Por Dr. Mercola
A curcumina, o ingrediente ativo do açafrão-da-terra (cúrcuma), também tem uma base sólida na ciência, com numerosos estudos comprovando seus efeitos anti-inflamatórios. Conforme observado em uma revisão de 2017 na revista Foods:
"[A curcumina] auxilia no tratamento de condições oxidativas e inflamatórias, síndrome metabólica, artrite, ansiedade e hiperlipidemia... A maioria desses benefícios pode ser atribuída aos seus efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios".
Juntamente com vários outros suplementos, foi identificado que a curcumina também oferece benefícios particulares contra a COVID-19.
De acordo com o artigo "Estudo sobre o potencial inibidor da protease principal da COVID-19 (Mpro) através de acoplamento molecular de vários compostos fitoterápicos", publicado em 13 de março de 2020, em preprints.org, a curcumina e a desmetoxicurcumina foram dois compostos, entre vários, que descobriu-se serem capazes de inibir a Mpro da COVID-19.
Conforme observado em "Projeto de medicamentos aprimorados para a COVID-19", a Mpro da COVID-19 é um alvo potencial para drogas, pois "a estrutura cristalina da Mpro fornece uma base para a concepção de um potente inibidor da protease com um tropismo acentuado no pulmão".
Estudos também mostraram que a curcumina tem um efeito inibitório sobre as enxurradas de citocinas induzidas por vírus, que ocorrem como resultado de uma superprodução de células imunes e citocinas pró-inflamatórias. Isso também sugere que ela pode ser particularmente útil contra a COVID-19, considerando que a enxurrada de citocinas desencadeada na infecção grave e crítica da COVID-19 é o que acaba matando a maioria dos pacientes.
A curcumina é um terapêutico em potencial contra a COVID-19
Mais recentemente, uma revisão científica na Frontiers in Cell and Developmental Biology, publicada em 12 de junho de 2020, relata que a curcumina pode ser útil em casos de pneumonia viral grave, como a COVID-19. Segundo os autores:
"A infecção por coronavírus, incluindo SARS-CoV, MERS-CoV e SARS-CoV2, causa doenças assustadoras que podem ser fatais devido à insuficiência pulmonar e à enxurrada sistêmica de citocinas.
O desenvolvimento de uma pneumonia estimulada por coronavírus está associado a respostas inflamatórias excessivas no pulmão, conhecidas como 'enxurradas de citocinas', que resultam em edema pulmonar, atelectasia e lesão pulmonar aguda (LPA) ou síndrome do desconforto respiratório agudo fatal (SDRA).
Não existem medicamentos disponíveis para suprimir efetivamente a lesão pulmonar mediada pela resposta imunológica exagerada. À luz da baixa toxicidade e de sua atividade antioxidante, anti-inflamatória e antiviral, é plausível especular que a curcumina possa ser usada como droga terapêutica contra a pneumonia viral e LPA/SDRA.
Portanto, nesta revisão, resumimos as evidências crescentes obtidas de estudos pré-clínicos usando modelos animais de pneumonia letal, nos quais a curcumina exerce efeitos protetores, regulando a expressão de fatores pró e anti-inflamatórios... promovendo a apoptose das células PMN e eliminando as espécies reativas de oxigênio (ERO), que agravam a resposta inflamatória.
Esses estudos fornecem uma justificativa de que a curcumina pode ser usada como agente terapêutico contra pneumonia e LPA/SDRA resultantes de infecção coronaviral em humanos".
A curcumina inibe a enxurrada de citocinas
Como discutido na revista Frontiers in Cell and Developmental Biology, a curcumina tem uma longa história de uso medicinal, sem efeitos colaterais aparentes. Estudos demonstraram que ela possui potente atividade antioxidante, anti-inflamatória, anticâncer e antidiabética, e ensaios clínicos demonstraram eficácia no tratamento de doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doenças infecciosas - principalmente infecções virais.
"À luz do seu papel preventivo e terapêutico contra as infecções virais, bem como contra as enxurradas de citocinas comuns a todas as infecções virais, a curcumina pode ser considerada um agente atraente para o tratamento de infecções por coronavírus".
Um mecanismo importante por trás dos efeitos benéficos da curcumina é sua capacidade de modular as respostas imunológicas, o que significa que ela pode regular positiva ou negativamente a resposta imunológica, conforme necessário. Segundo os autores, pelo menos quatro estudos, publicados entre 2018 e 2020, sugerem que a curcumina inibe as enxurradas de citocinas induzidas por vírus. Esses incluem:
- Um estudo de 2018 na revista International Immunofharmacology, que demonstrou que a curcumina inibe a replicação do vírus influenza A e a pneumonia induzida pelo vírus influenza. Ela também ativa a via de sinalização Nrf2, inibe o estresse oxidativo e melhora a LPA induzida por influenza in vivo.
- Um estudo de 2018 no Journal of Food and Drug Analysis, que descobriu que a curcumina inibe efetivamente a infecção por influenza A.
- Um estudo de 2019 na Frontiers in Microbiology, que destacou a atividade antiviral da curcumina contra o vírus influenza, vírus da hepatite C e HIV.
- Um estudo de 2020 no International Journal of Molecular Sciences, que relatou que a curcumina tem a capacidade de bloquear a infecção pelo vírus herpes simplex tipo 2 (HSV-2) e inibir a produção de citocinas inflamatórias e quimiocinas in vitro.
Os mecanismos de ação da curcumina
Quanto à forma como a curcumina inibe a enxurrada de citocinas e modula a função imune, a revisão da Frontiers in Cell and Developmental Biology explica:
"Há evidências claras de pacientes infectados com coronavírus com altos níveis de citocinas e alterações patológicas no pulmão. Por exemplo, no plasma de pacientes com COVID-19, foram observadas altas concentrações de IL-2, IL-6 e IL-7.
Em particular, a IL-6 se apresentava significativamente elevada em pacientes críticos com SDRA quando comparados a pacientes sem SDRA, e estatisticamente, apresentou correlação significativa com a morte…
Numerosos estudos in vivo e in vitro demonstraram que a curcumina e seus análogos inibem acentuadamente a produção e liberação de citocinas pró-inflamatórias, como IL-1, IL-6, IL-8, TNF-α…
A curcumina também diminui a expressão de muitos outros mediadores inflamatórios... que regulam a atividade das células imunológicas, as respostas inflamatórias, e promovem fibrose no pulmão após a infecção.
O mecanismo subjacente à modulação da inflamação da curcumina tem sido extensivamente investigado, e envolve diversas vias de sinalização, entre as quais a NF-κB desempenha um papel essencial. Foi relatado que a curcumina regula efetivamente a sinalização da NF-κB através de múltiplos mecanismos (Figura 2):
Primeiro, a curcumina inibe a ativação da IKKβ… Segundo, a curcumina aprimora a expressão ou a estabilidade da IκBα… Terceiro, a curcumina ativa a AMPK. Foi documentado que a curcumina bloqueia a sinalização de NF-κB após infecção pelo vírus Influenza A (VIA) como consequência da ativação da AMPK. Quarto, a curcumina atua na p65 para perturbar a via NF-κB.
A infecção pelo VIA levou a uma diminuição de p65 no citosol de macrófagos e a um aumento correspondente no núcleo, onde ele forma um complexo funcional com a NF-κB, acabando por regular a transcrição de citocinas pró-inflamatórias. Por outro lado, o uso da curcumina bloqueia a translocação nuclear da NF-κB e p65, regulando negativamente a transcrição dos genes das citocinas…
Em contraste com o seu efeito negativo nas moléculas pró-inflamatórias, demonstrou-se que a curcumina regula positivamente as citocinas anti-inflamatórias, em particular a IL-10. Este último é um regulador negativo essencial para as respostas inflamatórias…
A IL-10 atua nos monócitos inflamatórios para reduzir a liberação de TNF-α, IL-6 e ROS, aliviando assim os danos nos tecidos causados pela resposta inflamatória contínua... A curcumina atenua visivelmente as lesões pulmonares ao induzir a diferenciação de células T reguladoras (Tregs) e regulação positiva da produção de IL-10".
Figure 2.
Curcumina possui atividade antiviral
A curcumina também possui atividade antiviral direta contra diversos vírus, incluindo o SARS-CoV (o coronavírus responsável pela SARS), como demonstrado em um estudo de 2007. Vários estudos descreveram os mecanismos antivirais da curcumina, e a Frontiers in Cell and Developmental Biology enumera as formas como ela atua:
- Atacando diretamente as proteínas virais
- Inibindo a produção de partículas e expressão gênica
- Bloqueando a ligação viral às células (possivelmente interrompendo a fluidez do envelope viral)
- Bloqueando a entrada dos vírus nas células
- Bloqueando a replicação viral
A curcumina se liga fortemente à hemaglutinina (HA), uma glicoproteína que permite que o vírus influenza se ligue à célula. Pesquisas mostraram que a curcumina interage com a HA, perturbando a integridade da membrana viral. Isso é o que bloqueia a ligação viral à célula hospedeira, e impede que o vírus penetre na célula. A curcumina também demonstrou inativar diretamente certas cepas do vírus influenza.
Outros benefícios pulmonares da curcumina
Outros efeitos benéficos que sugerem que curcumina pode ser útil no tratamento da COVID-19 incluem:
Alívio da exsudação de proteínas para os espaços alveolares |
Alívio do edema pulmonar desencadeado por inflamação |
Atenuação de lesão pulmonar |
Redução do grau de inflamação das vias aéreas |
Interrupção do remodelamento das vias aéreas, inibindo a proliferação de células epiteliais brônquicas |
Melhora da pneumonia, impedindo o desenvolvimento de pneumonia grave |
Alívio da fibrose pulmonar induzida por LPA |
Melhora do índice pulmonar |
De acordo com a revista Frontiers in Cell and Developmental Biology, as pesquisas disponíveis "sugerem que a administração de curcumina pode ter efeitos profiláticos e terapêuticos na pneumonia e mortalidade induzidas por vírus". Além disso, embora ainda faltem estudos com a curcumina em humanos para o coronavírus:
"... à luz do seu papel preventivo e terapêutico nas infecções virais, bem como nas enxurradas de citocinas comuns a todas as infecções virais, a curcumina pode ser considerada um agente atraente para o tratamento de infecções por coronavírus".
A pesquisa, publicada em 2015, sustenta ainda mais as conclusões da revisão da Cell and Developmental Biology. Esse estudo, "Supressão da liberação de citocinas e enxurrada de citocinas pela curcumina", constatou que a curcumina poderia ser uma terapia em potencial para pacientes infectados com Ebola e outros vírus perigosos. Segundo os autores:
"A atividade da curcumina na supressão de múltiplas citocinas e sua atividade em modelos experimentais de doenças e condições associadas a enxurradas de citocinas sugerem que ela pode ser útil no tratamento de pacientes com ebola e enxurrada de citocinas.
A curcumina é pouco absorvida pelo trato intestinal; no entanto, as formulações intravenosas podem permitir que níveis terapêuticos de curcumina no sangue sejam alcançados em pacientes diagnosticados com enxurrada de citocinas".
Como tirar o máximo de proveito do seu suplemento de curcumina
Se você quiser usar curcumina, saiba que sua baixa taxa de absorção é uma das suas principais desvantagens. Embora as formulações intravenosas possam resolver o problema em contextos clínicos, isso seria pouco prático para uso doméstico.
Os pesquisadores investigaram uma variedade de métodos de entrega diferentes, incluindo entrega oral, intravenosa, subcutânea e intraperitoneal, bem como uma variedade de formulações, para otimizar a biodisponibilidade. Descobriu-se que os seguintes métodos podem melhorar a taxa de absorção da curcumina:
- Quando entregue na forma de nanopartículas
- Combinado com ácido polilático-co-glicólico
- Encapsulamento lipossômico
Como a curcumina é solúvel em gordura, você poderá aumentar ainda mais a absorção criando uma microemulsão. Para fazer isso, combine 1 colher de sopa de pó de curcumina com uma ou duas gemas e 1 a 2 colheres de chá de óleo de coco derretido, e use um liquidificador em alta velocidade para emulsificar o pó.
O tempo é outra variável importante. Uma das maneiras pelas quais a curcumina funciona é a ativação do AMPK e a autofagia. Ambos ocorrem durante o estado de jejum. Portanto, o ideal é tomar a curcumina pelo menos três horas após uma refeição e/ou logo antes de ir para a cama. Isso seria semelhante para outro poderoso suplemento anti-COVID, a quercetina, que também deve ser tomada em jejum e de preferência em conjunto com zinco.