de comer soja crua ou cozida, então você fica com um prato cheio de probióticos e nutrientes que podem ajudar a otimizar sua saúde.