Por Dr. Mercola
Pouco a pouco os cientistas estão cada vez mais começando a concentrar-se na influência da nutrição sobre o câncer.
Cada vez mais evidencias tem dado apoio à noção de que uma dieta rica em gorduras saudáveis e baixa em carboidratos líquidos (carboidratos líquidos totais menos fibra, isto é, carboidratos não fibrosos) pode reduzir significativamente seu risco ao melhorar a função mitocondrial e metabólica.
Os alimentos fermentados também estão ganhando reconhecimento como um importante complemento anticancerígeno. As bactérias benéficas encontradas nos alimentos fermentados demonstraram ser particularmente eficazes para a supressão do câncer de cólon, mas também podem inibir o câncer de mama, fígado, intestino delgado e outros órgãos.
Por exemplo, o butirato, um ácido graxo de cadeia curta criado quando os micróbios fermentam a fibra dietética no seu intestino, demonstrou induzir morte celular programada de células do câncer de cólon e os produtos lácteos cultivados podem reduzir seu risco de câncer de bexiga em cerca de 29%.
O Metabolismo Microbiano Pode Influenciar o Risco de Câncer
A pesquisa da Dra. Johanna Lampe, do Fred Hutchinson Cancer Research Center sugere que o metabolismo microbiano pode afetar seu risco de câncer para melhor ou pior de muitas maneiras diferentes, influenciando:
Reparo do DNA |
Metabolismo / desintoxicação cancerígena |
Regulação hormonal |
Inflamação |
Função imunológica |
Apoptose (morte celular programada) |
Proliferação microbiana |
Diferenciação microbiana |
Além disso, o seu microbioma intestinal — que contém 100 vezes mais genes que o genoma total do seu corpo - está envolvido em importantes reações químicas que suas enzimas intestinais não podem realizar, incluindo a fermentação e a redução do sulfato.
Algo importante é que seu microbioma intestinal ajuda a gerar novos compostos (metabolitos bacterianos) que podem ter um impacto benéfico ou prejudicial na sua saúde.
Pelo lado positivo, alguns desses compostos atuam como fontes de energia e/ou ajudam a regular seu metabolismo e a reduzir a inflamação. Outros podem causar estresse oxidativo.
Os componentes nos alimentos conhecidos por produzir metabólitos bacterianos benéficos incluem fibra dietética, lignanas vegetais, antocianinas e ácido linoleico, apenas para citar alguns.
Conforme observado por Lampe, “a disponibilidade de nutrientes ou substâncias bioativas importantes para a saúde pode ser influenciada pela microbiota intestinal”, e “compreender o impacto dos metabolitos bacterianos nas vias regulatórias pode ajudar a orientar futuras estratégias de dieta e prevenção de câncer”.
A Inflamação Crônica Aumenta seu Risco de Câncer
Reduzir a inflamação é uma importante característica anticancerígena dos alimentos fermentados. Conforme explicado por Stephanie Maxson, nutricionista clínica sênior do MD Anderson´s Integrative Medicine Center, “a inflamação prolongada pode danificar as células e tecidos saudáveis do seu corpo e enfraquecer seu sistema imunológico”.
E, uma vez que seu sistema imunológico é a primeira linha de defesa, um sistema imunológico enfraquecido é o que permite, em primeiro lugar, que doenças como o câncer estabeleçam-se; portanto, reduzir a inflamação é um aspecto fundamental na prevenção ao câncer.
Um grupo de micróbios que parecem ser importantes para manter uma função imune saudável é o grupo clostridial de micróbios. Ironicamente, este grupo está relacionado ao clostridium difficile, que pode causar infecções intestinais graves e potencialmente mortais.
Mas embora o C. difficile provoque a inflamação crônica, os agrupamentos de clostridiais realmente ajudam a manter uma barreira intestinal saudável e em bom funcionamento, impedindo que agentes inflamatórios entrem na sua corrente sanguínea.
Fatores que promovem a inflamação crônica no seu corpo incluem, mas não estão limitados a:
- Obesidade
- Fumar
- Estresse
- Falta de exercício
- Más escolhas alimentares
A Inflamação e Microbioma Também Desempenham um Papel na Diabetes Tipo 1
A conexão entre seu microbioma e a inflamação também tornou-se evidente na diabetes tipo 1 (diabetes dependente de insulina) que, ao contrário da diabetes tipo 2, é uma doença autoimune.
A causa fundamental da diabetes tipo 1 tem sido um mistério médico, mas uma pesquisa mais recente sugere que a doença pode ter sua origem na disfunção intestinal. Conforme relatado pela Medical News Today:
“Indivíduos com diabetes tipo 1 apresentam aumento da permeabilidade intestinal e alterações nos microvilos, que são projeções microscópicas com forma de dedos no revestimento intestinal. Embora as razões por trás dessas modificações não sejam claras, bactérias intestinais errantes são atualmente os principais suspeitos.”
Para investigar o impacto que as bactérias intestinais podem ter no desenvolvimento da diabetes tipo 1, pesquisadores italianos examinaram os níveis de flora e inflamação intestinal em 54 pessoas com diabetes tipo 1.
Todos passaram por endoscopias e biópsias tiradas do duodeno, a seção inicial do trato intestinal, e todos estavam alimentando-se de uma dieta similar no momento dos procedimentos. Os resultados revelaram que eles tinham significativamente mais inflamação do que controles saudáveis e até mesmo pacientes diagnosticados com doença celíaca.
A flora intestinal deles também era significativamente diferente, com menos proteobactérias (um grupo de organismos que inclui escherichia, que ajuda a produzir vitamina K e salmonela, que está associada a intoxicação alimentar) e níveis mais altos de firmicutes (um grupo de bactérias que incluem bacilos e streptococcus). De acordo com o artigo apresentado:
“O próximo passo será entender se as alterações no intestino são causadas pela diabetes tipo 1 ou vice-versa. De qualquer forma, o estudo marca um avanço na nossa compreensão desta doença.
Como Piemonti observa: ‘Não sabemos se o efeito característico da diabetes tipo 1 no intestino é causado pelo resultado dos ataques do próprio corpo ao pâncreas.
Ao explorar isso, podemos encontrar novas formas de tratar a doença visando as características gastrointestinais únicas de indivíduos com diabetes tipo 1.’”
As Principais Características de uma Dieta Anti-inflamatória e Anticancerígena
Muitos especialistas em câncer, incluindo o MD Anderson´s Integrative Medicine Center e o American Institute for Cancer Research (AICR) agora promovem dietas anti-inflamatórias, colocando foco em:
- Alimentos de plantas orgânicas e alimentos tradicionalmente fermentados e cultivados. O AICR recomenda que você certifique-se de que pelo menos dois terços de seu prato seja de vegetais e comer pelo menos uma pequena porção de alimentos fermentados todos os dias.
- Limitar os alimentos processados e em vez disso alimentar-se de uma dieta de alimentos integrais e frescos, preparados a partir do zero.
- Evitar refrigerantes, bebidas esportivas e outras bebidas açucaradas, incluindo sucos de frutas.
- Balancear suas proporções de ômega-3 e ômega-6. Para a maioria, isso significa aumentar a ingestão de ômega-3 de origem animal de peixes gordurosos com pouco mercúrio e outros contaminantes, como o salmão do Alasca, anchovas e sardinhas, e reduzir o consumo de gorduras ômega-6, abundantes em óleos vegetais refinados (alimentos fritos e alimentos processados).
- Limitar a carne vermelha e evitar carnes processadas (tais como carnes congeladas, bacon, salsicha, cachorros quentes e pepperoni). Para diminuir o consumo de proteína — o que pode ser um fator importante em tudo, desde o envelhecimento prematuro até o câncer - considere substituir algumas das carnes vermelhas que você come por peixe, que tem níveis menores de proteínas.
As Bactérias Intestinais Mediam seu Risco para Certos Tipos de Câncer de Cólon
Alimentar-se de uma dieta de plantas, rica em fibras, é fundamental para prevenir o câncer de cólon em particular, e a razão para isso está diretamente relacionada à forma como a fibra afeta o seu microbioma intestinal. Como relatado recentemente pela Medical News Today:
“Estudos demonstraram que uma dieta rica em carnes vermelhas e processadas pode aumentar o risco de câncer colorretal, enquanto uma dieta rica em fibras - rica em frutas, legumes e grãos integrais - tem sido associada a um menor risco de doença.
Pesquisas anteriores sugeriram que uma maneira pela qual a dieta influencia o risco de câncer colorretal é através das mudanças que faz ao microbioma intestinal (a população de micro-organismos que vivem no intestino).
O novo estudo do Dr. Shuji Ogino e sua equipe dão apoio a essa associação, depois de descobrir que os indivíduos que seguiram uma dieta rica em fibras estavam em menor risco de desenvolver tumores de câncer colorretal contendo a bactéria F. nucleatum.”
O F. nucleatum demonstrou ser prevalente nas fezes de pessoas que se alimentam de uma dieta de estilo ocidental e com pouca fibra e essas pessoas também apresentam um maior risco de câncer de cólon. “Nós teorizamos que a ligação entre uma dieta prudente e um risco reduzido de câncer colorretal seria mais evidente em tumores enriquecidos com F. nucleatum do que para aqueles que não tem isso”, diz Ogino.
Para testar essa teoria, a equipe analisou dados de saúde e nutrição de mais de 137.200 participantes no Nurses´s Health Study e no Health Professionals Follow-Up Study. Em seguida, analisaram as amostras tumorais obtidas de participantes que desenvolveram câncer colorretal durante o estudo, para verificar se o F. nucleatum estava presente.
Os questionários de frequência alimentar, que os participantes preenchiam em intervalos de dois a quatro anos, foram utilizados para calcular o consumo de nutrientes e fibras.
Os participantes que consumiram uma dieta “prudente”, definida como rica em legumes, frutas, grãos integrais e leguminosas, tiveram um risco significativamente reduzido de F. nucleatum contendo câncer colorretal, em comparação àqueles que consumiram uma dieta de estilo ocidental e com baixo teor de fibras.
Dito isto, a dieta prudente não afetou o risco de desenvolver câncer colorretal que fosse livre de F. nucleatum. De acordo com Ogino, essas descobertas “apontam para um fenômeno muito mais amplo - que as bactérias intestinais podem atuar em conjunto com a dieta para reduzir ou aumentar o risco de certos tipos de câncer colorretal”.
Quais Alimentos Fermentados Têm o Maior Impacto no seu Microbioma?
Em um episódio recente do programa “Trust Me, I´m a Doctor” da BBC, 30 voluntários concordaram em comer certo tipo de alimentos fermentados por um mês, para ver como isso afetaria seu microbioma intestinal.
Os voluntários foram divididos em três grupos, recebendo ou uma bebida probiótica comercial, kefir tradicionalmente fermentado ou alimentos ricos em inulina, como alcachofra de Jerusalém, raiz de chicória, cebolas, alho e alho-poró (inulina é uma fibra prebiótica). Conforme reportado pela BBC:
“O que descobrimos no final do nosso estudo foi fascinante. O grupo que consumiu a bebida probiótica viu uma pequena mudança em um tipo de bactéria conhecido por ser boa para o controle do peso, as bactérias chamadas lachnospiraceae.
No entanto, esta alteração não foi estatisticamente significante. Mas nossos outros dois grupos viram mudanças significativas. O grupo que se alimentou de alimentos ricos em fibra prebiótica observaram um aumento em um tipo de bactéria que se sabe ser boa para a saúde intestinal geral - algo que está de acordo com outros estudos.
Nossa maior mudança, no entanto, foi no grupo que comeu kefir. Esses voluntários viram um aumento em uma família de bactérias chamada lactobacillales. Sabemos que algumas dessas bactérias são boas para a nossa saúde intestinal geral e que podem ajudar em doenças como diarreia do viajante e intolerância à lactose.”
Comprado em Loja Versus Feito em Casa
Em seguida, a equipe da BBC enviou uma variedade de alimentos e bebidas fermentadas caseiras e compradas em loja para testes laboratoriais, que revelaram “diferenças marcantes” na composição microbiana.
Não surpreendentemente, as versões compradas na loja continham níveis muito pequenos de bactérias benéficas, enquanto as versões caseiras eram ricas em uma ampla gama de probióticos.
Uma das principais razões para esta diferença tem a ver com o fato de que os produtos comerciais são pasteurizados para prolongar sua vida útil e garantir a segurança e a pasteurização mata as próprias bactérias que os produtos devem fornecer.
É precisamente por isso que eu recomendo fortemente que você certifique-se de estar comprando produtos tradicionalmente fermentados, não pasteurizados ou, melhor ainda, que você mesmo os faça. É muito mais fácil do que você imagina, além disso pode fazê-lo poupar muito dinheiro.
Nutra seu Microbioma para Otimizar sua Saúde
Um número crescente de pesquisas sugere que o seu microbioma - colônias de bactérias, vírus e outros micróbios que vivem em seu intestino - podem ser um dos fatores preeminentes que determinam sua saúde e longevidade.
Por conseguinte, nutrir as bactérias intestinais benéficas com uma dieta saudável e rica em fibras e alimentos fermentados e boicotar alimentos processados e alimentos provenientes de animais criados em operações de alimentação de animais em confinamento (Confined Animal Feeding Operations-CAFOs) — ambos os quais tendem a ter um efeito adverso no seu microbioma - podem ser estratégias fundamentais para ter uma ótima saúde e prevenir doenças, incluindo câncer.